Eles estão com tudo! Forfun coloca Allianz Parque para cantar mais uma vez

Forfun

Responsável, de longe, pelo show mais agitado até o entardecer do Wanna Be Tour, a banda carioca Forfun mostrou que ainda tem muita demanda por apresentações. O show foi cantado do início ao fim em uníssono pelo Allianz Parque inteiro. Ficou difícil até para puxar o celular para registrar uma ou outra canção tamanha empolgação dos fãs, que se arriscaram em diversas pirâmides humanas frustradas.  A devoção pelo Forfun não é novidade. No ano passado, quando anunciou uma série de shows após nove anos separados, o Forfun levou 45 mil pessoas para o mesmo Allianz Parque, além de outra apresentação abarrotada no Espaço Unimed.  No Wanna Be Tour, o Forfun jogou seguro e distribuiu hits do início ao fim. Começou com a animada Hidropônica, e finalizou com História de Verão. Se Danilo Cutrim, Vitor Isensee, Nicolas Fassano e Rodrigo Costa tinham alguma dúvida sobre seguir ou não ativos e juntos, certamente não tem mais. Fazer show de headliner no fim da tarde não é para qualquer um. Setlist   Hidropônica Good Trip Dia do alívio Sol ou chuva Minha joia Morada Gruvi quântico Sigo o som Cosmic Jesus Alegria compartilhada 4 A.M. Constelação Karina Cara esperto Costa verde História de verão

The Veronicas empolga só na reta final com hits no Wanna Be Tour

The Veronicas

A dupla australiana The Veronicas, atração do meio da tarde do Wanna Be Tour, provavelmente, foi o único nome que passou longe da aprovação unânime dos fãs. De ambos os lados era possível ver uma movimentação maior dos fãs buscando refeições, bebidas e até um tour pelas ativações do evento. Formada pelas irmãs Lisa e Jessica Origliasso, The Veronicas teve um início de carreira bem promissor com o álbum Hook Me Up (2007), produzido por John Feldmann (Goldfinger) e que trouxe o super hit Untouched. Hook Me Up, aliás, foi a base do repertório, que ainda contou com uma releitura de Love is a Battlefield, de Pat Benatar, e Jungle, do álbum mais recente da dupla, Gothic Summer, de 2024. Para os fãs brasileiros vale mencionar uma passagem da trajetória da dupla, que contou com Jungle George, ex-vocalista da banda punk paulistana Holly Tree, como um de seus membros de apoio, no início da década passada. Setlist  Take Me on the FloorWhen It All Falls ApartEverything I’m NotHook Me UpLove Is a Battlefield (Pat Benatar)You Ruin MeIn My BloodLolitaJungle4everUntouched

Dead Fish passeia pela discografia em show repleto de circle pits

Dead Fish

Veteranos do hardcore brasileiro, a banda capixaba Dead Fish mudou completamente o clima do Wanna Be Tour. Saiu o som dançante do The Maine, entrou a porradaria repleta de críticas políticas e sociais. O vocalista Rodrigo Lima, único membro da formação original, reina sozinho no protagonismo. Conduz a massa como poucos e não dá descanso, mandando uma pedrada sonora atrás da outra. Na ativa desde 1991, o Dead Fish não se esconde no que defende: “sobrevivemos a uma pandemia assassina e um governo neonazista”, proclamou Rodrigo antes de puxar a música Autonomia. O set também trouxe alguns clássicos como Zero e Um, Bem-vindo ao Clube e Sonho Médio, que fechou a apresentação com o tradicional grito do público: “ei Dead Fish, vai tomar no cu!”. “Nunca imaginei que fosse ficar feliz com um grito desse”, brincou Rodrigo antes de sair de cena. Setlist   A urgência Tão iguais Queda livre Asfalto Dentes amarelos 49 Sombras da caverna Zero e um Venceremos Bem-vindo ao clube Autonomia Didático Você Contra todos Proprietários do terceiro mundo Afasia Sonho médio

