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Crédito: Acervo Pessoal / Pepinho Macia

Blog n' Roll na AT - Lucas Krempel

Blog n’ Roll na A Tribuna #10 – Santos também tem um Pepe no rock

José Macia, o Pepe, 81 anos, é considerado um dos mais festejados jogadores da história do futebol brasileiro. É o maior artilheiro da história do Santos (se não contarmos o Pelé, obviamente). Seu filho, Alexandre Serrano Macia, o Pepinho, de 51 anos, também alcançou destaque no esporte. Foi campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior, como treinador do Peixe, em 2014. Além de ter revelado alguns bons destaques dos Meninos da Vila.

Mas, além do futebol, Pepinho é uma referência para muitas gerações do rock santista. Foi lojista de discos, teve programa de rádio, lançou as bandas Last Joker e Mr Green – que contavam com integrantes do Charlie Brown Jr e o vencedor do X Factor Brasil, Cristopher Clark – trouxe diversos shows internacionais para a região, além de levar semanalmente os roqueiros da Baixada Santista para os principais eventos musicais na Capital.

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Last Joker, uma das bandas com disco lançado pelo selo de Pepinho

A trajetória de Pepinho no rock santista teve início no começo dos anos 1980, quando a região vivia uma entressafra no cenário. O gênero já não tinha mais o espaço alcançado nos anos 1960 e 1970, com os bailes nos clubes e os shows na Boca.

“Era terrivelmente difícil você encontrar um espaço para curtir a música que gostava. No início dos anos 1980, clubes como o Caiçara, o Sírio e o Vasco faziam bailes normais, com duas seleções de rock. Foi complicado, mas as coisas aconteceram, mesmo sem internet e CD. As informações e álbuns demoravam de seis meses a um ano para chegar aqui. O lance era correr atrás”, recorda Pepinho.

A primeira grande referência a Pepinho veio com a loja Metal Rock, que ele comandou por 12 anos. Os primeiros quatro no Shopping Embaré, o restante na Rua Tolentino Filgueiras, quase esquina com a Avenida Ana Costa, no Gonzaga.

Mas o envolvimento de Pepinho não poderia ficar apenas com a loja. Ele mesmo tratou de engajar com a produção de shows, bailes, excursões e até programa na extinta 95 FM.

“Trouxe o Viper, Angra, Ratos de Porão, Korzus e Sepultura. Depois virei produtor e, na levada, montei um selo, o M Rock Records. Lancei três bandas, sendo duas de Santos: Mr Green e o Last Joker”.

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Produtor
Os shows internacionais que vieram pelas mãos de Pepinho para Santos envolveram nomes consagrados como King Diamond, Mercyful Fate (ambos no Internacional), Gama Ray, Biohazard, Napalm Death e Exodus (todos na London London, casa que ficava na Avenida Vicente de Carvalho, esquina com a R. Cásper Líbero).

Quem inaugurou essa fase da carreira roqueira de Pepinho foi o Shelter, banda de hardcore hare krishna, que vivia excelente momento comercial com o disco Mantra (1995), com o hit Here We Go.

“Daí pintou a rádio no início dos anos 1990. Fiz cinco anos na 95 FM, mais um na 98 FM. Foi muito legal, me diverti muito e não ganhava nada. O que ganhava era o retorno de um lançamento que colocava na rádio, com a certeza que no dia seguinte o cara ia à loja. O nosso perfil na Metal Rock era 90% hard rock e heavy metal”.

Metal Rock

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Pepinho e Tarso Carnal, da banda Carnal Desire. Crédito: Arquivo Pessoal / Pepinho Macia

Pepinho e Tarso Carnal, da banda Carnal Desire. Crédito: Arquivo Pessoal / Pepinho Macia

A loja Metal Rock foi inaugurada em 1984, no Shopping Embaré. Dois meses depois, Pepinho ganhou um concorrente, André Fiori, que abriu a London. Em dez meses, mais um: Toninho, com a Kissom. “No começo não vi com bons olhos, mas depois percebi que era melhor centralizar o público”, lembra Pepinho.

Comprar vinil era terrível naquela época, então boa parte do que era comercializado na Metal Rock vinha da coleção particular de Pepinho. “Mas eu trazia os discos e gravava para o pessoal também nas fitinhas K7”. A saída do Embaré, em 1988, se deu por conta do aumento no número de clientes.

“Os primeiros anos no Gonzaga foram maravilhosos. Em seguida, o César Di Giacomo e o Panda abriram a Amsterdã. Depois eles mudaram o nome para Blaster e venderam para o Rafa. A estrutura da Metal Rock aumentou e usei a sobreloja da casa para guardar os vinis. Mas a rivalidade com a Blaster sempre foi sadia”, diz.

Pepinho e Uruka, ex-tatuador da Metal Rock. Crédito: Arquivo Pessoal / Pepinho Macia

Pepinho e Uruka, ex-tatuador da Metal Rock. Crédito: Arquivo Pessoal / Pepinho Macia

“Teve uma situação muito pitoresca de um garoto que roubava discos na minha loja e levava para o Rafa comprar e vice-versa. Um certo dia o Rafa se ligou e me avisou. Aí vimos que estávamos comprando um o disco do outro e montamos uma tocaia. O Rafa o pegou e o trancou dentro da Blaster. Foi na minha loja me buscar. Aí fomos à casa do moleque e pegamos tudo que tinha nosso por lá”, completa.

