O Black Label Society está de volta! Nesta sexta-feira (26), a banda de Zakk Wylde lançou o seu décimo primeiro álbum de estúdio, Doom Crew Inc. O sucessor de Grimmest Hits (2018) conta com 12 faixas, que soam como um tributo ao “primeiro a sangrar, o último a sair” da banda. E com guitarras ainda mais técnicas de Zakk.
Em resumo, as canções são odes à celebração e luto, as trilhas sonoras de noites de júbilo e dias confusos, gravadas no estúdio caseiro de Zakk, o Vaticano Negro.
Neste álbum, Zakk troca solos e partes de guitarras gêmeas com Dario Lorina, apoiado pelo estrondo do baixista de longa data, John “J.D.” DeServio, e o poderoso baterista Jeff Fabb.
Zakk conversou com o Blog n’ Roll via Zoom e explicou mais sobre o conceito do álbum, além de algumas histórias curiosas de sua carreira.
O quão diferente foi gravar Doom Crew Inc.? Como foi o processo de criação dessas canções?
Não foi diferente de fazer qualquer um dos outros álbuns. Quero dizer, minha esposa me disse que teríamos cerca de um mês antes dos caras chegarem para a gravação, então simplesmente comecei a trabalhar. Fui para a academia, liguei meu amplificador, comecei a escrever… Quero dizer, basta você se inspirar e começar a escrever, sabe. Não foi diferente.
Gosto de passear com os cachorros à noite e ouvir música. Enquanto estou andando com eles se eu ouvir algo suave e me inspirar, me sento atrás do piano, começo a escrever e então temos outra música.
Algumas faixas surgiram assim na minha carreira, como Farewell Ballad. Essa escrevi quando estava trabalhando para uma revista de guitarras. Eu estava fazendo uma peça solo, então escrevi essa progressão, e isso se tornou a Farewell Ballad. Foi assim que as coisas aconteceram nesse álbum também.
Mas, quero dizer, no que diz respeito à gravação do álbum, eu fiz todas as guitarras antes mesmo dos caras chegarem. Todas as guitarras que você ouve já estavam prontas antes mesmo dos caras colocarem a bateria e o baixo.
Você chegou a declarar que o “novo álbum é um álbum de duas guitarras, guitarras gêmeas, algo como Allman Brothers ou Judas Priest”. Qual é o tamanho do peso dessas guitarras em Doom Crew Inc.?
Só acho que dá outro sabor à sopa, sabe? E o Dario (Lorina) é demais. Ele é um guitarrista incrível e também toca piano … podemos dizer que ele lava pratos, ele lava roupa, ele na verdade faz uma batata com frango incrível, ele é demais.
Set Your Free foi o primeiro single revelado por vocês do Doom Crew Inc. E o videoclipe é algo muito nonsense. Queria que você comentasse um pouco sobre essa produção. Qual foi a ideia da produção?
Bem, Justin Rick, que é nosso diretor de vídeo, está conosco desde 2014. Ele é a base da banda, o diretor da Black Label Society, então eu disse: “sigam o Justin”. Eu só queria fazer um vídeo que capturasse meu baile de formatura, em 1985, na Jackson Memorial High School, em Nova Jersey. Então, basicamente foi isso.
Estávamos vestidos como a banda, e a única coisa diferente foi que colocamos ela em preto e branco, mas no que diz respeito aos sais de banho e os caras rasgando os testículos no final do vídeo… aconteceu tudo isso, eu estava lá. Chorei da primeira vez, e quando vi esse vídeo, chorei de novo (risos).
Doom Crew Inc. é a trilha para a retomada da vida após esse período de isolamento social?
Oh, é isso. Ou algumas pessoas vão ouvi-lo e dizer: “este álbum é tão terrível que nem quero mais estar aqui. Só quero acabar com tudo” (risos). Não, quero dizer, porque as pessoas falam sobre a influência da pandemia ou sei lá o quê.
Mas, para mim teve um lado bom. Finalmente tive a chance de passar um tempo de qualidade com minha família, sabe? Isso é o que eu recebi durante a pandemia. Passear com meus cachorros, passar tempo com minha família, pegar meu filho na escola e depois ir para suas aulas extras, e ser capaz de fazer coisas que normalmente não faço, porque estou na estrada o tempo todo, então quando estou em casa são as férias. Eu realmente aproveitei meu tempo em casa.
Esperançosamente, em breve, o mundo voltará ao normal. Vamos chutar o traseiro e todo mundo vai se divertir, ir para shows e fazer coisas que amamos fazer.
O que você escutou nesse período que ficou mais em casa?
Escuto tudo. Ouço Allan Holdsworth, orquestra, Robin Trower… Eu também ouço estações de rádio, onde você conhece todos esses artistas incríveis que você nunca ouviria. Mas ouço de tudo, desde Flock of Seagulls à orquestra Maha Vishnu, Joe Pass, Scott Henderson, Steve Morris, The Drags… você sabe, apenas ouço um monte de coisas assim. E, claro, todos os meus discos de rock clássico que adoro, como Zeppelin, Sabbath e Elton John. Ouço quase tudo!
