NX Zero faz show de headliner no I Wanna Be Tour, em São Paulo

Um dos maiores expoentes do emo nacional, o NX Zero ocupou um espaço de destaque no I Wanna Be Tour, sendo co-headliner do palco principal. E respondeu da melhor forma possível, com um show grandioso, som bom, iluminação de ponta, além de uma cacetada de hits cantadas em uníssono pelos fãs. A entrada do show foi com Além de Mim, que foi o suficiente para fazer o estádio inteiro cantar junto. A turnê de reunião do NX Zero deu um status ainda maior para a banda, ainda mais com dois shows lotados no Allianz Parque, no fim do ano passado. Ao longo de uma hora, o NX Zero soube explorar bem a energia do público para entregar uma das melhores apresentações do dia. Pela Última Vez, Onde Estiver e Cedo ou Tarde cativaram bastante o público. Cartas Pra Você emocionou muitos na pista premium. Da metade para o fim, o NX Zero aproveitou para relembrar canções dos discos Sete Chaves (2009) e Em Comum (2012), pincelando as faixas Vertigem, Só Rezo, Hoje o Céu Abriu e Ligação. Razões e Emoções colocou o estádio abaixo. Foi o momento da consagração definitiva. Muito importante ver uma banda nacional ocupar um espaço de destaque em um grande festival no Brasil. Chega de colocar os locais para tocar com som precário, horário ruim e sem público. Fica a dica para compensarem isso em uma próxima edição com a Fresno. O que teve de sobra para o NX Zero no I Wanna Be Tour, faltou em tudo para a Fresno, banda com maior número de camisetas presentes no Allianz Parque.

All Time Low vai além das brincadeiras para entregar show repleto de hits

Uma das bandas mais aguardadas do I Wanna Be Tour, a norte-americana All Time Low entregou tudo que se esperava deles. Canções poderosas, refrões cantados em uníssono, além de muitas piadinhas, quase todas capitaneadas pelo guitarrista Jack Barakat, que lambeu o rosto e axila do vocalista Alex Gaskarth, foi para cima do público, beijou os integrantes e até ameaçou filmar o próprio pênis durante o show. Mas deixando as piadas de lado, o All Time Low mostrou muita consistência ao vivo. Não fugiu da responsabilidade e entregou um repertório repleto de hits. Lost in Stereo, Damned If I Do Ya (Damned If I Don’t), Six Feet Under The Stars e Poppin’ Champagne, dobradinhas dos terceiros e quarto discos, Nothing Personal (2009) e So Wrong, It’s Right (2007), respectivamente, abriram o show. Com o público na mão, Alex e companhia optaram por testar algumas canções do disco mais recente, Tell Me I’m Alive (2023). As escolhidas em sequência foram Modern Love e a faixa-título. Sleepwalking entrou na reta final do show. O single Fake As Hell, gravado com Avril Lavigne, também foi lembrado pela banda, garantindo um bom retorno do público, que curtiu a escolha para o set. Um dos maiores sucessos do All Time Low, Monsters, gravada com Blackbear e presente no álbum Wake Up, Sunshine, entrou já na parte conclusiva do show. O fim não poderia ser outro: Dear Maria, Count Me In, hit absoluto da banda. Essa foi a quarta vez do All Time Low no Brasil, sendo que a última havia sido em 2015. Antes disso, a banda tocou em várias cidades brasileiras, inclusive em Guarujá, com um show no Sofitel Jequitimar, em 2011. Naquela ocasião, Lost in Stereo também abriu a apresentação.

Com vocalista doido, The Used faz um dos melhores shows do Wanna Be Tour

Sem deixar a energia cair após o show pesado do Asking Alexandria, o The Used entregou uma das melhores apresentações do I Wanna Be Tour. Muito disso é mérito do vocalista Bert McCracken, que é completamente maluco no palco, lembrando um pouco o Mike Patton, do Faith no More e outras mil bandas. Apesar de ser uma banda ativa desde 2002, tendo lançado nove álbuns nesse período, o The Used fez um show calcado em cima dos três primeiros álbuns, The Used (2002), In Love and Death (2004) e Lies for the Liars (2007), que foram responsáveis por nove das 12 canções do set. Funcionou muito bem, o apoio do público foi incondicional do início ao fim. Com Bert distribuindo ‘fuck you’ a cada término de música, o The Used iniciou o show com Pretty Handsome Awkward, faixa que tem um refrão chiclete e melódico.O The Used anda sempre muito bem acompanhado em seus álbuns. Nos mais recentes contou com participações de Mark Hoppus e Travis Barker (blink-182), Jason Aalon Butler (Fever 333), além de John Feldmann (Goldfinger), que vem produzindo os discos mais recentes. É nítido que isso vem contribuindo demais para o amadurecimento sonoro do grupo. Uma das novidades do repertório foi Giving Up, faixa que encerra o último álbum da banda, Toxic Positivity (2023). Senti falta de um pouco do Heartwork (2020), que foi totalmente ignorado no show. The Taste of Ink, maior sucesso comercial da banda, veio já na reta final. Contagiou o público, que cantou o som na íntegra, garantindo um bonito sing-along. Mas Bert ainda guardou uma surpresa para o fim. Encerrou o show com A Box Full of Sharp Objects, que teve a participação de Lucas Silveira, vocalista da Fresno. O mais bacana foi ter o gaúcho no palco para um público maior, já que quase ninguém conseguiu ver o show da Fresno por conta da má logística na abertura dos portões. O medley deles contou ainda com um trecho de Smell Like Teen Spirit, do Nirvana.

