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Resenha de Shows

O dia que Roger Waters enfrentou as vaias e seguiu firme até o fim

Fotos: Camila Cara / Divulgação

O telão inicial, que revela uma mulher misteriosa sentada na praia, observando a água por exagerados 17 minutos, pode até enganar os desavisados. O que se viu do intervalo da apresentação até o fim constrasta muito (abordaremos isso mais abaixo). E para a surpresa de quem acompanha a obra de Roger Waters, os desavisados eram milhares no Allianz Parque, na última terça-feira (9), no primeiro show da etapa brasileira da turnê mundial Us + Them, que rodará várias regiões do País até o dia 30.

A mulher em questão, que teve essa longa exposição no início do show, é Azzurra Cacetta, protagonista do videoclipe de The Last Refugee, um dos singles do último disco do ex-baixista do Pink Floyd, Is This The Life We Really Want.

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O cenário muda de figura quando uma luz branca brilha sobre a tela, seguida por uma nuvem vermelha. Chamas atingem a protagonista e uma série de luzes e barulhos tomam conta do Allianz Parque. O efeito poderoso no som tem explicação: no andar de cima das arquibancadas, em cada lateral e ao fundo, Waters usa conjuntos de caixas de som que criam o efeito surround.

Quando os acordes de Breathe, faixa que abre o emblemático disco Dark Side of The Moon, surgem no palco, o público é brindado por um grande achado da turnê, o guitarrista californiano Jonathan Wilson, que tem entre seus créditos as produções dos discos de Father John Misty, além de gravações com Chris Robinson (Black Crowes), Elvis Costello e Erykah Badu. No show, ele assume muito bem o papel de David Gilmour, principalmente com o timbre da voz.

O repertório em si é prato cheio para os fãs do Pink Floyd. Das 22 faixas, 18 são da banda inglesa. As outras quatro do novo álbum de Waters.

A primeira etapa da apresentação, que contabilizando o intervalo de 20 minutos teve mais de três horas de duração, é dividida entre os sons da fase solo de Waters e Dark Side of The Moon. E o grande momento ficou com Another Brick The Wall Part 2 e 3, quando uma fila de crianças se formou na frente do palco, todos com uniformes laranjas e os rostos cobertos. Já no final da canção, elas arrancam o uniforme e aparecem vestidas com camisetas pretas com a palavra Resist (resista) estampada, um popular slogan anti-Trump, que também apareceu no telão. Ao término do clássico, Waters fez questão de explicar que todas eram brasileiras.

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Dark side do show
Terminada a primeira parte do show, o intervalo, aparentemente, parecia um pouco mais tranquilo. O telão exibia mensagens sobre direitos humanos, algumas cutucadas políticas, denúncias de crimes de guerra. O jogo, no entanto, virou antes do término do break. Bastou uma imagem listar os “novos fascistas”, incluindo o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) e o jogo virou. Ele Não! Fora PT! Lula na Cadeia! Eles Não! foram alguns dos gritos do público, que ficou bem dividido.

Diante do posicionamento de Waters, que não é surpresa para os fãs mais antigos (mas pegou milhares de calça curta), o show virou briga de militantes. Os insatisfeitos vaiavam, ofendiam o músico e faziam ameaças assustadoras: “Vou quebrar todos os discos do Pink Floyd”. Alguns até deixaram o estádio. Por outro lado, uma fatia bem menor do público aplaudia e soltava o grito da hashtag contrária ao candidato.

Visivelmente desnorteado com a reação, o músico ainda tentou explicar: “Vocês têm uma eleição importante em três semanas. Vão ter que decidir quem querem como próximo presidente. Sei que não é da minha conta, mas eu sou contra o ressurgimento do fascismo por todo o mundo. E como um defensor dos Direitos Humanos, isso inclui o direito de protestar pacificamente sob a lei. Eu preferiria não viver sob as regras de alguém que acredita que a ditadura militar é uma coisa boa. Eu lembro dos dias ruins na América do Sul, e das ditaduras, e foi feio”.

Entre mais uma leva de clássicos, o lado B do Dark Side e faixas do Animals, como Pigs (Three Diferent Ones), Money, Us and Them, Eclipse, Mother e Comfortably Numb, o que se viu foi uma tentativa frustrada de abafar o show. Vaias, aplausos, gritos de guerra políticos, enquanto Waters parecia bem tranquilo.

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O músico mandou o seu tradicional porco voar sobre o público, com algumas mensagens em português (Respeite as mulheres, As crianças não têm culpa e Não acredite em políticos), cantou diante de um lindo triângulo de luzes com referência à capa do Dark Side of the Moon, promoveu uma queima de fogos e… cravou o seu “Ele Não” algumas vezes no telão.

Resumo da história: se os seus ânimos estão à flor da pele e o seu posicionamento político é diferente do britânico, evite o show, evite dor de cabeça, evite o mico! Caso contrário, o espetáculo é um prato cheio para os fãs de Pink Floyd. Set bem completo, uma baita reposição para Gilmour, efeitos visuais, tudo como sempre foi. O que mudou? Talvez uma grande parte dos fãs.

Roger Waters Setlist Allianz Parque, São Paulo, Brazil 2018, Us + Them Tour

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