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Entrevista | Marco Homobono – “A ânsia de repetir essa experiência não me abandona”

O ano vai chegando ao fim e por todo lado surgem listas dos melhores do ano. Fã de Alta Fidelidade que sou, vou ao delírio. Por aqui não sei se vou fazer a minha, mas uma grande certeza seria a presença de 21 de Março de 1973, o EP de estreia de Marco Homobono.

Marco Homobono sempre foi a guitarra e voz do Djangos (outrora Los Djangos, Kamundjangos e até Corações e Mentes), trio carioca de ska e afins com mais de 20 anos de história no Rio e que andava sem dar notícias. O EP traz o mesmo faro de compositor afiado do Marco Homobono, mas com outra roupagem sonora. Recomendadíssimo.

Como foi o processo de gravação do EP 21 de Março de 1973? Quantas pessoas estiveram envolvidas? O disco tem uma sonoridade muito requintada!

Esse processo começou quando, numas férias no meu antigo trabalho, eu comprei uma placa de áudio, um microfone e um controlador midi. Comecei a gravar coisas em casa com um pouco mais de seriedade até começar a compreender que eu poderia gravar um disco todo concebido no meu quarto. Eu gravei a maioria dos tracks em casa.

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Em algum momento desse processo, Jomar Schrank, que conheci durante as gravações do disco Mundodifusão nos estúdios do Yuka, surgiu como uma pessoa que me ajudaria acrescentando vários outros elementos, desde guitarras, teclados, beats, linhas de baixo e vozes.

Ficamos um longo período nos encontrando no estúdio caseiro dele, todas as quintas, inventando coisas para esse disco. Até esse momento, eu chamava o projeto de Minha Pequena Soundsystem e eu nunca havia me visto como um artista solo. Eu era, antes de tudo, integrante de uma banda. Lancei algumas músicas nesse período, uma delas é a participação no Jeito Felindie, um tributo de bandas independentes ao Raça Negra, onde fiz uma versão para o hit Fica Comigo.

2015 foi um ano bem difícil para mim mas ao mesmo tempo foi o ano em que comecei a despertar para essa minha vida atual e passei a me valorizar mais como músico e, principalmente, como compositor. Então, no desdobramento desse sentimento, cheguei a conclusão de que eu poderia sim figurar como um artista solo e resolvi dispensar a ideia da Minha Pequena Soundsystem. Me assumi como Homobono. Isso foi revolucionário.

A essa altura, eu já tinha umas duas músicas mixadas por Jomar e sua esposa, Daniela Pastore, e comecei a trabalhar com o Fabio Brasil, baterista do Detonautas. Compus e gravei duas músicas com ele e lançamos isso na internet como Mento y La Gente. Fábio, assim como o Jomar, foi muito generoso comigo e se ofereceu para mixar e masterizar o resto das faixas que faltavam para um EP com seis músicas.

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Aproveitei para incluir algumas músicas mais novas que eu não tinha feito com o Jomar mas que representavam uma certa maturidade (ou um momento de menos inocência) na minha produção. Eram elas Jesus Cristo É Ótimo, Sobrevivente e Ela é Grajaú. Juntei com o que já tinha gravado com o Jomar e isso deu origem ao meu primeiro EP 21 de março de 1973.

Além do Jomar e do Fábio, vários amigos me ajudaram a fazer esse EP. Patrick Laplan, Flavio Corrêa, Julio Dain, Andrea Cavaleiro, Vivian Benford e Maurício Limeira tiveram vital importância para que esse lançamento saísse.

Acompanhei alguns shows e quase sempre tinha alguma novidade na formação. Qual a ideia para os shows do Homobono? Eu tive a impressão que a ausência de uma bateria e quase sempre do baixo foi proposital para diferenciar do som da sua banda. É por aí?

A ideia dos shows é fazer uma fusão entre o orgânico e o eletrônico. Tenho tocado com beats que eu preparo em casa. É como se fosse uma base para MC cantar. Procuro colocar meu estilo e as minhas influências de dub, então você vai escutar muito delay e repetições.

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Esse é um processo que está em pleno andamento pois toda hora eu mudo os beats, procurando um timbre melhor. Espero no futuro, contar com um baterista para fazer um crossover como eu vejo certas bandas fazerem, tipo o Buraka Som Sistema, Nine Inch Nails e o Baiana System, por exemplo.

A questão da formação realmente é algo divertido. Comecei sozinho com um computador, depois passei a tocar com o Maurício Noro, de Mogi das Cruzes, na guitarra e ipad. Fiz alguns ensaios e um show com o Ludi Um no ipad e voz.

