Pela nona vez no Brasil, Franz Ferdinand entrega show fresco e dançante

Em uma noite repleta de surpresas, a banda escocesa Franz Ferdinand entregou um show incrível no Popload Gig #66, que rolou no Tokio Marine Hall, em São Paulo, na última quinta-feira (14). Em sua nona passagem pelo Brasil, a primeira em seis anos, Alex Kapranos e companhia apresentaram um repertório forte, repleto de hits, mas também com sete músicas de The Human Fear, álbum que será lançado em janeiro. Mas antes de seguir falando sobre o show do Franz Ferdinand, preciso destacar as duas grandes surpresas que rolaram minutos mais cedo. A primeira surpresa foi a inclusão do músico Tom Ribeira no lineup da noite. O artista de Botucatu, considerado uma das maiores revelações da Nova MPB, mostrou muita desenvoltura com suas histórias e canções bem pessoais. Em quase 30 minutos de show, ele falou sobre o período em que morou na França, da criação de algumas faixas, além do convite para o show de abertura do Franz Ferdinand, que partiu de Alex Kapranos, o anfitrião da noite. Aliás, ele viu Tom de pertinho, registrando vídeos do show do músico paulista. Durante a apresentação, Tom Ribeira ainda prestou duas bonitas homenagens à Rita Lee e Martinho da Vila, entregando duas versões bem originais. Logo depois que Tom Ribeira deixou o palco, o telão da casa exibiu um vídeo incrível para anunciar o retorno do Popload Festival. O evento vai rolar em 31 de maio de 2025. Franz Ferdinand Com o público aquecido e com o coração quente após o anúncio do Popload Festival, a banda escocesa subiu ao palco a mil por hora. The Dark of the Matinée e No You Girls logo de cara bastaram para transformar o Tokio Marine Hall na pista de dança mais animada da Capital na véspera de feriado. Na sequência, Alex Kapranos, que usou e abusou das coreografias desengonçadas ao longo da noite, passou a equilibrar o set, promovendo estreias de The Human Fear. A primeira foi Night or Day. Depois vieram mais seis. Apesar da boa recepção do público com as músicas inéditas, os fãs foram ao delírio mesmo com a nostalgia. O álbum homônimo, de 2004, que está completando 20 anos, teve seis canções tocadas, inclusive os cinco singles. You Could Have It So Much Better, o segundo trabalho do Franz Ferdinand, também foi muito bem representado. Foram quatro canções, incluindo o super hit Do You Want To. Foram 22 músicas em quase 1h40 de show. E o Franz Ferdinand deixou claro que pode renovar o repertório sempre que o show sempre vai parecer fresco. Ninguém vai reclamar se eles voltarem anualmente, como no início da carreira. Edit this setlist | More Franz Ferdinand setlists

Mais enxuto, mas potente e solto, Smashing Pumpkins emociona em SP

Em sua quinta passagem pelo Brasil, a primeira em nove anos, o Smashing Pumpkins mostrou estar em alto nível. No domingo (3), no Espaço Unimed, Billy Corgan e companhia demonstraram estar confortáveis em cena para desfilar uma sequência infinita de hits. The Everlasting Gaze, a melhor e mais pesada do álbum Machina/The Machines of God (2000), abriu o show e foi a faísca que faltava para esquentar de vez o Espaço Unimed. O início do show ainda trouxe uma versão inusitada de Zoo Station, do U2, com solo de bateria, que em alguns momentos pareceu até uma simulação de samba. A interação entre banda e público passou a ficar mais intensa quando as canções dos álbuns Siamese Dream, Mellon Collie and the Infinite Sadness e Adore passaram a marcar presença no set. Today emocionou muita gente na plateia, enquanto Tonight, Tonight fez Billy Corgan para a canção para contemplar a resposta do público. Aliás, chamou a atenção dos outros integrantes como se dissesse: “entenderam porque aqui é diferente?”. E faz muito sentido. Antes do show de São Paulo, a última vez que assisti ao Smashing Pumpkins foi em 2018, na T-Mobile Arena, em Las Vegas. Na ocasião, já acompanhado novamente de James Iha e Jimmy Chamberlin, a banda entregou um show de 3h15 de duração, o dobro da atual turnê, mas sem uma resposta tão enérgica do público. Vale destacar que na apresentação de Las Vegas, James Iha ainda não parecia muito confortável com o retorno ao grupo. Cenário totalmente diferente no Espaço Unimed, no qual ele apresentou a banda, imitou os trejeitos de Brian Johnson (AC/DC) e ainda cantou, de surpresa, Ziggy Stardust, de David Bowie, no fim do show. Surpresas, que por sinal, marcaram a apresentação do Smashing Pumpkins em São Paulo. Após Disarm, Billy Corgan ficou sozinho no palco para uma dobradinha acústica, com Landslide (Fleetwood Mac) e Shine On, Harvest Moon (Ruth Etting). Ver Billy Corgan feliz e leve no palco deixou uma ótima impressão para os fãs. Da última vez, no Lollapalooza 2015, o vocalista estava abatido com a morte de um dos seus gatos, além de estar acompanhado de músicos que pareciam apenas cumprir uma função determinada, sem muita emoção. A guitarrista Kiki Wong e o baixista Jack Bates deram um novo fôlego para a banda. A turnê The World Is a Vampire, que praticamente ignora o álbum mais novo do Smashing Pumpkins, Aghori Mhori Mei (tocou apenas Sighommi), segue pela América do Sul, com shows na Argentina, Chile, Peru, Equador e Colômbia. Terno Rei Uma das bandas mais cultuadas do momento no Brasil, a paulistana Terno Rei foi a responsável pela abertura do show do Smashing Pumpkins em São Paulo. Apesar do pouco tempo, 30 minutos, o grupo conseguiu empolgar o público com uma divisão igualitária dos seus dois últimos álbuns, Violeta (2019) e Gêmeos (2022). Solidão de volta e 93, tocadas logo no início, tiveram ótimo retorno dos fãs. Muitos cantaram de ponta a ponta na pista premium. No fim, antes de Esperando Você, o vocalista Ale Sater revelou que, apesar de ter feito a abertura de vários shows internacionais, o Smashing Pumpkins era o mais importante. “Vamos tocar uma música que achamos que tem muito a ver com o som deles”, disse.

