Entrevista | Zimbra – “Passamos a ter uma visão diferente sobre nós”

Entrevista | Fresno – “Se a gente não se sentisse livre, nós não faríamos”

Com uma linguagem totalmente diferente da já conhecida pelos fãs, a Fresno surgiu recentemente com o lançamento do nono álbum de carreira. Chamado de Vou Ter Que Me Virar, o disco conta com 11 canções e três participações especiais. O novo projeto mescla letras que são um verdadeiro desabafo, a uma sonoridade mais eletrônica e pop. E não somente as músicas tiveram alterações. É perceptível uma mudança na linguagem visual da Fresno também. A capa do álbum e os videoclipes de Vou Ter Que Me Virar e Já Faz Tanto Tempo feat. Lulu Santos, têm o intuito de trazer esperança para o público e uma roupagem menos datada para o projeto. Para falar mais sobre o lançamento deste novo disco, o Blog n’ Roll teve a oportunidade de conversar com a banda completa. O guitarrista Gustavo Mantovani, o vocalista Lucas Silveira e o baterista Thiago Guerra contaram mais sobre o processo de concepção do álbum (que teve 42 versões diferentes!), além de toda a expectativa para a volta aos palcos no próximo ano, isso com um integrante a menos, já que o tecladista Mario Camelo deixou a banda em agosto deste ano. O que dá para adiantar, é que essa, é uma daquelas entrevistas que poderia durar um dia inteiro, tamanha a simpatia e sinceridade dos músicos acerca do trabalho. É nítido que esse álbum foi pensado por uma Fresno mais madura e que quer conquistar outros públicos, estando fora da própria zona de conforto. Vale conferir o projeto disponível nas plataformas de streaming como YouTube, Spotify, Deezer e YouTube Music. Até quem não curtia tanto o som da Fresno, provavelmente vai se surpreender e repensar. O álbum está diferente de tudo o que já foi feito pela Fresno. A primeira dúvida que surge é: como foi o processo de concepção desse novo trabalho durante a pandemia? Lucas Silveira – A gente sentiu a dificuldade quando lançou o disco, porque não fizemos uma festa né? Ainda não estamos no clima para isso, mas em breve faremos. Falando sério, sobre fazer o álbum, apesar de sermos velhos (risos), somos muito modernos no sentido de saber produzir à distância e embora sejamos uma banda, tratamos cada música e cada disco como uma criação musical diferente, que nós, enquanto um grupo de pessoas que decide por fazer um novo trabalho, fazemos a obra em conjunto. Então, não necessariamente precisamos estar fisicamente juntos, pois se tu pegar historicamente, antigamente só tinha como se gravar as bandas fazendo um ao vivo. Então era ensaio, ensaio… Grava, grava. Mas isso foi mudando e hoje é muito diferente. Essa limitação de estar no mesmo espaço não temos mais, nos possibilitando fazer sons diferentes. Mas a gente se juntou em alguns momentos em que precisava tomar decisões e principalmente quando precisava gravar alguma bateria, por exemplo. O Guerra também tem um estúdio na casa dele, fomos nos juntando e acompanhando o processo todo. É um grande “grupão do zap” da banda que vai melhorando as músicas e cada um vai dando suas sugestões. Gustavo Mantovani – E tem um detalhe né? Como originalmente algumas dessas músicas eram para ser de um projeto chamado Sua Alegria Foi Cancelada – Deluxe, que nunca acabou acontecendo, algumas delas foram gravadas antes da pandemia, como é o caso de Já Faz Tanto Tempo e Grave Acidente. Lucas Silveira – É verdade. Grave Acidente tem dois anos de composição. Me apareceu recentemente uma lembrança da gente tocando essa música aqui em casa. Thiago Guerra – Isso é um sinal de que era na verdade um processo, que muita gente está entendendo agora, porque às vezes até a gente precisa sair um pouco desse tempo marcado para entender o que está acontecendo. Mas a gente já estava nesse processo, desde o último disco. É um trabalho que vem desde o disco Natureza Caos, na realidade. Lucas Silveira – Tem música que nasceu e nem me lembro quando. Às vezes a gente ensaiava para show e a ideia surgia no próprio ensaio. Um dia eu estava na Twitch, que é o que faço quando estou sem nada para fazer, aí eu mostro pros fãs o que tem dentro das minhas pastas de músicas e composições, mas geralmente são só ideias. Se eu mexi muito na música eu sei qual que é aquela referência. Tanto que a do Lulu Santos, ela se chamava Pretenders na pasta (risos), porque era uma referência de Don’t Get Me Wrong da banda The Pretenders. E ficou… às vezes eu esqueço. Mas um dia abri a pasta e ‘cara, que música é essa?’ já que eu literalmente não lembrava dessa ideia. Aí eu mandei pro Guerra, ele devolveu e virou música depois sabe? Então, a gente é muito livre para criar. Se tiver que ir agora para um sítio e fazer um disco todos juntos como a moda antiga, faremos também, porque o divertido na história é se desafiar. Para ficarmos felizes com o processo do que estamos fazendo, temos que nos surpreender com nós mesmos. Não pode ser feijão com arroz… Aliás, é um feijão com arroz, mas a gente coloca um Ajinomoto assim… (risos). A gente não pode ficar no que já sabemos fazer, gosto de ampliar isso. Acaba que realmente fica um disco diferente do outro e propondo coisas. O próprio fã às vezes absorve na hora, mas outras vezes demora. Eu percebi que esse disco é o que mais pessoas me viram na rua e falaram ‘legal o disco novo hein?’. Por que normalmente o cara diz ‘legal, Fresno. Tira uma foto aqui’. Mas o pessoal falando literalmente que gostou… Eu percebo que deu muito certo com o fã e com pessoas que conheciam, mas não gostavam tanto assim. Foi um disco que a gente fez nesse pensamento de trazer de volta para a nossa sonoridade uma coisa mais pop. Thiago Guerra – É pop mesmo. Até porque até os rocks mais pesados do disco estão com uma sonoridade pop. E eu acho que isso é
