Entrevista | The Aces – “O modo como mostramos de onde viemos nos fez sentir vulneráveis”

A banda de indie pop norte-americana The Aces revelou, na última sexta-feira (28), o quarto single de seu terceiro álbum de estúdio, I’ve Loved You For So Long, que será lançado em 5 de junho. A faixa-título apresenta melodias de violão que evocam um som nostálgico dos anos 1990, de bandas como The Cranberries e é dedicada ao amor entre as integrantes da The Aces, que se apoiam mutuamente desde a infância, quando começaram a tocar juntas. O clipe, dirigido pela vocalista Cristal Ramirez, reflete a relação forte entre elas e a vibração nostálgica da música do The Aces. Cristal compartilhou sua inspiração para a música que dá nome ao projeto novo do The Aces. “Percebi rapidamente que o amor da minha vida é essa banda. Nunca amei nada como amo essa banda. Mesmo em tempos de inspiração entorpecida, de questionar tudo, sempre sou lembrada de que é exatamente onde eu deveria estar”, reflete. A guitarrista Katie Henderson, a baixista McKenna Petty, a baterista Alisa Ramirez e a vocalista e guitarrista Cristal Ramirez conversaram com o Blog n’ Roll, via Zoom, sobre o novo álbum, influências, Brasil e o cenário musical de Provo, em Utah, terra-natal delas. Como foi o processo de produção do novo álbum? Alisa: Escrevemos este álbum ao longo de um ano e meio, começamos em meio a pandemia em 2020, e terminamos no começo de 2022. Foi um longo processo, mas divertido e nos aprofundamos muito nele, nos levou a um lugar que não esperávamos ir, então foi muito legal. Teve algum desafio maior para lançar esse álbum? O que diferencia ele dos outros dois? Por que? Cristal: Falamos muito nesse álbum sobre nossas trajetórias e de onde viemos, e isso foi muito vulnerável para nós, pois nunca fizemos isso na nossa música. Então naturalmente, quando pensamos em mostrar isso ao mundo, nos apoiamos muito umas nas outras, pois o modo como mostramos de onde viemos nos fez sentir vulneráveis, e assustadas, mas também muito animador pensar que o mundo nos conhecerá de uma forma muito verdadeira. Então, assustador, mas animador. Os primeiros singles mostram algo bem diverso na sonoridade. Como funciona esse caldo de influências para vocês? Cristal: Acho que nascemos com muita influência de bandas como Paramore, com guitarras pesadas, pop punk, então isso está no nosso DNA, e sai naturalmente no nosso trabalho. Mas também gostamos de outras coisas, tipo Michael Jackson, então o casamento entre rock and roll, new wave, batidas de pop dance é muito a cara da banda, devido ao gosto de nós quatro. Então você ouvirá isso no disco, uma menção a coisas que ouvimos crescendo, mas também coisas eletrônicas que foi uma forma com a qual a nossa música cresceu. McKenna: Acredito que também nos inspiramos em como fazíamos música quando mais jovens neste disco, então voltando a ter as coisas analógicas, assim como a música que crescemos ouvindo, mas com um toque moderno. Vocês são de Provo, uma pequena cidade em Utah. Existe uma cena musical? Alisa: Sim, uma bem grande. Tinham lugares, que não serviam álcool, onde nós tocamos. Menciono isso de não servir álcool pois no começo da banda éramos muito novas e não nos deixavam entrar em lugares que serviam álcool. Mas este lugar nos deu uma oportunidade de construir uma base de fãs entre os jovens, e as pessoas da cidade, surpreendentemente, têm muita disposição de apoiar os músicos. A família apoiou vocês nessa trajetória inicial? McKenna: Toda a família, sempre tivemos muito apoio da nossa família e nos ajudaram muito. Alisa: Minha mãe, e da Cristal, era a nossa empresária, ela era muito engajada, levava a gente na minivan dela, carregando a bateria, ligava para as pessoas deixarem a gente tocar no aniversário de seus filhos. Cristal: Temos uma família que sempre nos apoiou, e