*Para quem estava com saudade do cantor, compositor e músico Arnaldo Baptista, a oportunidade é hoje, às 20h30, no Teatro do Sesc. O ex-mutante desembarca na Cidade com o show Sarau o Benedito?, responsável por seu retorno aos palcos, no ano passado, após um hiato de vários anos.
Aos 64 anos, ele continua afiado, principalmente na hora de falar sobre qualquer tema, embora se diga bem mais tranquilo em relação ao passado. De cara, joga água no chope de quem ainda pensa em vê-lo novamente ao lados dos irmãos Claudio e Sérgio, em um show da banda Os Mutantes.
“Não me dou com um deles. Temos diferenças em relação a muitas coisas ligadas à música. Nada de Mutantes”. Por outro lado, se diz feliz em voltar aos palcos e, no caso de hoje, em show solo ao piano.
No repertório, vários clássicos como Cê Tá Pensando Que Eu Sou Loki, Não Estou Nem Aí, Jesus Come Back To Earth , Balada do Louco e algumas inéditas do CD Esphera, em compasso de espera (“de patrocínio”), para ser lançado, embora ainda não esteja finalizado. “Compus oito músicas, mas quero que tenha dez ou 12”.
Das novas, Arnaldo va mostrar ao menos duas logo mais: I Don’t Care e Walkind in The Sky. “E tem outras coisas diferentes que faço. Tem música infantil para gatinho, música de eletricidade solar, vegetarianismo, amplificadores valvulados e assim por diante. Tudo me inspira. Pode ser que eu cante mais algumas coisa. Não sei, sou muito levado pelo momento. De repente, alguma sereia santista cante para mim e eu para o público”.
Certo, porém, é que Arnaldo foca em suas obras temas românticos, bíblicos, materialistas, de meio ambiente… Ele tem diversas cartas na manga. Outra experiência que faz questão de dividir com o público é sonora. Ele utiliza amplificador que passam à plateia exatamente o som como ele está ouvindo no retorno de palco.
Cinema mudo
Recentemente, o artista foi convidado para participar da abertura do Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, no qual tocou, ao piano, uma trilha para a exibição do filme Viagem à Lua (de 1901), de Georges Méliès.
“Não toquei a trilha feita no ano passado pela dupla francesa, toquei o que eu sentia durante a exibição. Foi uma experiência muito interessante. O Georges era visionário, um ficcionista maluco”.
Apresentação, conta, que o levou ao passado. “Meu avô era pianista e tocava durantes os filmes mudos de Carlitos e de O Gordo e o Magro”.
Roqueiro até à medula, Arnaldo Baptista se diz movido pelo gênero. Tem como bandas preferidas Kiss, Yes e Jethro Tull, lendárias desde os anos 1970. Instigado a indicar as que gosta de rock nacional, foi econômico.
“Pato Fu, dessas tantas dos anos 1980, não gosto. A máquina (indústria) as consumiu. Para fazer rock é preciso estudar. Não só rimar”.
Politicamente, Arnaldo se diz decepcionado com os rumos nacionais comandados por nossos representantes no Legislativo. Mais do que isso, confessa que não entende muita coisa que os políticos fazem, a enorme distância entre discurso e prática.
“Não é de hoje. Meu pai foi preso pelo AI 5 e até hoje não entendi o motivo”.
Arnaldo curte a ampliação, há uma ano, do sentido de artista. Agora, agrega o plástico. Se entrega aos pinceis, lápis, papéis e telas, graças ao apoio da esposa Lucinha, e do espaço qu dispõe em casa para ‘sujar’ as paredes (brincadeira).
No show há um vídeo-cenário com projeções de suas obras como artista plástico. “Como classifico minha arte? Exo-realismo, de êxodo. Pinto algo como um ET de Vagina, não de Varginha”.
De março a abril deste ano, as obras de Arnaldo Baptista puderam ser conhecidas na exposição Lentes Magnéticas, na galeria Emma Thomas, em São Paulo. Foi sucesso de público e mídia.
Os ingressos para o show custam R$ 5,00, R$ 10,00 e R$ 20,00. Rua Conselheiro Ribas, 136, telefone 3278-9800.
***Texto por José Luiz Araújo