Orquestra Rock retorna com show em parceria com Dinho Ouro Preto

Após quase dois anos longe dos palcos, a Orquestra Rock retorna, em uma apresentação no espaço Tom Brasil, em São Paulo. E não poderia ser mais especial, contando com a participação do vocalista da banda Capital Inicial, Dinho Ouro Preto. Além disso, o evento acontece pela primeira vez na Capital, antes disso, havia encantado apenas o público no interior do Estado. O fato curioso, é que a última apresentação do grupo, antes da pandemia, também foi acompanhada dos sucessos de Dinho, em novembro de 2019. Agora, por acaso ou destino, o artista marca a volta do conjunto aos eventos presenciais. Sob regência do maestro búlgaro Martin Lazarov, o show vai acontecer no próximo dia 31 de outubro e todo o valor arrecadado com as vendas, será revertido para as instituições ECOA, Grendacc e Sítio Agar, organizações filantrópicas que contam com o apoio do projeto sociocultural. Os ingressos custam a partir de R$ 90 e podem ser adquiridos ainda pelo site do Grupo Tom Brasil. Cuidado no retorno aos palcos Na realidade, a Orquestra Rock, conhecida pela proposta diferente aos concertos sinfônicos, voltou a se apresentar no início deste ano, por meio das lives. Mas o contato com o público, neste caso, é muito importante para os 36 músicos que compõem o grupo. O diretor artístico da Orquestra, Vitor Lima, conta que o período de pandemia foi desafiador e que as experiências online foram um modelo descoberto para continuarem levando rock n’ roll para a população, mas que o reencontro presencial ainda gera muito mais ansiedade para os artistas. “O calor nos shows online é zero. Temos que trabalhar muito com a imaginação dos músicos, pois é difícil pensar no que estão achando, quantas pessoas estão assistindo… A gente só vai saber depois, ao fim, pelos comentários. Digo que foi uma experiência legal, aprendemos bastante e conquistamos outro público para conhecer nosso trabalho, mas nada como um show presencial, isso com certeza”, diz. Mesmo com o retorno, os cuidados com a pandemia do coronavírus continuam. Na plateia serão seguidos todos os protocolos de segurança, como distanciamento necessário e uso de máscara. Mas no palco, também há cautela. Para os músicos de sopro, por exemplo, que ficam impossibilitados de tocarem utilizando o recurso de proteção, foi criado exclusivamente, um casulo de acrílico, para não haver contaminação durante o espetáculo. “Dessa forma conseguimos fazer todos os seis eventos online, sem nenhuma infecção da orquestra. Todos os outros membros utilizam a máscara 100% do tempo, desde o maestro ao apresentador e é claro, disponibilizamos álcool em gel para todos eles. Assim não tivemos nenhum problema relacionado à pandemia com o nosso grupo”, conta o diretor. Repertório do show Mesmo sem muitos spoilers quanto ao setlist do evento, o público pode esperar por cerca de duas horas de espetáculo, dividido em três etapas. A primeira delas é a abertura, quando a Orquestra utiliza o repertório que já possui, em uma releitura especial feita exclusivamente para o espaço Tom Brasil. Além disso, o grupo utiliza todas as músicas que foram produzidas durante o ano, com novos arranjos e partituras. Serão clássicos dos anos 70 e 80 do rock internacional que marcaram época. A segunda etapa conta com a apresentação do convidado Dinho Ouro Preto, que já é parceiro de longa data do projeto sociocultural. Serão apresentados todos os sucessos da trajetória do artista, desde o início da carreira até os últimos lançamentos. Não vai faltar nada para quem é fã do astro. Por fim, o encerramento do espetáculo tem como tema central a apresentação “Rock History”, em um pot-pourri de quase 25 minutos. A proposta é realizar uma viagem da história do estilo, fazendo com que o público possa conhecer e identificar as principais épocas e bandas do gênero. O fechamento vai de Kiss a Bon Jovi e de Led Zeppelin até Queen. “A particularidade da Orquestra Rock é como um programa que realmente mexe com o público, as pessoas se envolvem. O músico acaba por não sentir tanto quanto se fosse um concerto erudito, com todos estão em silêncio, exigindo aquela concentração… Na verdade a Orquestra se tornou uma grande banda de rock mesmo. Duas horas não são nada, eles estão sempre no pique”, explica Vitor. História social da Orquestra Rock Mas o intuito da Orquestra Rock não é apenas de levar música de qualidade dentro de um concerto sinfônico. O grupo vai reverter todo o valor arrecadado com os ingressos para projetos filantrópicos parceiros, e isso só é possível graças aos patrocinadores que acreditam na mensagem que o conjunto quer levar: o de fazer eventos culturais de altíssimo nível, mas com responsabilidade social. Além do incentivo à música, a Orquestra também trabalha há anos com o público surdo, fazendo rock para essa comunidade. E como isso é possível? São cedidas sempre cotas de ingressos para as associações que trabalham com deficientes auditivos moderados ou totais. Além disso, o grupo oferece o transporte gratuito e os shows sempre contam com intérpretes que traduzem não somente as letras, mas também os ritmos. No dia 31, por exemplo, haverá telões espalhados no espaço Tom Brasil para que a visão do palco seja perfeita e todos possam aproveitar juntos. Entretanto, as ações sociais da Orquestra Rock não são de hoje, pelo contrário. A banda surgiu em 2010, ligada ao projeto “Arte do Bem”, evento cultural beneficente que tem como objetivo promover a fusão da música instrumental e erudita com a popular. Quando começaram, utilizavam peças já existentes e convidavam bandas e artistas conhecidos para as apresentações. Com o tempo, notaram que o público não nutria interesse pelo espetáculo clássico, por isso, decidiram que era o momento de unir a sinfonia com o rock n’ roll de uma só vez. “Aí nasce a Orquestra Rock de fato, que se tornou um conjunto que apenas e unicamente toca esse gênero. E temos um diferencial muito importante, em relação a outras, pois possuímos a essência do rock, que é a guitarra, a bateria, o baixo e o teclado. É uma
