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Crédito: Barry Brecheisen

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Entrevista | Evan Dando (The Lemonheads) – “Sou um homem renascentista”

Depois de um hiato de 18 anos sem lançar nada inédito, a banda norte-americana The Lemonheads está de volta. E o retorno não poderia ser melhor para os fãs brasileiros. Após gravar o novo álbum em São Paulo, Evan Dando e companhia iniciaram uma curta tour pelo País. Belo Horizonte e Florianópolis foram as primeiras contempladas. Na próxima sexta-feira (19), será a vez de retornar a São Paulo, com show no Cine Joia.

Apontada como promessa do rock alternativo nos anos 1990, The Lemonheads emplacou hits nas paradas e em trilhas sonoras de filmes, como Quanto Mais Idiota Melhor 2 e Lobo de Wall Street.

Apesar de ter surgido em 1986, o auge do Lemonheads só veio a partir de 1992, com o lançamento do álbum It’s a Shame About Ray, o quinto de estúdio. O álbum tinha como carro-chefe uma versão marcante de Mrs Robinson, de Simon & Garfunkel, além da faixa-título. 

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No ano seguinte, mais um passo firme na consolidação, com o álbum Come on Feel the Lemonheads,  com outro grande hit: Into Your Arms, versão para uma música do duo australiano Love Positions, que contava com Nic Dalton, que depois virou integrante do Lemonheads. 

Na mesma época, Evan Dando foi incluído na lista das 50 Pessoas Mais Bonitas da revista People. Passou a ser figura constante em programas de TV e capas de outras publicações. Além disso, também ficou constante suas aparições com os irmãos Gallagher, do Oasis, sua amizade com Courtney Love, viúva de Kurt Cobain, entre outras personalidades.

Reabilitação de Evan Dando e show em Santos

Entre pausas para reabilitação e novas gravações, Evan Dando veio com o Lemonheads para o Brasil, em 1994, sendo uma das principais atrações do M2000 Summer Concerts, que levou mais de 100 mil pessoas para a Praia do Boqueirão, em Santos.

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Entre 1998 e 2004, a banda viveu um hiato um pouco maior. Foi nesse período que Evan Dando passou a excursionar solo, mas tocando canções do Lemonheads.

Em 2005, a banda retornou com uma formação para estúdio reforçada por Bill Stevenson e Karl Alvarez, integrantes do Descendents. Stevenson ainda fez dois shows no Shepherd’s Bush Empire, em Londres, quando o Lemonheads tocou It’s a Shame About Ray na íntegra.

The Lemonheads, de 2006, foi o último álbum de inéditas da banda, que ainda manteve pequenas turnês esporádicas nesse período. De lá para cá, somente dois álbuns de covers foram lançados, Varshons (2009) e Varshons 2 (2019).

O novo momento do Lemonheads foi antecipado por dois singles, Fear of Living e Seven Out. Ainda não há uma previsão para o lançamento do álbum. Mas o público de São Paulo pode matar a saudade da banda na próxima sexta-feira (19).

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E o atual Evan Dando, diferentemente do que veio ao Brasil nos anos 1990, é bem mais brasileiro. Tudo graças ao namoro com a cineasta Antonia Teixeira, filha do músico Renato Teixeira. O vocalista do Lemonheads tem passado longas temporadas no Brasil, vivendo na casa da família da namorada, na Serra da Cantareira. No ano passado também fez uma série de shows solo pelo País. 

Um pouco antes de iniciar a gravação do novo álbum, Evan Dando conversou com o Blog n’ Roll sobre as lembranças do M2000 Summer Concerts, amizades, drogas e um possível livro. Confira abaixo.

O Lemonheads fez um show memorável em Santos em 1994, junto com Mr. Big e a Rollins Band, você recorda? 

Sim, me lembro quando Henry (Rollins) bateu no rosto com o próprio joelho e ele estava todo ensanguentado. Íamos jogar uma toalha para ele, mas ele disse não, não, não.

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Porque ele era aquela coisa de Alice Cooper, quando você joga um bolo nele, você deixa ele ligado. Não sei, ele disse: não, não, não, não quero a toalha, obrigado. Mas é disso que me lembro principalmente.

E lembro que pegamos um monte de cocaína ruim e tocamos, foi muito tenso no palco. Geralmente é muito fácil com todas essas pessoas, porque se você simplesmente não está chapado, está bem, porque você fica chapado com toda aquela energia das pessoas que conhecem as músicas. Mas a cocaína é pior do que, peraí, não sei se o LSD é pior, na verdade.

Mas a cocaína pode te deixar um pouco desconcertado. No entanto, nos divertimos tocando, estava tudo bem.

De qualquer forma, parei de usar drogas há três anos. E sim, eu especialmente não compro. Aprendi a não fumar crack há muitos anos. Porém, agora estou fora de todas as outras coisas. Ainda fumo maconha, mas também tomo cerveja.

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Mas estou tranquilo agora, o que é ótimo porque durmo e não perco a voz e está tudo bem. Anteriormente, já perdi minha voz em uma turnê.

Crédito: Carlos Marques / A Tribuna
Acho que você veio para Santos mais uma vez na década de 1990 ou no início dos anos 2000, não? Mas sem uma apresentação oficial.

Sim, 1997 e 2005 ou 2004, foram duas vezes. Para visitar Antonia e enquanto fazia uma turnê. Acho que toquei em um clube pequeno, não lembro direito.

