Cantor, compositor e multi instrumentista, Marcelo Callado transformou isolamento e solidão em múltiplos encontros musicais em seu mais novo álbum, Saída (YB Music).
Fruto de um momento de reclusão que inspirou uma série de composições, o quarto disco solo entrega um artista refletindo sobre questões humanas e universais, ao mesmo tempo que muito pessoais.
Presença marcante na última década da cena carioca, Marcelo Callado é nome de referência na bateria. Anteriormente, ocupou a função em projetos como a Banda Cê ao lado de Caetano Veloso. Ademais, se apresentou com artistas como Ava Rocha, Alice Caymmi, Branco Mello, Kassin e Jorge Mautner.
Abaixo, Marcelo Callado fala um pouco sobre cada uma das faixas de Saída.
“Saída veio de um momento sensível e importante na minha vida. Ele foi feito dentro desse período de reclusão, um tempo único, sui generis, onde vários sentimentos diferentes afloraram, e pude ter contato, e muita conversa comigo mesmo. A feitura do disco foi a saída para que me mantivesse nos trilhos, seguindo em frente. Uma coisa curiosa no processo de feitura do álbum foi que apesar do isolamento, é meu disco com mais trocas musicais no processo de composição. Das 12 canções, 9 são parcerias, o que demonstra a importância dos amigos num momento tão delicado”, reflete Marcelo.
Faixa a faixa do novo álbum de Marcelo Callado
1. Tudo é natureza
A ideia da música, surgiu a partir da leitura do livro Ideias para adiar o fim do mundo do Ailton Krenak, presente da amiga e parceira Rosa Barroso. Inspirado por alguns pensamentos do autor, me pus a refletir e a escrever sobre a importância fundamental do exercício do diálogo em nossa existência, a fala e a escuta, de um modo geral, não só entre uma humanidade homogênea que somos instruídos a crer, mas sim entre tudo que constitui a natureza; nós (e nossas diferenças), a terra, os rios, as montanhas, as árvores, os bichos, o cosmos.
2. Verso vivo
Estava assistindo a live do Gilberto Gil, quando no fim ele disse “como diz a mãe de Caetano, Dona Canô: – quem não morre, envelhece”. Me veio a inspiração de escrever algo a partir dessa ideia. Comecei a letra e fiz toda a melodia e harmonia, mas acabei empacando na parte B, não conseguia concluir a ideia. Liguei pra Ava Rocha e pedi ajuda pra terminar. Acho que no dia seguinte ela me mandou o complemento lindo e assim a canção foi finalizada.
3. Assis Bueno 37
É o endereço da casa de minha avó em Botafogo. Casa que já não existe mais fisicamente, mas sim em minha memória e na de meus familiares e amigos mais próximos. Foi uma homenagem a todos que viveram momentos por lá, um local de suma importância em minha vida, e o fato de tê-la escrito e ouvido repetidas vezes, serviu como um acalanto pra alma.
4. Toque de mãe
Surgiu de um texto que o Daniel Gnattali, meu eterno cunhado, escreveu no instagram dele no dia das mães. Li o texto e já foi me vindo um ritmo e uma melodia na cabeça. Aí foi só sentar, tirar a harmonia e meter bronca.
5. Curtavida
Uma das duas músicas que não foram compostas durante a pandemia. O Bruno di Lullo me pediu alguma letra para musicar há uns 3 anos atrás. Tinha esse poema feito, e mandei pra ele. No dia seguinte ele mandou a música pronta.
6. Borboletas
Na mesma conversa que tive com a Ava Rocha, para resolver a letra de Verso vivo, acabamos trocando uma ideia sobre como estava a vida, o momento na pandemia e tal, e contei a ela sobre as dificuldades que estava passando devido ao término de meu relacionamento amoroso. Com uma sensibilidade acima do normal, Ava me mandou a letra inteira da música e o começo da melodia. Peguei o violão terminei a música e fiz apenas algumas inserções de algumas palavras pra acertar a letra na melodia. Amizade é tudo!
7. Agora Créu
Numa conversa com o amigo Pedro Montenegro, acabamos constatando que tínhamos alguns versos escritos separadamente que poderíamos juntar numa letra de música só, e assim se deu. Juntei os versos dele com os meus e musiquei-os.
8. À prova
Das parcerias pandêmicas, a mais recorrente foi com a Rosa. Acho que fizemos 4 músicas juntos, e trocamos muito sobre muita coisa. Uma delas, a segunda, eu acho, foi essa letra minha que Rosa lindamente musicou.
9. Simbora
Outra música da Rosa Barroso a partir de uma letra minha. Nessa Rosa acabou complementando a letra também com a segunda parte dos versos. Numa conversa super informal pelo Instagram sobre outras coisas, acabei chamando a Silvia Machete pra dividir os vocais comigo nessa música. Ela topou e gravou. Adorei!
10. Conte Comigo
Parceria com o Bem Gil. Junto com Curtavida, também foi feita anteriormente à pandemia, mais precisamente no fim de 2016. Bem fez a música e me mandou pra letrar, e assim o fiz.
11. O Horror
Música triste. Gosto dela, pois além de ter um cello lindo gravado pelo Moreno Veloso, conseguiu juntar na letra a ideia do horror e da dor de uma forma geral com a situação mundial da pandemia, e do descaso do nosso (des)governo, com minha situação pessoal de solidão pós separação.
12. Se quiser que vá
Parceria de letra e música com Pedro Sá. Essa é engraçada pois é bem antiga. Começou a ser feita numa passagem de som da turnê do Abraçaço em 2015, mas acabou sendo finalizada somente agora. Foi no tempo certo!