Entrevista | Val Santos – “O heavy metal nunca saiu de mim”

Recentemente, o guitarrista e produtor Val Santos lançou o primeiro álbum solo da carreira. Conhecido pelo trabalho de anos dentro do Viper, Vodu e Volkana, ele diz que o disco 1986 foi feito especialmente para traduzir o amor pelo heavy metal. Claro, de maneira muito pessoal e com parcerias especiais. O projeto é mais do que uma homenagem para a década que firmou os maiores artistas do gênero. Metallica, Megadeth e Iron Maiden foram inspirações para as letras e melodias datadas. Uma verdadeira viagem no tempo para os apaixonados que vivenciaram esse período de revolução musical, mas um meio também de conquistar os mais jovens que acabaram de entrar neste universo. Projeto antigo Todo o processo de criação começou há nove anos, quando o músico baiano passou a compor músicas de heavy metal e decidiu guardar em seu portfólio de canções. O guitarrista é o principal compositor da banda de rock alternativo Toyshop, mas confessa que sentia falta do estilo histórico que o conquistou ainda na adolescência. “Crio para minha banda também que é mais pop punk e pop rock. Mas o heavy metal nunca saiu de mim, foi onde comecei. De lá para cá fiquei compondo e guardando. Foi em 2015 então que pensei em fazer um disco com essas músicas. Fui separando as que achava mais legais e notei uma cara dos anos 1980. Aí veio a ideia de fazer uma homenagem, já que foi onde comecei”. Neste longo processo de composição, 20 músicas foram concebidas, mas ao final apenas dez foram para o disco. Três delas, releituras de criações antigas do disco All My Life, do Viper, lançado em 2007. Cross the Line, Miracle e Dreamer foram repaginadas e regravadas, ganhando acordes ainda mais trabalhados. O álbum ainda conta com o cover Allied Forces da banda canadense Triumph, que fez parte da juventude do músico. Homenagem aos anos 1980 Por curiosidade, a ideia do nome do disco foi uma sugestão do amigo de longa data Felipe Machado, guitarrista e fundador da Viper, onde Val começou como baterista na década de 1980. E não era para menos, 1986 foi um ano icônico para a música e também para a carreira de Val. Discos como Master of Puppets, do Metallica, Reign in Blood, do Slayer, Somewhere in Time, do Iron Maiden, e Peace Sells… but Who’s Buying, do Megadeth, foram lançados neste ano. Além disso, foi a data em que Cliff Burton, baixista do Metallica, faleceu em um acidente durante uma turnê da banda na Europa, fato que marcou a adolescência de Val. 365 dias de altos e baixos para o heavy metal, mas a principal lembrança para o músico foi o ponta pé com a primeira música composta por ele, cheia de significados e finalizando o álbum de maneira épica. “Eu tinha 16 anos na época, quando compus a Warriors of Metals, canção que fecha esse disco. É claro que eu dei uma repaginada, me baseando em uma música do Helloween, Walls of Jericho. Se você pegar ela tem certa semelhança. Com tanta coisa, tinha tudo a ver colocar 1986 no nome do disco. O Felipe sacou muito bem essa ideia”, comenta. Álbum dos sonhos de Val Santos Apesar de o disco ser todo inspirado na década do heavy metal e em um ano tão especial quanto 1986, o álbum ainda conta com um estilo diferenciado, mesclando trash metal e hard rock também. Por isso, o guitarrista tomou cuidado ao escolher quem participaria. Cada música pedia uma atmosfera diferente e assim, colaborações distintas de quem conhece cada melodia. No single de abertura Fire, Val convidou Yohan Kisser para o segundo solo da faixa. Inspirada no som pesado de Battery, do Metallica, o guitarrista da banda Sioux 66 não poderia ter ficado de fora e entregou um resultado excepcional junto do músico Alexandre Grunheidt, da Ancestral, aprimorando a agressividade do vocal. Felipe Machado também não deixaria de participar, já que tem uma amizade forte com o guitarrista desde 1984, em uma longa trajetória musical compartilhada. Ele aparece em Dead Words, uma das músicas mais pesadas do projeto, ao lado de Leandro Caçoilo, vocalista do Viper. E um convite especial que não chegou a ser realizado foi à parceria com André Matos, amigo de infância de Val. O músico participaria da música Miracle, mas faleceu em 2019 devido a um infarto agudo do miocárdio. Como homenagem, o guitarrista chamou Bruno Sutter, vocalista da banda Massacration, que era um grande fã de André. Convidados especiais Nomes como Fabiano Carelli, guitarrista da Capital Inicial, e Marcos Kleine, do Ultraje a Rigor, estão no disco. Além disso, Rob Gutierrez, do Hollowmind, Pompeu, da Korzus, o guitarrista Thiago Oliveira, o vocalista Brunno Mariante, Marcos Naza, da Skyscraper, o baterista da Vodu, Sérgio Facci, o músico e produtor de Santos, Rodrigo