No dia de lançamento do EP, na Audio Rebel, pude tocar com o Duda Antiartista, um músico do bairro de Guadalupe que admiro muito, no baixo e teclados. E mais recentemente me apresentei com o DJ André Paumgarttem, ex-Arkham. Isso tem menos a ver com a música do que com a amizade.

Spotify ou demo-tape? Por quê?

Spotify. Não tenho nenhum fetiche com os produtos que um dia usei muito, tipo o vinil ou a fita cassete, apesar de reconhecer o seu encanto. E olha que a minha experiência musical se deu escutando muitos compactos e LPs, assim como os cassetes. Hoje, não compro mais CD.

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Já cheguei a dar os meus discos de vinil para alguns amigos. Costumo conhecer novos artistas e escutar meus favoritos por meio do YouTube, Soulseek ou até mesmo o Spotify. A despeito da qualidade do áudio, eu não desgosto do mp3.

Recentemente você contribuiu com My Michelle pro tributo aos 30 anos do Appetite for Destruction. Quais são as bandas que você mais curte que surpreenderiam quem conhece o seu som?

Talvez não seja surpresa para muita gente pois sempre deixei escapar que sou uma pessoa que se interessa por muitos estilos de música. A prova é o meu EP 21 de março de 1973 que tem faixas bem diversas entre si. Curtir música romântica italiana, por exemplo, ou até mesmo o Raça Negra, possa espantar alguém menos precavido.

Com o Djangos você gravou um CD por major e, quase dez anos depois, um CD independente. O que cada uma das experiências teve de mais positivo?

Gravando pelas majors, pude trabalhar em estúdios consagrados, onde outros artistas mais experientes haviam gravado antes. Isso garante uma aura muito mágica para mim e, é claro, a qualidade das gravações. Pude trabalhar com o Tom Capone, produzindo o disco, junto com o João Barone, baterista de uma das minhas bandas de coração.

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Fora desses esquemas e partindo para o trabalho com muito menos orçamento no independente, pude ver o quanto de trabalho você tem que fazer para impulsionar sua carreira. Isso, em princípio, tinha uma pecha de penúria, ostracismo ou fracasso.

Mas com o tempo e com os desdobramentos da internet e suas possibilidades, eu pude ver que isso poderia ser um trabalho como qualquer outro, onde podemos viver de música, vendendo canções, discos, shows, merchandise e outros serviços. Ainda não vivo essa realidade mas é um caminho bem instigante.

De positivo nessa história, tanto no independente como nas majors, são as pessoas sensacionais que tive a sorte de conhecer. Gente talentosa e aguerrida que me admira pelo que sei fazer de melhor que é minha música, e elas presenciaram bons momentos meus, executando minhas canções ao vivo, por alguns cantos desse país. Isso, definitivamente, não tem preço.

Já são uns 25 anos tocando, né? O que te faz ter vontade de continuar tocando e lançando coisas novas, Homobono?

Bicho, talvez seja um problema psiquiátrico ainda não diagnosticado mas eu tenho um prazer compulsivo em escutar minhas próprias músicas. Isso desde a época dos Kamundjangos, onde eu escutava e reescutava as diversas gravações de ensaios até hoje com as minhas produções menos modestas com o Homobono.

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Antigamente, havia também uma alegria muito grande de fazer shows. Estar no palco era uma felicidade e ainda é. A ânsia de repetir essa experiência não me abandona, apesar das dificuldades e da tensão.

Hoje, tenho a consciência de que o melhor que faço nessa vida são melodias, arranjos, letras. Isso é o filé mignon do meu espírito. Acho que a vida deve ser vivida com você oferecendo ao mundo o melhor de si. E a música é o meu melhor.

Quais os próximos planos?

Em 2018, o primeiro disco dos Djangos, Raiva Contra Oba Oba, completa 20 anos. Não existiria ensejo melhor para eu me reunir com o João e o Lyle para tocar o disco na íntegra, junto com um naipe de metais. Vamos fazer alguns shows para celebrar um disco do qual muita gente gosta. Eu mesmo acho um disco muito bom e com um som grave lindo que comportou muito bem nosso skaraggapunkrock.

Também quero gravar o que será o primeiro disco do Homobono, já que agora eu devo vir mais ousado na questão da produção, pois fiz o meu EP com um espírito ainda meio vacilante quanto ao que estava sendo feito. Hoje eu tenho uma consciência maior sobre esse trabalho e acho que vou pisar fundo na questão dessa cruza de música eletrônica com pop eletroacústico.

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