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Entrevista | Gabriel, o Pensador – “Mostramos para o público e grandes gravadoras a força do RAP”

Há 26 anos, o rapper carioca Gabriel, o Pensador estourava no Brasil com os hits Tô Feliz (Matei o Presidente), Lôrabúrra, Retrato de um Playboy, 175 Nada Especial e Abalando. Todas as faixas presentes em seu debute, homônimo, que o levaram a excursionar por todo Brasil e ser presença frequente nos programas de TV.

No Lollapalooza pela primeira vez, ele se apresenta no domingo (7), às 15h, no palco Onix. Vem logo na sequência de BK’, da nova geração do RAP nacional. E, Gabriel segue atento nas novidades, acompanha as gerações de rappers que vieram na sequência dele.

“São várias gerações misturadas. Tem uma galera muito boa, alguns vem lá de trás, como o Criolo, que estourou um pouco mais recentemente, mas há muito tempo que está na luta. Ele é um rapper que não é só RAP, né? Tem o Emicida, alguns com alguns anos de estrada. Tem a garotada como o Choice, que fez uma música comigo mas ainda não lançamos. Alguns como ele vieram das batalhas e se tornaram bons letristas”.

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Gabriel vê semelhanças entre o início da carreira dele com a dos rappers mais novos. “A pureza, a inexperiência da galera que tô levando para o palco. É tudo espontâneo, não pelo conteúdo das rimas, mas pela energia do cara que está ali fazendo aquilo, agarrando aquela oportunidade, descobrindo o palco, descobrindo a estrada”.

O carioca dá o exemplo da cantora Amanda Coronha, que ele acompanhou recentemente no Domingão do Faustão.

“Ela também participou de um show com um público enorme na praia, em Rio das Ostras, e dava para ver os olhos dela brilhando. A emoção de cantar para tanta gente pela primeira vez foi muito importante para ela, uma coisa que trouxe muita alegria mesmo. A gente trocando essa vibe com artistas novos, também sente a energia. Lembro muito bem de cada passo que dei no começo da carreira. E, na verdade, até hoje me emociono, me inspiro, me arrepio em cada show, independente do tamanho da plateia”.

As diferenças para o início da própria carreira, segundo Gabriel, é que hoje os rappers têm outras ferramentas e um público formado.

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“No meu começo de carreira a gente estava mostrando o RAP para pessoas que nunca tinham ouvido aquilo em português. Apenas algumas coisas americanas na rádio. Era uma coisa muito nova para todo mundo, foi um caminho que a gente abriu e contribui muito com o meu primeiro disco. Mostramos para o público e grandes gravadoras a força do RAP”.

O terceiro álbum de Gabriel, Quebra-cabeça, de 1997, com os sucessos 2345meia78 e Cachimbo da Paz (com Lulu Santos), ajudou a consolidar ainda mais o gênero. “Foi um sucesso enorme de vendas. Aquilo fez com que as gravadoras e as TVs procurassem outros rappers para colocar nas programações. Fico muito feliz de ver que os resultados continuam vindo cada vez mais. O RAP está crescendo no Brasil, Portugal, Angola. Eles reconhecem que o meu trabalho ajudou muito a abrir essas portas para o RAP lusófono”.

Fake news

Sempre muito crítico em suas letras, o Pensador surgiu após o impeachment de Fernando Collor. Hoje, ele acredita que o grande mal da sociedade está nas fake news.

“É a preguiça das pessoas de se informar, aprofundar nos debates, ideias, pensar por conta própria. Muita gente prefere aceitar pensamentos sejam fake ou não, coisas prontas. Às vezes elas são criadas ou moldadas para nos manipular mesmo, nos controlar, não só na política, mas em tudo. O ser humano está regredindo culturalmente e socialmente, a convivência um com os outros, no respeito aos outros, as opiniões diferentes, as escolhas diferentes, religiões. O ser humano sempre teve essas guerras, intolerância. A mente e o cérebro estão com cada vez mais preguiça de pensar. Parece que antes as paredes tinham ouvidos, hoje os ouvidos tem paredes. Ninguém mais quer ouvir ninguém”.

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Batalha de rimas

Gabriel está sem lançar um disco de estúdio desde 2012, quando soltou Sem Crise. De lá para cá, consolidou a carreira em Portugal e na África, atuou como empresário de jogadores de futebol, divulgou singles e editou livros. Os shows da turnê do Sem Crise contavam com um espaço para os rimadores de batalhas.

“Eram os rimadores anônimos. A gente levou isso para várias cidades e o Fábio Beleza, que foi um campeão de batalhas, organizava isso com os rappers de cada cidade. Eles passaram pelos rimadores anônimos e alguns apareceram depois com seus trabalhos no YouTube, lançando discos, fizeram um nomezinho. O Fábio aponta para mim e fala: esse cara passou pelas nossas batalhas“.

Antes das batalhas virarem febre, com uma explosão de vídeos no YouTube, Gabriel também organizou três eventos nesse sentido.