Alves, o baixista Rodrigo Ferrari e vocalista Mauro Coelho, também deixaram uma marca registrada no projeto, contribuindo para o resultado final tão esperado por Val. “Por causa deles esse disco ficou muito bom. Cada um ia me mandando suas partes pela internet e eu ficava ‘cara, olha esse solo’ ou ‘olha como esse cara cantou’, então as músicas iam ganhando mais vida com a participação de cada um. Fiquei feliz da vida. Foi o disco dos sonhos para mim”, revela o músico. Paixão por filmes e universo geek Tanta emoção na produção, criação e concepção do álbum de uma vida, que Val não deixaria de colocar a mão na massa até nos mínimos detalhes. Das composições aos convites, o músico revela que teve o prazer de idealizar tudo, dentro e fora do disco. E o principal, inspirado por um filme de 1983. Novamente, a década que o marcou. “A capa foi feita por mim. Sabe Scarface? Tem o DVD assim. Preto, branco e com o vermelho representando sangue. Fiz me baseando nisso. O mais engraçado é que eu tenho amigos que são fotógrafos que fazem trabalhos excelentes e me criticaram por não estar tão boa. Eu sei disso, mas a intenção é que
Entrevista | Pedro Alex: “Meu amor pela música começou em casa”

“Num mundo tão incerto quero prosperar, então eu blindo meu caminhoA verdade não falha, penetra na almaFé na caminhada onde quer que eu váDesejos de paz para o mundo todoSei que vão chegar” Pedro Alex Esse é um dos trechos otimistas da faixa Vibrações que está no novo álbum de mesmo nome do cantor Pedro Alex. O projeto acabou de sair e é o primeiro disco do cantor, compositor e multi-instrumentista brasiliense em parceria com a Sony Music. Com letras recheadas de mensagens positivas, é claro que o trabalho transmite a paz que o artista deseja para o momento. Em uma mistura de black music, rap e R&B, Pedro conseguiu uma façanha: acalmar os corações mais agitados com música de qualidade. “Desejo que as pessoas sintam isso. É aquilo: você entra no carro, liga o som e desliga um pouco a mente. Você sabe que vai ter que voltar para o mundo lá fora, mas vai fazer isso de maneira muito mais leve”, conta. E se é para descrever o álbum, a palavra leveza é de fato o que representa as oito faixas do projeto que começou a ser produzido em junho de 2019. Apesar disso, o cantor já tinha algumas composições na manga, como é o caso da música Preta, que passou por uma reformulação durante o período de pandemia. Influência dos pais O jovem de 22 anos estreou com o disco no início do mês, mas a paixão musical e a “mão na massa” começaram desde cedo, por influência dos pais. Aliás, se o timbre de Pedro parece familiar, provavelmente você deve ter acompanhado os votos de paz nas músicas da banda Natiruts, lá no começo dos anos 2000. Pedro é filho de Alexandre Carlo, vocalista do grupo de reggae, e é claro que ele não nega o interesse fomentado pelo pai, desde quando era apenas um menino apaixonado por futebol. “Meu amor pela música começou em casa. Meu pai me incentivou muito, por ser cantor e músico e a minha mãe também sempre gostou muito desse universo. Mas ele foi minha principal inspiração para o álbum, trocamos muitas ideias e somos referência um do outro, claro, ele muito mais do que eu”. Pedro Alex E é assim que o cantor cresceu, rodeado por muita música e com liberdade de criação para externar sentimentos através das melodias. Dessa forma, aprendeu baixo, piano, bateria, guitarra e violão, e dentro do estúdio montado no próprio quintal de casa produziu ou coproduziu todas as músicas do novo trabalho, envolvendo inspirações do soul, funk e afrobeat nas canções criadas. “Eu quero que as pessoas me vejam como um artista bem versátil. Dentro do álbum tem várias atmosferas diferentes. Então você consegue enxergar vários lados do Pedro Alex dentro desse projeto. Além de cantor e compositor eu sou instrumentista e produtor musical, por isso, gostaria que as pessoas me enxergassem como alguém que pode produzir qualquer tipo de som”, explica. Parcerias de Pedro Alex Fora o auxílio do pai nesta jornada de criação do álbum, Pedro contou com a parceria de diversos amigos já envolvidos com música. Entre uma indicação e outra, o produtor Iuri Rio Branco, conhecido por trabalhar com artistas de R&B e hip-hop como Flora Matos e Jean Tassy, foi o primeiro a ser chamado para dar uma nova cara ao projeto. A sintonia de ambos bateu e o resultado foi o afrobeat moderno da faixa Vem Ficar e do reggae da canção Fala de uma Vez. “A gente tinha vários amigos em comum, então o contato aconteceu de maneira muito tranquila e natural. Nos conhecemos já no dia de começar as músicas, então até poderia não bater a vibe e dar errado, mas pelo contrário, acabamos nos tornando amigos para fora do âmbito musical”. O músico Kevin Ndjana também participou da canção “Vem Ficar”, uma vez que trabalhavam juntos no estúdio da casa de Pedro e acabaram por estreitar a amizade. O resultado: uma música cheia de melodia e um abraço para a alma de quem escuta. Bell Lins e PRS A cantora Bell Lins fez parte do projeto e emprestou a voz doce para um feat na faixa Calma, que teve produção de Iuri Rio Branco. A brasiliense foi apresentada pelo baterista do Natiruts, Lucas Pimentel, e no final, a parceria deu tão certo, que atualmente Pedro está produzindo o novo álbum da artista e amiga. Outra participação especial foi a do músico PRS, o Peres. O rapper já é amigo de longa data de Pedro Alex, e é claro que não deixaria de fazer parte de um feat na música título do álbum. Vibrações ganhou um toque único com a parceria