Crítica | A Diplomata (1ª Temporada)

Engenharia do Cinema Séries de política costumam ser chatas e complicadas de se compreender (caso você não esteja habituado ao assunto). Após o sucesso de “House of Cards” (que terminou de uma forma grotesca, por conta da demissão de Kevin Spacey), a Netflix ficou órfã de produções da temática e agora realizou esta “A Diplomata” para preencher esta lacuna. Ciente da complexidade que aquela havia em sua trama, sempre agregada a situações que remetiam uma realidade (totalmente mais leve do que vemos no Brasil), a showrunner e criadora da atração Debora Cahn (“Homeland”) procura desenvolver uma trama mais simples e que conquista o público alvo facilmente.     A história é centrada na embaixadora dos EUA no Reino Unido, Kate Wyler (Keri Russell), que acabou sendo jogada no cargo de forma totalmente aleatória nesta função (uma vez que estava acostumada a fazer negociações comerciais no Afeganistão). Em um cenário totalmente delicado entre estes países e o próprio Oriente Médio, ela não terá de tentar amenizar os conflitos entre todos (que cada vez mais só pioram), como também a enorme crise política que o primeiro enfrenta por debaixo dos panos. Além de tentar reaver seu casamento com Hal (Rufus Sewell), que também trabalha no governo com ela.    Imagem: Netflix (Divulgação) Em um primeiro momento, várias coisas são jogadas no colo do espectador, com o intuito de nos sentirmos na pele da própria Wyler. E isso nitidamente funciona, pois além de Russell está ótima no papel (tanto que em sua expressão fica nítido o quão ela está casada e preocupada, ao mesmo tempo), a trama chega a fazer um completo sentido dentro do cenário político atual (embora não chegue a jogar indiretas em algumas situações atuais, já que a produção foi gravada em 2021). Mas outro tópico certeiro, é não apelar demais para termos técnicos, para relatarem algumas situações que poderiam ser complicadas, apenas com o intuito de deixar tudo mais “luxuoso” dentro do cenário mostrado (um erro que inclusive, tem ocorrido em outras produções da temática e que não possuem o teor desta). Como por exemplo, uma situação que envolve a morte de uma “pessoa importante” (não vou entrar em mérito de spoilers) e os desdobramentos que isso acaba tendo, não são complicados de se entender e a produção acaba também explicando ao público, algumas atitudes e contextos (uma vez que a própria Kate, também é leiga).     Dividido em oito episódios, com cerca de 45 minutos cada (inclusive o segundo ano já foi confirmado), pode-se dizer que a relação entre a protagonista e os outros coadjuvantes funciona nos episódios também, pois os mesmos também possuem subtramas muito bem cuidadas, como o ministro de Relações Exteriores, Austin Dennison (David Gyasi), Ali Ahn (Ali Ahn) e o próprio Hal (que com a ótima atuação de Sewell, à todo momento não fica certo de qual lado ele está). “A Diplomata” termina sendo uma interessante produção política da Netflix, que literalmente foi realizada com o intuito de agradar os que já conhecem e não sabem sobre o assunto com mais ênfase.   

Crítica | Mistério em Paris

Engenharia do Cinema Depois de “Mistério no Mediterrâneo” ter sido um dos filmes mais assistidos na história da Netflix, em seus três primeiros dias (com 30 milhões de acessos), em 2019, era certo que a plataforma iria investir em uma potencial franquia. “Mistério em Paris” não apenas traz novamente a dupla Adam Sandler e Jennifer Aniston no papel do casal de detetives Nick e Audrey, como também o roteirista James Vanderbilt (que também cuidou do roteiro do quinto e sexto “Pânico“). Mesmo não se tratando exatamente de uma comédia, a franquia consegue homenagear o estilo de Agatha Christie consideravelmente. Após os eventos do primeiro longa, o casal Nick e Audrey resolveu investir todas suas economias em uma agência de detetives particulares. Mesmo com vários casos resultando em fracassos, a dupla nunca deixou a peteca cair. Então, eles são convidados para o casamento de um amigo de longa data (Adeel Akhtar) com Claudette (Mélanie Laurent), até que o próprio acaba sendo sequestrado na própria cerimônia, o que fará os próprios investigarem o ocorrido por conta própria. Imagem: Netflix (Divulgação) Parece que depois de vários longas com qualidades horrendas, o próprio Adam Sandler decidiu reavaliar o que realmente funcionava e deveria ser colocado nos seus filmes (uma vez que eles são feitos por sua produtora, em 90% das vezes). Apesar das suas famosas esquetes humorísticas diminuírem (o que é bom, dentro do contexto desta eventual franquia), a graça se dá em algumas situações naturais e absurdas que são criadas pelo contexto da trama (com destaque para uma inusitada cena de ação em Paris). Usufruindo da sua química com Aniston (que realmente é muito boa), o roteiro sabiamente opta por explorar a veia cômica de alguns atores como Enrique Arce (o Arturo de “La Casa de Papel“, que rouba a cena) e John Kani (que volta a viver o Coronel Ulenga) com o estilo carrasco de Mark Strong (que interpreta o agente Miller). Dentro da premissa, isso acaba sendo válido até mesmo por se tratar de uma produção com o cenário de “quem será o vilão?”. “Mistério em Paris” consegue se estabelecer como mais uma boa produção de Adam Sandler, mostrando que o próprio está aos poucos voltando a fazer filmes divertidos e com qualidade.

