“Segredo de Santos está na informalidade”, diz baterista

“Segredo de Santos está na informalidade”, diz baterista

*Foto destaque: Flavio Hopp / Divulgação

Muitos dos bateristas renomados da região tiveram um professor em comum: Arthur Vonbarbarian. Baterista do Vulcano e ex-integrante de bandas expoentes do cenário roqueiro de Santos, como Psychic Possessor, Safari Hamburguers e Carnal Desire, Vonbarbarian ajudou na formação de Ric Moraes (Ivete Sangalo), Bruno Graveto (Charlie Brown Jr e Strike), Daniel (Garage Fuzz), entre muitos outros.

“Fico muito lisonjeado com os elogios que recebo desses caras. Às vezes, penso que nem mereço tanto esse reconhecimento, mas sou grato”, diz, demonstrando muita modéstia.

Com 35 anos de carreira, Vonbarbarian já chegou a ter uma média de 54 alunos por mês. Hoje, com 48 anos, não consegue mais conciliar o ensinamento com suas atividades no Studio Rock Café, onde é um dos proprietários, e nas gravações e turnês com o Vulcano.

“Estou curtindo uma fase bem produtiva com o Vulcano. Participei de três turnês na Europa nos últimos anos e uma excursão para os Estados Unidos no ano passado, quando conhecemos e conversamos com o baixista do Aerosmith”.

Vonbarbarian acredita que Santos tem uma energia diferente do restante do Brasil e isso influencia na formação de tantos músicos. “Em São Paulo, por exemplo, muitos músicos são formados em escolas de música. São obrigados a aprender tudo. Mas isso acontece porque não é fácil um pai deixar o filho de 11 ou 12 anos pegar o ônibus sozinho e ir ensaiar lá. Em Santos, o cara pega a bike, joga bola na praia, depois passa na casa do amigo e faz um ensaio. É diferente. Santos ainda preserva isso”.

Segundo o músico, o aprendizado fica mais gostoso e fácil quando não vem acompanhado de obrigações e controle dos pais. “A Escola de Música e Tecnologia (EM&T) não vingou em Santos, mas em São Paulo é um sucesso. O segredo de Santos está na informalidade”.

Mas o baterista do Vulcano faz um alerta para a atual geração. “Não adianta puxar o tapete do outro e fechar porta para o pessoal. Trabalhei com um produtor em São Paulo e ele elogiou os músicos da nossa região, disse que nunca havia visto um santista ruim na música. Mas não temos a união que Brasília teve nos anos 1980 com o Legião Urbana, Capital Inicial, o Mangue Beat nos 1990, com Chico Science, Mundo Livre, Minas Gerais com Pato Fu e Skank na mesma década. Falta isso aqui, falta união”.

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Terceiro da esquerda para direita, Boka é uma referência no punk rock

Contemporâneo de Vonbarbarian, o também santista Maurício Boka, do Ratos de Porão, é outro exemplo de músico consagrado em sua área e que transmite seu conhecimento aos mais jovens. Frequentemente realiza workshops em São Paulo e Santos. “Acho que tocar numa banda já consagrada, com repercussão internacional, foi fundamental para a minha carreira, mas é claro que tive meus méritos por desenvolver meu estilo com personalidade e me tornar um dos grandes bateras do estilo”, comenta.

De uma banda apenas
Desde os anos 1960 embalando os bailes da região, Hélio Mariano, do Blow Up, também é conhecido por um estilo próprio de tocar. “O fundamental para a minha longevidade na carreira foi a disciplina profissional e o amor à música. Sou muito feliz com a profissão. Com ela formei minha família, criei e formei meus filhos”.

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Hélio Mariano comanda a bateria do Blow Up desde os anos 1960