Crítica | Super Mario Bros: O Filme

Engenharia do Cinema Há anos Hollywood tentava conseguir convencer a Nintendo de tentar ceder os direitos de “Super Mario Bros“, para realização de um novo longa-metragem (esquecendo totalmente o terrível filme de 1993). Adquirido pela Universal Pictures, o estúdio colocou sua divisão de animação Illumination (responsável por franquias como “Meu Malvado Favorito“) para conceber o projeto. Depois de muita ansiedade dos fãs, finalmente o grande dia chegou e o próprio chegou aos cinemas honrando o que prometeu: 90 minutos com pura nostalgia e entretenimento.  A história começa com os irmãos Mario e Luigi, que acabaram de abrir sua própria firma de encanadores e não estão tendo seus dias de glória. Eis que após tentarem sanar um problema na sua cidade, acabam sendo enviados (por intermédio de um cano) para um mundo totalmente paralelo e separadamente. Então o primeiro acaba tendo de se juntar com a Princesa Peach e seus aliados, para salvar seu irmão das garras do temido Bowser (que lhe fez de refém). Imagem: Universal Pictures (Divulgação) Começo enfatizando que foi nítido que a Universal Pictures se juntou com a Nintendo, com os produtores e roteirista do longa (Matthew Fogel, de “Minions 2“) e os dois primeiros falaram “joguem o jogo! Embasam tudo nos que foi mostrado lá!”. E realmente a lição de casa foi feita, pois a sensação de nostalgia e referência aos jogos é nítida desde os primeiros minutos. Porém, tudo não soa como easter-eggs vazios, e sim passagens necessárias na história.     Um claro exemplo é a dupla de diretores Aaron Horvath e Michael Jelenic ter colocado sutilmente vários destes, de formas técnicas. Sejam personagens icônicos como figurantes no cenário, situações que remetem ao game por intermédio dos enquadramentos da câmera e aproveitar ao máximo a quantidade de referências que podem ser inseridas na trama. E o roteiro é ciente que estamos falando de um jogo que nunca teve uma grande história, mas sim uma grande fama e carinho pela maioria das pessoas pelo mundo. Nisso, o próprio se embasou em um estilo de humor pastelão (remetendo clássicos como “O Gordo e o Magro” e “Chaves“) para ser o gênero de fundo e funcionou (tanto que o riso se torna constante, em algumas situações, como a Princesa Peach sempre chegar com uma “patada” em determinas situações). “Super Mario Bros: O Filme” é uma verdadeira aula de como adaptar um game para os cinemas, nos fazendo ficar alegres e agradecidos durante 90 minutos.

Crítica | Air: A História Por Trás do Logo

Engenharia do Cinema Durante meados de 2020, os amigos de longa data Ben Affleck e Matt Damon se juntaram para finalmente abrir sua produtora cinematográfica. Depois de terem feito mais de 20 filmes juntos, agora ambos vão totalmente na contramão da indústria de Hollywood, pois eles não só irão realizar histórias populares e não abordadas nas telonas, como também terão novatos trabalhando por trás das câmeras em todas as funções possíveis. O primeiro título desta iniciativa foi “Air: A História Por Trás do Logo”, cuja direção é assinada justamente pelo próprio Affleck (que também atua aqui) e trata sobre uma passagem interessante na cultura pop: quando Michael Jordan assinou com a Nike para a linha de tênis Air Jordan.  Se passando em 1985, o enredo é focado no executivo da Nike, Sony Vaccaro (Damon) que na época trabalhava como olheiro nesta e estudava levar um potencial jogador de basquete para representar a marca no mercado. Então, ele repara que é possível tentar conseguir fechar uma parceria comercial com o próprio Michael Jordan (mesmo batendo de frente com a Adidas, que na época era muito maior que a Nike). Imagem: Amazon Studios/Warner Bros Pictures (Divulgação) O roteiro do estreante Alex Convery procura primeiramente estabelecer a métrica de colocar todos os personagens no mesmo patamar, e humanizá-los da melhor forma possível. Consequentemente acabamos criando afeição com caracteres chaves como o próprio Sonny, o chefe de Marketing, Rob Strasser (Jason Bateman) e o próprio CEO e co-fundador da Nike Phil Knight (Affleck). E não hesito em dizer que para este filme funcionar, tínhamos de ter empatia pelo trio citado e isso é conquistado.     Como diretor, o próprio Affleck já tinha mostrado em projetos como “Argo” (que venceu o Oscar de melhor filme, em 2013) que realmente sabe como conduzir sua narrativa de acordo com o cenário e temática do próprio. Usando como intermediário cenas de televisão, filmes, enquadramentos em produtos daquela época, ele vai indiretamente deixando nítido o quão estávamos vivendo em uma sociedade diferente da atual e que realmente tudo era mais complexo de ser realizado (pode parecer banal isso, porém datado cenário atual isso é necessário de ser deixado claro, mesmo que sutilmente).     Isso sem falar do excelente trabalho da equipe responsável pela trilha sonora, que colocou grandes clássicos da música como “Can’t Fight This Feeling” (REO Speedwagon), “Money For Nothing” (Dire Straits), “Atomic Dog” (George Clinton) e muitas outras. Tudo com o intuito de casar com a mensagem do enredo que “estamos falando de gigantes, que são Michael Jordan e a Nike”. E isso funciona, pois não deixa a pegada do longa monótona (uma vez que o próprio é regado a diálogos, e o público atual divide a atenção com o celular). Como estamos falando de um filme regado a diálogos, as atuações são realmente muito boas, mas honestamente, não existe nenhuma que nos faça falar que é “digna de Oscar” ou algo do gênero. São apenas boas, dentro de suas tonalidades.  “Air – A História Por Trás do Logo” faz jus ao que vamos ver na parceria entre Ben Affleck e Matt Damon: histórias reais, interessantes e bem conduzidas.

