A existência é repleta de camadas e sensações: da vitória à derrota, da queda à redenção e da decepção à aceitação. Ser alguém único e caminhar com suas próprias convicções, além de saber viver o agora, são algumas das mensagens que o Bayside Kings escancara – e às vezes dilacera coração e alma – por meio das quatro músicas do EP Existência, o primeiro em dez anos de carreira em que o quarteto hardcore compõe em português.
Junto ao EP foi lançado o videoclipe da faixa Ronin. Em resumo, a banda trata como o terceiro single do registro, após a faixa de abertura, Existência, além de Miragem.
Cada música do EP traz um conceito sobre existir a partir de uma leitura do BSK. As faixas, cuja sonoridade está atrelada a um hardcore rápido e furioso (lançando mão de melodias e cadências quando necessário), funcionam e são inteligíveis tanto individualmente como uma sequência.
Existência, a música de abertura, é sobre o fortalecimento do indivíduo. Miragem é a busca utópica de um amanhã que nunca chega, sem perceber que o aqui e agora é o melhor momento.
Na sequência vem Ronin, que aborda a busca pelo valor da existência, que significa encarar decepções e escolhas ao longo do caminho.
Encerramento e transição para o álbum
O EP encerra com a forte Alpha e Ômega, que tanto fala de desejos em se desprender de regras pré-concebidas pela sociedade, como também aborda perdas, da dificuldade em encarar o final de algo.
Além disso, Alpha e Ômega é a música de transição para o próximo EP. Posteriormente formará, junto ao Existência e outros registros, o álbum #livreparatodos. Aliás tem a participação de Giovani Leite no piano, que executa um interlúdio.
No fim, uma dica valiosa do vocalista Milton Aguiar para se ouvir Existência: começar da última faixa, Alpha e Ômega até Existência.
“Tudo tem um sentido, que revelaremos de pouco em pouco. O Bayside Kings mostra que música pode ser mais do que só música: é uma ideia, um debate e uma lição de vida”, conta.
Videoclipe de Ronin
Com influência da dinâmica de Cães de Aluguel, clássico do diretor Quentin Tarantino, o clipe de Ronin apresenta diversas questões acontecendo em um mesmo cenário.
Como ressalta a banda, a ideia é continuar a história do Caveirinha, que não é o mesmo do clipe de Existência, é um personagem novo. Ele aparece sendo abatido e levado para interrogatório por três pessoas obscuras.
“Estas três figuras representam pessoas já assimiladas pelo sistema e que negaram a própria existência para fazer parte de um regime total, por isso usam o saco na cabeça, como sem uma identificação, uma feição. Querem que o Caveirinha se torne como eles”, explica Milton.
Ao final do clipe, uma surpresa: é o espectador que vai vislumbrar o desfecho do conflito. “O indivíduo tem o poder de escolha, o poder de realçar e afirmar sua particularidade perante o sistema que tenta a todo custo arrancar sua essência e aniquilar sua existência”, completa o vocalista.
A mudança da Bayside Kings
O cenário sócio-político nacional de 2018, conta Milton, foi o ponto de partida para a mudança na forma de levar a mensagem do Bayside Kings.
“O agora e o futuro daquele tempo demandava à banda atingir nosso público e ir além de quem já nos conhece, e com uma mensagem uniforme”.
As letras em português, portanto, são uma forma de conversa com outros públicos, outras culturas, além de estreitar a relação com a já sólida base de fãs e pessoas ligadas ao hardcore punk.
“Queremos abrir novos campos de diálogo”, revela o vocalista, que estudou as métricas do português para adequar a sua forma de cantar – bandas como Colligere e Mais que Palavras são algumas referências para este processo. O resultado está em Existência, em que cada palavra da música é entendida.
“Um recomeço, com a experiência e maturidade de dez anos. “Queremos coisas novas e esse é o momento ideal”, completa Milton.