nos encorajou, não é o caso para todos que são músicos, então temos muita sorte. Qual som predomina em Provo? Cristal: É mais o folk. Nós éramos bem únicas na cena, provavelmente a única banda de meninas, eram poucas artistas femininas. Nós nos destacamos muito, o que tem seu lado bom e ruim, no começo não entendiam muito a gente. A cena era muito folk, e nós no indie pop rock, bem alto na sua cara, e a cena era tão quieta e calma, fomos disruptivas de alguma forma. Alisa: Isso pode não fazer sentido, mas tínhamos mais um som de Salt Lake, e a nossa cidade era tudo mais tranquilo, com violões, com músicas suaves, e nós tocando pop rock. Ficavam confusos, se perguntavam com quais artistas podíamos tocar. A gente se diferenciava na cena. Cristal: Sendo uma banda apenas de mulheres também, em uma cidade religiosa, sendo repressiva de uma maneira muito específica com mulheres, demorou mais tempo para entenderem e quererem ser fãs. McKenna: Especialmente quando começamos a fazer isso de maneira mais séria, as pessoas estavam achavam que não era uma coisa séria, então demoraram para entender. Excursionar com 5 Seconds of Summer ajudou a aumentar o alcance de vocês? Alisa: Completamente! Acredito que fazer a turnê com o 5SOS, logo quando lançamos nosso primeiro álbum, foi uma grande virada de jogo para nós, eles são caras muito legais e nos levaram em uma turnê com ingressos esgotados em diversas arenas. Isso quadruplicou nosso número de fãs de um jeito incrível, conseguimos vender nossa própria turnê. Somos muito gratas às bandas que nos projetaram, pois fazem muita diferença. Como era o contato entre vocês durante a turnê? Cristal: Sempre foram muito gentis conosco, muito solícitos, fãs do que fazíamos, e nós deles. Alisa: Acho que eles sempre souberam que sua base de fãs é basicamente de jovens meninas, acho legal eles colocarem uma banda de mulheres para tocar para essa fãs, para inspirar elas a tocarem, ou apenas para ver algo diferente, pois estão acostumadas a sempre verem caras no palco. Acho muito legal eles pensarem em trazer mulheres para elas se inspirarem. Nunca achamos que iríamos fazer turnê com bandas grandes
Entrevista | Spoon – “A pandemia me fez confrontar questões sombrias”

Veterana do rock alternativo dos EUA, a banda Spoon lançou recentemente o seu décimo álbum de estúdio, Lucifer On The Sofa. O disco é o primeiro desde Hot Thoughts, de 2017. Com gravações no Texas e Califórnia, Lucifer On The Sofa traz nove faixas autorais e uma releitura de Held, do Smog, que abre o álbum. Um dos membros originais do Spoon, ao lado do vocalista e guitarrista Britt Daniel, o baterista Jim Eno conversou com o Blog n’ Roll sobre o novo álbum, lembranças do Brasil, pandemia e influências na carreira. Como surgiu o título deste álbum? Qual foi a inspiração para este nome curioso? Britt escreveu a música e decidimos dar esse nome ao álbum. Não é como se eu e ele falássemos muito sobre os significados por trás das coisas. Para mim, é como se a pandemia me fez confrontar questões sombrias como mais importantes ou que vieram à tona. Sou um workaholic, consigo sempre me distrair e não ter que lidar com essas coisas, mas não tem para onde correr quando você está nesse lockdown há dois anos. Você meio que tem que olhar o que está escondido. Olho para isso como algo que você vai ter que lidar em algum momento e ele está lá sentado no sofá, te observando. Como foi o processo de gravação do álbum? Teve alguma dificuldade por causa da pandemia? Precisou adaptar algo? Sim, foi bem no meio da nossa gravação. Nós tivemos que fazer várias mudanças no cronograma. Nós tínhamos talvez três quartos do álbum finalizados, estávamos muito perto de terminar e prontos para mixar e então veio a pandemia. O que aconteceu foi que nós não conseguimos mais nos encontrar, obviamente porque era uma