Crítica – Cidade Invisível (2ª Temporada)

Engenharia do Cinema Depois de dois anos, finalmente a Netflix lançou sua segunda temporada da aclamada série “Cidade Invisível“. O sucesso da atração se deu pela originalidade, ao retratar várias lendas do folclore brasileiro, pelos quais nunca haviam tido tamanha abordagem e tinha de tudo para ser algo realmente excelente. Porém, após algumas críticas em relação à “apropriação cultural” na abordagem dos indígenas, esse ano é focado apenas nos problemas destes, e acaba sendo mais uma produção genérica do assunto.     A história começa algum tempo depois do término da temporada anterior, com Inês (Alessandra Negrini) e Luna (Manuela Dieguez) indo procurar Eric (Marcos Pigossi), que está em uma fauna totalmente desconhecida. Ao mesmo tempo, o trio acaba se envolvendo em uma complexa trama de garimpeiros que planejam prejudicar a Floresta Amazônica, além claro, de novas criaturas misteriosas. Imagem: Netflix (Divulgação) Dividida em cinco episódios, a sensação é que o roteiro desta nova temporada sofreu várias e várias vezes com o fator dele ter sido reescrito por conta dos problemas citados no primeiro parágrafo. A consequência acabou sendo aparições pífias dos novos personagens Teresa/Matinta Perê (Letícia Spiller, totalmente irreconhecível e em excelente atuação), Simone/Mula Sem Cabeça (Simone Spoladore, bem canastrona), o Lobisomem mirim Bento (Tomás de França, em péssima atuação que parece não ter ensaiado absolutamente nada, se resumindo em um sotaque forçado) e o Padre Venâncio (Rodrigo dos Santos, outra atuação canastrona).     Isso porque ainda não entrei no mérito da produção técnica, que parece ter sido mais barata o possível e mesmo nitidamente terem ido aos locais mostrados da Floresta da Amazônia, a sensação é estarmos vendo mais uma produção clichê sobre indígenas (que anualmente possuem mais de 500 produções do mesmo assunto, sempre na mesma maneira). E com direito a frases clichês (algumas parecem ter sido tiradas do Twitter do “Quebrando Tabu”) e situações constrangedoras que transformam os episódios em uma verdadeira tortura (e olha que são apenas cinco). E o trio protagonista? Enquanto Negrini fica totalmente deixada de lado (ela aparece pouco, e realmente não tem aquela presença gratificante), Dieguez parece ter desaprendido como atuar (deixando mais enfatizado que seu texto foi mudado várias e várias vezes) e Pigossi não passa aquela segurança/mistério que ele sempre carregada (independente do contexto que ele estava). Uma pena, pois eles eram para ser o foco da atração, ao invés de Débora/a cobra Boiuna (Zahy Guajajara, que acredita no fato de atuar se resume a cara de enfezada) e a policial Telma (Kay Sara, outra bem canastrona). A segunda temporada de “Cidade Invisível” é mais uma prova que a Netflix consegue ter a proeza de estragar quaisquer de suas produções, independente de sua índole ou nacionalidade.