do músico que faz parte também do grupo de hip hop Puro Suco e em breve vai lançar um álbum produzido pelo multi-instrumentista. Pedro Badke também participa do som. “As relações das parcerias surgiram a partir de amizades, para além dos interesses fonográficos, mas obviamente chamei as pessoas que eu achava que seriam certas para compor todas essas músicas. Eu havia trabalhado junto deles de certa forma, mas o principal para esse álbum foi o afeto e o nosso contato”, diz. Monkey Star E das amizades do cantor, também surgiu uma marca de roupas cheia de significados. O sócio do projeto é melhor amigo de infância de Pedro. Bernardo Vieira fez parte de toda a trajetória do músico, desde os tempos de escola. Apesar de crescerem e seguirem cada um perspectivas diferentes de vida, sempre mantiveram o laço de união. Com a troca constante de ideias, calhou de Bernardo ingressar como designer de moda em um momento em que o cantor queria muito lançar a própria marca com um estilo pessoal. Assim, uniram as duas vontades: a de conceber algo único através da própria criação e trabalho. “A marca de roupas Monkey Star já era uma ideia antiga que eu tinha. Esse nome eu escolhi para poder ressignificar o termo pejorativo ‘macaco’ que é usado contra pessoas pretas. Na verdade o macaco é a estrela
Entrevista | Tico Santa Cruz – “Temos uma mensagem de democracia e direitos”

E se o Brasil enfrenta hoje um cenário instável em meio à pandemia do coronavírus, os fãs de Detonautas Roque Clube podem se preparar para mais uma canção cheia de críticas para o período vivenciado. Em Roqueiro Reaça, o público confere uma crônica escrita pelo vocalista Tico Santa Cruz. Ao lado de Carta ao Futuro, Micheque, Mala Cheia e outros singles, a música é mais uma vez crítica e descreve a espécie de artista, que segundo o cantor, fomenta o autoritarismo e negação da realidade. Lançada nesta sexta-feira (4), a canção está disponível nas plataformas digitais pela Sony Music, e em julho, os fãs ainda vão conhecer outros três singles que completam o novo álbum da banda, ainda sem data de estreia. Sem novidade no posicionamento Recentemente, os músicos têm se posicionado duramente contra o atual governo e a falta de políticas públicas envolvendo o cenário pandêmico. Mesmo não agradando a todos, Tico revela que o posicionamento do grupo não é algo novo, mas que atualmente conseguem dialogar de maneira mais aberta com os fãs e inclusive já ultrapassaram até os mais extremistas. “As nossas críticas foram aumentando na medida em que a sociedade começou a se inserir dentro de um contexto de debate político, mas com a polarização, a coisa tomou um patamar muito maior, óbvio. Dentro dessa polarização, a gente começa a observar que existem várias pessoas que já se posicionavam de forma agressiva em relação ao Detonautas e que hoje já entenderam que temos uma mensagem de democracia e direitos”. Tico Santa Cruz, vocalista do Detonautas O músico ainda deixa claro que não é uma questão ideológica ou partidária. Sendo de esquerda, direita ou centro, a população precisa enxergar o que está acontecendo de fato para que haja uma mudança. “Durante a pandemia, a gente fez um circulo de lançamentos todos relacionados a questões políticas, já que a gente entendeu que não tinha ninguém falando sobre isso dentro do nosso segmento. Acabamos ocupando esse espaço e deu certo, porque tivemos muitas visualizações, muitas pessoas que começaram a acompanhar a banda e o trabalho do grupo foi reconhecido”. Racismo é burrice Apesar dos novos singles da banda estarem repletos de críticas ao momento atual, uma música antiga em especial também se juntou ao repertório do grupo. Racismo é Burrice, composta por Gabriel, o Pensador, em 1993, já tem quase 30 anos, mas traz um tema muito atual. Por isso, o Detonautas, em parceria com o criador deste hino atemporal, regravou com um estilo todo próprio a canção. “O Gabriel é meu amigo de infância, antes de ser famoso e reconhecido como músico. Então já acompanhamos o trabalho dele há muito tempo e ele o nosso, temos uma parceria de muitos anos. Nesse caso, a gente pegou a música e refez o arranjo. Ele gostou, e obviamente o chamamos para participar. Como estamos na pandemia, o clipe foi feito com uma montagem. Juntamos forças para revisitar essa música”, conta. Não é a toa que o grupo decidiu relembrar esse som. Mesmo com as pequenas modificações presentes na letra e atualizações em relação ao o que está acontecendo nos dias atuais, a força dessa canção continua a mesma. Agora, segundo Tico, a questão não é mais explicar o que é o racismo, mas sim o quanto isso ainda está estruturado e enraizado na nossa sociedade, além de reforçar o que é preciso para mudar essa situação. “Eu acredito que o movimento negro nunca teve tanta voz e trouxe o debate para um nível um pouco mais profundo para a questão do racismo estrutural que permeia secularmente. Quando a gente pegou a música fez questão de fazer algumas modificações para poder gerar uma reflexão. Não se trata mais de apenas debater racismo, já que muita gente entendeu o que é, o que as pessoas não conseguiram compreender ainda é a estrutura que mantém esse preconceito funcionando”. Tico Santa Cruz, vocalista do Detonautas Participação social Além das fortes críticas políticas neste novo momento do Detonautas, outro ponto forte e evidente da banda está na luta e participação em causas sociais. Com a pandemia, as desigualdades foram expostas ainda mais fortemente. Em abril, o vocalista promoveu com outros artistas