sala pequena e essa é uma doença transmitida pelo ar, não era seguro ficarmos juntos. Então o Britt usou seu tempo para escrever mais músicas. Então tem músicas como, obviamente, Lucifer on The Sofa, acho que Wild e Devil and Mr. Jones que não estariam no disco, sabe? Mas acho que tiveram duas vezes em que todos voariam para Austin (Texas) e tivemos que cancelar porque os números (da covid) estavam tão altos. Tivemos que pensar muito rápido, cortando coisas no último momento… Felizmente, Britt estava em Austin e ele aparecia e fazíamos algumas coisas, mas a pandemia nos afetou muito. No entanto, nós conseguimos superar! O Spoon carrega uma forte influência do rock clássico e do art rock em seus trabalhos. É algo que predomina em suas influências? Você consegue pensar em alguma influência de sua terra natal também (Texas)? Sim, eu sinto que esse disco teve muita influência do rock clássico, do começo do ZZ Top, Cheap Trick, John Lennon, Plastic Ono Band… o som de um bando de caras apenas tocando em uma sala. Esses são os discos que amamos, que crescemos ouvindo. Para nós esse é o disco que mais tentamos chegar próximo disso. Como é sua expectativa de viajar e divulgar Lucifer on the Sofa em outros países? O que significa para você fazer uma turnê com o Spoon? Nós adoramos ir para o Brasil… Nós queremos tocar para todos, sabe? E o público brasileiro é incrível, nós não vemos a hora de ir para o Brasil. Você tem alguma previsão do Spoon vir para o Brasil? Um mês ou ano? Nós definitivamente não temos um mês. Vocês terão Lollapalooza no mês que vem. Será que vai ter ou não? Tem muita incerteza ainda e acho que não conseguimos planejar se vocês ainda não sabem se os shows irão acontecer ou não, entende? Talvez no final do ano. Se tivermos o ok e estiver tudo bem, nós podemos ir e fazer funcionar. Você se lembra de alguma história curiosa da passagem de vocês pelo Brasil, em 2018? Eu lembro de uma história, mas não é muito engraçada. Nosso último show foi em São Paulo e nós terminamos muito cedo, então eu e o Gerardo, guitarrista, pensamos, vamos mudar nossos voos e voar essa noite. Então trocamos os voos, entramos na van para o aeroporto e colocamos no Google e apareceu que iríamos demorar quatro horas para fazer 24Km… Isso não pode ser verdade, eu pensei. Nós ficamos sentados na van por 4 horas, perdemos nosso voo e tivemos que ficar em um hotel de merda. E acabamos pegando exatamente o mesmo voo que iríamos pegar no dia seguinte, que havíamos cancelado. O tráfego nos ferrou (risos). Chegou a assistir algum show no momento que as regras ficaram mais brandas? Teve uma janela no ano passado, quando as pessoas começaram a se vacinar e antes da chegada da Ômicron, foram os nossos “Loucos Anos 20”, aquele período entre a Primeira e Segunda Guerra Mundial, quando todos estavam dançando, muito felizes. Em resumo, acho que essa pequena janela foi como yeah, legal… nós fizemos alguns shows, foi muito legal, todos estavam curtindo… até que veio a Ômicron e tudo voltou a fechar. Consegui ver alguns shows nesse período. Você se sente seguro para viajar com seus colegas de banda? Acho que sim… nós vamos fazer tudo que for possível na tour para tentar minimizar e não ficarmos doentes. Porque se um de nós testar positivo, temos que encerrar tudo. Então agora nós estamos comendo todos juntos, nós não permitimos ninguém nos bastidores, estamos fechando tudo para tentar ser mais seguro. É um novo modelo de fazer tour, todos estão fazendo. Não levamos a família, somos só nós mesmos. A primeira música de um álbum costuma ser o cartão de visitas de muitos artistas. O que motivou a escolher um cover do Smog (banda) para abrir? O que procuramos em uma música de abertura é aquela que vai estabelecer um tom para o álbum. Então sentimos que aquela definitivamente conseguiu isso. Tem muita conversa de estúdio antes da música começar, o que é legal e divertido. É como se te desse a sensação que estávamos na mesma sala quando gravamos, o que foi mesmo… mas também é um ritmo mais lento
