“Ô mãe, me explica, me ensina, me diz o que é feminina? Não é no cabelo, no dengo ou no olhar, é ser menina por todo lugar”. A música Feminina, lançada na década de 1980, da cantora e compositora Joyce Moreno, que iniciou a carreira no final dos anos 1960, já trazia um caráter feminista e a busca pela igualdade de direitos.
E essa busca é diária nos dias atuais. A designer e arquiteta carioca Nai Mattoso, de 29 anos, se desdobra para conquistar um mercado de trabalho dominado, em sua maioria, por homens. “A sociedade brasileira ainda é muito machista em todas as suas esferas. Eu acho que nós mulheres temos o dever de nos ajudarmos e nos projetarmos onde de fato queremos estar. Representatividade é fundamental”.
A ilustradora, que desde menina gostava de desenhar, desenvolveu uma maneira única de expressar graficamente seus belos desenhos, durante a faculdade de Arquitetura, quando fez, paralelamente, um curso de Editor Gráfico. Foi a partir daí, direcionada para o caminho do design, que começou a trabalhar em projetos variados. “Assim que me formei, fui trabalhar como designer júnior em uma agência de publicidade”.
Nai conta que nunca pensou em trabalhar e viver de arquitetura, sua primeira formação, embora considere uma das carreiras mais bonitas. “A arquitetura me ensinou a olhar o espaço ao redor com mais atenção e me fez ver a beleza que está nos detalhes”.
Sentindo a necessidade de ganhar mais confiança, de ter mais embasamento teórico e conhecimento técnico, a carioca reingressou, há cinco anos, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, para cursar Comunicação Visual.
“A fórmula do Ilustrassom antigo em algum momento ficou desgastada”
O projeto
Apaixonada por música, especialmente pela música popular brasileira, a artista criou o projeto Ilustrassom em 2013, que no começo se chamava Design do Som. Por achar que esse nome soava muito insosso e impessoal, foi em busca de outro nome, mas acabava sempre encontrando um parecido. “Eis que, numa dessas tentativas, surgiu o Ilustrassom, que, a princípio, era pra ser IlustraSom, mas esse nome já estava em uso”. E a mudança acabou definindo a união da música e do design. “Achei legal porque transmite mesmo a ideia do que eu faço (ilustração + som), além de ter uma pronúncia meio afrancesada (risos)”.
O projeto surgiu como terapia para tirar da cabeça as canções que não parava de cantar. “Me encantam as várias possibilidades de interpretação que a música tem, como um som pode refletir seu estado de espírito”. E completa que a ideia do projeto surgiu despretensiosamente num momento em que precisava se encontrar como artista.
O Ilustrassom está parado desde agosto do ano passado, mas Nai pretende retomar nos próximos dois meses, com novas imagens e sons, seus cartões virtuais.
“Estou estudando uma reformulação de tudo. Acho que foi importante essa pausa para voltar com um projeto novo, que se identifique mais comigo. A fórmula do Ilustrassom antigo em algum momento ficou desgastada”.
Na época, ela produzia uma arte por dia e, com o tempo, a obrigação de postar conteúdo foi inevitável. “Nunca me sustentei com a página. Ela sempre funcionou mais como uma válvula de escape”.
Esse projeto fez tanto sucesso que as ilustrassons já foram compartilhadas por grandes nomes da MPB. Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Djavan, Maria Rita, Marina Lima, Sandra de Sá, Elza Soares, Moraes Moreira e Baby do Brasil são alguns dos artistas que divulgaram em suas redes sociais.
A designer homenageou ícones nacionais com trechos de músicas conhecidas, como O Barquinho de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli; Noite do Prazer de Paulo Danowski, Arnaldo Brandão e Cláudio Zoli; O Mundo É Um Moinho, de Cartola; Tiro ao Álvaro, de Adoniran Barbosa na voz de Elis Regina. Além dessas, Nai fez ilustrações com músicas de Titãs, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Los Hermanos, entre outros artistas.
Trechos das músicas
A escolha das canções foi feita de forma aleatória, com algumas artes encomendadas, sugestão de seguidores e muita pesquisa conceitual. “Os trechos eram trabalhados de acordo com o que eu estava sentindo, de algo que ouvia e gostava”.
Música e verso definidos, Nai partia para colocar todas as ideias no papel. “Em alguns casos, a ilustração fluía naturalmente. Mas, no geral, levava um tempo entre fazer, refazer e até desistir de uma música e partir para outra. O mais interessante para mim é fugir do lugar comum. Então, primeiro eu defino o que aquela frase pode transmitir e depois faço as referências. A minha leitura tenta não ser tão literal e óbvia. É um exercício de abstração”.
E, aproveitando o Dia Internacional da Mulher, selecionei abaixo alguns trechos de cantoras das ilustrações sonoras de Nai. Aperte o play e divirta-se!
Pagu – Rita Lee e Zélia Duncan
1º de Julho – Cássia Eller
Esquadros – Adriana Calcanhoto
Só Sei Dançar Com Você – Tulipa Ruiz
Só Tinha de Ser Com Você – Elis Regina
Velha e Louca – Mallu Magalhães
Par de Ases – Tiê
Gostoso Veneno – Alcione
Quem quiser conhecer mais sobre o trabalho de Nai, segue o perfil do Instagram, onde é possível ouvir trechos das músicas. Algumas artes são vendidas em pôsteres e camisetas na Urban Arts e na Touts.
Feliz Dia da Mulher e até a próxima Art Rock!
Imagens e vídeos: todos os direitos reservados a Nai Mattoso e Youtube/Divulgação.