o festival “Panela Cheia Salva ClubHouse”. O intuito era de arrecadar doações para o movimento iniciado pela Cufa em parceira com a Gerando Falcões e a Frente Nacional Antirracista, buscando recursos para a compra de cestas básicas entregues à população em situação de vulnerabilidade social. “A gente entende que como artistas podemos potencializar a voz de diversos movimentos que são importantes. Entendemos que a nossa voz é significante para somar forças dentro de um momento em que as pessoas estão passando fome. Esse projeto atende 10 milhões de pessoas e foram arrecadadas 217 mil cestas básicas”. Mesmo com a participação ativa em projetos sociais como estes, Tico alerta que essas questões devem ser sanadas pelo poder público, por mais difícil que seja. Mesmo com o envolvimento da população, ainda assim, é necessária a reflexão de que o país vai enfrentar o pior pela frente em um período pós-pandemia. “Nunca podemos esquecer que essa questão é dever do poder público, mas como ele falha, a gente precisa agir para as pessoas não serem sacrificadas. A sociedade se envolve, o nosso país tem essa característica de solidariedade. Hoje o Brasil tem 20 milhões de pessoas em situação de fome e 19 milhões que não sabem se irão comer amanhã. É o maior patamar da história dos últimos anos, e é claro que com a pandemia, isso se agravou”, alerta. Futuro A participação pública dentro das questões políticas é essencial, segundo Tico. Em um cenário de vulnerabilidade, em que os projetos sociais estão trabalhando ativamente para evitar a fome em massa no país, é o momento de reflexão para algo nunca antes vivido. Com a participação, o vocalista expõe o que precisa mudar urgentemente para que o futuro não seja tão duro com a população brasileira. “A gente tem que tentar sair dessa dicotomia, desse pensamento
Entrevista | FSnipes – “Nós somos como pequenos pedaços do todo”

Misturando cores e formas mais do que diferentes e inspirando-se de Belchior até Beatles, o músico F.Snipes, alter-ego de Felipe Medeiros, lançou o seu álbum de estreia. O projeto chamado de Safra Sativa, não por engano, carrega em sua capa diversas mensagens subliminares e um som perfeito para conquistar os apaixonados por punk rock melódico. As dez faixas foram compostas durante o período de pandemia. O artista conta que a ideia inicial era lançar alguns singles ao longo de 2020. Assim, surgiu o primeiro EP com quatro músicas e depois, o processo de criação não parou mais. Com tantas canções lançadas e inseridas no portfólio do músico, ele decidiu que era o momento ideal de montar um álbum completo para o público. “Sou muito old school em relação aos álbuns. Adoro pegar um trabalho e entender ele como um todo, não somente como pedaços separados. Por isso eu achei que valia muito a pena usar esses singles que estavam sendo lançados para montar o primeiro disco”, diz o artista. O projeto foi produzido pelo também músico de Porto Alegre, Davi Pacote. O produtor estava em um trabalho remoto, criando músicas em casa, no estúdio montado com os próprios instrumentos. Com a parceria de Felipe, que soltou a criatividade, nasceu um ritmo frenético entre as composições e gravações de ambos. “Para mim foi muito interessante tentar levar para o mundo essas coisas que eu estava criando. O negócio deu certo, a energia bateu com o trabalho do Davi e continuamos, tanto é que de lá para cá gravamos praticamente todo mês uma ou duas músicas, o que é um nível de produção bem legal”, conta. Mensagens subliminares E logo ao bater o olho na capa do novo projeto, é impossível não visualizar o universo lúdico e colorido criado pelo designer de Maceió, Cristiano Suarez. Você pode até não notar a princípio, mas o desenho artístico é cheio de mensagens subliminares e figuras que representam o alto astral do disco. F.Snipes foi quem esboçou o projeto cheio de imagens significativas e transformou a capa em algo nada comum ou mesmo fácil de compreender inicialmente. O artista queria de fato criar uma viagem visual e aflorar a criatividade do público, para que pudessem desvendar as mensagens escondidas. “Cada elemento tem a ver com coisas pessoais. Cada figura presente ali conseguiu traduzir o contexto do álbum todo. Tem um pedaço da minha história, por mais que o público não perceba ou não entenda no começo, o resultado final é incrível”, diz. E se o assunto é polêmico ele trata logo de desmistificar e quebrar tabus. Tudo começa pelo próprio nome do álbum: Safra Sativa. Em referência a Cannabis, consumida no processo criativo do projeto, a planta medicinal foi utilizada justamente nos momentos de criação das letras e melodias das músicas. Com sentimentos e vivências, o músico que mora em Miami, consome o óleo com propriedades terapêuticas para transcender a arte que o habita. “Uma das mensagens subliminares da capa é que estamos em um balão jogando esse óleo em uma língua, o que representa a viagem do projeto. Então aquele universo acontece dentro de uma boca, recebendo o que consumo para criar. Outro detalhe é o personagem com a luneta procurando um sol, elemento este presente no meu primeiro EP. Ou seja, tudo está conectado. Você vai conhecendo e se identificando aos poucos”, revela. Sobre o álbum O artista se preocupou extremamente ao lançar o disco, tentando trazer com responsabilidade o que o público poderia entender e absorver do conteúdo final, principalmente no período de pandemia. Segundo ele, a energia já está muito pesada, e a ideia é afugentar os maus pensamentos que se espalharam