Crítica | Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente

Inspirado livremente na obra de Angeli, o filme Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente chega nesta quinta-feira (11) nos cinemas. Dirigido por Cesar Cabral, o longa é dividido em dois universos que estão prestes a colidir. De um lado o cartunista Angeli (aqui retratado como um personagem) vivendo uma crise criativa, após ter assassinado seus icônicos personagens Bob Cuspe e Rê Bordosa. Enquanto do outro está – em um surreal ambiente pós apocalíptico, Bob Cuspe, acompanhado dos Gêmeos Kowalski, em busca por vingança contra o seu criador. Misturando comédia, road movie e documentário, o filme funciona muito bem como uma divertida homenagem ao trabalho de Angeli. Aliás, como se trata de um filme do Bob Cuspe, o humor ácido e anárquico vem acompanhado de uma trilha sonora com músicas dos Titãs, Mercenárias e Inocentes. O filme conta com a dublagem de Milhem Cortaz, Paulo Miklos, André Abujamra, Grace Gianoukas e Laerte. Por fim, parafraseando Bob Cuspe, Punk is not Dead! Fuck You! Nós só podemos agradecer seu escroto! O filme de Cesar Cabral ganhou o principal prêmio da Mostra Contrechamp, em Annecy, que é o maior festival de animação do mundo. No entanto, teve sua primeira exibição no Brasil na 45a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Contudo, vale destacar que não é a primeira vez que Cesar Cabral trabalha com algo relacionado a Angeli. Ele é diretor geral da série de animação Angeli The Killer, cuja primeira temporada foi exibida em 2017 pelo Canal Brasil e a segunda está em finalização. A nova animação, todavia, é o seu primeiro longa-metragem. Atualmente está em pré-produção de seu longa animado, Um Pinguim Tupiniquim, adaptação da obra de Índigo Ayer. Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de GenteDireção: Cesar CabralRoteiro: Leandro Maciel e Cesar Cabral
Crítica | The Wildhearts – 21st Century Love Songs

Com uma capa que remete aos filmes de terror e um videoclipe no melhor estilo “gore” para a faixa Sleepaway, The Wildhearts está de volta. O retorno acontece dois anos após o seu último álbum de estúdio, o aclamado Renaissance Men. No filme Pânico 2, o personagem Randy Meeks (Jamie Kennedy) apresenta uma teoria sobre as três regras das sequências de filmes, onde segundo ele: “a contagem de corpos é sempre maior, as cenas de morte são mais elaboradas e com muito mais sangue. E nunca, nunca, sob quaisquer circunstâncias, presuma que o assassino está morto”. Contudo, se aplicarmos essa teoria ao disco novo dos Wildhearts, dá para se ter uma boa ideia sobre o que os caras aprontaram nesse que é o décimo disco da carreira da banda, 21st Century Love Songs, lançado pela Graphite Records. As músicas nunca soaram tão complexas, com passagens alucinadas que vão do metal ao punk, passando pelo rockabilly e desembocando em refrãos extremamente pop, com uma naturalidade que só mesmo o Wildhearts sabe produzir. Os temas seguem tratando sobre o cotidiano e a eterna batalha pela sanidade mental, ainda mais em um mundo devastado pelo covid. No entanto, algumas músicas trazem uma mensagem um tanto positiva e isso, por si só, já é uma grata surpresa. Surpresas nas mais complexas Por mais que músicas como A Physical Exorcism e You do You sigam uma linha um pouco mais convencional de hits e soam amigáveis aos ouvidos logo na primeira audição, são nas mais complexas que a banda surpreende e nos presenteia com músicas, que são verdadeiros passeios turísticos pela mente criativa do vocalista Ginger. Sleepaway, Directions e Institutional Submission, que começa tão feroz quanto uma música do Discharge, mas mesmo assim ainda consegue encontrar curvas que a levam a um refrão mais power pop. Um disco impecável, indicado para fãs de música rock, sem preconceitos. Guitarras altas, vocais berrados, bateria e baixo pulsantes protegendo belíssimas melodias. Aliás, funcionam como prêmios a todos os bem aventurados dispostos a desbravar esse mar de riffs e refrões até o fim. Seguindo a lógica da teoria do Randy e transportando ela para a discografia da banda, está tudo aí, incluindo a terceira regra. “Nunca presuma que o assassino está morto”. Por fim, a julgar por esse disco, os Wildhearts estão bem longe de estarem mortos. Ainda bem!
Opinião | Sylvain Sylvain e o New York Dolls me moldaram como artista

