Monsters of Rock | Queensrÿche – “No heavy metal não se ouve mais muitos grandes cantores”

Monsters of Rock | Queensrÿche – “No heavy metal não se ouve mais muitos grandes cantores”

Após mais de uma década longe da América do Sul, o Queensrÿche volta ao Brasil como uma das atrações principais do Monsters of Rock, que acontece no dia 19 de abril, no Allianz Parque, em São Paulo. Com mais de 40 anos de carreira, a banda promete uma apresentação marcante, recheada de sucessos e surpresas.

Além do festival, o Queensrÿche também toca no dia 20 de abril, com o Judas Priest, no Vibra São Paulo. Ainda há ingressos disponíveis para os dois shows.

“Não vamos à América do Sul há 13 anos, é um longo tempo, vamos montar um setlist que abrange alguns dos discos favoritos da banda”, afirma o vocalista Todd La Torre, que conversou com o Blog n’ Roll. “Talvez até uma ou duas faixas do nosso último álbum entrem no repertório”.

O grupo, que ajudou a moldar o metal progressivo com álbuns como Operation: Mindcrime (1988) e Empire (1990), segue firme na estrada e vê sua longevidade como um diferencial em meio às mudanças da indústria. 

“Fazemos perto de 100 shows por ano. Estamos sempre na estrada, sempre tocando. Não tentamos seguir tendências. Escrevemos como escrevíamos na época, e isso ainda ressoa com os fãs, de adolescentes a pessoas na faixa dos 70 anos”.

Apesar do status de lenda, o Queensrÿche não vive só de nostalgia. Seu álbum mais recente, Digital Noise Alliance (2022), consolidou uma nova fase criativa. 

“Continuamos lançando material novo, não apenas tocando os hits. Isso tem contribuído para esse ressurgimento, junto com turnês incríveis ao lado de Scorpions e Judas Priest. Estar presente, ser visto, ajuda os fãs antigos a voltarem e os novos a descobrirem”.

Confira abaixo a entrevista completa com Todd La Torre.

O Queensrÿche retorna ao Monsters of Rock após mais de uma década. O que os fãs podem esperar dessa nova apresentação?  

Não vamos à América do Sul há 13 anos, é um longo tempo, vamos montar um setlist que abrange alguns dos discos favoritos da banda. Os grandes sucessos estarão presentes, mas possivelmente vamos adicionar uma ou duas músicas do último álbum. Será um set muito diverso. 

Com uma carreira de mais de 40 anos, vocês já passaram por diferentes fases musicais e mudanças na indústria. Como a banda se mantém relevante e criativa depois de tanto tempo?

Não sei se nós realmente pensamos em permanecer relevantes. Quer dizer, estamos sempre trabalhando, fazemos provavelmente perto de 100 shows por ano, estamos sempre na estrada, sempre em turnê, sempre tocando. Isso mostra alguma relevância no fato de que não desaparecemos, mas ainda escrevemos novos discos, gravamos, fazemos videoclipes. Mas escrevemos apenas o tipo de música que escrevemos naquela época. Não tentamos nos manter atualizados com qualquer tendência que esteja acontecendo.

Mesmo assim, temos jovens adolescentes indo aos shows e às vezes crianças pequenas também, é uma coisa multigeracional. Mas diria que, obviamente, a maioria do público são pessoas mais velhas, na faixa dos 40, 50, 60, talvez até 70 anos. Se você gosta desse estilo, realmente não se importa com o que está acontecendo hoje.

Se o Iron Maiden lança um álbum que soa como se fosse 1988, as pessoas ficam felizes. Acho que essa é uma palavra muito interessante para usar com uma banda de legado como essa. Essa é provavelmente a melhor maneira de responder a essa pergunta.

O álbum Operation: Mindcrime é um dos mais icônicos do metal. Como vocês enxergam o impacto desse trabalho nos dias de hoje?  

Ainda tocamos músicas daquele disco e as pessoas simplesmente adoram, elas sabem todas as palavras. Elas estão realmente conectadas àquele disco. Ele definitivamente resistiu ao teste do tempo.

