BRUNA FARO
A França sempre teve presença importante na história da arte. Sua atmosfera melancólica, seu ar romântico, seu charme e mistério, encantam até hoje os amantes ao redor do mundo. Não é muito diferente com a sua música.
Recentemente, no dia 1 de outubro, o país perdeu um de seus maiores nomes, Charles Aznavour.
Charles era considerado o Frank Sinatra francês. Começou com a ajuda de ninguém menos que Édith Piaf, praticamente sua “madrinha”, que o introduziu ao sucesso. Poliglota, conhecido mundialmente por suas melodias românticas, vendeu 200 milhões de discos, compondo e gravando canções em várias línguas inspirando pessoas de diferentes lugares no mundo.
Essa enorme perda trouxe uma certa consciência de que é hora de falar mais sobre a música francesa.
Mesmo que Charles não fosse roqueiro, influenciou muitos artistas com seus hinos de amor e sabemos que nos anos 1950, início do rock, as letras falavam bastante sobre romance.
*Então excusez moi, pois vou falar sobre o rock francês!*
Na França o ritmo surgiu como uma brincadeira. Em meados de 1950, o polímata e músico Boris Vian escreveu paródias de rock para alguns artistas como a atriz e cantora Magali Nöel e o comediante e cantor Henri Salvador. Mal imaginava Boris, não muito fã da nova melodia agitada que essas gravações seriam precursoras do gênero em seu país.
Entre o final de 1950 e começo dos anos 1960 o rock chegou para valer no local do croissant. Johnny Hallyday, o maior astro de rock francófono, popularizou o rock’n roll nas ruas francesas. Seu primeiro lançamento foi a música Laisse les Filles, do álbum Hello Johnny.
Hallyday marcou várias décadas sem deixar o rock morrer. Não é a toa que é considerado um monumento nacional francês e parte do legado cultural do país.
Com uma carreira de 57 anos, lançou 79 álbuns e vendeu mais de 100 milhões de discos ao redor do mundo. Fazia shows espetaculares. Já entrou no estádio no meio da multidão, uma vez até saltou de um helicóptero no Stade de France, em Paris! Porém seu show mais marcante foi na Torre Eiffel, em 2000, quando bateu o recorde de artista francês que vendeu mais ingressos.
Dono de prêmios como álbuns de diamante, ouro e platina, um dos maiores ídolos de sua nação, faleceu em 5 de dezembro de 2017. Pode-se dizer que se Charles Aznavour é o Frank Sinatra, Johnny Hallyday é o Elvis Presley da França.
Mesmo com a grande carreira de Johnny, o primeiro sucesso no rock francês foi da banda do cantor Dick Rivers & Les Chats Sauvages, com o clássico Twist à Saint-Tropez.
Enquanto isso, na Inglaterra, havia uma nova febre, adotada por quatro meninos de Liverpool. Isso mesmo, os Beatles! Com o sucesso do Fab Four o movimento “yé yé” (do inglês yeah yeah, basicamente uma mistura de rock, pop, r&b e outros ritmos) se espalhou e acabou desacelerando um pouco a onda do rock clássico, abrindo portas para o novo.
Artistas como Françoise Hardy, Jacques Dutronc e Serge Gainsbourg se inspiraram no movimento. Gainsbourg, inclusive, foi o ícone da música popular francesa. Transitou entre vários ritmos, desde rock ao reggae e compôs para diversos artistas, até para a cantora e atriz Brigitte Bardot, como os sucessos Bonnie and Clyde, Harley Davidson, entre outros.
Ele adorava provocar. Já ouviu a famosa canção Je T’aime Moi Non Plus? A versão lançada mundialmente foi gravada com sua musa e namorada Jane Birkin. Cantada em sussurros, extremamente sexual, a intenção era simular um orgasmo. Escandalosa o suficiente na época chegou a ser proibida nas rádios de diversos países e denunciada até pelo Vaticano! Definitivamente Serge era polêmico como um rockstar.
A França revelou diversos talentos, não só na música, mas na arte em geral. Terra do Liberté, Egalité, Fraternité (liberdade, igualdade, fraternidade), sempre ousou mostrando abertamente questões como preconceito, sexo, várias formas de amor, entre outras. Com certeza uma nação com atitude roqueira.
*Não pense que acabou! Ainda tem muito mais para contar. Em outros posts falarei sobre as décadas seguintes e as novidades do rock francês.*