Duas coisas são certas em um show de Paul McCartney: o eterno Beatle vai te deixar emocionado com um set extenso, mas ele também vai decepcionar por deixar muitos clássicos de fora. No entanto, essa é justamente a graça de assistir Paul por várias vezes. Na última quinta-feira (7), na abertura do Got Back Tour em São Paulo, assisti pela quarta vez em nove anos, todas no Allianz Parque (2014, 2017, 2019 e 2023). Em todas as vezes fui surpreendido com alguns clássicos dos Beatles e Wings.
Aliás, desde 2010, nenhum país recebeu mais apresentações do ex-Beatle do que o Brasil. A única exceção foram os Estados Unidos. São dezenas de apresentações por aqui. Se somarmos todos os shows desde a estreia, em 1990, Paul vai completar 37 apresentações no País, incluindo já todos da atual tour.
Para quem vai acompanhar Paul neste sábado (9) e domingo (10), é preciso destacar que algumas canções são inegociáveis. Ou seja, Let It Be, Hey Jude, Blackbird, Ob-La-Di, Ob-La-Da, Band on the Run, Helter Skelter certamente estarão no show, assim como na última quinta-feira.
Diante de 48 mil pessoas, Paul abriu o show com Can’t Buy Me Love, o suficiente para fazer o estádio inteiro cantar junto. Dali em diante foram 21 canções dos Beatles, oito do Wings, uma do Quarrymen (grupo que deu origem aos Beatles), além de seis faixas da carreira solo.
Mas além de emocionar, Paul também diverte. Faz dancinhas desengonçadas, conversa em português e brinca com expressões locais: “Oi São Paulo! Boa noite, manos!”, disse o músico logo no início.
Carisma da banda de McCartney
O baterista Abe Laboriel Jr., que está com uma torção no pulso e tocou boa parte do show com apenas um braço, também entrou na onda de Paul. Conquistou o público esbanjando carisma com dancinhas típicas de tik tokers.
Mas Abe não é o único em total entrosamento com McCartney. O tecladista Paul Wickens e os guitarristas Rusty Anderson e Brian Ray também estão muito à vontade no palco. Afinal, são mais de 20 anos juntos, mais tempo que Paul passou com os Beatles, por exemplo.
A voz de Paul, aos 81 anos, não é mais a mesma, por motivos óbvios. Mas carisma, bom humor e tributos compensam. Impossível alguém sair decepcionado com ele por conta disso.
Homenagens de McCartney
John Lennon foi lembrado em dois momentos. Primeiro em Here Today, quando Paul fez uma linda declaração de amor ao melhor amigo, morto em 1980. Depois com um dueto maravilhoso em I’ve Got a Feeling, onde o público consegue ouvir um trecho do último show dos Beatles, no telhado da Apple em 1969, com Lennon assumindo os vocais no final da canção. Paul num telão, John no outro, com uma qualidade de som absurda.
George Harrison, falecido em 2001, aparece também no telão, quando Paul canta Something, outro momento emocionante do show.
Ver de perto Paul McCartney é contemplar uma das maiores instituições da música em plena atividade. Nunca sabemos quando será a última vez, mas todas são especiais e diferentes. Mesmo que o fim seja praticamente inalterado sempre, o início e o recheio dos shows mudam bastante de uma noite para a outra. Apenas vá!