Entrevista | Ego Kill Talent – “Por dentro estamos todos lidando com emoções”

A banda Ego Kill Talent, enfim, divulgou o álbum The Dance Between Extremes. Com uma sonoridade que mescla melodias pop harmoniosas e grooves mais pesados, o disco foi dividido em três EPs, lançados nos últimos meses. A conclusão do projeto foi revelada nesta sexta-feira (19), em todas as plataformas de streaming. “Estamos muito animados com esse lançamento. Tem uma característica presente na banda desde o primeiro disco que é o peso musical com riffs e grooves, mas ao mesmo tempo, uma melodia pop e harmonia. Essa terceira parte tem os dois e a música mais brutal do disco também está nela”, revela o baixista Theo van der Loo. O Ego Kill Talent estava com uma turnê mundial programada antes mesmo da pandemia começar. Já eram oito shows e 15 festivais agendados e os músicos dividiriam o palco com Metallica e System of a Down nos Estados Unidos e Europa. Mas com as medidas restritivas, tiveram de se readequar e transformar o momento de crise em uma oportunidade para divulgar o novo trabalho. “Quando veio a pandemia decidimos colocar um pé no freio. Tivemos que rever essa estratégia de lançamento, uma vez que não teríamos turnê, a maior ferramenta de uma banda de rock para promover um disco. Então questionamos como faríamos e chegamos à conclusão que deveríamos lançar em três partes de maneira que tudo se completasse no final”, explica. De Gojira a Billie Eilish nas inspirações do Ego Kill Talent Referências não faltaram para o disco, e apesar de não criarem pensando especificamente em nenhum artista, os integrantes do Ego Kill Talent contaram com muitas influências do dia a dia, indo do metal pesado do Gojira e Sepultura, até ao rock pop de Lenny Kravitz, Phil Collins e Billie Eilish, em uma variedade de gêneros. “Tivemos muitas referências, mas na verdade, no momento que vamos compor não pensamos em alguma banda. Deixamos vir o flow do que achamos que aquela música quer representar”. Quanto às letras, o baixista avisa que tem algo pessoal e filosófico, sem barreiras com os fãs, partindo da meditação à física quântica e com uma pitada de vida alienígena que eles adoram citar. “Não nos limitamos nenhum pouco. Temos uma veia de poesia muito natural abordando desafios que todo ser humano enfrenta. As angústias, medos, os desejos, os amores, as decepções… Gostamos muito de escrever sobre esses conflitos e resoluções internas que compartilhamos. No final o ser humano é diferente do lado de fora, mas por dentro estamos todos lidando com emoções”. Experimento audiovisual Dando um passo além e introduzindo uma experiência audiovisual totalmente nova para os fãs, a banda também decidiu investir em videoclipes únicos para ilustrar cada música. Com personagens e narrativas pré-definidas, Theo explica que a ideia surgiu do vocalista Jonathan Dörr e que cada integrante trouxe um novo formato para o projeto, com inspirações no cinema e nas décadas de 80 e 90. “Já tínhamos a ideia de fazer isso desde o primeiro disco, em videoclipes que os personagens conversam entre si, mas quem criou e contextualizou foi o Jonathan. Ele foi dando as ideias e fomos criando juntos com inspiração nas nossas próprias músicas. Em The Call, por exemplo, tivemos influência em Interestelar, mais na vibe da trilha sonora e da atmosfera do que no próprio personagem. Em Deliverance criamos seguindo uma pegada dos anos 80 e 90”. Aliás, um videoclipe novo chega em breve. “Vai surgir um vídeo em breve com uma pegada nos filmes anos 80. Nos inspiramos em O Último Guerreiro das Estrelas, então posso dizer que tem um flerte com essa atmosfera”, revela.