Asking Alexandria mostra força ao vivo após saída de Ben Bruce

O Asking Alexandria, banda mais pesada do lineup, veio logo após o Boys Like Girls. Abriu com Closure, que já mostrou uma grande transformação sonora para o que vinha rolando até o momento. Desfalcado do guitarrista e fundador, Ben Bruce, que deixou a banda em janeiro, o Asking Alexandria enfrentou um pouco de problemas com os microfones no início do show. A partir de Down to Hell, terceira faixa do set, felizmente, as coisas melhoraram e se estabilizaram até o fim. Aliás, a ausência de Ben Bruce foi muito bem preenchida com a entrada de Paul Bartolome na base, enquanto Cameron Liddell assumiu o posto de líder das cordas. Foi apenas o terceiro show com essa formação. O repertório priorizou os álbuns Reckless & Relentless (2011) e Asking Alexandria (2017), o que promoveu uma maior interação do público com a banda, vide que esses dois são os discos mais populares dos ingleses. Para quem não conhecia o Asking Alexandria, o vocalista Danny Worsnop surpreendeu com a versatilidade. Faz o gutural por boa parte da apresentação, mas também mostra sutileza, como na versão acústica de Someone, Somewhere. Não que isso seja algo raro, vide que bandas como Bring Me The Horizon e A Day To Remember também possuem essa chave com seus vocalistas. Mas sempre surpreende os desavisados, conforme comentários que ouvi na pista premium. A poderosa Alone In A Room, que tem uma veia mais melódica e é considerada a mais conhecida da banda, encerrou o set, que cumpriu com maestria o passeio pela discografia. A baixa mais sentida foi Not The American Average, muito pedida pelos fãs.

Boys Like Girls relembra Love Drunk, mas mostra veia pop da nova fase em SP

Na sequência de Pitty, no palco vizinho, o Boys Like Girls mostrou suas credenciais com muita melodia, refrões fáceis e disposição, apesar do vocalista, Martin Johnson, estar com um dos braços engessado, após fazer uma cirurgia no ombro há duas semanas. O Boys Like Girls é um cruzamento do Good Charlotte (banda que eles sempre citam como referência) e nomes do rock alternativo dos anos 1990, como o Goo Goo Dolls e Eve 6. Já se passaram 18 anos desde o primeiro álbum, mas o Boys Like Girls não chega a ter tanta força no Brasil, como nos EUA e Inglaterra. Isso pode começar a mudar após a apresentação no Allianz Parque. Martin Johnson, que pouco falou durante o show, relembrou que não vinha ao Brasil desde 2011, época de maior alcance comercial por aqui, com o segundo álbum, Love Drunk (2009). Aliás, Love Drunk teve quatro faixas tocadas na apresentação, mesma quantidade destinada para Boys Like Girls (2006) e Sunday at Foxwoods (2023), o primeiro em 11 anos, que traz a banda com uma veia mais pop do que nos discos anteriores. Muito bem relacionado no meio artístico, Johnson usa muito isso a seu favor. Se no álbum Love Drunk, ele teve a participação da amiga Taylor Swift em Two is Better Than One, mais recentemente, no fim do ano passado, fez feat com o grupo de k-pop Twice na canção I Can’t Stop Me, que ficou mais pesada no show de São Paulo. Não ter barreiras para outros gêneros musicais pode catapultar o crescimento comercial do Boys Like Girls, que já experimentou isso na época de Love Drunk. No show vale destacar as presenças de palco do guitarrista Jamel Hawke e do baixista Gregory James, que entraram na banda mais recentemente, antes da gravação de Sunday at Foxwoods.

Após show histórico em Santos, Pitty encanta com caminhão de hits no I Wanna Be Tour

