Imagine ficar 15 anos afastado da sua profissão e quando você retorna, ainda está no auge. A banda australiana Midnight Oil, que iniciou a turnê mundial The Great Circle pelo Brasil, está assim. Em sua primeira jornada mundial em 20 anos, o grupo se mantém relevante e o vocalista, ativista e ex-político Peter Garrett, aos 64 anos, parece não ter envelhecido nada. Sua voz está impecável, a presença de palco continua com suas dancinhas desengonçadas e a atenção com os fãs é a mesma de sempre: carisma e muitas tentativas de falar em português com o público.

No último sábado (29), no Espaço das Américas, em São Paulo, com casa cheia, o Midnight Oil fez uma viagem no tempo. A sonoridade tão marcante dos seus principais álbuns, Diesel and Dust (1987) e Blue Sky Mining (1990), estava lá. A única mudança, provavelmente, estava no próprio público. Não houve renovação, são os mesmos de sempre, mas agora com alguns cabelos brancos, e gastando momentos bons da apresentação para fazer vídeo selfies. A fase Concert for Dummies está em todo lugar, inclusive no show do Midnight Oil.

Antes de falarmos um pouco mais sobre a apresentação, é preciso explicar o longo hiato dos australianos. Em 2004, dois anos após o lançamento de Capricornia, Garrett decidiu entrar de vez na política. A veia política e social, sempre presente nas letras do The Oils, fez esse caminho tornar-se algo natural.

Durante o tempo em que prestou serviço ao governo australiano, o vocalista foi ministro da Educação e de Meio Ambiente. Acostumado a denunciar todos os abusos nas letras (sim, Austrália também tem seus problemáticos), Garrett virou alvo. Algumas atitudes foram condenadas pela população e por fãs. O retorno à música foi inevitável. Lançou um álbum solo, A Version of Now, no ano passado, que precedeu o retorno do The Oils.

Em entrevista ao G1, Garrett chegou a avaliar sua participação na política e declarou que não retorna mais para ela. “O ser humano ainda não é maduro o suficiente para deixar conflitos de lado, então obviamente houve muitas frustrações, mas também muitas coisas para ter orgulho”.

Mas voltando ao show, a distribuição de hits pelo repertório é bem equilibrada. Blue Sky Mine abre a apresentação. Da metade em diante, o The Oils despeja sete canções de Diesel and Dust, um dos seus principais discos.

Beds are Burning e The Dead Heart, por exemplo, foram cantadas em uníssono pelos fãs. Não somente pela melodia clássica que domina muitas rádios saudosistas até hoje, mas pelo teor das letras também, sempre muito atuais.

Faixas do álbum Capricornia (2002), o último de inéditas da banda, não empolgaram tanto os fãs, que estavam mais sedentos pelas músicas do final dos anos 1980 e início da década de 1990. Too Much Sunshine, mesmo que não tenha feito o público pular, agradou.

Com exceção do baixista, Bones Hillman, a cozinha do The Oils é a mesma desde o início da carreira, no final dos anos 1970: Rob Hirst (bateria), Jim Moginie (guitarra e teclado) e Martin Rotsey (guitarra). Mas Hillman não é um mero desconhecido. Entrou na metade dos anos 1980 e esteve presente nas principais turnês mundiais da banda.

O futuro do Midnight Oil ainda é uma incógnita. Nos próximos meses, a turnê The Great Circle vai rodar a Europa, África, Ásia, Oceania e os Estados Unidos, que Garrett chegou a declarar em uma entrevista que é o Trumpmenistão. Um álbum de inéditas não está descartado, mas também segue sem previsão alguma.

Se você está se lamentando por ter perdido a apresentação em São Paulo, saiba que resta mais uma data no Brasil, nesta terça-feira, em Brasília. A The Great Circle visitou Porto Alegre, Curitiba e Rio de Janeiro também.

Set list
Blue Sky Mine
Truganini
Too Much Sunshine
Redneck Wonderland
Under the Overpass
King of the Mountain
Short Memory
Earth and Sun and Moon
Power and the Passion
Antarctica
Only the Strong
Arctic World
Warakurna
Dreamworld
My Country (piano versão)
When the Generals Talk (acústica)
Luritja Way (acústica)
US Forces
The Dead Heart
Beds Are Burning
Read About It
Forgotten Years

Bis:
Put Down That Weapon
Now or Never Land
Sometimes