“Chamei alguns rappers para batalharem junto comigo. Eu apresentando e cantando algumas músicas e foi legal porque o André Ramiro, que estava começando a fazer umas letras de RAP, foi corajoso e rimou lá com a gente. Ele se aperfeiçoou nas batalhas e letras, lançou músicas muito boas. Até participei de uma, Alma de Criança. Foi um dos talentos que a gente meio que ajudou a revelar nessas três eventos. Também levei alguns desses rappers para o programa do Luciano Huck, quando muita gente nunca tinha visto uma batalha”.

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O músico vê o RAP nacional muito forte e destaca as mais variadas vertentes. “Alguns misturando um pouco mais de música Brasileira ou outros ritmos com mais melodia, como o Rael e o Rincon Sapiência. São trabalhos bem originais. Outros estão mais na onda do trap. Muita gente está fazendo isso no Brasil. Tem para todos os gostos, isso é bom”.

Relação com Portugal

Nos últimos anos, Gabriel tem dividido sua agenda entre Brasil e Portugal. Um pouco antes da nossa conversa, ele estava na terra dos patrícios. Segundo o rapper, o público é bem misturado por lá. Tem os portugueses, brasileiros e africanos.

“É uma sorte minha ter essa relação com o público português, que é um povo muito antenado, atualizado em relação aos acontecimentos do mundo, e tem muita identificação com o que escrevi pensando no Brasil”.

A identificação com as letras, segundo o rapper, é algo curioso. De acordo com o Gabriel, as pessoas fazem interpretações distintas das faixas.

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“Eu posso lembrar de uma música do começo da carreira. A galera curtia junto lá, mas que era falando do Rio de Janeiro, a 175 Nada Especial. Ela falava de algumas coisas que aconteceram no Rio, passando por alguns bairros, mas aprendi com essa música, em Portugal, o que é a interpretação de uma letra. Os questionamentos que a gente faz se adaptam à realidade diferente, como quando cantava a 175 em cidades pequenas, no interior do Brasil, onde não tinha nem sinal de trânsito, nem ônibus coletivo. A pessoa viaja naquela ideia, se adapta às suas questões pessoais. Às vezes até me surpreende com interpretações inesperadas”.

Outra faixa que dá margem para várias interpretações é Até Quando. Segundo Gabriel, os fãs sempre falaram sobre atitudes que mudaram em suas vidas, quebra de relacionamentos abusivos, trocar de emprego, voltar a fazer uma atividade que tinha abandonado, enfrentar doenças, desafios de vários tipos.

“Quando fiz a letra pensava mais em uma postura de cidadania, transformação coletiva de reivindicação dos direitos, não tanto em outras decisões mais pessoais, como as pessoas me contaram que tomaram com ajuda da inspiração da música e do clipe, que era bem provocador. A relação com Portugal também passa um pouco por isso. Eles são muito ligados em texto, em letra e poesia, é um público muito interessante”.

Expectativa para o Lolla

O fato de ter uma carreira consolidada no Brasil não minimiza a alegria de Gabriel por estar em um grande festival. Para ele, é sempre uma chance de mostrar o trabalho para um público novo ou que não iria assistir a um show dele individual.

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“Vamos caprichar para quem já é fã, mas também para quem está ali curtindo o festival em geral. O repertório ainda não está definido, mas vai ser uma versão reduzida do que a gente já vem fazendo, para caber em uma hora de show”.

Mesmo tentando evitar os spoilers, Gabriel deixou escapar que a apresentação será uma variação de emoções.

“Há vários momentos onde a gente tá rindo, curtindo, celebrando, falando do Surfista Solitário ou 2345678. Tem um freestyle, no improviso, que faço junto com o DJ Leandro Neurose. Tem umas coisas mais alegres, outras com letras um pouco mais introspectivos, como Linhas Tortas e Astronauta. E tem aqueles desabafos mais fortes, que a galera tira da garganta, como Até Quando e Tô Feliz Matei o Presidente 2“.

Volta para a África

Após o Lollapalooza, Gabriel já tem agenda para cumprir fora do Brasil. Fará uma apresentação em Moçambique. Será a segunda vez dele no país africano, mas a décima ida ao continente. Visitou Angola e Cabo Verde mais vezes. A programação inclui também shows no Brasil, ainda em abril.

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“Em maio, vou fazer alguns shows e tirar um tempo para ir surfar na Indonésia. Depois emendo uma volta em Portugal e intercalo shows no Brasil também”.

Fora isso, o rapper não tem planos de lançar um disco cheio. Está mais focado nos singles. Um deles deve sair antes do Lolla, inclusive. “Já está em processo de videoclipe, mas tem outras na gaveta para o restante do ano”.

Serviço

A oitava edição do Lollapalooza Brasil contará com os headliners Arctic Monkeys, Tribalistas, Sam Smith e Tiësto, no dia 5 de abril; Kings of Leon, Post Malone, Lenny Kravitz e Steve Aoki, no dia 6 de abril; Kendrick Lamar, Twenty Øne Pilots e Dimitri Vegas & Like Mike no dia 7 de abril.

As entradas para o Lollapalooza Brasil 2019 podem ser adquiridas pelo site oficial do evento, bilheteria oficial (sem taxa de conveniência – Credicard Hall, em São Paulo) e nos pontos de venda exclusivos: Km de Vantagens Hall Rio de Janeiro e Km de Vantagens Hall Belo Horizonte.

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