Na reta final das celebrações dos 20 anos do álbum Admirável Chip Novo, a cantora baiana Pitty vive um dos momentos mais especiais da carreira. Em dois dias, ela cantou para 100 mil pessoas (50 mil no I Wanna Be Tour, no Allianz Parque, 50 mil na Praia do Gonzaga, em Santos, na noite anterior). Pitty, com o passar dos anos, se transformou naquela artista unanimidade que combina com tudo que é festival e público. Se analisarmos a proposta musical, ela destoa bastante do lineup. Nomes nacionais como Hateen e Dance of Days cairiam muito melhor, ainda mais pelo peso histórico no emo verde e amarelo. Mas isso não foi empecilho para Pitty, que apostou em um setlist repleto de hits. Teto de Vidro, logo de cara, foi o suficiente para ter a noção que o público apoiaria do início ao fim. Sem perder tempo, Pitty, que estava elegantemente vestida de roxo, distribuiu hits em sequência: Admirável Chip Novo, Máscara e Equalize. Sempre comunicativa com os fãs, Pitty pediu para o público abrir uma roda de pogo. Foi atendida prontamente. Antes de um dos seus sons mais conhecidos, Pitty brincou que há 20 anos lançou uma música com o nome do festival. I Wanna Be caiu muito bem no repertório. Mesmo com o tempo escasso, Pitty conseguiu fazer uma reta final tão forte como a do início. Semana Que Vem, Memórias, Na Sua Estante e Me Adora. Apesar do clima nostálgico, o show de Pitty não soa antigo ou ultrapassado. As faixas de Admirável Chip Novo são bem atemporais e casam realmente com qualquer ambiente com música. Por esse motivo, ela soube cativar tão bem o público no Allianz. Recentemente, Ney Matogrosso, Sandy, Planet Hemp, Emicida, entre outros, recriaram Admirável Chip Novo. A pluralidade dos artistas define bem o peso dessa obra, que serviu como base no I Wanna Be Tour.  Ainda não se sabe o que Pitty fará após o encerramento da turnê, mas fica nossa torcida por um álbum de inéditas. 

Mayday Parade entrega show mais emotivo do I Wanna Be Tour

Se alguém ainda tinha dúvida de que se tratava de um festival emotivo, o Mayday Parade afastou qualquer desconfiança com a apresentação. Foi provavelmente um dos shows mais emotivos da tarde, no Allianz Parque. O Mayday Parade, da Flórida (EUA), que já foi presença constante naquelas coletâneas de covers (Punk Goes Pop e Punk Goes 90’s), priorizou seu álbum de estreia, A Lesson in Romantics (2007), com quase metade do set de 12 faixas dedicado a ele. Era tudo que os fãs queriam mesmo. A primeira e última vez que esteve no Brasil, em 2012, o Mayday Parade estrelou o lineup do extinto Next Generation. Agora, estava longe de ser uma atração principal, mas mesmo assim entregou uma apresentação cativante. O vocalista Derek Sanders, descalço, entregou uma presença de palco empolgante. Não parou por nenhum momento, mesmo com um set repleto de baladas. E agiu corretamente ao não incluir as canções das coletâneas Punk Goes. Afinal, precisa mostrar o trabalho autoral que é muito rico. Get Up, Jersey e Jamie All Over, que vieram na trinca final, garantiram o restinho que faltava para conquistar de vez o público que desconhecia a banda. As duas últimas, aliás, são as mais populares da carreira do Mayday Parade.

Plain White T’s faz show honesto com feat de Day Limns

O Allianz Parque ainda estava no início de sua ocupação, muito em função da péssima logística de abrir os portões em cima da hora da primeira banda, quando o Plain White T’s iniciou sua apresentação.  Tom Higgenson, vocalista e único membro da formação original, sabia que não teria muito tempo para conquistar o público em sua primeira visita ao Brasil, logo abriu com Our Time Now, faixa que ficou marcada por sua presença nas séries iCarly e Greek. Com um palco simples e fazendo menção à capa do novo disco, homônimo, lançado no ano passado, a banda aproveitou que chamou a atenção dos fãs com Our Time Now para soltar duas canções do registro mais recente: Young Tonight e Fired Up, que tem uma sonoridade bem diferente do restante da carreira, lembrando mais um Foster the People. Take Me Away, uma viagem ao auge da banda, em 2005, serviu para manter a conexão com os fãs, que não se empolgaram com as novidades. Mas o show do Plain White T’s é mais introspectivo, mesmo com Tom Higgenson demonstrando muito carisma e carinho pelo público que chegou cedo. The Giving Tree, que veio na sequência, foi exatamente dessa forma: uma faixa para receber o público que enfrentava um forte sol e com pouco acesso à água (um dos pontos falhos do festival). Para uma banda que nunca havia tocado no Brasil, a estratégia de Tom e companhia foi louvável. Passou por todos os álbuns. Natural Disaster e 1,2,3,4, do Big Bad World (2008), vieram em sequência, numa dobradinha que representa bem a característica da banda, vezes beirando o pop punk, vezes abraçado no folk com influências do emo. Mas o álbum mais recente foi o mais presente no set, com quatro canções, o dobro do restante dos outros trabalhos. Dessa forma, Would You Even e Feeling (More Like) Myself vieram na sequência.  Na reta final, os dois maiores sucessos do Plain White T’s foram tocados. Hit absoluto, Hey There Delilah contou com a participação da cantora brasileira Day Limns, que não escondeu a emoção de cantar a canção. Uma pena ter uma meia dúzia de babacas reclamando que queria ouvir a faixa apenas na voz de Tom. Felizmente, a maior parte do público abraçou a ideia e valorizou a presença de Day. Rhythm of Love deu números finais ao show. E não deu nem tempo de sair do lugar, apenas virar a cabeça para o outro lado e curtir o Mayday Parade.