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Entrevista | Leoni – “O que ficou na indústria musical são os grandes vendedores”

Fundador e principal compositor do Kid Abelha, o cantor carioca Carlos Leoni Rodrigues Siqueira Júnior, o Leoni, de 57 anos, vive um momento especial. Além de voltar a gravar com o seu parceiro de longa data, Leo Jaime, ele segue na estrada para divulgar o seu trabalho solo.

Nesta quinta-feira (18), às 21h, ele se apresenta no Teatro Opus, em São Paulo. É um show no qual pretende resgatar seus maiores hits e homenagear os amigos. Em entrevista exclusiva, Leoni falou sobre seus planos futuros, lembranças de Santos, além de política, assunto que predomina nas suas redes sociais.

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Recentemente, você e o Leo Jaime voltaram a gravar juntos uma nova Fórmula do Amor. Qual é a sequência para esse projeto?

Acho que a gente continua fazendo esse show por mais um tempinho, tem muitos pedidos por datas. Já tocamos duas vezes no Rio e São Paulo. Vai rolar uma terceira, passamos por Belo Horizonte, Belém, mas não é um show que tem vida longa. Nós lançamos uma canção nova, que abre o show, a Fórmula do Amor II, que retoma o tema de Fórmula do Amor I, composta há 35 anos, e repensando a fórmula, a idealização, depois da nossa bagagem, falando que isso é uma bobagem. Não existe fórmula, amor ideal, pessoa ideal, alma gêmea. O que existe é a possibilidade de desfrutar das coisas que a gente tem, do amor que a gente tem, as pessoas que conseguimos conquistar de forma afetiva durante a vida. Volto a usar frases daquela música, além de outras do Paralamas também.

Tem mais músicas a serem lançadas por vocês?

Sim, Uniformes (saiu na última sexta-feira). É uma canção minha com o Leo, gravada pelo Kid Abelha no segundo disco, Educação Sentimental (1985), que naquela época falava sobre brigas de grupos musicais, no período pós punk. Sempre foi muito ridícula para a gente, que sempre gostou de tudo da música brasileira. Os punks atacavam os rockabilly, os skinheads davam porrada no pessoal do metal. Isso voltou a acontecer com as bolhas nas mídias sociais. A música Uniformes é isso. Você não é parte de um grupo, você é parte de um exército. Quem pensa diferente de você tem que morrer, é um traidor, vendido ou um idiota. Essa música fala sobre essas bolhas e a possibilidade de transcender isso através do afeto, do pensamento.

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Essas gravações podem se transformar em um EP?

Não acredito que a gente lance EP, mas talvez algo gravado no show, que está muito legal. Lançar um vídeo para quem não viu poder assistir. Estamos lançando singles. Se daqui a pouco rolar vontade novamente, gravamos mais.

Ao longo de sua trajetória, você se consagrou como um hitmaker. O que falta na música atual para termos grandes sucessos?

Sucesso depende de acaso, até mais do que a qualidade. Tem músicas maravilhosas que fizeram sucesso, horrorosas que fizeram sucesso, mas de um ponto de vista pessoal. Não existe objetivamente como dizer que música é maravilhosa ou horrorosa. Sucesso é você compor um tipo de música com um tipo de letra que, naquele momento, as pessoas querem ouvir. Isso não define se uma música é boa ou ruim.

Mas como ter vida longa nesse mercado fonográfico?

Tem uma diferença entre o hit e o clássico: o hit faz sucesso na época, mas o clássico faz sucesso e continua sendo regravado. Tenho músicas que fizeram sucesso na época do lançamento, como Seu Espião, mas que nunca mais ouvi por aí. Em compensação, tenho outras que seguem sendo tocadas, como Porque Não Eu? e Pintura Íntima viraram clássicos, estão nas rádios de flashback, foram regravadas, são tocadas nas fogueiras.

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Enxerga sons bons sendo produzidos no Brasil?