Entrevista | Mike Kerr (Royal Blood) – “Estávamos livres para trabalhar”

Em 2014, logo após lançar o seu álbum de estreia, homônimo, o duo britânico Royal Blood foi festejado por grandes nomes do rock. Dave Grohl, Tom Morello, Metallica e o guitarrista do Led Zeppelin, Jimmy Page, enalteceram o poder sonoro da dupla. Mas foi o comentário do último deles que mais combina com o atual momento de Ben Thatcher e Mike Kerr. “Eles são grandes músicos. O álbum deles elevou o nível do gênero musical”, comentou Page, em entrevista ao site britânico NME, logo após assistir a um show do Royal Blood em Nova Iorque. Agora, prestes a lançar o terceiro álbum de estúdio, ainda sem nome definido e previsto para 2021, o Royal Blood mostra que seguirá elevando o nível do rock sem amarras ou seguindo fórmulas batidas. Trouble’s Coming, divulgada recentemente, traz grooves inspirados por Daft Punk, Justice e Phillipe Zdar. “Acho que essa música é um reflexo do álbum inteiro. Para nós, a influência veio de tudo que amamos. Nos primeiros álbuns, estávamos nervosos em expor essas influências. Nesse álbum, permitimos que essas influências se tornassem mais óbvias. Fomos influenciados por diferentes músicas francesas dançantes, além de músicas dos anos 1970, como o Bee Gees. Ficamos empolgados em fazer música dançante que, ao mesmo tempo, tivesse riffs de rock. É uma combinação bem legal”, comenta o vocalista e baixista, Mike Kerr, que conversou com o Blog n’ Roll via Zoom. O músico revela que não costumava ler comentários sobre o seu trabalho, mas passou a fazer isso recentemente pois acredita ser a melhor forma de interagir com os fãs. “Acho que tem sido uma resposta muito positiva ao single. As pessoas parecem estar animadas. Não sabia que já tínhamos passado de 6 milhões (streams). É muita gente”. Videoclipe de Trouble’s Coming Trouble’s Coming ganhou um videoclipe no último dia 23. Segundo Kerr, a dupla precisou esperar bastante para registrar a produção. “Gravamos com uma equipe bem menor do que o comum, com muito mais segurança. Tudo foi feito em um estúdio também. Tivemos limitações, mas isso nem sempre é algum ruim”. O trabalho audiovisual teve Dir. LX como o responsável por capturar um novo toque em seu estilo visual. O diretor, mais conhecido por seu trabalho em ícones do rap e do grime do Reino Unido, como Dave, Bugzy Malone e Kojo Funds, seguiu as pistas das letras misteriosas de Kerr para criar um vídeo que pulsa com uma atmosfera sinistra e um toque cinematográfico neo-noir. Produção caseira de Mike Kerr e Ben Thatcher Se nos dois primeiros álbuns a dupla dividiu a produção dos discos com Tom Dalgety e Jolyon Thomas, agora é quase 100% independente. A exceção é uma das canções. “Foi uma experiência diferente, porque estávamos livres para trabalhar. Parecia que nossos pais tinham viajado e a gente pôde dar uma festa. Deram uma Mercedes na nossa mão sem limite de velocidade. Foi uma experiência bem divertida, diferentemente de outros álbuns que gravamos”. A liberdade, no entanto, não significa a morte da sonoridade marcante dos britânicos. Kerr afirma que isso está mantido. “São as mesmas características, mas em diferentes formas. Algumas têm mais batidas e outras têm mais riffs”. Posteriormente, quando o covid-19 permitir, Mike Kerr já sabe onde quer apresentar suas novas músicas. “Brasil, claro! É o melhor lugar do mundo para tocar. Minha melhor memória é da gente tocando no Lollapalooza (2018). Foi incrível!” *Texto e entrevista por Caíque Stiva e Lucas Krempel
Entrevista | Fantastic Negrito – “Não preciso que ninguém fale que minha vida importa”

Atração da segunda edição do Juntos Pela Vila Gilda 2, que acontece em dezembro, o guitarrista norte-americano Fantastic Negrito é um dos nomes mais expressivos do blues contemporâneo mundial. Nas últimas quatro edições do Grammy, faturou duas vezes o prêmio de melhor álbum de blues contemporâneo: The Last Days of Oakland (2017) e Please Don’t Be Dead (2019). O mais recente capítulo dessa discografia é Have You Lost Your Mind Yet?, lançado em agosto. E como já era de se esperar, Fantastic Negrito segue impressionando com um repertório eclético, envolvente e cheio de técnica. Em entrevista para o Blog n’ Roll, Fantastic Negrito falou sobre o novo álbum, influências, black lives matter e a participação no Juntos