Berço do surf nacional, Santos já teve algumas boas bandas de surf music, mas nenhuma com uma sonoridade tão próxima de mestres como Dick Dale, aquele instrumental que parece ter sido feito pelas ondas, trilha ideal para os surfistas.
Esse cenário mudou com a chegada da Mad Haoles, banda formada por Anselmo Prandoni (guitarra, violão, weissenborn, ukulele e resonator), Dinho Garcia (baixo) e Guilherme Queiroz (bateria). Os santistas, em pouco tempo, passaram a ser vistos como os representantes do surf music da região. O álbum de estreia, homônimo, acabou de sair e foi o que elevou o status.
“A ideia surgiu quando eu fazia aulas de surf na escola do Cisco Araña, em 2013. Lá um professor (Francisco Bortoletto) recomendava aos alunos que assistissem filmes e documentários. Glass Love, Sprout, One California Day, entre outros, me motivaram a querer fazer trilha sonora para vídeos de surf”, comenta Anselmo, que garante ser o único que pega onda na banda, mesmo que raramente.
O registro conta com dez faixas instrumentais, todas batizadas com nomes em inglês. E a ligação com o surf da região é tão forte que o grupo emplacou algumas dessas canções no filme Picuruta Salazar – A Lenda do Gato, que terá sua pré-estreia nacional na próxima segunda-feira, a partir das 18h, no Cine Roxy 5, em Santos. Antes da segunda sessão do longa, que acontece às 21h, o Mad Haoles ainda fará uma apresentação no lado externo do cinema.
“Estar no filme é uma experiência incrível. O projeto nasceu para isso, ser trilha sonora de vídeos de surf. Ainda mais um ícone do esporte, reconhecido nacional e mundialmente. Muito legal também pelo fato dele e a banda serem daqui da cidade. Não só tem oito músicas do disco na trilha sonora do filme, como também faremos um som ao vivo no dia da estreia em Santos”, vibra Anselmo.
O disco
O álbum de estreia do Mad Haoles abre com Scratching the Surface, que soa como uma baita homenagem ao surf music dos anos 1960, bem com a cara de Huttington Beach, na Califórnia.
Facing Waimea, que tem uma batida mais próxima do Red Hot Chili Peppers, é ideal para acompanhar uma surf session na própria Waimea, no Havaí. Os mais ligados na cultura em torno do esporte certamente já ouviram falar sobre esse local, por conta do filme Ride the Wild Surf, que ganhou o nome de Mar Raivoso, no Brasil. Tal como o longa, a dupla Jan and Dean também batizou uma música com o mesmo nome e temática, reforçando a ideia que o mar de Waimea não é para qualquer um.
Ao longo dos 25 minutos, o Mad Haoles consegue transitar entre batidas mais rápidas, na linha daquelas que acompanham os vídeos clássicos de surf (Jaws e Classic Surf), mas também traz outras mais calmas, que combinam com o clima em si, com sol, praia e diversão (California Sunset e Hawaiian Fellings).
Sanctum e Symphony of the Seas combinam mais com um luau ou mesmo o momento pós session.
“A influência principal foi o surf rock das décadas de 1960 e 1970, e para as faixas acústicas a base foi a música havaiana. Buscamos The Ventures, Dick Dale, Surfaris, e algumas músicas remetem a um groove do Red Hot Chili Peppers. Nas acústicas, Bob Brozman e Ledward Kaapana”, comenta Anselmo.
O disco de estreia do Mad Haoles foi gravado e mixado no Sound Lab Studio (Santos) em dezembro de 2017 pelo baixista da banda, Dinho Garcia. A masterização, em janeiro passado, ficou a cargo do produtor musical Lampadinha, em Los Angeles.
Com esse debute de peso do Mad Haoles uma coisa é certa: Santos já pode organizar um grande show de surf music na Cidade. Só não esqueçam de convidar os cariocas do Beach Combers. Essa dobradinha, por sinal, pode reviver a disputa saudável que Santos e Rio de Janeiro já travaram para decidir qual é realmente o berço do surf no Brasil.