Vocalista boa praça rouba a cena em show dançante do The Maine no Wanna Be Tour

The Maine

A maior surpresa do festival veio logo após o Story of the Year: The Maine. A banda do Arizona, nos Estados Unidos, nunca havia prendido minha atenção, mas confesso que o show tornou ela muito mais interessante.  A boa curadoria de canções somada com o carisma de um vocalista muito extrovertido deixou tudo mais fácil. John O’Callaghan é daqueles frontman que faz o show passar tão rápido que você reclama quando acaba pensando que eles tocaram menos que os outros. A apresentação teve início com Touch, último single divulgado pela banda e parte de uma coletânea de faixas que não foram aproveitadas nos álbuns anteriores, Dyed (2008-2023), lançado em janeiro. A sequência dançante do The Maine veio com a ótima Don’t Come Down, a vibrante Numb Without You, além de Like We Did (Windows Down). Durante todo o show, John fez questão de manter uma conexão completa com os fãs. Aceitou um chapéu descolado de um fã, atendeu pedidos da plateia, fez amizade com o cinegrafista brasileiro que estava captando apresentação para o telão, entre outras coisas. Já na reta final recebeu dois fãs, um para cada música. Sim, o show do The Maine virou um karaokê, mas ninguém reclamou. Pelo contrário, o vocalista atraiu novos fãs e certamente verá sua fanbase crescer no Brasil após a passagem pelo Wanna Be Tour. Pra quem não conhecia o som ainda, vale mergulhar na discografia completa. Oito dos dez discos foram bem representados no set equilibrado, que trouxe entre uma ou duas músicas de cada trabalho de estúdio. Setlist   Touch Don’t Come Down Numb Without You Like We Did (Windows Down) Sticky Everything I Ask For Dirty, Pretty, Beautiful Am I Pretty? Girls Do What They Want Loved You a Little Blame Black Butterflies and Déjà Vu

Story of the Year faz repeteco da noite anterior no Wanna Be Tour

Story of the Year

Outra banda que não teve descanso de mais de 24 horas na maratona do Wanna Be Tour foi a norte-americana Story of the Year. Sem novidades no set, a banda manteve o mesmo repertório da noite anterior, deixando de fora apenas Take Me Back, muito provavelmente por conta da falta de tempo. A participação do público foi boa, garantindo alguns circle pits animados mais no meio da pista, além de sing along nos principais hits. Foi a apresentação mais animada até o início da tarde. O público que curtiu o show do Neck Deep instantes antes no palco ao lado dançou bastante enquanto acompanhava tudo pelo telão. Until the Day I Die, clássico absoluto da banda, fechou o set e fez com que o vocalista Dan Marsala elogiasse bastante a interação dos fãs. Será que teremos uma tour do Story of the Year em breve, como ele prometeu durante o show? O jeito é torcer e aguardar por essa confirmação logo. Setlist  Tear Me to PiecesWarAnd the Hero Will DrownDive Right InAnthem of Our Dying DayThe AntidoteReal LifeSidewalksIn the Shadows“Is This My Fate?” He Asked ThemUntil the Day I Die

Sem tempo para descanso, Neck Deep faz show incrível 17 horas depois do Tokio Marine

Neck Deep

Menos de 17 horas após fazer um show empolgante no Tokio Marine Hall, a banda galesa Neck Deep já estava pronta para o repeteco no I Wanna Be Tour, no Allianz Parque.  Terceira banda do festival, o Neck Deep fez pequenas alterações no repertório para se adaptar ao tempo disponível no Wanna Be Tour, mas manteve uma estrutura semelhante: começou com Dumbstruck Dumbf**k e fechou com In Bloom. Sempre com muita energia, o vocalista Ben Barlow demonstrou muita emoção com o carinho do público no maior show da sua banda por aqui. Antes de iniciar In Bloom, por exemplo, pareceu muito emocionado com uma bandeira do Brasil jogada no palco pelos fãs. O set também teve espaço para Take Me With You, a canção sobre alienígenas da banda que tem forte inspiração de Tom DeLonge, do Blink-182, como Ben sempre ressalta nos shows. Para quem não conhece a faixa, ele falou sobre em entrevista para a Rock Sound, em 2023: “Estaria mentindo se dissesse que não foi uma leve referência a Aliens Exist, do Blink-182, mas você pode culpar o Tom por infectar minha mente frágil quando era jovem e depois ir lá e desmascarar o mundo dos OVNIs!”. Em She’s a God, Ben convocou todas as mulheres para o circle pit na frente do palco. O pedido surtiu muito mais efeito do que na noite anterior, garantindo um momento único no Allianz Parque. A apresentação deixou um gostinho de quero mais, principalmente para quem não foi na noite anterior. Que o Neck Deep possa voltar em breve para um show completo. Setlist   Dumbstruck Dumbf**k Sort Yourself Out Motion Sickness Gold Steps Kali Ma She’s a God Take Me With You STFU We Need More Bricks December (Again) In Bloom