Crítica | Mistério em Paris

Engenharia do Cinema Depois de “Mistério no Mediterrâneo” ter sido um dos filmes mais assistidos na história da Netflix, em seus três primeiros dias (com 30 milhões de acessos), em 2019, era certo que a plataforma iria investir em uma potencial franquia. “Mistério em Paris” não apenas traz novamente a dupla Adam Sandler e Jennifer Aniston no papel do casal de detetives Nick e Audrey, como também o roteirista James Vanderbilt (que também cuidou do roteiro do quinto e sexto “Pânico“). Mesmo não se tratando exatamente de uma comédia, a franquia consegue homenagear o estilo de Agatha Christie consideravelmente. Após os eventos do primeiro longa, o casal Nick e Audrey resolveu investir todas suas economias em uma agência de detetives particulares. Mesmo com vários casos resultando em fracassos, a dupla nunca deixou a peteca cair. Então, eles são convidados para o casamento de um amigo de longa data (Adeel Akhtar) com Claudette (Mélanie Laurent), até que o próprio acaba sendo sequestrado na própria cerimônia, o que fará os próprios investigarem o ocorrido por conta própria. Imagem: Netflix (Divulgação) Parece que depois de vários longas com qualidades horrendas, o próprio Adam Sandler decidiu reavaliar o que realmente funcionava e deveria ser colocado nos seus filmes (uma vez que eles são feitos por sua produtora, em 90% das vezes). Apesar das suas famosas esquetes humorísticas diminuírem (o que é bom, dentro do contexto desta eventual franquia), a graça se dá em algumas situações naturais e absurdas que são criadas pelo contexto da trama (com destaque para uma inusitada cena de ação em Paris). Usufruindo da sua química com Aniston (que realmente é muito boa), o roteiro sabiamente opta por explorar a veia cômica de alguns atores como Enrique Arce (o Arturo de “La Casa de Papel“, que rouba a cena) e John Kani (que volta a viver o Coronel Ulenga) com o estilo carrasco de Mark Strong (que interpreta o agente Miller). Dentro da premissa, isso acaba sendo válido até mesmo por se tratar de uma produção com o cenário de “quem será o vilão?”. “Mistério em Paris” consegue se estabelecer como mais uma boa produção de Adam Sandler, mostrando que o próprio está aos poucos voltando a fazer filmes divertidos e com qualidade.

