Blog n’ Roll na AT #15 – Nos bailes predominava o air guitar

Blog n’ Roll na AT #15 – Nos bailes predominava o air guitar

No início de 1980, o rock santista estava em baixa. Existiam poucas bandas e faltavam espaços para ensaios e shows. O público não tinha acesso fácil aos grupos estrangeiros e a música brasileira estava resumida a outros estilos musicais e sob ressaca do rock progressivo dos anos 1970. A solução para os roqueiros era frequentar os bailes que aconteciam em clubes tradicionais da região como Caiçara, Santos FC, Atlântico, Fênix, Sírio Libanês, Vasco da Gama, além do Tumiaru e Ébano, ambos em São Vicente.

A galera que frequentava as festas colocava suas roupas, perucas e montava guitarras de madeira para agitar os bailes. O som era comandado por figuras locais. Alexandre Macia, o Pepinho, Bob Riot e João Kibon eram alguns dos DJs desses encontros. Rolava de tudo, do hard rock ao heavy metal. AC/DC, Motorhead, Iron Maiden, Saxon e Judas Priest dominavam.

“As pessoas iam para agitar naquela época. Hoje em dia, a galera vai para dançar como se estivesse na balada”, explica Rafael Paulino Neto, proprietário da loja de discos Blaster.

O DJ Bob Riot afirma que a melhor fase dos bailes foi no Clube Ébano (atual Itararé Praia Clube). “Chegou a rolar bailes nas terças, sextas, sábados e domingos”.

Ele cuidava do som aos sábados com o João Noya. Nas terças, o barulho ficava por conta do Vovô, personagem marcante da época. Sextas rolava punk rock e aos domingos metal com Julio Michaelis, que depois se tornou vocalista do Santuário, um dos principais nomes do metal da região.

O público era muito roqueiro nas atitudes. Tarso Wierdak dos Santos, vocalista do Carnal Desire, se diverte quando fala de seu figurino nos bailes. “Eu ia com uma máscara igual a daqueles caras que decapitavam cabeças nos filmes”.

Outras personalidades marcaram época nos bailes. “Tinha uma menina que ia fantasiada de Mulher Maravilha e os metaleiros que não tinham cabelos compridos iam com perucas”, recorda o vocalista do Carnal Desire.

Outra coisa que diverte os veteranos são as histórias dos instrumentos musicais adaptados. “Tinha uma guitarra de madeira que era disputada a tapas pelo pessoal. Quando o grupo preferido de algum amigo tocava, era a vez dele brincar com a guitarra”, explica Bob Riot.

bailemetal

As festas nesses clubes marcaram toda uma geração. Foram nesses bailes que nasceram boa parte das bandas pesadas da região, que seriam referências anos depois: Santuário, Tropa Suicida, Pesadelo, Vulcano entre outras.

“Um dos primeiros shows de metal na Baixada Santista foi no Ébano. Estreia do Santuário, tocando com Vulcano e um grupo estranho chamado Trava”, recorda Bob Riot.

“Depois desse show, ocorreram outros dois. O principal deles foi no antigo Cine Indaiá (na esquina da Avenida Ana Costa com a Rua Luís de Faria, no Gonzaga). Até o pessoal da Rock Brigade (uma das revistas mais importantes do gênero) apareceu”, complementa.