Nostálgico e emocional, Gloria faz repertório com foco em clássicos

Glória e Lucas Silveira (Fresno)

Logo depois do Fake Number, com o Allianz Parque um pouco mais cheio, o Gloria fez uma apresentação bastante emocional e cronológica. O vocalista Mi Vieira falava o ano da canção que iria tocar e o público já vibrava na espera por mais um clássico.  O disco homônimo, de 2009, o primeiro por uma grande gravadora, foi a base do set, com cinco das 11 canções do repertório. A participação de Lucas Silveira, da Fresno, deu um tempero especial para o show. O vocalista da banda gaúcha é praticamente um embaixador do evento. Tocou nas duas edições e fez feats marcantes, como com o The Used, no ano passado. Junto com Mi, cantou Horizontes, faixa que gravaram juntos para o disco (Re)Nascido, do Gloria, de 2012. Setlist   Bicho do mato A Arte de Fazer Inimigos Um segundo, um nunca mais Vai pagar caro por me conhecer Horizontes (com Lucas Silveira) Tudo outra vez Convencer A cada dia Anemia Asas fracas Minha paz

Fake Number emociona em reunião no Wanna Be Tour

Fake Number

Dez anos após seu término repentino, a banda Fake Number voltou para dois shows de despedida na Wanna Be Tour. Com a vocalista Lívia Elektra morando em Portugal, a continuidade das atividades já foi descartada. E foi nesse clima de nostalgia e despedida que a Fake Number abriu a programação da segunda edição do Wanna Be Tour no Allianz Parque, em São Paulo. Ainda com o estádio pouco ocupado, o Fake Number iniciou o seu show às 11h, debaixo de forte sol, mas isso não impediu uma interação bacana entre plateia e os integrantes.  Os momentos mais empolgantes ficaram para os hits Aquela Música e Primeira Lembrança, que encerrou o curto set com 11 faixas. Durante o show, Lívia Elektra destacou a maior participação das mulheres no backstage do festival, mas fez um pedido especial para a montagem do lineup da terceira edição do Wanna Be Tour. “Que no próximo ano tenha mais bandas com vocal feminino aqui”.

Entrevista | Cícero – “Pode começar o disco pela quinta música que vai fazer sentido do mesmo jeito”