Crítica | O Urso do Pó Branco

Engenharia do Cinema Há tempos que o cinema trash não dava as caras nas telonas, e não hesito em dizer que “O Urso do Pó Branco” foi o retorno triunfal do gênero. Com uma premissa totalmente inusitada (e que chama a atenção da maioria dos espectadores), o longa é incrivelmente inspirado em fatos reais e serviu como base para criar este enredo (que mescla os estilos de clássicos como “Piranha” e “A Bolha Assassina“). Porém, a falta de habilidade da atriz Elizabeth Banks como diretora (que já havia estampado N erros no recente “As Panteras”), prejudicaram algumas sequências que poderiam ter sido melhor executadas (uma vez que estamos falando de um filme com censura 18 anos). A história se passa em pleno anos 80, onde após um carregamento de cocaína cair esporadicamente em uma floresta, o mesmo passa a ser ingerido por um urso. Isso não apenas lhe transforma em um viciado, como também desperta no mesmo uma ira tremenda por mais droga, desencadeando uma onda de mortes brutais. Imagem: Universal Pictures (Divulgação) Embora o interesse central seja vermos o próprio urso se drogando e causando o caos, a trama é dividida em três grupos de personagens. O primeiro é uma dupla de traficantes (Alden Ehrenreich e O’Shea Jackson Jr.), que estão indo procurar o carregamento da droga a pedido do chefão e pai de um deles (Ray Liotta, em um dos seus últimos papéis). O segundo é o policial Bob (Isiah Whitlock Jr.) que está na procura destes e por último temos uma mãe (Keri Russell) que está à procura de sua filha (Brooklynn Prince) com um amigo desta (Christian Convery).     Por se tratar de um filme trash, o roteiro de Jimmy Warden (que já tinha escrito os divertidos dois filmes de “A Baba”) não consegue estabelecer um sentido mais profundo ou até mesmo que faça sentido entre as motivações e decisões dos personagens citados. Para se ter uma ideia, em menos de cinco minutos vemos uma cena de luta em um banheiro e duas crianças falando naturalmente sobre usarem drogas (e a bizarrice resulta em vários risos). Sim, estamos falando sobre um filme de um urso usuário de cocaína. Mas como ele é retratado? Embora o CGI esteja um misto de “bom e ruim” (dependendo do contexto onde o próprio é inserido), ele poderia ser melhor executado na sua inserção da trama, uma vez que ele chega aparecer relativamente menos do que o esperado (e quando surge, resulta em ótimas cenas). Com uma violência regada em um aspecto cartunesco (resultando em boas risadas), as cenas de ataque tem a sensação que foram feitas porcamente com dois intuitos: falta de conhecimento da própria Banks ao retratar este tipo de contexto e o interesse da Universal em obter uma censura para menores poderem ver o próprio nas telonas (algo que não ocorreu). E uma cena que posso exemplificar isso, é a envolvendo os socorristas na ambulância. Os posicionamentos não transmitem sensações que deveriam, mesmo se tratando de uma obra trash. “O Urso do Pó Branco” consegue se estabelecer como o retorno triunfal do cinema trash, nas telonas e ainda abre brecha para uma possível franquia. Vamos torcer que seja nas telonas.

Revisado | A Paixão de Cristo

Engenharia do Cinema Lançado em 2004, “A Paixão de Cristo” foi um dos maiores filmes bíblicos já lançados e feitos na história do cinema. Com um orçamento de US$ 30 milhões, rendeu mundialmente US$ 612 milhões (se tornando a maior bilheteria de um filme não falado em inglês, na história) e desde então se discute em fazerem a sua continuação, rotulada de “A Ressurreição de Cristo” (com todos os envolvidos do primeiro, voltando).     Dirigido, escrito e produzido por Mel Gibson (que é católico praticante), o próprio tem como marca a violência em suas cenas e não poupa o realismo nas mesmas. O resultado acabou com muitas pessoas não indo aos cinemas ver o mesmo na época (o que fez Gibson lançar uma versão “light” do longa um ano depois, para estes irem conferir sem problemas), e algumas até morreram nas exibições (de tamanho realismo que foi criado). Mas um fato é: até hoje este filme sempre é citado de alguma maneira (e não apenas em programas religiosos).    O enredo é centrado nas últimas 12 horas na vida de Jesus Cristo (Jim Cavieziel), desde quando ele foi dedurado por Judas (Luca Lionello) até seu crucificamento. Neste meio tempo, vemos o quão o mesmo foi judiado pelos homens que o perseguiam e como a sociedade estava dividida, em relação de sua índole e poderes milagrosos. Imagem: 20th Century Studios (Divulgação) Um fato é que Mel Gibson sempre teve um carinho enorme por este seu trabalho (tanto que ele proibiu de dublarem o mesmo, durante 10 anos. Ocasionando até em exibições legendadas, na TV Record), e desde seu princípio isso é nítido. Seja pela concepção dos diálogos, atuações e o cuidado na direção de arte e figurino da atmosfera apresentada. Agora os trabalhos mais primordiais foram a fotografia (que remete ao clima árido de todo contexto), e a maquiagem (já que os machucados de Cristo, estão totalmente realistas), que acabaram sendo consequentemente indicados ao Oscar (juntamente com a categoria de Trilha Sonora, que realmente não merecia figurar).     Isso porque ainda não entrei no aspecto da atuação de Jim Caviezel, que passou maus bocados nos sets (uma vez que ele foi atingido por um raio, teve uma fratura no ombro na hora de carregar a cruz e um dos figurantes errou o golpe da chicotada, resultando em uma cicatriz de 35 cm, em suas costas). Convencendo desde o primeiro momento como Cristo, sua atuação consegue ser realista ao extremo (o que nos faz crer em estarmos vivenciando todo aquele momento) e até consegue tirar lágrimas dos mais durões.     Vale enfatizar que o próprio roteiro assinado por Gibson e Benedict Fitzgerald, é sutil e não fica explicando quem é quem na narrativa (uma vez que eles deduzem que o espectador já conhece a passagem bíblica). E isso fica nítido até na retratação de Lúcifer (na icônica cena do próprio carregando um bebê, que é descrito como a figura do demônio), que é representado com um ser não binário (já que ele não possui sexo).     “A Paixão de Cristo” consegue se destacar até hoje como um dos melhores filmes sobre a temática, e realmente o seu impacto fica cada vez mais plausível com os dias atuais. Obs: o longa está disponível na plataforma Star+, sem opção do áudio original da obra (em Aramaico) e sim com dublagens em inglês (que está horrível) e português. Inclusive, própria imagem está aparentemente em uma resolução menor de 720p, ou seja, é melhor conferir o mesmo em mídia física (já que dificilmente o serviço vai alterar este arquivo).