durante este momento delicado, para no final trazer luz a quem ouvisse o álbum. “Eu tentei fazer músicas que levassem leveza e alegria para a vida das pessoas. Eu tenho essa preocupação em transmitir mensagens de maneira positiva e elevar a vibração de quem está ouvindo para algo melhor”. Esse cuidado não foi baseado apenas nas músicas, mas também no visual do projeto. O grande complemento artístico da obra do lado de fora, interagiu com as composições de dentro do encarte. E não dá para disfarçar, o propósito era esse mesmo, levar energia e aumentar a frequência de quem consumisse o trabalho, seja escutando ou mesmo observando a beleza do conteúdo exterior, de maneira quase mística. “Foi muito espiritual, eu não sou religioso, mas tenho um interesse muito grande em descobrir a questão da evolução como ser humano. Qual o nosso propósito aqui e como a gente pode ser melhor para o mundo? E principalmente tentando me entender como uma peça em meio a uma sociedade. Nós somos como pequenos pedaços do todo”, reflete. Contudo, é sempre muito difícil para um artista definir a música favorita dentro de um projeto. Cada canção é como um filho, gerado a partir de histórias e vivências diferentes, uma qual tão especial quanto à outra. No caso do Felipe, não poderia ser diferente. Se em outras bandas ele sempre havia uma música predileta, dentro de Safra Sativa a escolha é muito difícil, tamanha a paixão no momento de compor. Contextos diferentes Cada faixa é um enredo e contexto diferente, mas ainda assim, após refletir por longos segundos, o artista conclui que a primeira das dez canções, é a que escolheria se precisasse, e o motivo é ainda mais romântico do que poderíamos imaginar. “Cada uma das músicas me toca de uma maneira diferente. É difícil definir só uma, mas se tivesse seria 7 de julho. Não porque ela seja especial, mas me abriu portas. Eu escrevi como presente de aniversário de namoro para minha esposa. Queria dar uma coisa diferente, no fim, era uma inspiração para mim e um presente maravilhoso, como uma lembrança para nós dois”. Alter ego E o F.Snipes pode até ter se mostrado agora, mas o Felipe está na estrada há muito tempo. Músico desde os anos 90, ele sempre participou de criações e composições das bandas que
Paisagens Rítmicas: novo documentário de Julio Falavigna viaja pela música

Em uma viagem pelos mais diferentes ritmos musicais do mundo, o baterista e multi-percussionista gaúcho Julio Falavigna, lançou recentemente o documentário Paisagens Rítmicas. Abordando a própria vivência e experiência acerca de sua carreira, o músico traduz o que é harmonia no novo projeto. Aliás, a obra conta com direção e roteiro do criador Le Daros, conhecido pela longa trajetória no cenário musical e audiovisual do Rio Grande do Sul. “O documentário é sobre a minha história de vida. Nada foi fabricado, na verdade, são relatos de como a música e diferentes finais foram me levando. O filme é um breve apanhado de encontros através da minha relação com a música e espiritualidade”, diz. E histórias não faltam, já que a ideia surgiu com a intenção de contar a trajetória do músico desde a paixão pela musicalidade na adolescência, até mesmo a absorção de novas culturas nas viagens que fez ao longo da carreira. Apesar disso, ele deixa claro que não é uma produção biográfica, mas sim uma roadtrip sobre os aprendizados que adquiriu nos lugares que visitou, como China, França, Índia, Portugal ou mesmo em território nacional. Por fim, o documentário foi a maneira encontrada pelo artista para explorar os sentimentos desenvolvidos com a troca de conhecimentos ao longo de sua trajetória. “É uma sensação ótima poder dar vasão às diferentes formas do mundo criativo que me habita. Eu sou músico, mas tenho também uma longa experiência dentro de outras práticas como ioga e meditação, e isso tudo refletiu nesse projeto. A tônica é a minha relação com a música e os meus encontros ao longo da carreira”, explica. Trabalho em equipe Além das paisagens belíssimas que aparecem no documentário, é claro que não poderia faltar música e uma trilha marcante para a obra. Por isso, Júlio contou com a ajuda da esposa e pianista Bianca Gismonti nas composições especiais do filme. Outro destaque é que o filme conta com a participação de músicos de diversas partes do mundo como Frank Cólon, Zé Natálio e Sri Hanuman, convidados estes que acrescentam uma visão distinta e ritmos singulares para o projeto. É claro, que a lista de influências para a musicalidade do documentário é extensa assim como o currículo de Júlio. Em resumo, passam pela música africana, cubana, indiana e brasileira, com melodias que chegaram e foram transmitidas em um toque especial do artista. “As pessoas vão encontrar uma mensagem de abertura interna das próprias ideias, de ir ao encontro do outro e também daquilo que elas acreditam. O documentário trata muito disso, é um vislumbre honesto sobre uma trajetória. Existe uma pulsação por trás do desdobramento da imagem e é claro, muito ritmo”, conta. Júlio ainda destaca a importância do retorno do público para compreender o que é esperado e absorvido do conteúdo e da jornada rítmica apresentada no documentário. “Eu acho muito importante o feedback sobre o que as pessoas percebem nele, no que se identificam afinal. A verdade é que estou muito feliz de ter realizado este projeto e espero que as pessoas gostem”, conclui. Disponível para aluguel ou compra nas plataformas Google, Looke, Now, Vivo e YouTube. Paisagens Rítmicas Teaser from Julio Falavigna on Vimeo.