Crítica | Pornhub: Sexo Bilionário

Engenharia do Cinema Em um primeiro momento, ao se deparar com o título do documentário “Pornhub: Sexo Bilionário“, a primeira sensação é que estamos com um longa que mostrará não só a história do famoso site pornográfico, como também o lado negativo da mesma em vários quesitos. Porém, a diretora Suzanne Hillinger optou por deixar o mesmo dividido em duas camadas, que são as atrizes/modelos que trabalham nesta industria e os crimes que são cometidos por usuários neste site, por intermédio de vídeos com pedofilia, estupro e outras coisas. Por intermédio dos depoimentos de atrizes, modelos, ativistas e funcionários da Pornhub, são discutidos os tópicos citados, e como a plataforma tem sido afetada por vários problemas ocasionados por protestos de terceiros e que afetaram o mesmo até hoje.  Imagem: Netflix (Divulgação) Realmente, Hillinger procura estabelecer o espectador primeiramente dentro do cenário das pessoas que trabalham no Pornhub e o quão o mesmo acaba sendo benéfico para elas, no sentido financeiro. Mas acaba faltando realmente o lado negativo deste universo, inclusive a presença de alguém da área psiquiátrica, para explicar os problemas deste setor e o quão as próprias pessoas que trabalham em vídeos deste porte, e até mesmo assistem, acabam sempre tendo problemas psicológicos (pelo menos, na maioria dos casos). Ao invés disso, ela optou por mostrar como foco a guerra da indústria pornográfica com os religiosos e conservadores, que nunca aceitaram este tipo de profissão. Porém, fica um tanto que vazio este debate, pois ele se resume apenas as polêmicas envolvendo vídeos de pedofilia e estupro, que são postados por usuários anônimos e demoram para serem deletados do Pornhub.     Não posso deixar de lado, que ela realmente acertou em mostrar (apesar de ser um arco bastante breve), o quão está difícil de lidar e trabalhar com redes sociais ultimamente (por conta de bloqueios de contas, palavras que não podem ser usadas, entre outras coisas). “Pornhub: Sexo Bilionário” poderia ser um ótimo documentário sobre o famoso site pornográfico, porém acaba sendo um breve apanhando sobre a história do mesmo.

Crítica | Luther: O Cair da Noite

Engenharia do Cinema Responsável por alavancar a carreira de Idris Elba, a série “Luther” foi um dos maiores sucessos da BBC entre 2010 e 2019. Sendo um dos destaques da Netflix (uma vez que a mesma esteve na plataforma, em vários países, inclusive no Brasil), a mesma adquiriu os direitos do próprio para poder realizar este longa metragem que é descrito como uma espécie de “encerramento oficial”. Porém, já adianto que ao conferir “Luther: O Cair da Noite“, ficou claro que não era necessário conhecer a atração citada, ou seja, a diversão funciona de forma totalmente independente.     A história se passa logo após os eventos da última temporada, com o agente John Luther (Elba) sendo levado para a prisão após ser condenado por vários crimes, em meio a suas investigações. Porém, o inescrupuloso serial killer David Robey (Andy Serkis) aproveita da situação para realizar vários de seus crimes. Imagem: Netflix (Divulgação) Escrito pelo próprio criador e showrunner da atração original, Neil Cross tinha consciência de que por se tratar de um lançamento direto para a Netflix, muitas pessoas iam se deparar com o título sem saber que era inspirado em uma série. Então, ele concebeu uma história com uma pegada antológica, embora brevemente ele tenha executado algumas referências na atração citada.     Porém, é nítido que Elba sempre teve um carinho pelo personagem e sua presença em cena é contingente com este tipo de narrativa (um detetive que transpõe respeito). Mesmo sendo uma mistura de Sherlock Holmes e Jason Bourne (uma vez que ele é hábil nas lutas e investigações), o roteiro parece ter bebido e muito dos clássicos “O Fugitivo” (com Harrison Ford) com “15 Minutos” (com Robert De Niro), uma vez que ele não tenta elaborar muito sacrifício para o espectador pensar e prever o que realmente vai acontecer. Ainda sim, há algumas menções honrosas na produção, como o vilão vivido por Andy Serkis realmente ter uma presença de igual para igual com Elba, e ainda transpor medo quando se deve ter. Embora o roteiro não tenha ajudado muito o mesmo (assim como nenhum dos outros personagens), e tenha deixado para escanteio grandes nomes como de Cynthia Erivo (que vive a superiora de Luther, a agente Odette Raine).    Isso quando não há situações bizarras e totalmente estranhas (como quando determinado personagem toma uma facada em uma cena, e na outra sai andando e fazendo mil e uma coisas), que acabam tirando um pouco do foco realista do filme (que por incrível que pareça, ainda há). “Luther: O Cair da Noite” não chega a fazer jus ao legado da série, mas acaba terminando como um bom entretenimento pipoca para se ver na Netflix.

