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Colour Haze: quão longe podemos ir

Colour Haze é daqueles grupos que desafiam os fãs de música. Ao invés de sinalizar a mina de ouro, a banda entrega um detector de metais e uma lanterna. O resto é a sua imaginação que cria. Cada segundo e detalhe dos trabalhos de Stefan Klogek, Manfred Merwald e Philipp Rasthofer são preciosos, e podem ser o ouro que você busca ou mais uma camada de dura rocha que protege os 24 quilates de sua pá.

Não é uma analogia muito atraente, mas é o que dá para dizer de uma banda que tanto se inspira no movimento krautrock, o gênero experimental vindo da Alemanha que quebrou o paradigma de músicas rápidas e com melodias pegajosas, e introduziu em seu repertório composições experimentais, longas e de caráter progressivo.

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Apesar de sua inspiração no krautrock, Colour Haze vai muito além do gênero – uma ironia, tratando-se do gênero do “quão longe podemos ir” -, e integra elementos do hard rock, heavy metal setentista e até mesmo sonoridades melódicas clássicas e regionais, como cítaras e cellos. A banda já tem 23 anos de atividade na cena underground alemã e é a mais velha do movimento stoner rock mundial, servindo de inspiração para a nova geração – imensa, por sinal – que está aos poucos tomando forma com seus amplificadores laranja e seus pedais de fuzz.

Os alemães já lançaram 13 álbuns de estúdio e um ao vivo, e seu último, In Her Garden, segue a receita que o projeto Colour Haze carrega em suas mais de duas décadas de estrada: maravilhosas melodias em soundscape, linhas de baixo que hora assemelham-se ao andar de elefantes, hora quase desaparecem no evento sonoro que se constrói diante daqueles que ousarem desafiá-lo, as linhas de guitarra dando ignição no motor com seu tom inflamável e “eu estou aqui para destruir”, e os pistões das batidas progressivamente aumentando de pequenos tiques a uma tsunami de percussão.

Tomemos She Said, do álbum homônimo de 2012, e estudemos sua progressão. A faixa começa com sinos de vento, e ao fundo uma soundscape litorânea. Então, com a entrada das primeiras linhas de baixo, seguidas das tímidas batidas, o monstro começa a tomar forma. Stefan murmura algo em ar melódico, tom elevado. De repente, quando pensamos que a música explodiria em guitarra e sangue, um piano ganha espaço. Agora, bateria, baixo e piano parecem duelar para quem será o mais audível, mas percebem que são um, e que se quiserem sobreviver ao que vem a seguir, devem se unir.

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Stefan começa com tudo a sua linha de guitarra abrasiva e energética, que logo ganha ares distorcidos e dita o ritmo dos crescendi que virão finalmente tomar a forma que se desinibe aos 6:50 minutos de reprodução. E sim, sempre haverá algo assim em Colour Haze.

Há vários momentos que são dignas passagens de hard rock puro, como um chute no maxilar, como o diplodoco I Won’t Stop, do Los Sounds de Krauts, 2003. O riff inicial é extremamente distorcido, pesado e conduzido com uma maestria impressionante. E a faixa inteira segue o ritmo do primeiro riff, e vai até seu fechamento pesada, agressiva. Soco. Coturno.

De forma a estabelecer comparações, faz-se mais justo e necessário dizer quem veio após Colour Haze, e não quem veio antes. É imprescindível, porém, mencionar que não de apenas Zeppelin, Sabbath e Floyd vive o homem, e no trio há muito de Cargo , Nektar e My Solid Ground, e indubitavelmente de muitos outros grupos da cena underground dos anos 1970 e 1980. Agora, para nomes que vieram após Colour Haze, temos All Them Witches (USA), My Sleeping Karma (DEU). Meu destaque vai para All Them Witches. Mais detalhes numa coluna futura, talvez.

Voltando ao Colour Haze, sua maçaroca de influências e total liberdade experimental já os levaram a grandes e surpreendente extremos, como o álbum All, de 2008, com instrumentação que beira a loucura experimentalista, que gerou faixas como Stars, um voice-and-guitar que assemelha-se a um mantra proferido à luz de uma fogueira num país nortenho. Ou no jardim do Taj Mahal. O que vale é a imaginação. Os músicos são extremamente maleáveis. Em palco, sua performance é tímida e concentrada, técnica. Mas em estúdio, fechados e acusticamente isolados, não sabemos o que acontece. Sabemos apenas que sai boa música.

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Ao fã de música diferente, aventureiro e roqueiro, que não liga pra cheiro de naftalina e gosta da atmosfera da música que venera os antepassados, Colour Haze talvez seja uma boa parada, visitando os antepassados ignorados com o andar da história e construindo um futuro menos plastificado.

P.S.: nesta coluna foram mencionadas oito outras bandas, cinco delas bastante desconhecidas pelo público geral. Que tal dar aquela mineirada?

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