Um vídeo de três minutos de duração, um pouco antes do início do show, reforça o que os fãs já sabem: o quão influente Alanis Morissette é para muitos artistas. Beyoncé, P!nk, Shirley Manson, Justin Timberlake, Justin Bieber, entre muitos outros, aparecem nessa retrospectiva de Alanis.
Na terça-feira (14), com o Allianz Parque lotado, a cantora canadense de 49 anos apresentou esse cartão de visitas. E ele diz muito sobre o quão grande ela continua mesmo após 11 anos sem vir ao Brasil e 28 anos do lançamento do seu principal álbum, Jagged Little Pill.
Aliás, Jagged Little Pill é a base desse show. Ele é tocado na íntegra, mas não em ordem. E sobra espaço para uma meia dúzia de boas canções de outros discos.
Alanis não é daquelas artistas que faz média o show todo, com camisa da seleção brasileira, “obrigado” e “te amo” em português, ou conversa furada. É hit atrás de hit, uma entrega descomunal na presença de palco. Resumindo, não precisa de enrolação.
Jagged Little Pill é um marco na música. Afinal, não era comum uma mulher de 21 anos expor seus sentimentos, falar de depressão e abusos nas letras ou mesmo mostrar tamanha desenvoltura para cantar e tocar gaita ou guitarra nos anos 1990.
Mesmo que já houvesse outras bandas formada integralmente por mulheres ou cantoras incríveis de rock e jazz de outras décadas, o fato é que a crítica musical branca e machista não sabia lidar com a grandeza de Alanis.
Isso, no entanto, nunca a intimidou. Desde a adolescência, Alanis precisou enfrentar o lado mais escroto da indústria musical, repleto de assédio e abusos. Vale destacar que Jagged Little Pill é o seu terceiro álbum de estúdio. Ela não foi plantada nessa posição. Precisou enfrentar o caminho desgastante até a fama.
Celebrar esse álbum com uma turnê é algo que os fãs sempre sonharam. Hits como You Oughta Know, Hand in My Pocket, Ironic, You Learn, Head Over Feet e All I Really Want vieram todos desse disco.
No show do Allianz Parque, muitas vezes a voz de Alanis era engolida pelo coro absurdo dos fãs. Mas em faixas mais tranquilas, a boa notícia: a voz continua impecável. E a extensão vocal perfeita, do jeito que incomodava alguns críticos malas nos anos 1990, que achavam isso exagerado.
Alanis também não precisa de trocas de roupas para chamar a atenção. Uma camiseta básica escrita “Family” e uma calça preta de couro foram suficientes para mostrar o atual momento da artista, que hoje tem três filhos e leva uma vida mais pacata no Canadá.
O show ainda reservou uma pequena homenagem ao saudoso Taylor Hawkins, que antes de estourar com o Foo Fighters era o baterista da banda de Alanis. Logo após o término de Ironic, o telão mostrou uma foto do músico com “In memory of Taylor Hawkins”. Taylor faleceu em março de 2022, em Bogotá, na Colômbia, dias antes do show que faria no Lollapalooza Brasil.
Que Alanis não leve mais 11 anos para retornar. A resposta do público mostrou o quanto ela é admirada e requisitada por aqui. Da última vez, em 2012, foram dois shows no antigo Credicard Hall (atual Vibra), em São Paulo, além de apresentações em Curitiba, Rio de Janeiro, Recife, Belém e Goiânia. Público tem de sobra. Ontem concentrou tudo no Allianz.
Abertura de Alanis foi com Pitty
Antes de Alanis, a cantora baiana Pitty mostrou suas credenciais com muita gana. Uma hora de show e com um apoio incrível dos fãs.
Confesso que ainda fico surpreso com essa mudança positiva de comportamento nos grandes shows internacionais. Quantas vezes vimos Engenheiros do Hawaii, Fresno, Carlinhos Brown, Lobão e tantos outros sofrendo com a fúria ansiosa dos fãs no aguardo da principal atração da noite?
Isso, felizmente, mudou muito. Não foi do dia para a noite. Foi uma longa jornada até se consolidar. Pitty foi ovacionada do início ao fim.
Sempre muito respeitosa com Alanis, falou em alguns momentos do quanto estava feliz por estar ali e o tamanho da influência de Jagged Little Pill na sua carreira.
Pitty, que antes da carreira solo integrava a banda punk Inkoma, também celebrou o aniversário do seu principal álbum, o debute Admirável Chip Novo, que já tem 20 anos. No Allianz, ela tocou nove das 11 faixas, em ordem. Ou seja, hit atrás de hit.
Na reta final, ainda incluiu outros três sucessos de outros álbuns: Memórias, Na Sua Estante e Me Adora.
Em turnê pelo Brasil com essa celebração ao disco, Pitty avisou que isso vai durar só até o fim do ano. Depois precisa de coisas novas. Show de alto nível para abrir a noite.