Entrevista | Lucas Scandura – “Queria que a poesia viesse como uma faixa”

Escrever certo em linhas tortas é a especialidade do artista Lucas Scandura. Retornando a nostalgia dos compactos dos anos 1950 a 1970, o cantor lançou recentemente o single Eu Não Sou de Perdão, um tango criado e gravado em parceria com o quarteto instrumental Escualo Ensemble e que vem acompanhado da poesia Sinfonia de Silêncio. A obra faz parte do projeto de compactortos do artista, relembrando o Lado A e B dos discos antigos, aqueles que fizeram a infância e adolescência de muita gente. Com uma linguagem totalmente autoral, o artista trouxe a própria assinatura neste projeto, na tentativa de mostrar a identidade de um cantor-autor pra lá de excêntrico. Por ter vindo do cinema, e não da música, ele entrega um trabalho performático e cheio de novos conceitos. “Usei esse subtítulo cantautorto tentando dar uma ideia do que sou. Um cantautor, e como vários que existem na música brasileira, é o cara que escreve, compõe e canta, mas que não é necessariamente um instrumentista ou um super cantor”, explica. Durante o processo de criação das faixas recheadas de letras e mensagens ecléticas, o artista teve a ideia de lançar algo novo, e que mesmo relembrando os discos antigos, não tivesse exatamente a mesma proposta. Misturando canção e poesia, nasceram os chamados compactortos e que já prometem um total de seis lançamentos em 2021. “A diferença é que nos antigos compactos o lado A era uma música que o artista trabalhava comercialmente e o lado B era alguma coisa mais alternativa. No meu caso não tem essa distinção, as duas faixas conversam entre si”, diz. Projeto audiovisual O videoclipe do novo single foi feito no Espaço Itaú de Cinema da Rua Augusta, em São Paulo. A icônica sala de cinema serviu de ambiente para que o cineasta brincasse com a linguagem já presente na letra da faixa e o arranjo extremamente dramático criado pelo Daniel Grajew. “As pessoas estão consumindo muito isso atualmente, é difícil pensar em uma música sem audiovisual. Mas além do mercado, eu sou um cineasta de formação, então para mim é muito natural. Quando decidi de fato mergulhar na música, englobei tudo isso: música, poesia, canção, performance, e é claro, audiovisual”. Apesar de já querer realizar as filmagens dentro de um cinema vazio, a pandemia acabou facilitando o processo, já que o local estava de portas fechadas há quase um ano. Assim, com uma equipe reduzida, o conteúdo foi produzido e dirigido com enfoque no cantor. “Quando fui fazer o clipe de Eu Não Sou de Perdão já estávamos em pandemia. Eu trabalho com um coletivo de amigos, e tivemos a ideia dos dois clipes que foram lançados, serem trabalhados somente comigo. O primeiro videoclipe fizemos em outro espaço, sem ninguém, só eu e o cinegrafista, mas são propostas diferentes, o que é muito interessante”, conta. Com as faixas conceituais que conversam entre si e a formação clássica com instrumentos como piano, acordeon, violino, baixo acústico e vibrafone, Lucas Scandura percebeu que o videoclipe tinha que ser feito em tons mais sóbrios, para mostrar tamanho o peso de outra época e até mesmo da astrologia acerca da letra da faixa. “É como se eu estivesse assistindo um filme sobre a minha vida, algo que já aconteceu, mesclando passado e presente. Eu costumo dizer que essa faixa é muito escorpiana e rancorosa, por isso achamos que o preto e branco combinava”, brinca. Parceria que resultou em um tango Apesar de a faixa ter chegado ao público apenas no início desse mês, a canção já está sendo trabalhada desde 2016 pelo artista. Lucas Scandura estava fazendo uma produção como cineasta para o quarteto parceiro e acabou fazendo uma troca. Aliás, resultou no projeto em conjunto, exatamente da maneira que ele desejava. Em suma, o perfeccionismo do cantor foi para encontrar a melhor maneira de trabalhar com o vocal e em como a mensagem seria entregue para o público no final. Quando finalmente o resultado atingiu o esperado, em um mix de canção e poesia, a emoção bateu forte. “Para mim foi uma felicidade tremenda, por que me considero ainda estreante na música e o Escualo Ensemble tem músicos de auto calibre, três deles participam da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, uma das maiores do Brasil. Me senti honrado em ver minha canção se transformar em tudo aquilo”. Poesia, arte e música Outra parte do projeto que conta com parcerias é o lado B. Para o cantor, apenas música não bastava, ele queria mesmo era declamar poesias para os fãs. Contudo, de maneira contemporânea e demonstrando quem é como artista: uma metamorfose de ideias e sentimentos abstratos. “Eu queria que a poesia viesse como uma faixa, para que as pessoas escutassem da mesma maneira que as canções. Que aquilo soasse agradável e interessante, como uma canção, mas com uma cara toda própria”. Ali, ele chamou alguns parceiros para compor arranjos diferentes e colocar em prática a ideia das poesias gravadas. Em Sinfonia de Silêncio, por exemplo, a convidada foi a produtora musical Gylez Batista, que com um arranjo único deu uma nova cara para o projeto, de maneira que a poesia conversasse com a canção já feita no lado A do trabalho. No meio do lançamento, Lucas Scandura confessa que até encontrou outros artistas que estavam fazendo algo parecido com o projeto de sua autoria, mas cada um de maneira diferente e particular. Ele relembra do Grupo Tertúlia, de Pernambuco, que sempre fomentou poemas durante as apresentações musicais, ou mesmo da colega poetisa Luna Vitrolira, que recentemente lançou um álbum com um conceito parecido. Porém, cada um com experimentações e resultados diferentes. “Eu não encontrei nenhum projeto até agora que esteja trabalhando com a poesia dessa maneira que estou propondo. Muito provavelmente exista em algum lugar do mundo, é claro, mas eu ainda não encontrei”, revela. Sem ao vivo E que a pandemia está sendo um período de adaptação para muitos artistas, isso é inegável. Para Lucas Scandura, não poderia ser diferente. Com o início da