Animado para voltar a estrada? Brasil está no radar do Black Label Society?
Sim, sem dúvida, se pudermos tocar no Brasil será ótimo. Acabei de ver que o Guns n’Roses cancelou um monte de shows no México ou algo assim, então não sei como será. Mas se tudo estiver aberto, é claro que vamos tocar aí.
Faremos o Hell Fest na Europa, isso é certo. Se as coisas não forem canceladas, nós vamos tocar, e estamos empolgados para isso.
E como ficam seus projetos paralelos? Pretende retomar algum deles?
Estou focado apenas na Black Label Society agora. Nós apenas fizemos este álbum e então fizemos vários vídeos para isso. Agora, estamos nos preparando para os ensaios da Black Label, acho que temos Paul Abdul vindo para trabalhar conosco em novos movimentos de dança para a nova turnê. Já temos shows marcados para 1 de outubro a 22 de novembro. E temos um de Natal, em 26 de dezembro, e outro na véspera de ano novo, no Arizona. Estou ansioso por tudo isso.
Recentemente, uma versão especial de 30 anos de No More Tears, álbum de Ozzy Osbourne, foi divulgada. O que você recorda de marcante desse disco? E o quão impactante foi para a sua carreira?
Era definitivamente enorme, era enorme. Mas para mim foi apenas uma continuação de No Rest For The Wicked. Foi apenas a evolução daquele álbum para este. Não era como se alguma coisa mágica estivesse acontecendo. Era apenas um novo lote de músicas. Nós nos divertimos muito fazendo No Rest, mas também nos divertimos muito fazendo No More Tears.
Lembro das vezes em que Ozzy me ligou e disse: Zakk, você tem que ouvir as harmonias. E era tudo ótimo. E me lembro quando ouvi pela primeira vez a reprodução de Mama, I’m Coming Home com o vocal. Fiquei impressionado. Então, não tenho nada além de ótimas lembranças daquele álbum e da turnê com Mike, Randy, Ozzy e John Sinclair nos teclados. Foram tempos realmente incríveis, com certeza.
Me sinto bençoado, cara. É realmente incrível. Acho que todo músico quer fazer algo para as pessoas gostarem, então definitivamente sou um homem abençoado e sortudo.
Por falar em Ozzy, numa entrevista ao The Eddie Trunk Podcast, você disse que tinha um plano maquiavélico para trazer o Black Sabbath de volta à ativa. Esse plano tá de pé?
Oh yeah! Totalmente. Seria um Zakk Sabbath de sucesso apresentando o Black Sabbath original. Assim, eles podem fazer turnê contratualmente como Black Sabbath novamente. Esse é o grande plano (risos).
Você consegue apontar três álbuns que marcaram tua formação como músico?
Lembro de quando era criança ouvindo o Greatest Hits, do Elton John, também Sabbath Bloody Sabbath e We Sold Our Soul for Rock ‘n’ Roll, do Black Sabbath, porque era um álbum duplo como um dos maiores sucessos. E também, sabendo tocar guitarra, eu amo Frank Marino e Mahogany Rush Ao Vivo, aquele álbum foi incrível. Esses são discos que ainda ouço, até hoje.
E quem são os guitar heroes de Zakk?
Eu ainda os tenho, tenho fotos enormes deles. Seria St Rose, Tommy Page, Frank Marino, John McLaughlin, mas quero dizer, há tantos guitarristas que amo. Mas sim, há tantos outros excelentes que você pode simplesmente ouvir e se inspirar, como Scott Henderson e Allan Holdsworth… Basta ouvi-los e eles fazem você querer tocar. Obviamente, Hendrix também é incrível de se ouvir, como todos esses caras, porque cada um deles me inspira.
O que tem vem na mente quando pensa no Brasil?
Pessoas tão apaixonadas. Todo mundo aí é apaixonado por música. Da primeira vez que fui aí até hoje é sempre um grande momento com certeza. Muita energia. E não podemos esquecer as churrascarias brasileiras, que são ótimas também.
Como foi gravar com Lemmy Kilmister?
Lemmy trabalhou em No More Tears com a gente. Ele e Ozzy eram amigos desde sempre, então, quando conheci Ozzy, Lemmy estava na estrada conosco naquela turnê, e você sabe, Lemmy era simplesmente um amor e ele era incrível.
Ele era rock and roll, ele vivia uma vida do jeito que ele queria. Ninguém o diz o que fazer, ele tinha a liberdade de fazer o que quiser. Ele era o tipo de cara que é apaixonado pelo rock and roll, e é isso que eu amo nele e é isso que eu sempre lembro dele, apenas a liberdade de ser feliz e viver a vida do jeito que ele gosta.
*Entrevista, tradução e texto por Lucas Krempel e Caíque Stiva