A banda foi capaz de capturar algo realmente especial e mágico com aquele disco. Realmente é uma sorte que isso possa acontecer com qualquer banda. Mas, você sabe, nós ainda tocamos músicas daquele disco. E as pessoas enlouquecem quando isso acontece.

Empire trouxe grande reconhecimento comercial para a banda, incluindo uma indicação ao Grammy. Olhando para trás, como esse sucesso afetou a trajetória do Queensrÿche? Fariam algo diferente hoje?

Expôs a banda com um enorme apelo comercial. Então foi um desvio definitivo dos discos anteriores. Tivemos grandes sucessos como Silent Lucidity, Empire, Jet City Woman, Anybody Listening? e Another Rainy Night. Essas músicas são realmente enormes.

Gostava muito de carros e aparelhos de som automotivos. Quando colocava um sistema totalmente novo no meu carro, botava Anybody Listening? ou Della Brown porque tinha a gama completa de todas as frequências. Você podia sentir os subs com essa extremidade baixa. Tinha médios, agudos, todas essas dinâmicas.

No que diz respeito à trajetória, tornou-se um disco de vendas multiplatina. E foi quando a banda começou a tocar, lotando arenas e esse tipo de coisa, algo enorme na carreira da banda que a levou para o próximo nível.

O que pode contar sobre os novos trabalhos e o que tem inspirado essa nova fase? Já tem um sucessor do Digital Noise Alliance sendo gravado?

Temos muitas bandas mais antigas que não estão mais ativas. Talvez as pessoas tenham falecido ou se aposentado. Elas fizeram uma turnê de despedida e acabaram. Mas nós somos uma dessas bandas que estão por aí há muito tempo, ainda estamos aqui. Conforme algumas dessas outras bandas caem, o Queensrÿche meio que sobe a escada do ‘ei, somos uma dessas poucas bandas que ainda restam dessa era que você nunca pode duplicar’. 

Terminamos a turnê Origins, que foi centrada nos dois primeiros álbuns da banda. Ouvir essas músicas clássicas que não são tocadas desde 1984 ajudou um pouco nesse ressurgimento. E na vontade de continuar a lançar material inédito.

O metal passou por muitas transformações ao longo das décadas. O que você acha do cenário atual?  

Não sou muito fã dos lançamentos de novas bandas de metal. Até um certo ponto da história, cada banda tinha um estilo e som muito únicos. Eles poderiam ser parecidos, mas tinham um som identificável. Se você ouviu Ronnie James Dio, sabia que era ele. Se você ouviu Bruce Dickinson, idem. Lemmy, a mesma coisa. E por aí vai.

Hoje, quando coloco a estação de metal, não consigo te dizer quem é. A menos que conheça essa banda, é muito grito, sabe? E não ouço grandes cantores como antigamente, como tinha no Boston, Journey e Kansas. O Queensryche realmente se destaca musicalmente, vocalmente.

Hoje há muito exagero, guitarra apenas destruindo o tempo todo, todo mundo está afinado bem baixo tentando soar pesado. Quando ouço uma música do Gojira, sei instantaneamente que são eles, mas muitas bandas atuais se resumem a um monte de gritos, sem melodias, sem harmonias, sem vocais de apoio, é tudo muito brutal e gritante, um som muito unidimensional. 

Sei que minha resposta pode irritar algumas pessoas, mas ninguém pode negar que no heavy metal você realmente não ouve mais muitos grandes cantores, é só um monte de gritos.

O que vocês ainda querem conquistar como banda? Há objetivos ou sonhos que ainda não realizaram?

Acho que como artista você está sempre tentando escrever, gravar seu melhor álbum ou a melhor música. Não acho que isso tenha sido alcançado ainda. É realmente especial quando você toca o coração de alguém por meio de todos os diferentes tipos de emoções que sentimos como pessoas. 

Hoje tem muita cópia, inteligência artificial e todo esse tipo de coisa, mas não há nada que possa realmente copiar o show ao vivo com seres humanos reais se apresentando na sua frente. Quero seguir fazendo música e shows.

Vou citar três bandas do lineup do Monsters of Rock e gostaria que você as resumisse em uma palavra. Topa?

Vamos lá!

Scorpions – Lendas 

Judas Priest – Metal complexo

Europe – Diversão