Crítica | Destemida

Engenharia do Cinema Este é um notório caso que se a Netflix tivesse concebido “Destemida” como um documentário, ao invés de forma dramatúrgica, teria feito um sucesso maior. Sim, estamos falando de uma grande história que poderia ter sido apresentada sem o acréscimo novelesco, que as vezes beira a ficção (de forma grotesca), dando menos foco ao que realismo. A história se passa em 2010, quando a adolescente australiana Jessica Watson (Teagan Croft) começa a realizar seu sonho que é dar a volta ao mundo, em um barco a vela e sem paradas. Sendo a primeira a fazer o feito, ela mantinha a comunicação apenas com seu treinador Ben (Cliff Curtis) e seus familiares, além de registrar seu percurso através de uma série de vídeos.    Imagem: Netflix (Divulgação) Realmente o feito foi totalmente impactante, visto por ela ter estudado por anos como fazer a viagem e a maneira que seria executada. Ficando até mesmo dias à deriva no mar (uma vez que existe uma parte do oceano que não há ventos e algo que incentive o andamento de um barco), tinham diversos fatores para a diretora Sarah Spillane (que também assina o roteiro com Rebecca Banner e Cathy Randall, com base no livro da própria Jessica Watson) poderia ter explorado a questão dramatúrgica melhor. Porém, ela opta pelo pior caminho e resume a criar situações surreais, que envolvem “milagres”, várias frases de efeitos (onde dentro do contexto se transformam em total forçação de barra) e trata o jornalista como o verdadeiro vilão de forma totalmente amadora. Seja pela atuação canastrona de atores como Todd Lasance (que interpreta um dos principais jornalistas que dormem na porta da casa de Jessica), e o roteiro resume as falas deles em banalidades.     O que realmente chega a ser uma pena de acontecer, pois Croft realmente é uma boa atriz (sendo um dos principais destaques da série “Titãs”, onde ela interpreta Ravena) e convence a todo momento como Jessica. Enquanto Curtis possui uma química gigante como seu instrutor e braço direito, à todo momento (e chega a ser assustador o quão ele transparece de preocupação com ela, durante boa metragem). “Destemida” é um filme que só consegue ser salvo por conta da atuação de seus protagonistas, uma vez que a diretora com os roteiristas, só pioram o que poderia ser uma ótima história de vida.

Crítica – Re/Member

Engenharia do Cinema Não é de hoje que o cinema oriental tem ganhado um enorme destaque, e que este tipo de conteúdo está se transformando no carro chefe da própria Netflix. Lançado nos cinemas japoneses em outubro de 2022, e adquirido por esta para distribuição mundial em sua plataforma, o longa de horror trash “Re/Member” nada mais é que uma história que mescla os sucedidos “Feitiço do Tempo“, “A Morte Te Dá Parabéns” e até mesmo o nacional “Exterminadores do Além” (que fez bastante sucesso por lá). A história mostra um grupo de estudantes que misteriosamente ficam vivendo o mesmo dia em sua escola. Então eles descobrem que para conseguirem sair deste looping infinito, terão de encontrar as partes do corpo de uma menina que foi assassinada há anos, e deixar estas juntas em seu caixão. Ao mesmo tempo que terão de fugir de uma versão demoníaca e psicopata desta.     Imagem: Warner Bros Pictures/Netflix (Divulgação) O roteiro da dupla Katsutoshi Murase e Welzard (que são responsáveis pelo Mangá que inspirou o longa) tenta conduzir a história como se fosse uma espécie de Dorama (nome dado as telenovelas/seriados orientais), em sua plenitude (por conta de suas tonalidades mais claras na fotografia, e com arcos que inclusive remetem uma novela). Quando a trama parte para o espectro de horror, é nítido que os produtores tiraram uma parte da brutalidade (que é o carro chefe do gênero, em produções japonesas) em algumas mortes, mesmo com algumas delas o diretor Eiichirô Hasumi tenha conseguido mostrar. Embora o quebra-cabeça pelas partes da menina, consiga prender a atenção e interesse do espectador, os próprios personagens sequer são convincentes a ponto de torcermos por eles. Inclusive, o ato final chega a ser o cúmulo da burrice em vários aspectos (tanto que acabamos torcer para que todos morram, de tamanhos descuidos que o roteiro coloca os próprios). Isso acaba pesando um pouco no resultado final, que consequentemente se torna previsível.     “Re/Member” termina sendo mais uma adição japonesa no catálogo da Netflix, que fará um sucesso plausível nesta sua época de lançamento e depois cairá no esquecimento rapidamente.

Crítica | Na Sua Casa ou Na Minha?