Crítica | Tetris

Engenharia do Cinema Não existe uma pessoa que pelo menos uma vez na vida, não jogou o famoso game “Tetris“. Criado em plena Rússia, em 1984, pelo cientista russo Alexey Pajitnov, em pleno período onde a União Soviética estava em crise por conta do enfraquecimento do comunismo, o próprio acabou se tornando uma verdadeira arma para os apoiadores do movimento, que tentaram usufruir do interesse de várias grandes empresas (entre elas a Nintendo) para tentar mostrar a força do movimento (mesmo com ele estando em sua queda). E é exatamente este o foco da narrativa. Baseada em fatos reais, a história se passa em 1988, quando o vendedor de games Henk Rogers (Taron Egerton) acaba descobrindo o icônico game “Tetris”. Vendo o enorme potencial do mesmo, ele resolve ir por conta própria para a Nintendo, no Japão, para negociar com os CEOs da empresa a fabricação do mesmo. Porém, durante o desenvolvimento do processo, ele descobre que existem problemas contratuais na questão dos direitos autorais. O que lhe faz viajar até a Rússia, para tentar reaver os mesmos. Imagem: Apple Original Productions (Divulgação) O roteiro de Noah Pink (da série “Genius“) em um primeiro momento tenta nos vender a importância do jogo “Tetris“, no cenário apresentado e como sua facilidade de jogatina e fabricação, poderia ser mais plausível e comercializada que os já sucedidos games do Super Mario (que coincidentemente, terá seu filme lançado nesta semana). Para em um terceiro ato vir salientar como era o clima do comunismo na Rússia, e o quão delicado era aquele cenário no país (uma vez que eles não aceitavam nem cair em contradição). E o diretor Jon S. Baird (“Stan & Ollie“) está ciente das possibilidades que podem ser executadas no visual da produção, e consegue encaixar uma estética que remete à vários momentos, o próprio “Tetris” e o icônico “Super Mario” (o que é até divertido, e traz um conforto e fácil compreensão na narrativa aos mais desatentos). Ele só pecou um pouco ao inserir cenas de ação desnecessárias no contexto que havia sendo apresentado (soou bastante aleatório, uma vez que o longa não clamava por isso).     Outro grande acerto é a escalação de Edgerton, para interpretar Hank, pois o ator não só se assemelha um vendedor nato, como também gostamos dele logo nos primeiros minutos em cena, ele literalmente nos vende a importância do “Tetris” (causando até vontade de irmos jogar o próprio). “Tetris” termina sendo um interessante retrato de como funciona a indústria dos games, e como o comunismo é um movimento cruel, que realmente não funciona. 