No ano em que encerra um hiato de cinco anos sem inéditas, Cícero está de volta com Uma Onda em Pedaços, álbum lançado na última quinta-feira (7) que mergulha em fragmentações pessoais, estéticas e existenciais. O trabalho, o sexto de sua carreira solo, chega meses após Concerto 1, disco lançado em janeiro com releituras da carreira, e confirma a fase mais prolífica do cantor e compositor carioca. Pela primeira vez, ele entrega dois álbuns num mesmo ano, reflexo de um período marcado por recolhimento, recomeços e inquietações criativas. Em entrevista ao Blog n’ Roll, Cícero detalhou como atravessou os últimos anos, da pandemia, que o forçou a adiar turnês e lidar com perdas pessoais, à retomada dos palcos com novos formatos de show. Também revelou como o conceito de fragmentação não apenas nomeia o disco, mas estrutura seu conteúdo e sua forma de narrar: canções que funcionam como peças soltas, com diferentes sons, histórias e possibilidades de leitura. Musicalmente, Uma Onda em Pedaços é plural. Vai do forró ao jazz, passando por rap, indie rock e MPB experimental. Essa diversidade é acentuada pelo fato de que, desta vez, Cícero cedeu espaço para que músicos convidados contribuíssem com ideias próprias nos arranjos — imprimindo uma estética mais orgânica e colaborativa. As participações de Duda Beat, Tori e Vovô Bebê também ajudam a ampliar o espectro sonoro e afetivo do trabalho. Além do álbum, Cícero também vai excursionar pelo Brasil a partir de outubro. E espera vir a Santos pela primeira vez. Confira abaixo a entrevista completa. Foram quase cinco anos desde seu último álbum de inéditas. Como foi esse período pra você? Chegou a colaborar com outros artistas, ficou mais recluso ou já vinha trabalhando nesse disco?  Foram as três coisas que você falou. Nesses últimos cinco anos fiquei mais recluso no período da pandemia, um pouco depois também, porque foi difícil pra todo mundo, tive perdas familiares. Arrastou também um tempo de luto, e após isso comecei a tocar, fiz a turnê do disco que lancei na pandemia (Cosmo, de 2020), saiu no dia do lockdown. Estava planejado para 2019, mas por força do destino caiu do disco ser lançado no mês que a pandemia estourou, e a turnê toda que estava marcada para 2020 foi cancelada. Adiada, depois adiada de novo, depois adiada de novo, até que foi cancelada. Então só fui fazer o show dessa turnê no final de 2022. Ou seja, já foram dois anos aí que comeu de vida total, porque a gente ficou no modo bunker, tentando entender o que estava acontecendo, eu pelo menos fiquei.  Depois disso teve essa turnê de 2022, e uma outra em 2023 com uma ideia de tocar as músicas no formato live pra câmera na época da pandemia, projetados numa parede. Pensei assim: ‘e se a gente ficar trancados para sempre em casa? Como é que será o show? Vai ser tudo via transmissão online. Essa ideia começou a nascer, de projetar sei lá, uma orquestra na parede, tocar na frente e tal. Quando a pandemia abriu em 2023, decidi levar essa ideia para os palcos. Aí fiz o Concerto 1, que era eu tocando violão com uma orquestra projetada num telão atrás, tocando os arranjos. Acabou que a galera gostou muito do show e permaneceu. Em 2024 comecei a fazer o disco, porque tinha ficado um bom registro, e lancei no início deste ano. Só que quando acabei o Concerto 1, também vi que  já tinha um apanhado muito grande de músicas novas e senti que já tinha um motivo ali, o álbum já existia, a ideia. Acabei lançando dois discos num ano, nunca tinha feito isso.  O título do álbum sugere fragmentação. De que forma você se sentiu “em pedaços” e como isso influenciou a composição das músicas? Tinha um projeto de mim muito central. O que queria fazer, onde queria chegar, o que queria construir, o que queria executar, uma relação com a sua vida como se fosse um projeto mental seu. Da pandemia pra cá, as circunstâncias se mostraram muito mais fortes no que é o eu e a minha vida do que as minhas decisões.  As minhas decisões se mostraram menores do que as circunstâncias. Por exemplo, uma pandemia, um parente que morre, enfim, as circunstâncias. E aí comecei a ver que existem fragmentos de vida, que você consegue organizar eles de alguma forma, mas eles são fragmentados em um caos. Tem o você jornalista, tem o você filho, tem o você amigo, tem o você cidadão, tem o você namorado, tem vários vocês, né? E você toma algumas decisões em relação a essas pessoas, mas as circunstâncias definem também muito para onde essas pessoas vão. Acho que o disco fala disso. Ele é um disco que não tem uma narrativa central, um projeto central de história, ou um começo, meio, fim, ou não fala uma… São fragmentos, pedaços de narrativas soltas que você pode organizar da forma que você quiser. Você pode começar o disco pela quinta música e ele vai fazer sentido do mesmo jeito. O disco tem muitas referências e estilos diferentes: forró, rap, jazz, música eletrônica, experimental. Como essas influências surgiram no processo de criação? Foi algo planejado ou mais intuitivo? Isso é uma evolução meio que do que venho fazendo desde o meu primeiro disco, só que acho que dessa vez, o diferencial é a ideia de que cada música tem uma natureza diferente. De ter uma música que é um baião, um forró, uma eletrônica, uma é um indie rock, a outra é uma marchinha, isso já vinha. Mas nesse disco sinto que isso ficou mais ressaltado porque chamei pessoas para terem as ideias delas para os arranjos da música num lugar muito de criação.  Por exemplo, o pianista tocou o piano que ele pensou ali na hora conhecendo a música, o baixista criou a linha de baixo ouvindo a música, o baterista idem, entendeu? Chamei pessoas que tinha muita admiração, carinho e amor para que elas