Comecei a ouvir New York Dolls quando eu tinha 14 anos, em 1993. À época, estava descobrindo o punk rock e absorvendo informações numa velocidade absurda. Era tudo muito confuso, ainda mais para um roqueiro jovem que até que conseguia ser bem eclético dentro de todas as ramificações do gênero. Me lembro de uma entrevista do Johnny Rotten esculachando os Rolling Stones e aquilo me marcou, justamente porque amava os Stones tanto quanto amava os Pistols. Queria entender o porque das coisas serem assim. Posso dizer que a partir desse momento essas divisões preconceituosas, que existem dentro do gênero, começaram a me incomodar. Não à toa, meu interesse pelo New York Dolls crescia de forma incontrolável. Em todas as revistas que me deparava com alguma notinha sobre a banda, eles eram mencionados como pais do punk, protopunk, mas o que sempre vi foi uma grande banda de rock. Na verdade, enxergava a banda como uma versão punk crossdresser do Stones (Johansen sempre me lembrou o Mick Jagger). Portanto, não demorou muito para se tornar uma das minhas favoritas. Consegui gravar uma fita K7 em uma loja de discos, com a coletânea Rock n’ Roll, lançada em 1994, e ia para cima e para baixo ouvindo no meu toca fitas portátil. Não era bem um walkman, mas uma versão de baixo custo, que tocava as faixas um pouco mais rápidas quando a pilha estava forte e mais lerdas quando estavam acabando. Adorava todas as faixas, em especial a Trash, que por um acaso era de autoria do grande Sylvain Sylvain. Tempos depois me lembro de tocar ela em alguns ensaios do The Bombers. Punk rock de forma diferente Conhecer o New York Dolls me fez enxergar o punk rock de uma forma totalmente diferente. Era possível ser punk e rock ao mesmo tempo. Juntando isso com o visual andrógino adotado pela banda, o Dolls me mostrou que não existiam regras. Não existia um dress code ou cartilha para ser punk. Não era necessário ostentar um moicano ou algum outro clichê para ser punk. Em 1997, surrupiei de alguém minha primeira edição do livro Mate-me por favor, do Legs McNeil e Gillian McCain. Pirei! O New York Dolls era exatamente o que procurava em uma banda. O reconhecimento deles na comunidade musical e a postura que tiveram durante a sua primeira meteórica encarnação me encantaram. Posso dizer que me moldaram em diversos aspectos como artista (e não só pelas roupas com estampas de oncinha e guitarras semiacústicas). Passagem pelo Brasil Em 2004, a banda se reuniu. Posteriormente, em 2008, pude realizar o sonho de vê-los ao vivo, no mítico Hangar 110. Foi uma emoção indescritível ver meus heróis no mesmo palco que já havia tocado diversas vezes. O que mais me chamou a atenção foi o quão incrível era a dupla Sylvain Sylvain e David Johansen. Isso me fez perceber o quanto que perdi por só ter prestado atenção no papel do Johnny Thunders como guitarrista. Aliás, em 2006, eles já haviam lançado o incrível One day it will please us to remember even this e eu já deveria ter me ligado. Afinal de contas, mesmo desfalcado do lendário Thunders, o DNA da banda se manteve intacto. Comecei a prestar mais atenção no Sylvain, na sua carreira pós Dolls (The Criminal$ é um absurdo de tão bom), nos seus heróis musicais e acabei entendendo a importância da sua influência no material produzido pela banda. Sua postura também me agradava muito. Uma vez questionado sobre a importância do legado do New York Dolls, soltou a seguinte pérola… “Lotar arenas para mim é chamado de sucesso apenas no mundo dos negócios da música. Nós tivemos sucesso com as pessoas. Tivemos sucesso com os artistas. Sucesso com os oprimidos. Tivemos sucesso com os esquisitos. Esse sucesso dura para sempre, porque são eles que estão criando tudo”. Infelizmente Sylvain nos deixou após lutar bravamente contra um câncer por mais de dois anos e meio. Sua música e postura, no entanto, viverão para sempre. Obrigado por tudo mestre! Hoje passei o dia inteiro ouvindo sua obra e você deveria fazer o mesmo.
Crítica | The Wildhearts – 30 Year Itch