Pela Vila Gilda 2. O que você trouxe de influências para compor esse álbum? Eu gosto de me manter informado quando faço meus álbuns. Have You Lost Your Mind Yet? já tem um nome esquisito por conta disso. Eu gosto de fazer comentários sociais. Quando eu comecei, tocando nas ruas, era exatamente isso que fazia. Escrevia sobre o que estava acontecendo ao meu redor. Por isso, o álbum fala das situações atuais do mundo, com esse movimento de extrema direita que vem ganhando força. Tocar sobre essas coisas é algo perigoso, mas é muito bonito ao mesmo tempo. Mostra a força da música. Você perdeu a cabeça muitas vezes enquanto compunha o disco? Quando eu estava escrevendo Have You Lost Your Mind Yet?, fiquei um pouco maluco (risos). E não tem problema nenhum quando isso acontece. Faz parte, somos humanos. Nós, afro-americanos, passamos por muitos desafios. Sempre vivemos dramas que não são novos. E toda essa situação se tornou um novo desafio. Por isso, temos que superar tudo isso para sairmos mais fortes como sociedade. Have You Lost Your Mind Yet? não é um disco de blues. Transita em várias vertentes e traz uma mensagem muito importante sobre saúde mental. Como foi a criação dele? Sempre que faço um álbum, e esse é o meu terceiro, tento fazer algo bem diferente do anterior. Mesmo que tenha sido um sucesso. Eu preciso fazer algo diferente e ótimo ao mesmo tempo. Nesse álbum, trabalhei com alguns vizinhos e amigos que têm um órgão. Coloquei aquilo no estúdio com eles e decidi trabalhar em cima desse elemento. Além disso, decidi abordar a questão da saúde mental. Li muito sobre os desafios de cuidar da saúde mental, especialmente em 2020, com a internet e essa proliferação de informações falsas na política, tanto na esquerda quanto na direita. Por isso, o álbum é associado a isso. E, musicalmente, coloquei blues, hip hop, jazz… ah, o blues está em tudo, cara. Eu ouço em todo lugar. Esse álbum é para te fazer ter bons momentos e celebrar, apesar de tudo. Nós nos medicamos com música. Resumindo, o álbum traz essa questão dos problemas de saúde mental causados pelas crises globais e pela internet. Como surgiu essa parceria com o E-40? Eu sempre fui fã do E40, e o conheci quando lancei meu primeiro álbum, em 2016. Ele é um ótimo artista, muito inovador e original. Ele lançou uma música chamada Capitain Save a Hoe há 25 anos, e o chamei para ajustarmos a ideia de sua música para algo voltado para a saúde mental. Por isso, criamos a Searching for Capitain Save a Hoe. Fala sobre temas importantes. Qual é a sua opinião sobre o fortalecimento do Black Lives Matter? Primeiramente, eu sou um homem crescido, e não preciso que ninguém fale que minha vida importa. Eu sempre soube disso. Segundo: esse movimento foi criado porque não houve resposta para a brutalidade policial, que dizimou a vida de afro-americanos. Por isso, agradeço a todos que apoiam o movimento e dão voz ao assunto. A execução de afro-americanos por policiais precisava dessa reação. Se houver esse tipo de reação sempre que essas mortes acontecerem, teremos ferramentas para a polícia mudar sua abordagem. O caso do George Floyd, por exemplo, foi uma clara execução. Não é esse o trabalho da polícia. A polícia é uma agência do Estado que tem de servir e proteger as pessoas. Eles não são juízes para saírem julgando e executando pessoas na rua. Você participará do Juntos Pela Vila Gilda 2 e conheceu a comunidade por meio de um vídeo institucional. Qual mensagem você gostaria de passar para os moradores do Dique da Vila Gilda? Quero dizer aos meus irmãos, irmãs, família e amigos da Vila Gilda, que estou com vocês. E vocês estão comigo. Juntos podemos achar um caminho e uma voz para que, esperançosamente, nós encontremos uma resposta para combater essa opressão. Quero que saibam que meu coração, meu espírito e minha alma estão com vocês no meu novo álbum Have You Lost Your Mind Yet? Quero que toquem o mais alto possível para ecoar pela vizinhança e espalhar positividade. Ouça o último álbum de Fantastic Negrito
May 4th: o legado de Star Wars no rock