Crítica | Um Filho

Engenharia do Cinema O dramaturgo Florian Zeller ficou mundialmente conhecido ao adaptar sua peça teatral “Meu Pai“, para os cinemas e conseguir ganhar o Oscar de Roteiro Adaptado, e principalmente ter auxiliado Anthony Hopkins a ganhar seu segundo careca dourado. Era esperado por muitos que seu novo projeto, “Um Filho” (que também é uma adaptação de sua peça teatral) fosse fazer o mesmo sucesso, porém estamos falando de um tema complexo e delicado que é a depressão na adolescência. Apesar de não conseguir sequer ser lembrado nas premiações, estamos falando de uma produção feita para ser absorvida e refletida. A história mostra o importante executivo Peter (Hugh Jackman), que está vivendo uma vida tranquila com sua atual esposa Beth (Vanessa Kirby) e seu filho recém nascido. Porém, tudo muda quando sua ex-esposa Kate (Laura Dern) lhe avisa que seu filho Nicholas (Zen McGrath), quer ir morar com ele. Imagem: Diamond Filmes (Divulgação) Ao contrário de “Meu Pai” (cuja narrativa era na perspectiva da mente do protagonista, que tinha Alzheimer), o roteiro de Zeller (que também assina a direção) com Christopher Hampton coloca o enredo no olhar do próprio Pai, que assiste a decadência do filho, em meio a um cenário de depressão. Realmente aquele sabe como conduzir este tipo de filme, uma vez que ele deixa os diálogos como o grande ode de sua produção (se abstendo de uma trilha sonora melancólica, que muitos diretores usam e abusam). O resultado disso foram ótimas atuações de Jackman, Kirby, Dern e principalmente de Zen McGrath. Realmente ele convence a todo momento como uma pessoa doente, e com sérios problemas apenas com seus jeitos, olhares e ainda coloca em dúvida se ele está tendo crises de depressão ou até mesmo psicóticas (o que chega a assustar, dependendo do seu tipo de imersão na narrativa). Não posso deixar de citar a breve aparição de Anthony Hopkins, que interpreta Anthony, pai de Peter e curiosamente é o mesmo personagem do longa citado no primeiro parágrafo (fato confirmado pelo próprio Zeller, inclusive este filme se passa antes dos eventos mostrados naquele). A presença do ator foi certamente uma voz estonteante dentro do enredo.    “Um Filho” é um longa feito para nós refletirmos o quão a depressão pode desencadear uma série de problemas em uma família, com direito a uma ótima interpretação de Hugh Jackman.

Crítica | John Wick 4: Baba Yaga

Engenharia do Cinema Não é novidade que a franquia “John Wick” se tornou uma das mais sucedidas nos últimos anos. Não sendo baseada em nenhuma HQ, livro ou filme/série, o personagem vivido por Keanu Reeves rendeu mundialmente mais de US$ 500 milhões em seus três primeiros filmes (e este quarto já conquistou cerca de US$ 192 milhões ao redor do globo). Se inspirando no estilo de cinema brucutu nos anos 80/90, temos o famoso protagonista que mata todos os vilões em seu caminho e sai praticamente ileso de N situações.    O longa começa seis meses depois dos eventos vistos no terceiro filme, com John Wick se preparando para voltar à ativa e tentar conquistar sua liberdade. Porém, ele percebe que o selo do Hotel Continental e sua própria dívida estão em cheque, quando o chefão Marquis (Bill Skarsgård) resolve deixar o mesmo extinto pelo mundo, assim como aumentar ainda mais a caça pela cabeça de Wick. Imagem: Paris Filmes (Divulgação) Novamente dirigido por Chad Stahelski (que já havia comandado os três anteriores, além de ter sido dublê do próprio Reeves em vários filmes), o próprio sabe exatamente em quais tópicos devem ser focados e o que exatamente o público espera: cenas de luta e ação, que sejam divertidas à ponto de prender nossa atenção. E realmente ele consegue isso com maestria desde os primeiros momentos, com uma breve cena de Wick no deserto, combatendo árabes à cavalo. Isso sem citar que a edição de som fez um excelente trabalho, ao casar os socos e tiros com as batidas das melodias que são tocadas (transformando tudo em um aspecto cartunesco). Inclusive, chega ser difícil dizer qual das cenas de ação é a melhor, uma vez que o próprio Stahelski está ciente de todo o trabalho já mostrado na franquia, e consequentemente desenvolve novas situações. Aqui temos cenas de tiroteio com uma tomada aérea em um apartamento, seguida de outras eletrizantes em locais inusitados como uma escadaria e até mesmo ao redor do Arco do Triunfo, em Paris. Claramente que em todas elas, o próprio Keanu Reeves estava não só a vontade, como era nítido que não foram usados dublês em suas cenas de luta/ação e sim CGI (uma vez que haviam algumas tomadas inumanas, sendo mostradas). Em meio a tantas coisas acontecendo, é perceptível o cuidado tomado, uma vez que tudo é guiado na medida certa, pois há muitos pontos para serem discutidos antes da ação correr solta (uma vez que o desfecho do terceiro filme deixou várias pontas soltas). Isso sem citar que precisamos ter uma apresentação digna para os novos personagens que são os assassinos Caine (Donnie Yen) e Tracker (Shamier Anderson), cujo cão deste rouba a cena (animal que já virou mascote da franquia) e o novo vilão, vivido por Skarsgård (e que consegue transpor um nível de psicopatia alto, desde sua primeira cena). Outro ponto sábio do roteiro é não se prender muito em timings cômicos e dramáticos, com o intuito de aliviar o espectador em relação às cenas de ação. Ambas são distribuídas homeopaticamente, e sim de forma até que breve (uma vez que estamos falando de um filme onde um homem mata sozinho 50 capangas, e sai ileso).  “John Wick 4: Baba Yaga” mostra que o cinema de ação ainda tem muito o que entreter e que o público ainda vibra com este tipo de produções nas telonas. Que venha mais brucutus!  

