TEXTO: THIAGO MENEZES
FOTOS: LEANDRO GODOI / AUDIO / INSTAGRAM
O jazz, o soul, o funk e o R&B são velhos conhecidos na música. Estão tão presentes, como influências de tantos outros gêneros, que já se misturam imperceptivelmente. Mas alguns artistas ainda exploram esses estilos como protagonistas de seus sons. E duas forças da música contemporânea, Adi Oasis e Alfa Mist, se encontraram na última quinta-feira (11), em São Paulo, na Audio, e mostraram como esses gêneros passeiam entre o passado e o presente para mostrar sua identidade de hoje.
Movida pelo soul em sua voz, a franco-caribenha Adi Oasis abriu a noite com a turnê para apresentar seu novo álbum, Lotus Glow.
Expoente do chamado neo-soul, Adi tem uma potente e bela voz, que passeia entre estilos, do soul para o funk, do funk para o R&B, trazendo, sem medo, elementos da música pop para cativar quem a escuta. Só por isso, já garantiria a noite de todos que estavam ali esperando música boa.
Mas Adi entregou ainda mais, pilotando com muita habilidade e naturalidade seu contrabaixo, desfilando com ele pelo palco e conseguindo a façanha de competir, harmoniosamente, com a cantoria segura e envolvente da artista.
Com uma banda enxuta, composta pelo tecladista (e, por vezes, backing vocal) Jamin Jamal e pelo baterista Druvvy, Adi Oasis roubou a noite para ela. Carismática, a artista se enturmou com o público de São Paulo, arriscou frases em português, fez um cover de Onda, do brasileiro Cassiano, dançou e ainda chamou para um dueto a cantora brasileira Luedji Luna, na música Multiply.
O show de uma hora e meia passou voando, com o público encantado e conquistado por Adi Oasis, que prometeu voltar o mais breve possível. E, com esse debut em terras brasileiras, o retorno ao Brasil já é muito aguardado.
Alfa Mist
Após uma breve pausa, depois do agitado show de abertura, outro expoente da música atual entrou no palco com sua banda completa. Alfa Mist é um dos grandes nomes da conhecida cena britânica de jazz e lançou, no ano passado, seu mais recente disco, Variables.
Sentado no centro do palco, rodeado de teclados, Alfa Sekitoleko (seu nome de batismo) deu uma competente amostra do que é o jazz contemporâneo. Esse jazz que flerta a todo instante com o passado do cool, do bebop, do fusion, dentre outras históricas fases do gênero, mas que também tem suas fundações com o presente, ao misturar o trompete, guitarra e o baixo com o hip hop e o eletrônico.
Conhecido principalmente por seu trabalho como tecladista e pianista, Alfa vocalizou essa influência de hip hop no seu jazz ao cantar Organic Rust, com versos que podiam ser entoados por Kendrick Lamar.
Outro destaque da banda é o baterista Jamie Houghton, que marca o tempo de forma tão precisa que remete à música eletrônica, mas se permitindo, é claro, swingar e improvisar como se espera de um baterista de jazz clássico.
Ainda outro destaque da apresentação fica por conta da baixista Kaya Thomas-Dyke, que além de tomar conta de seu instrumento, trouxe, em dois momentos, sua voz para a apresentação, ao cantar de forma suave e até lírica, encorpando ainda mais o som do grupo comandado por Alfa Mist.
Exigindo mais imersão do espectador se comparada ao som dançante da Adi Oasis, a apresentação de Alfa Mist durou cerca de uma hora e mostrou outra faceta da música: a mais contemplativa. Onde o destaque são os detalhes. Uma quebrada na levada de bateria, ou acentos que a guitarra emitia, ou os dedilhados pontuais que o Alfa fazia em seu teclado, enquanto conduzia sua banda.
Uma noite de música em São Paulo, onde o público pode presenciar, com duas ótimas apresentações, como a música continua entregando experiências enriquecedoras ao unir o passado e o futuro.
