CAMILA CURCIO
No último sábado (6) aconteceu o CalJam 2018, o festival do Foo Fighters, em San Bernardino, na Califórnia. O evento, que conta com dois dias de musica, reuniu em sua segunda edição nomes como Iggy Pop with Post Pop Depression, Tenacious D, Garbage, Billy Idol e, obviamente, Foo Fighters como a atração principal, além de muitas outras bandas.
O festival leva esse nome em homenagem ao California Jam, que aconteceu nos anos 1970 e teve como co-headliners bandas como Deep Purple e Black Sabbath, e no ano seguinte, Aerosmith, Foreigner e Santana, reunindo mais de 200 mil pessoas em cada edição. Taylor Hawkings, baterista do Foo Fighters, agora aos 46 anos, diz que o que move o festival é a nostalgia: “Houve uma época em que o rock n’ roll comandava tudo, e eu me lembro de assistir The Eagles às 2 da tarde, e tinha um arco íris gigante no palco, era a coisa mais anos 1970 que se poderia imaginar”.
Em comemoração ao nono álbum de estúdio da banda, Concrete and Gold, em 2017, os integrantes do Foo Fighters criaram seu próprio festival.
Sendo a nostalgia o fator principal do CalJam e Giants in the Trees, banda de Krist Novoselic, baixista do Nirvana, uma das atrações do sábado, era de se esperar ver a formação original no palco – na medida do possível – da banda que marcou os anos 1990. Krist Novoselic é um dos compositores de Big Me, do álbum Foo Fighters (1995) e no ano passado, ele aceitou o convite de Dave Grohl e perfuraram juntos.
Ver Krist, Dave e Pat Smear juntos já seria algo grandioso para alguns fãs do Nirvana, já que esse seria o mais perto de uma reunião. Porém, em setembro, numa apresentação em Seattle, Krist se juntou novamente ao Foo Fighters para tocarem Molly’s Lips, do Nirvana (Bleach, 1989). As pistas estavam todas ali, deixando os fãs de Nirvana esperançoso e sedentos por um pouquinho da banda.
O que ninguém imaginava era uma reunião verdadeira do Nirvana!!!
No sábado, o Foo Fighters entrou no palco as 21h30 com a música Run, comum na abertura dos shows da turnê Concrete and Gold, e em seguida The Sky is Neighborhood, também do mesmo álbum – algo incomum em shows, geralmente, as bandas passeiam em brincam com seus discos e músicas ao longo do show.
Dave Grohl provocava a plateia dizendo que iria voltar um pouquinho no tempo, e de Concrete and Gold (2017) fomos para Something From Nothing (2014), seguindo para Walk, These Days e Arlandria (Wasting Lights, 2011).
A partir deste ponto, era possível observar três coisas: 1) A setlist estava em ordem cronológica; 2) Algumas pessoas começaram a ficar inquietas com uma possível performance de Molly’s Lips; 3) Dave Grohl aparentava certa tensão e estava mais quieto – algo totalmente oposto de sua personalidade.
O show foi encerrado com This is a Call (1995) deixando de fora o habitual cover de Under Pressure e figurinhas carimbadas da banda como Rope e Big Me.
Agora, eu quero direcionar o texto para o lado pessoal: como fã aficionada do Nirvana, ver Krist, Dave e Pat no telão instantes antes do encore começar foi um momento intensamente único e com sinceridade eu não saberia descrever com detalhes o que aconteceu em seguida. Eu sentia uma onda de emoção e eletricidade percorrendo todo meu corpo. Eu sabia que isso – Big Me e provavelmente Molly’s Lips era o máximo de Nirvana que eu veria na vida e isso já seria o suficiente para eu me dar por satisfeita.
John McCauley assumiu o microfone e a maior surpresa de nossas vidas aconteceu: os acordes iniciais de Serve the Servants (In Utero, 1993) começaram e pela primeira vez em 24 anos, o Nirvana estava ao vivo de novo.
Para as três primeiras músicas, todas com John McCauley, o setlist contou ainda com Serve the Servants, Scentless Apprentice e In Bloom. Já para a segunda parte, com mais três faixas, McCauley deu espaço à lendária Joan Jett, que já tinha assumido os vocais do Nirvana em 2014, quando a banda ganhou seu espaço no Rock n’ Roll Hall of Fame. Com ela, rolaram Breed, Smells Like Teen Spirit e depois de um breve e emocionante discurso de Krist Novoselic (“Kurt, sentimos sua falta”), o Nirvana encerrou com All Apologies.
Não temos como saber o que virá a seguir; se a banda se reunirá mais vezes de forma esporádica, uma possível e curta volta ou se foi apenas este momento. O que sabemos até agora é que apesar da visível tensão e emoção dos membros remanescentes do Nirvana, 24 anos depois, a banda finalmente conseguiu seguir em frente. E, pessoalmente, acredito que Kurt Cobain ficaria feliz com isso, sabendo que seus amigos estão bem e sua música continua atravessando gerações.
Assista a um pouco do que aconteceu no festival