Discos ao vivo são uma das coisas mais questionáveis, principalmente quando o assunto surge nas rodas de fãs de rock. Existem os que amam e os que odeiam, no entanto, uma coisa é inegável: alguns dos maiores clássicos já lançados por bandas do gênero são frutos de registros de apresentações ao vivo. Que o diga Cheap Trick com o seu Live at Budokan, o Kiss e os Alive, o It’s Alive do Ramones, o Frampton Comes Alive! do Peter Frampton, Johnny Cash At Folsom Prison. No Brasil não é diferente. Tivemos o Viva do Camisa de Vênus, RDP Ao Vivo do Ratos de Porão, além do Rádio Pirata Ao Vivo, do RPM, como discos que ajudaram a definir a marca desses artistas. Formada em 1989, em Newscastle, na Inglaterra, o The Wildhearts pode agora se orgulhar de também ter o seu álbum ao vivo definitivo. Gravado durante a turnê do ano passado, 30 Year Itch, não é o primeiro registro desse tipo lançado pelos caras, mas de longe já pode ser considerado como o seu melhor, além de funcionar como um ótimo resumo da sua obra. Uma gravação poderosa, com guitarras distorcidas na cara e a ajuda do público entoando seus refrãos como verdadeiros hinos, esse é um disco que merece fazer parte da galeria dos grandes álbuns ao vivo de rock. Repertório As músicas escolhidas passeiam por toda a discografia da banda e, de certa forma, ajudam a padronizar uma sonoridade homogênea e definitiva. Algo como se o Kiss, o Ramones e o Motörhead resolvessem se juntar aos Beatles para fazer um som. Se você ficou curioso ou não conseguiu imaginar, então não perca tempo, ouça e tire as suas próprias conclusões. Vale destacar a presença das faixas Urge e Anthem, que foram originalmente lançadas no polêmico (e para alguns inaudível) Endless Nameless. Essas faixas aparecem agora, despidas de quaisquer artifícios, onde toda a beleza de suas melodias podem ser admirada, sem nenhuma contra indicação. Com uma biografia apaixonante, de deixar qualquer um de queixo caído, tamanho os altos e baixos que já passaram, o The Wildhearts é uma banda que soube se reinventar muito bem durante os últimos 30 anos. Hoje, desponta como uma das melhores bandas de rock da atualidade. 30 Year itch, lançado oficialmente na sexta-feira (4), nada mais é que a confirmação de tudo isso.
The Hellacopters faz show incrível para os fãs em São Paulo

Uma tarde que será lembrado por muito tempo como o dia em que o amor a música falou mais alto do que o medo. Em síntese, as atividades iniciaram cedo, por volta de 17h30 quando o Urutu subiu ao palco com o seu punk rock gritado com influências de hard rock setentista. Destaques para a faixa Sob o sol e o excelente guitarrista Felipe Nizuma que sobrou na sua performance. Depois vieram os Corazones Muertos com o seu punk rock n’ roll certeiro. A banda entregou bastante energia e soube usar muito bem o seu tempo no palco destilando desde autorais como Don’t’ Kill Rock n’ Roll a covers espertas como Bonzo goes to Bitburg e uma da cultuada banda finlandesa Smack. The Hellacopters Ademais, o Carioca já estava em ponto de ebulição quando finalmente os Hellacopters invadiram o palco e mandaram logo de cara a clássica Hopeless Case of a Kid in Denial. Era nítida a expressão de espanto e alegria dos membros da banda que estavam arrepiados com a reação do público. Nick Royale soou perfeito em todos os momentos, seja na performance vocal quanto nos seus solos, divididos com seu parceiro Dregen, que aliás é um show a parte. Esbanjando carisma, ele comandou o espetáculo como um maestro, respeitando sempre o espaço de frontman do Nick. Me arrisco a dizer que Dregen é o maior Guitar Hero da atualidade. O repertório foi recheado com todos os hits da banda, além de músicas de todos os álbuns lançados. Da clássica Carry me Home a The Devil stole the beat from the lord passando por Toys and Flavors, Soulseller e By The Grace of God, 90% do repertório foi entoado por todos os presentes o que várias vezes deu um tom apoteótico as performances. Destaque também para No song Unheard e a sequencia final com I’m in the band e (Gotta get some action) Now!. A banda fez seguramente o último grande show de rock que iremos presenciar por um bom tempo em São Paulo. Era nítido o sentimento compartilhado entre todos os presentes. Algo como “vamos viver o momento” como se esses fossem os últimos. Definitivamente o rock n’ roll nunca foi tão rock quanto nessa noite do dia 14 de Março. A banda certa, na hora certa e no lugar certo. Que essa crise pandêmica passe logo para que possamos voltar a ter novas noites como essa. O Rock nunca esteve tão vivo.
Entrevista | The Wildhearts – “Vamos desistir se não formos para a América do Sul”