Entre diversas adaptações para televisão, cinema, quadrinhos e produções multi-plataforma, a franquia Star Wars emociona gerações desde sua trilogia original, produzida entre 1977 e 1983. Todavia, mesmo décadas após sua estreia, a saga continua motivando fãs a serem criativos. Star Wars segue transformando a forma como idealizamos heróis, as noções tênues entre o bem e o mal e entretendo com boas histórias que trazem mensagens importantes. Mas estas não são as únicas coisas que a franquia nos ensina. Através de seu universo cinematográfico, explorou possibilidades infinitas. Os recursos visuais diversos, formando cenários impecáveis, respiram e inspiram arte. A forma como a tecnologia é aproveitada na franquia só engrandece sua jornada. Suas trilhas sonoras, marcadas por compassos marcantes e cheios de simbolismos, conquistaram os músicos ao redor do mundo. Mais do que canções em um filme, tornaram-se hinos de resistência, honra e vigor. Em toda sua história, a franquia inspirou uma ampla gama de criações. Por isso, listamos algumas obras inspiradas em Star Wars que podem te surpreender. May the force be with you! Entendendo as origens Vamos partir do começo. Por que essa trilha é tão importante? Inicialmente, George Lucas idealizava um filme com músicas clássicas, permeando as ideias de Stanley Kubrick em 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968). Felizmente, sua direção artística ganhou um realizador que conferiu o toque de autenticidade que faltava. O compositor John Williams não só criou uma das maiores trilhas sonoras do cinema em Star Wars. Ele também produziu um dos pilares mais fortes da franquia. Desde 1977, o compositor esteve envolvido em todos os filmes das três trilogias. Com referências a Mozart, Tchaikovsky e Stravinsky, Williams inovou em suas composições. Como resultado, a trilha de Star Wars é uma das mais populares do mundo, homenageada constantemente em inúmeras apresentações monumentais. A inteligência musical está na transmissão de emoções. A intrínseca relação entre seu ritmo e instrumental intenso com os acontecimentos da história torna a experiência única. Musicalmente, podemos dizer que Star Wars têm uma das narrativas mais fortes do cinema. Sua estrutura vai além do convencional, inspirada em obras que marcaram a história da música. Star Wars na música Entretanto, não é só de música clássica que vive a saga. Como dissemos anteriormente, Star Wars inspirou infinitas possibilidades artísticas. Na música, isso refletiu nas obras de vários artistas contemporâneos. Entre eles, uma boa galera do rock! Confira nossa lista: Jamiroquai Os britânicos do Jamiroquai são fãs declarados da saga! Com seu funk jazz de intempéries alternativas, divulgaram muitas obras com estética espacial. Em Travelling Without Moving (1996), a banda lançou como música-título a faixa Use The Force. Não precisamos dizer mais nada, certo? Queens of the Stone Age No EP The Split CD (1995), que une o Queens of the Stone Age e Beaver, o QOTSA também deixa suas homenagens. A faixa These Aren’t the Droids You’re Looking For é inspirada na fala homônima de Obi Wan Kenobi, declarada no primeiro filme da saga. Sarlacc O duo grindcore Sarlacc escreve apenas músicas sobre a franquia. A inspiração singular conduziu várias criações, entre elas, a de seu último disco, Rule Of Two (2015), que contém várias referências a diferentes pontos da saga. The Senate No debute musical do grupo australiano, decidiram lançar um álbum bem especial. Tales From A Galaxy Far, Far Away (2017) homenageia personagens e relembra grandes pontos do enredo no estilo deathcore. Nerf Herder Esses pop-punkers foram longe demais na adaptação. Com direito a um clipe inspirado nos letreiros da saga, Nerf Herder também proclamou seu amor pela saga através da música. I’m The Droid (You’re Looking For), de 2016, é um ótimo exemplo desse nerdcore rebelde. Star One Quer mergulhar ainda mais no universo geek? Então confira Space Metal, o álbum criado pela banda de metal progressivo Star One em 2002. Formado por membros do Symphony X e Nightwish, a banda é um projeto sci-fi com referências diversas a filmes, livros e séries. Entre várias referências, na faixa Master of Darkness, fica bem claro de quem estamos falando. Tenacious D Por último, mas não menos importante, trouxemos o Tenacious D! EM 2012, a dupla cômica revelou Deth Starr, uma faixa que “claramente” não tem nada a ver com a franquia Star Wars. Afinal, só a fonética das faixas é parecida. Vocês vêm alguma relação?
Entrevista | King Solomon Hicks – “O foco sempre foi o blues e soul”
