Na tarde da última quinta-feira (31) – último dia de um conturbado 2020 – fomos surpreendidos com o anúncio da morte do rapper MF DOOM. Diversos artistas e fãs do músico prestaram suas condolências assim que a notícia foi dada. Contudo, muitas pessoas também não conheciam o trabalho e a carreira do artista.
Muitos do internautas que nunca tiveram contato com a discografia de DOOM questionavam as manchetes de sites. “Como pode ser um dos maiores sendo que eu nunca ouvi falar dele?”. É um bom argumento, claro. Ainda assim, mesmo sempre tentando se manter longe do mainstream, o rapper fez por merecer e nos deixa como um dos maiores da história no cenário do hip-hop mundial.
MF DOOM
Voltando para o dia 9 de janeiro de 1971, nascia em Londres, Daniel Dumile. Filho de pais imigrantes, o garoto se mudou para Nova York ainda muito novo. Aliás, mesmo nunca tendo se naturalizado, Dumile nunca escondeu seu grande amor pela cidade.
Sua carreira começou em meados de 1988, quando formou o grupo KMD, junto de DJ Subroc, seu irmão caçula, e Rodan. Na época, Daniel era Zev Love X.
O grupo chegou a produzir dois discos em estúdio (Mr Hood e Black Bastards). Infelizmente, puco antes do lançamento do segundo álbum, Subroc morreu após ser atropelado. Black Bastards foi arquivado – tendo sido lançado apenas alguns anos depois – e DOOM retirou-se do cenário do hip-hop.
On Doomsday!, ever since the womb ‘til I’m back where my brother went, that’s what my tomb will say
MF Doom na faixa Doomsday
O rapper chegou a viver nas ruas por algum período e só foi se estabelecer novamente quando se mudou para Atlanta. Em entrevistas, Dumile conta que este período da sua vida foi necessária para ele “se recupar das feridas causadas pela indústria musical”.
Em 1997, Daniel reencarnou no cenário como MF DOOM, o pseudônimo faz alusão a sua máscara, muito semelhante a usada por Doctor Doom, vilão das HQs da Marvel Comics. São poucas explicações em torno da decisão do músico de usar o objeto para esconder parte do rosto. Contudo, muitos acreditam que trajado, o rapper se posiciona como inimigo, não só da indústria da música, mas também de construções de identidade dominantes até os dias atuais.
Seu disco solo de estreia, intitulado Operation: Doomsday, lançado no final da década de 1990 foi um sucesso. Além dos vocais, o artista também produziu todas as faixas do trabalho.
King Geedorah
Em 2003, Dumile divulgou mais álbum, Take Me To Your Leader. Nesse, Daniel é creditado como King Geedorah. Aliás, o projeto só conta com quatro músicas cantadas por ele. O restante, os vocais ficam por conta de outros MCs convidados.
Viktor Vaughn
Como Vikor Vaughn, Daniel lançou Vaudeville Villain. Justamente por conter uma assinatura diferente, o projeto é conhecido por poucos fãs do artista.
Uma curiosidade bacana é que Vaughn também é creditado em Fancy Clown, faixa do disco Madvillainy.
Madvillain
Aqui chegamos no que muitos consideram o ponto alto da carreira de MF DOOM. Em 2004, junto do produtor Madlib – que sampleou diversas músicas brasileiras no álbum, mas isso é assunto para outro artigo – Dumile criou o Madvillain.
Juntos, a dupla lançou apenas um registro, através da Stones Throw Records. Intitulado Madvillainy, o álbum foi aclamado pela crítica e até hoje é conhecido como o maior trabalho feito na cena do hip-hop underground. As 22 faixas do álbum serviram de inspiração para inúmeros rappers que estavam iniciando a carreira na época.
Pós-Madvillain
Em síntese, o músico ainda lançou mais dois discos solo. MM…FOOD (2004) e Born Like This (2009).
Sua última década foi marcada por diversos trabalhos colaborativos, como o álbum Key To The Kuffs e Czarface Meets Metal Face.
Despedida para MF DOOM
Por fim, gostaria de registrar minha despedida a Dumile. Conheci seu trabalho por volta de 2015 e foi a minha porta de entrada no cenário. Alguns dos discos citados aqui entram facilmente no meu top 20 da história.
Sua missão foi concluída com êxito MF DOOM. Muito conhecido por ser ‘vilão’, para mim – e para muitos outros – foi herói. Obrigado.