Combinação explosiva de Sleaford Mods e Black Pantera agita SP

O Carioca Club, em São Paulo, recebeu no último sábado (2) uma combinação explosiva com o duo britânico Sleaford Mods e a banda mineira Black Pantera. Para muitos pode ter parecido estranho ter uma banda de rock mais “convencional” para fazer a abertura desse show, mas a escolha não poderia ter sido mais acertada pela produtora Maraty. O Black Pantera, cujo som soa como uma versão potente de Living Colour com Bad Brains e Sepultura, é uma banda que está no auge, acabou de lançar um disco poderoso (Perpétuo, pela Deck) e surpreendeu a todos com uma apresentação eletrizante. Desde a abertura, com a casa ainda longe da sua lotação, a banda começou com Provérbios e Padrão é o Caralho, e pouco a pouco foi conquistando cada uma das pessoas presentes. O guitarrista e vocalista Charles Gama e o baixista Chaene comandavam o público com carisma de sobra, ora fazendo todos sentarem no chão e incitando rodas de pogo, ora ensinando o público a entoar refrões como o de Fogo nos Racistas. Em determinado momento do show, o vocalista indagou o público sobre quem ali estava vendo a banda pela primeira vez, e a resposta arrancou risos dos caras. Quase todo o público, que àquela altura já estava na mão da banda, levantou a mão. Sleaford Mods Na sequência, pontualmente às 19h15, Jason Williamson (vocalista) e Andrew Fearn (produtor das bases) subiram ao palco para a estreia do Sleaford Mods no Brasil. A apresentação segue a mesma linha do som produzido pelos caras, onde o minimalismo (que a princípio pode causar estranheza) vai cativando de forma escalonada com uma sequência de sons raivosos, que fazem muita banda de punk rock parecer pop rock. Se um dos conceitos iniciais do punk era fazer um som que incomodasse, com mensagens sobre o cotidiano e que transmitisse a indignação de uma geração ao mesmo tempo em que debocha de todo o status quo, então posso afirmar que esse show foi um exemplo clássico disso.  Batidas eletrônicas cruas com influências de hip hop e pós punk e altamente dançantes. Enfileirando uma música atrás da outra, de UK Grim a Jolly Fucker, o duo encantava com o contraste entre o vocalista cuspindo letras com muita fúria enquanto o DJ ficava dançando pelo palco como se estivesse em uma grande festa. Em determinado momento, Jason sacou seu telefone e fez uso do Google Tradutor para se comunicar com o público: “Me desculpem! Estou com muita raiva porque os meus fones de retorno quebraram e eles custaram muito caro”. A apresentação seguiu e tanto o público quanto os Sleaford Mods pareciam satisfeitos com o saldo da noite, que ainda contou com a aguardada versão de West End Girls, do Pet Shop Boys, além das antológicas Tied Up in Nottz e Jobseeker, encerrando com Tweet Tweet Tweet. Uma noite antológica, onde o carisma e o ódio, presentes nas mensagens do Sleaford Mods e Black Pantera, provaram a importância de ainda se assistir música ao vivo, feita com alma e proporcionando a todos apresentações históricas.