Muita coisa boa tem sido feita, só que tem tanta gente fazendo, tanta música sendo produzida, lançada, não tem mais o gargalo das gravadoras. Antes, eram 100 artistas por ano para lançar, agora é uma infinidade. Então fica difícil encontrar no meio dessa massa o que tem de bom. Isso deixa uma impressão que a música está mais pobre, mas isso não é verdade. A música brasileira nunca esteve tão rica e heterogênea.

Quais nomes você destaca?

Bandas de rock que adoro atualmente tem O Terno, que é maravilhosa, teria tido muito sucesso nos anos 1980, 1990. Faz sucesso hoje, mas é algo segmentado. Boogarins faz sucesso no mundo todo, mas aqui não é muito conhecida. Tem bons nomes no rock nacional, mas com muito mais dificuldade para chegar ao grande público. O que ficou na indústria musical depois que ela desabou diante da internet são os grandes vendedores. Os outros perderam lugar. No momento, são os sertanejos e alguns grandes artistas que mantiveram a fama.

O que pode adiantar sobre o show em São Paulo?

São sucessos da minha carreira inteira, inclusive sucesso nas redes sociais. Temporada das Flores, por exemplo, até teve gravação, mas não estourou nas rádios. No entanto, ela tocou muita gente porque fala sobre sair da depressão, esperar por dias melhores. Pessoas que estavam passando por quimioterapia a escutavam. Ou quem estava no processo de cura da depressão disse que virou um amuleto de sorte na luta. Fiz uma enquete para saber se o público queria ouvir o show de sucessos ou o Multiversos, que é inspirado na poesia contemporânea brasileira. Virei parceiro de alguns dos poetas contemporâneos, como Fabiano Calixto, Marcelo Montenegro, Paulo Henrique Britto, adoro Ana Martins Marques, Marília Garcia. Mas na eleição acabou ganhando o show de sucessos. Então, o público pode ir preparado para cantar muito. Toco alguns covers, poucos, mas de pessoas que gosto muito, coisas que me inspiraram.

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Você é um cara que sempre se posicionou politicamente nas redes. Tem algo que te preocupa na área cultural em tempos de eleição?

O que mais me preocupa, caso aconteça a tragédia de elegermos o Bolsonaro, é que todo regime fascista tem desprezo pela cultura, o conhecimento acadêmico, liberdade de imprensa. A verdade é fabricada pelo consenso, pelo os que detêm o poder. Que tipo de arte poderei fazer? Passei três anos gritando Fora Temer, mas sabia que não ia acontecer nada comigo. Não sei se eu disser Fora Bolsonaro, se eu não serei atacado pelas pessoas nas ruas, na internet. É um retrocesso em geral. Todo regime fascista também tem essa coisa totalitarista, com um irracionalismo comandando, que pode ser uma teocracia ou mística. No slogan dele você já vê Deus Acima de Tudo, ou seja, trata-se de uma teocracia, não é o conhecimento que rege. É uma determinada interpretação da bíblia, pois vejo muitos religiosos de todos os tipos que são contra o Bolsonaro. O problema é esse, passa a existir uma verdade oficial e todo o resto deixa de ser opinião e vira traição. É um pesadelo pensar em um mundo que será gerido por esse tipo de pensamento.

Acompanhou a polêmica no show do Roger Waters?

Sim, era muito evidente que uma pessoa como o Roger Waters, que teve o pai assassinado pelos nazistas, fizesse um libelo da sua vida contra o fascismo. Fiquei impressionado dos fascistas irem assistir. O Pink Floyd sempre foi uma banda que se posicionou politicamente nesse sentido. O Roger Waters mais ainda. Com o The Wall isso ficou ainda mais explícito. Eles irem lá e se chocarem com isso? Ele não falou só do Bolsonaro, falou de todos. As pessoas ainda não se deram conta disso? Não reconhecer o fascista é mais assustador.

Serviço: Os ingressos custam entre R$ 50,00 e R$ 150,00. para comprar, acesse o site Uhuu. O Teatro Opus fica na Av. das Nações Unidas, 4.777, no Shopping Villa-Lobos, em São Paulo.

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