E você já está morando no Brasil? 

Sim. Só viemos aqui (para os Estados Unidos) para ter certeza de que eu poderia morar lá, basicamente, porque tinha que terminar meu processo de divórcio. Não foi grande coisa. Também viemos aqui para digitalizar fotos antigas. Pretendo lançar um livro da minha vida.

Mas moro no Brasil agora. É o bastante pra mim. Acho que gosto muito mais de morar lá (Brasil). Nada contra os Estados Unidos, porque é muito bom estar aqui agora, mas adoro voltar para casa. 

Agora estamos prestes a ouvir um novo álbum do Lemonheads, o primeiro em quase 20 anos. Por que demorou tanto para isso? 

Simplesmente não fiz isso, não senti que era hora, demorei muito para entender. Estava fazendo coisas, mas usava muitas drogas. Dessa forma, estava escondendo meu talento. Foi como se estivesse me acalmando um pouco. 

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Então, agora sou um pouco mais chato, mas pelo menos sou um ser humano. E o meu impulso criativo voltou. Felizmente, com muitas coisas extras, porque escrevi há tanto tempo que parece um primeiro álbum. É realmente emocionante, mas também engraçado.

Parece que tenho algumas vidas. Meu amigo, que morreu quando tinha 22 anos, uma vez nós nos olhamos no espelho e ele me disse: ‘ah, olha quantas vidas tem aí’. Sim, sou o tipo de pessoa que tem muitas vidas diferentes. Mas ele morreu logo depois disso.

Poderia ter percebido naquele momento também, mas estava na linha do ‘vou viver muito tempo’.

Fico feliz em saber que agora você está se sentindo bem, inspirado.

Estou! Estou escrevendo um livro, fazendo um show, uma exposição de pintura, tenho uma tour pela frente, além de um álbum novo. Sou um homem renascentista neste momento.

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Até o momento foram duas ótimas prévias do novo álbum. Como o novo disco difere dos outros do Lemonheads? 

Ah, não é tão diferente. Parece um pouco mais como se Dan Lardner tivesse feito essas músicas. Escrevi algumas músicas como Dan Lardner. Ele gostava muito disso, uma coisa mais pesada, uma espécie de cowpunk.

Quando tivermos o álbum inteiro, vamos reviver aquele medo de viver diferente. Tomamos muitas decisões difíceis porque temos muitas demos prontas. Como fizemos um ano de demos, temos cerca de 30. Mas precisamos fazer um disco de 12 músicas com isso.

Podemos deixar algumas para o próximo disco. Até o momento temos demos, só para ver o que vamos gravar. Toquei tudo. Agora, a banda vai chegar e depois vamos gravar o disco. Eles chegarão no dia 3 de julho para gravar o álbum.

O disco vai ser gravado inteiramente em São Paulo? 

Sim, você nunca sabe até terminar. Mas planejamos fazer tudo no Brasil e talvez ser masterizado pelo Bob Ludwig (Bruce Springsteen, Dire Straits, Lou Reed, Queen, Metallica) ou alguém sofisticado para concluí-lo. 

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O que você mais recorda do auge dos Lemonheads nos anos 1990?

Foi apenas muito trabalho duro. De 1986 a 1990 foi muito trabalho. A partir de 1992 que começamos a ver dinheiro.

Eu odiava aqueles momentos ruins, mas os bons foram realmente ótimos. Estou muito grato por isso.

Mas não vou dizer que me arrependo de nada, não fizemos nada tão ruim. Tive um grande momento: chorei, ri, vomitei, caguei, mijei.

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Esta é a minha próxima pergunta. O que você não experimentaria novamente se pudesse voltar no tempo? 

Eu não penso em coisas assim porque isso não vai acontecer. Eu tenho coisas suficientes para me preocupar, não mudaria nada. Tudo está perfeito, tudo foi perfeito.

E você acha que o rock perdeu força comparado com os anos 1990?

Podíamos dizer que não sabíamos que porra estávamos fazendo até experimentar uma cena de rock norte-americana propriamente dita nos anos 1990. Mas nós realmente começamos nos anos 1980. Então, a gente consegue ver que o gênero está perdendo mais força a cada dia. Quem é quem? O que é a música grunge? O que é a música rock?

Espero que continue na moda por muito tempo, mas sinto que os anos 1980 nunca terminaram.

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Agora, vou fazer algo diferente, separei alguns nomes que possuem ligação contigo ou com o período auge do Lemonheads e gostaria que você os definisse em apenas uma palavra…

Johnny Depp – digno

Evan Dando e Johnny Depp (Reprodução)

Courtney Love – inteligência

Kurt Cobain – lamento

Liam e Noel Gallagher – sintonia

Evan Dando com Liam Gallagher, no Glastonbury de 1995 (NME / Reprodução)

Paul Simon – afinado

Chris Cornell – Cantor

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Eddie Vedder – Sobrancelha

Quais são os três músicos brasileiros que mais te fascinam e por quê? 

Pelé, Alquimistas, Xuxa. São músicos, né? Pelé, Xuxa e Elis Regina. Peraí, Elis Regina, Tom Jobim e Renato Teixeira. 

O que você acha da música do seu sogro? 

Oh, meu Deus, isso simplesmente te prende, sabe? Isso te prende pelo coração. Ele é muito intenso.

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