The Bombers relembra a história de Rubin Carter na era dos cancelamentos

Em 1976, Bob Dylan lançava o álbum Desire, o décimo sétimo de sua carreira na época. A faixa de abertura do disco, com oito minutos e meio de duração, traz a história do pugilista Rubin Carter, o furacão, condenado injustamente a prisão perpétua em 1966 pelo crime de triplo homicídio. Rubin era um dos melhores boxeadores peso médio de seu tempo, conhecido popularmente como Hurricane, o mesmo nome da música de Dylan. A prisão tirou a possibilidade de Rubin disputar o título de campeão mundial e o seu caso, até hoje, é uma emblemática demonstração de racismo e de manipulação da justiça americana. O Hurricane ganhou liberdade apenas em 1985, após a anulação do seu julgamento, e quase dez anos depois do lançamento do álbum Desire, considerado um dos melhores de todos os tempos pela revista Rolling Stone, em 2003. A história de Rubin Carter é tão importante que além de livros e música, ele também ganhou uma versão nos cinemas, sendo interpretado pelo ator Denzel Washington no filme The Hurricane, lançado em 1999. Cancelamento No recente EP do grupo santista The Bombers, intitulado Você sabia que Rubin Carter era inocente?, a banda faz menção ao caso e mesmo sem citá-lo diretamente na faixa Mudamento, traz o tema “cancelamento” à tona em clima de ska punk. O estilo, inclusive, é semelhante aos primórdios do grupo com o 7 Songs, primeiro disco da banda e lançado em 1998. No entanto, a faixa também mistura um pouco de Sublime e Goldfinger. Talvez não seja possível comparar musicalmente as canções Hurricane e Mudamento, mas um paralelo histórico diante dos tribunais condenatórios e injustiças faça mais sentido. As redes sociais são vitrines capazes de criar grande comoção, ampliar debates e tornar acertos em exemplos a serem seguidos. Na mesma medida, é muito fácil ser condenado, ter seu nome e trabalho jogado no lixo e considerado um pária diante de uma internet esfomeada por apontar dedos, julgar e condenar tudo aquilo que ela considera errado. Na maioria dos casos, os artistas e personalidades públicas são os principais alvos, à mercê de boicotes e tentativas de apagamento social. É difícil traçar um limite entre os arrojos de uma reação justa e compreensível de outras experiências que buscam apenas o linchamento. A “cultura do cancelamento”, como é nomeada, é um fenômeno alinhado ao pensamento neoliberal em que vivemos, como explica o psicanalista Lucas Liedker, em entrevista ao portal Metrópoles. Segundo o especialista, “pautamos as nossas escolhas pela mentalidade de consumo e da substituição. Assim, as pessoas assumem a posição de objetos, que você pode ir trocando, cancelando, algumas vezes de forma justa e, em outras, implacável”. Desse modo, as consequências do cancelamento são imprevisíveis e os estragos incalculáveis. O cuidado com essa prática define, principalmente, de qual lado da história não queremos fazer parte. Um novo EP com releituras de si mesmo O EP Você sabia que Rubin Carter era inocente? é o quarto lançamento da The Bombers neste ano, divulgado no último dia 7. O trabalho faz parte de uma série de EPs que a banda pretende lançar ao longo de 2021. O intuito do grupo é que o lançamento seja feito na primeira sexta-feira de cada mês, com exclusividade na plataforma do Bandcamp e, dessa forma, comercializar seu trabalho de forma direta com o público. O Bandcamp, desde o ano passado, tem se tornado uma alternativa importante aos músicos, pois a plataforma criou uma política na qual deixa de cobrar sua comissão para ampliar os ganhos dos artistas. Assim, todas as vendas realizadas na plataforma na primeira sexta-feira de cada mês são destinadas de forma integral aos músicos. Neste lançamento, seguindo a proposta dos EPs anteriores, a The Bombers traz ao menos uma faixa inédita e releituras de músicas próprias e outros artistas. Entre elas está a versão punk de Baby Can I Hold You, música que foi um dos maiores sucessos da cantora americana Tracy Chapman. Bombers consegue até nos enganar no início da versão, relembrando inicialmente a balada romântica original de Tracy, mas logo ganha contornos mais autênticos e assinatura rock da banda. Emanharado Já na faixa Sonho ou Pesadelo, a história é um pouco diferente. Apesar da letra ser de autoria de Matheus Krempel, vocalista do Bombers, a música faz parte do projeto Emanharado, idealizado pelo jornalista João Pedro Ramos, para o site Crush em Hi-Fi. No álbum, cada participante enviou uma letra inédita, que foi redistribuída pelo site para outra banda ou artista, sem revelar quem a compôs. O desafio de quem recebia a letra era entender a cadência e musicá-la com sua própria personalidade, criando assim uma “parceria oculta”. O resultado deste álbum é bastante interessante. A versão “original” de Sonho ou Pesadelo possui uma carga pós punk bastante introspectiva por parte do duo paulista Antiprisma. Já na versão da The Bombers, a faixa se torna mais emotiva ganhando contornos obscuros e solos de guitarra. Na quarta e ultima faixa do EP, o grupo traz a versão acústica de Jogadas ao Vento, música do disco Democracia Chinesa, de 2007. A nova versão mantém a pegada emotiva, mas ganha nova sonoridade e que sobrepuja em significados, principalmente em tempos de pandemia. O EP é uma produção da própria banda que pretende lançar um álbum com 12 músicas reunindo as faixas preferidas do público, como explica Matheus. “Ao final da publicação dessa série de músicas, realizaremos uma enquete com nossos ouvintes, para decidirmos em conjunto, quais músicas formarão o disco que iremos lançar em formato físico ainda esse ano”, diz. Aliás, para continuar acompanhando as novidades da banda basta seguir o grupo nas redes sociais. Todos os endereços da The Bombers estão disponíveis aqui. Você sabia que Rubin Carter era inocente? by The Bombers