O sucesso da Metal Rock rendeu até uma filial em Cubatão, mas durou apenas um ano. “O pessoal gostava de vir para Santos”.

Excursões
André Fiori, da London, que viria a ser concorrente de Pepinho no Shopping Embaré, foi quem mostrou o caminho de uma atividade que o roqueiro mantém até hoje: as excursões. “Ele fez a excursão para o show do Van Halen em 1983. Depois de um ano, fiz a do Kiss. Virou uma coisa normal. Todo show eu levava, no mínimo, dois ônibus”.

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São Paulo não é mais o único destino. Hoje, Pepinho leva para o Interior, Rio de Janeiro e até para o exterior.

MRock Records
Antes de Marcão, Pelado e Champignon estourarem com o Charlie Brown Jr, Pepinho lançou os álbuns do Last Joker e Mr Green, bandas que contavam com os músicos. Isto foi possível com o selo MRock Records.

“Quando comecei a trazer os shows para Santos, me aproximei das bandas. A vendagem do Mr Green foi muito boa. O Last Joker vendeu um pouco menos. O problema foi que eles entraram com um hard rock, na linha do Whitesnake, na época do Nirvana e Pearl Jam”. O selo parou por causa da transição vinil para CD. “Encareceu a produção”.

Influência nas rádios
Tão forte como as excursões, a loja e o selo, a participação de Pepinho nas emissoras de rádio da região também marcou época e virou referência para os roqueiros da Baixada Santista nos anos 1990. “Em 1989, virei amigo do Sinezio Bernardo, Cléber Celino e o Nicola Tanesi. Aos poucos estava dentro da rádio, dando palpite nas músicas. Um dia, conversando com o Cléber, surgiu a ideia de um programa”, lembra Pepinho.

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Hard ‘n’ Heavy, como foi batizada a primeira experiência de Pepinho nas rádios, era transmitido inicialmente aos domingos, das 10 às 14 horas.

“Sempre rolava uma hora de especial de alguma banda que estava em alta naquela época ou das clássicas, que influenciavam todos os nossos ouvintes”.

Tempos depois, o Hard ‘n’ Heavy mudou o horário. Passou a ser transmitido sempre nas sextas-feiras, das 20 às 22 horas. O que poderia representar um risco para os responsáveis pela atração se mostrou uma decisão muito acertada.

“A audiência triplicou. O número de ligações era incrível. Sempre fazíamos uma promoção legal com os ouvintes. Isso garantia um retorno forte para o programa, que se fortaleceu”.

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Quem acompanhava Pepinho nas gravações do programa era o amigo João Carlos Santana, o Johnny, que atualmente está na CBN.

“O Hard ‘n’ Heavy era eu e o Johnny. Eu dizia “oi Hard” e ele “oi Heavy”, isso pegou para caramba na época”, conta Pepinho.

A repercussão era tão grande que o roqueiro passou a despertar a atenção de outras emissoras. “No auge do Hard ‘n’ Heavy, o Claudio Mussi, dono da 98 FM, foi na loja e me convidou para fazer o programa lá. Fiquei um ano na emissora. A audiência continuou forte. Um pouco menos que a 95 FM, mas a programação era incomparável”.

Alguns meses depois, Mussi lançou a TV Litoral e levou Pepinho junto. “Fiz três programas. Isso aconteceu na época do M2000 Festival (1994). Todos os convidados do M2000 Festival falaram na TV e no rádio. Inclusive o Raimundos, que estava bem no início da carreira”.

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Futebol
Falar que o roqueiro Pepinho respirava futebol em casa é cair no lugar comum. Mas a influência do seu pai sempre foi muito grande. “Depois que ele virou treinador, acompanhei o dia a dia dele no mundo todo. Quando ele começou, em 1973, eu era muito novo. Quando completei 14 anos, comecei a jogar no Santos. Fiquei lá por cinco anos. Eles achavam que eu tinha que ser ponta esquerda, mas eu sempre tive problema de peso e eu não conseguia dar tanta velocidade. Por esse motivo não joguei profissionalmente”.

O rock afastou Pepinho do futebol por um tempo. Em 1998, ele fez um curso para virar treinador. “Meu pai me apoiou pra caramba. Comecei a carreira no Internacional de Limeira. Passei por Leme e Araraquara.
Depois fui trabalhar com o meu pai na Portuguesa Santista. Fizemos um campeonato animal, ficamos em terceiro no Paulista, ganhamos do Santos e empatamos com o São Paulo no Morumbi”.

De lá, seguiu o pai no Guarani e Catar. Antes da grande fase nas categorias de base do Santos, treinou o São Vicente.

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2 Comments

2 Comments

  1. Carlos Alberto Oliveira

    17 de janeiro de 2017 at 14:30

    Realmente era uma época maravilhosa. Ia todas as semanas na loja do Pepe. Sempre tinha uma novidade ou um k7 pra pegar lá com ele. Fui ver o Black Sabbath com o Dio numa excursão promovida pela Metal Rock do Pepe. Comecei a estudar guitarra com o Nando Basseto do Mr Green por indicação dele. Fiz ali amizades que tenho até hj e ainda viajo pra shows com o Pepinho.. Tempos memoráveis.

  2. Andrea Garcia

    12 de julho de 2017 at 13:58

    Tempo maravilhoso!Fui no show do Metallica em maio de 93, numa excursão promovida pela Metal Rock, dois ônibus lotados! Muito legal!

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