Engenharia do Cinema Por mais que possa soar clichê e totalmente um filme que explora o famoso “mais do mesmo”, digamos que a Netflix acertou em cheio neste longa estrelado por Ashton Kutcher e Reese Whiterspoon (que voltam ao gênero que lhes consagrou nos cinemas, depois de anos). Com uma boa dosagem de leveza, arcos que nos fazem se divertir e ao mesmo tempo relaxar, “Na Sua Casa ou Na Minha?” facilmente irá fazer sucesso com o público.     A história gira em torno de Debbie (Witherspoon) e Peter (Kuther) que são amigos há 20 anos e desde então não deixam de sempre estarem juntos e conversarem sobre as suas vidas. Mas um dia, eles acabam tendo a ideia de literalmente trocarem de casas, pois a primeira terá de realizar um curso em Nova York, enquanto seu filho terá de ficar em sua cidade natal por conta da escola. Imagem: Netflix (Divulgação) O roteiro e direção são assinados por Aline Brosh McKenna (que escreveu os divertidos “O Diabo Veste Prada” e “Cruella“, ou seja, ela sabe o que o público gosta), que procura estabelecer em um primeiro momento uma narrativa que sempre enfatize que ambos são conectados, há todo momento, de todas as maneiras possíveis (mas sem deixar isso explicito em diálogos, chamando indiretamente o espectador de desligado). E isso é mérito também dos próprios protagonistas, que possuem uma química e sintonia gigante dentro deste contexto. Sim, ambos acabam vivendo várias situações já conhecidas pelo grande público em outras produções como “A mãe que sufoca o filho”, “o homem mulherengo”, “a mulher que se apaixona pelo cara maduro” e etc. Só que isso acaba fazendo sentido dentro da narrativa que já era composta com este intuito. Não posso deixar de fazer menções honrosas a participações breves, mas bem executadas, de nomes como Zoe Chao (a amante de Peter, e que vira amiga de Debbie, Minka), Steve Zahn (o floricultor Zen) e Tig Notaro (uma das mães da escola do filho de Debbie). São aparições homeopáticas na história, mas que funcionam mais por conta do carisma dos atores, ao invés do próprio roteiro. “Na Sua Casa ou Na Minha?” facilmente conseguirá conquistar o seu público e fazer com que a própria Netflix invista ainda mais em produções nesta pegada.

Crítica | Certas Pessoas

Engenharia do Cinema Desde que começaram a surgir os primeiros materiais de divulgação do longa “Certas Pessoas“, muitos se depararam com a curiosidade por se tratar de um projeto cômico estrelado por Eddie Murphy (que está fazendo poucos projetos nos últimos anos). Com roteiro de Jonah Hill (que além desta função, atua como o protagonista) e Kenya Barris (que assina a direção também), temos a ligeira sensação que eles beberam demais da fórmula já mostrada exaustivamente em Hollywood, e aplicaram pautas polêmicas (como racismo e religião) de uma perspectiva que usuários do Twitter tratam (totalmente regadas a frases feitas e conflitos desnecessários).  Após ter confundido Amira (Lauren London) com uma motorista de Uber, o judeu Ezra (Hill) a chama para um passeio e logo iniciam um romance. Porém, eles não imaginavam que teriam de enfrentar diversos problemas com ambas as famílias, uma vez que enquanto os pais dela (Murphy e Nia Long) são militantes anti-racismo, os pais dele (Julia Louis-Dreyfus e David Duchovny) são dois judeus totalmente atrapalhados. Imagem: Parrish Lewis/Netflix (Divulgação) Com quase duas horas de projeção, fica complicado você torcer para o casal protagonista, muito menos se simpatizar na trama, devido a falta de interesse que eles transpõe. Apesar de Murphy estar bem no papel do “sogro extremista” (embora em algumas cenas, ele esteja desconfortável), chega a ser triste vermos nomes como Dreyfus e Duchovny (este é basicamente um figurante) sendo totalmente desperdiçados e entregando cenas bizarras, de tão ruins. A única sensação que temos é a falta de Hill e Barris terem saído na rua, para verem como funciona uma sociedade fora da bolha da indústria e das redes sociais (uma vez que várias coisas que são mostradas, dificilmente aconteceriam naquele contexto).  E este problema, que faz o espectador se cansar da história ainda na metade de sua projeção (mesmo ela estando como mais assistida, a grande maioria deve ter largado o mesmo antes do desfecho), que sequer explora a questão do judaísmo e racismo nos EUA (uma vez que várias sementes são plantadas e nada é brotado). “Certas Pessoas” termina sendo um mais do mesmo, onde o roteiro parece ter sido reciclado de uma discussão fútil do Twitter e com atores cumprindo acordos contratuais com a Netflix.