Acorde “power” na guitarra santista: Mauro Hector

MÁRIO JORGE

Mauro Hector é uma referência quando o assunto é guitarra. Ele “conheceu” o instrumento quase que por acaso, numa daquelas histórias de amor à primeira vista. Digamos que o cupido tenha sido Angus Young. Sim, o endiabrado guitarrista do AC/DC levou Mauro a se encantar com o instrumento que não largou mais. E lá se vão 32 anos desde que ao errar uma sala de cinema, em Santos, onde encontraria com amigos, assistiu ao filme Let There Be Rock, produção que narra o concerto da banda australiana em Paris, em dezembro de 1979, ainda com Bon Scott nos vocais – ele morreria dois meses depois, em fevereiro de 1980. O guitarrista santista fez uma trajetória de sucesso, tocou/toca em várias bandas, dá aulas e colocou seu nome como um acorde “power” no meio musical.

Foto: Iza Ribeiro

Mauro, quantos anos de guitarra, entre o aprendizado e os dias de hoje?
Mauro Hector: Comecei a tocar guitarra em 1985, são 32 anos sempre aprendendo. Estudo ainda hoje, aprimorando, renovando e descobrindo novos caminhos musicais. Faz parte da minha vida.

Confere a história de que você se encantou com o instrumento meio sem querer?
MH: Sim, entrei numa sessão de cinema, aliás errada, e saí de lá guitarrista. Por acaso fui com os amigos ao cinema e entrei na sala errada, onde era exibido o filme Let There Be Rock do AC/DC, e pronto, tudo começou.

Qual sua formação musical? Escolas ou professores?
MH: Estudei com os professores de guitarra, meus mestres, Regina Laface, Rafa Blaster, Alexandre Birkett (Santos) e Mozart Mello (SP). Em seguida ingressei no Conservatório Estadual de Tatuí. De lá pra cá, fiz aulas em alguns cursos e atualizações sempre que possível.

Você já “viajou” tocando por todos os ritmos. Começou com o heavy metal, passou pelo blues, rock setentista, jazz, fusion, enfim. Dá para se fixar num só ritmo ou você continua com esse passeio musical?
MH: Música é expressão, é arte, não se define por um único gênero. Temos que estar atentos a toda expressão musical que possa ter riqueza harmônica, melódica e nos agradar. Alguns gêneros são mais naturais para mim, pelo meu percurso como o Blues, por exemplo, mas não reduz em nada minha apreciação aos outros, como rock, heavy metal, jazz, country, MPB.

Quais bandas você já teve e como foi a trajetória de cada uma?
MH: Druídas foi minha escola, entrei em 1985 e não saí mais. Em seguida ICM Trio Fusion. Trabalhei com o cantor Guilherme Arantes. Formamos o EASE em meados de 1999. Fiz parte de algumas bandas como Fast Fusion, Rock Station, Blasfemia, Lobão Quintet, Caviar’s Blues Band. Fiz alguns duos com Theo Cancello, Maurício Fernandes, Luis do Monte, Marcos Paulo Nóbrega, Patrícia Nóbrega. Toco no Zuzo Moussawer Trio. Toco e gravei na banda Seven Days Wind (country rock). Atualmente trabalho nos Tributo ao Jimi Hendrix e Tributo ao AC/DC, também em meu projeto autoral, em fase de lançamento do quinto CD Mauro Hector Trio.

O cenário musical santista é recheado de bandas. Mas e os espaços para tocar? Existem muitos?
MH: Houve um tempo em que o cenário era mais movimentado. Muitos são os fatores para a mudança desse perfil na cidade que já foi celeiro de muita música boa. A apreciação, a comunicação, o custo de vida, e até a segurança influenciam nesse comportamento que demanda novas formas de expor-se como artista. Mas ainda há alguns bons espaços. Há público para todo tipo de arte, basta apostar e prestigiar.

Há camaradagem entre os grupos ou rola um clima de competição?
MH: De modo geral, há camaradagem. A música, como profissão, fica no paradoxo entre a arte e a produção comercial, evidente que esse é um espaço fértil para algumas questões competitivas, mas há espaço para todos. Particularmente não tenho nenhum clima e não me sinto afetado por isso. Fiz e mantenho bons amigos através da música.

A Baixada Santista, por suas características, perto de São Paulo, que é um grande centro musical, está mais para que ritmo? Ou todos os sons proliferam aos montes?
MH: Talvez, mais do que a proximidade com a Capital, está o fator geográfico e cultural. Um exemplo é que por ser uma região litorânea, tem um verão apreciado para o turismo, isso marca alguns gostos musicais mais típicos nesses ambientes. Os sons que em geral rolam em ambientes mais intimistas existem, porém em menor quantidade. Além do mais, os bons sons são atemporais e são fruto de criatividade, chamaria de criação. Os efêmeros, os que proliferam aos montes, esses não duram mais do que uma temporada. É necessário pensar para o futuro e continuidade da música, que se ampliem espaços, para eventos culturais, festivais que abriguem todos os gêneros, de uma forma democrática.

Quantos CDs você já lançou?
MH: São cinco CDs autorais (Sonoridades, Atitude Blues, Retratos, Live in Santos), sendo que o quinto está em fase de conclusão. Gravei o Caviar’s Blues Band Merlot (SP), Fast Fusion (Araçatuba), Aroeira Alex Reis (Franca), Raízes e Influências e Express de Zuzo Moussawer, gravei também dois DVD Zuzo Moussawer Trio. Gravei o CD Short Stories de Babi Mendes. Participei em algumas faixas de diversos CD, do Luíz Claudio, José Simonian, Kinho. Trabalho com gravações de vídeos institucionais para a loja de equipamentos musicais Black and White Blues Guitar Shop em Los Angeles (CA).

Você também é professor de guitarra. Dá aulas há quanto tempo e quantos alunos já tiveram seus ensinamentos?
MH: Há pouco mais de 28 anos. Perdi as contas (de quantos alunos), mas o último levantamento somava mais de 750 alunos.

Para quem pretende iniciar na guitarra, qual a orientação que você dá?
MH: Escutar muita música, escutar blues, rock, jazz, etc. Assistir bons músicos. Escolher um bom professor ou escola de guitarra e saber que precisa de disciplina e dedicação para iniciar os estudos, esse é para sempre. E saber aproveitar o que as novas tecnologias colocam à sua disposição, mas sempre compreendendo que o processo leva um pouco mais de tempo do que se vivencia nas redes digitais.

Tocar guitarra é um dom ou a pessoa, com persistência, consegue dominar o instrumento?
MH: Todos são capazes. Claro que há aqueles que possuem uma habilidade maior que outros, mas todos, com dedicação, chegam lá. Há bons caminhos para estudar, costumo analisar os alunos individualmente, e essa foi a melhor forma que encontrei de dar aulas. Cada um é um.

Tem preferência por algum modelo/marca de guitarra?
MH: Fender stratocaster e tele e strato feitas pelo Lee Luthier

Cite ao menos cinco músicos/bandas favoritas.
MH: ACDC, Hendrix, BB King, Eric Clapton, Mike Stern, George Benson, Johnny Winter, Mozart Mello, Black Sabbath, Miles Davis e muitos outros.

Como e onde procura-lo para aulas e shows?
MH: Meu contato é maurohectorguitarrista@gmail.com. Tenho canal de youtube:maurohector; facebook e instagram. Atualmente dou aulas no meu home-studio e por skype, basta entrar em contato.

Mauro Hector (Feedback)