*Entre o fim de janeiro e início de fevereiro, o The Wildhearts fez algumas apresentações pelo Reino Unido para divulgar o último disco de estúdio, Renaissance Man. Todavia, o Blog n’ Roll acompanhou um desses shows, na Inglaterra, e conseguiu conversar com os integrantes do The Wildhearts. Em resumo, eles comentaram sobre as gravações, planos futuros, shows na América do Sul e a alegria de estarem juntos no palco. Como vocês decidiram reunir a banda novamente? A ideia foi gravar um álbum ou apenas algumas apresentações comemorativas? Danny McCormack: Não tínhamos tanta certeza de que eu viveria por muito tempo. (risadas) Eu não morri e não explodi ou explodi ninguém, não perdi outra perna ou qualquer coisa. E, você sabe, nós realmente gostamos de compartilhar a vida nisso. Nós realmente gostamos da companhia um do outro novamente e fazia sentido gravar e documentar isso, documentar essa formação, sabe? Renaissance Man é um álbum surpreendentemente bom. Todo mundo ficou surpreso com isso. O que você acha que o fez tão especial? Porque soa como um álbum especial. Você entende o que quero dizer? Ginger: Apenas soa como um álbum do Wildhearts para mim. Danny: Nós não ensaiamos demais. Nós não entramos na sala e treinamos por horas, dias e dias, semanas e semanas, porque aprendemos… Ginger: Você não… (Risadas) Danny: Não, sim … você poderia, veja bem, fizemos poucos ensaios, mas nada que se compare ao que faziamos tempos atrás. Foi quase como espontâneo. Ginger: Queríamos fazer um álbum barulhento. Danny: Sim, espontâneo. Ginger: Queríamos fazer um álbum cru e, então, quando fizemos um álbum cru, quando ele saiu, ninguém mais estava por perto fazendo assim, aí ele se destacou. Então, foi fácil chamar atenção porque, sabe, nosso álbum soou diferente. É muito, muito, muito cru. Sim, é um álbum muito cru, podemos ouvir isso. Especialmente quando estamos falando sobre esse álbum, podemos ouvir músicas como Dislocated ou Let’em Go. A música é crua, mas é completamente pop ao mesmo tempo. Ritch Battersby: Sim! Acho que uma das coisas que mais me empolgou em gravar o álbum é o fato de cada música ter seu próprio personagem, sabe? Não haviam duas músicas iguais. Isso tornou realmente agradável gravar e pensar no que cada música precisava. Backyard Babies e Wildhearts estão juntos em uma série de shows. Como está sendo essa experiência? Você já fizeram algo assim antes? Danny: Não. Nós somos amigos dos Backyard Babies há 25 anos, mas nunca tocamos juntos, sabe? Ginger: Eu não sei. Hoje em dia acho que os promotores estão mais interessados em ter duas bandas conhecidas. Antigamente quando estávamos em turnê, costumávamos ser a banda mais conhecida e então chamávamos duas bandas que estavam começando para abrir. Atualmente acho que os promotores se sentem mais à vontade se escalarem três bandas com uma base de fãs. Eles querem vender ingressos. Existe plano para outro álbum ou disco ao vivo? Ginger: Somente se pudermos promover esse na América do Sul, caso contrário não gravaremos mais nada! (risos) Não vamos. Vamos desistir se não formos para a América do Sul. É claro que sempre há outro álbum, sabe? E se estivermos vivos e respirando, haverá outro álbum. Está tudo funcionando tão bem até agora. É bom ver por fotos e vídeos vocês se dando tão bem. Ginger: Obrigado, isso é bom. A vibração é boa. E podemos ver isso nos shows. Vocês parecem estar muito felizes! Rich: Nós somos realmente, realmente, bons atores! (Risadas) A última pergunta é sobre o Brasil, a América do Sul. Existe possibilidade de shows do The Wildhearts? Danny: Nossa manager comentou algo. Comenta-se em ir lá algum dia, mas não tenho certeza de quando… Ginger: É… temos que fazer. Rich: Ainda não temos as datas direito, mas queremos muito e nosso gerente está tentando, por assim dizer, tentando conseguir o promotor certo e os shows certos para nós. E adoraríamos, porque nunca estivemos lá. Você já esteve lá? Ginger: Não. Rich: Você já esteve lá? Danny: Não. Rich: Nós nunca fomos. (Risadas) Ginger: As mulheres mais bonitas do mundo. Danny: Você acha que as pessoas viriam? Provavelmente, mas você não vai gostar da cerveja lá… Ginger: Estaremos felizes bebendo qualquer coisa: uísque, vinho, qualquer coisa! Eu só tenho que chegar lá. Tenho que chegar lá! Vejo vocês em São Paulo!
Entrevista | The Hellacopters – “Se não é divertido, jogamos fora”

Em clima de Brexit, The Wildhearts emociona com show revigorado

Crítica |The Interrupters, The Skints e Buster Shuffle em Cardiff, País de Gales