Crítica – Cidade Invisível (2ª Temporada)

Engenharia do Cinema Depois de dois anos, finalmente a Netflix lançou sua segunda temporada da aclamada série “Cidade Invisível“. O sucesso da atração se deu pela originalidade, ao retratar várias lendas do folclore brasileiro, pelos quais nunca haviam tido tamanha abordagem e tinha de tudo para ser algo realmente excelente. Porém, após algumas críticas em relação à “apropriação cultural” na abordagem dos indígenas, esse ano é focado apenas nos problemas destes, e acaba sendo mais uma produção genérica do assunto.     A história começa algum tempo depois do término da temporada anterior, com Inês (Alessandra Negrini) e Luna (Manuela Dieguez) indo procurar Eric (Marcos Pigossi), que está em uma fauna totalmente desconhecida. Ao mesmo tempo, o trio acaba se envolvendo em uma complexa trama de garimpeiros que planejam prejudicar a Floresta Amazônica, além claro, de novas criaturas misteriosas. Imagem: Netflix (Divulgação) Dividida em cinco episódios, a sensação é que o roteiro desta nova temporada sofreu várias e várias vezes com o fator dele ter sido reescrito por conta dos problemas citados no primeiro parágrafo. A consequência acabou sendo aparições pífias dos novos personagens Teresa/Matinta Perê (Letícia Spiller, totalmente irreconhecível e em excelente atuação), Simone/Mula Sem Cabeça (Simone Spoladore, bem canastrona), o Lobisomem mirim Bento (Tomás de França, em péssima atuação que parece não ter ensaiado absolutamente nada, se resumindo em um sotaque forçado) e o Padre Venâncio (Rodrigo dos Santos, outra atuação canastrona).     Isso porque ainda não entrei no mérito da produção técnica, que parece ter sido mais barata o possível e mesmo nitidamente terem ido aos locais mostrados da Floresta da Amazônia, a sensação é estarmos vendo mais uma produção clichê sobre indígenas (que anualmente possuem mais de 500 produções do mesmo assunto, sempre na mesma maneira). E com direito a frases clichês (algumas parecem ter sido tiradas do Twitter do “Quebrando Tabu”) e situações constrangedoras que transformam os episódios em uma verdadeira tortura (e olha que são apenas cinco). E o trio protagonista? Enquanto Negrini fica totalmente deixada de lado (ela aparece pouco, e realmente não tem aquela presença gratificante), Dieguez parece ter desaprendido como atuar (deixando mais enfatizado que seu texto foi mudado várias e várias vezes) e Pigossi não passa aquela segurança/mistério que ele sempre carregada (independente do contexto que ele estava). Uma pena, pois eles eram para ser o foco da atração, ao invés de Débora/a cobra Boiuna (Zahy Guajajara, que acredita no fato de atuar se resume a cara de enfezada) e a policial Telma (Kay Sara, outra bem canastrona). A segunda temporada de “Cidade Invisível” é mais uma prova que a Netflix consegue ter a proeza de estragar quaisquer de suas produções, independente de sua índole ou nacionalidade.