Conheça Wescritor, o rapper tupinambá na Baixada Santista

Weslley Amaral dos Santos, o Wescritor, tem 24 anos e é um tupinambá na Baixada Santista. O rapper aborda pautas indígenas e reverbera ancestralidade nas rimas. Transita entre letras de resistência, reflexivas, sobre amor e sentimentos. Nascido e criado em São Vicente, aos 18 anos mudou-se para Santos, onde mora atualmente.  O artista se jogou de cabeça no mundo da música em 2019 e desde então, além de singles, coleciona os seguintes trabalhos solo: EP Corpos Laranjas, Mixtape T.R.A.P, Mixtape Comunicação e o EP Dela.  Além da qualidade dos sons, Wescritor já possui clipes marcantes, como Caos Indígena, Modificado e Exemplo.  As letras dele ecoam forte para o ouvinte, principalmente para quem tem afinidade com a causa indígena. Mas nem sempre ele entendeu de fato sua ancestralidade. O Weslley de 17 anos, até então, não compreendia o significado disso. E só após compreender, foi a virada de chave. Virada de chave Wescritor passou por uma mudança interna intensa em 2019 quando no início do ano visitou a Aldeia Itapoã, Tupinambá de Olivença, onde vive o seu avô, José Ramos Amaral, mais conhecido como Ancião Amaral, de 76 anos. “Eu reconheci o espaço, a história, a vivência e senti na pele o que é a causa”, explica.  O artista comenta que sabia que o avô era indígena, tinha casa na aldeia, mas até então não tinha sido tocado daquela forma pela sua ancestralidade. “Vem mudando meu ser. Você vai olhando pra trás e se conectando, isso vai te fortalecendo no agora e no amanhã”.  Wescritor EP Corpos Laranjas Muito significativo, 2019 foi um ano de grande importância para ele, tanto pela viagem e suas descobertas, quanto para mergulhar dentro de si. Dos três meses que ficou na Bahia, alguns dias e semanas foram dedicados a ficar na aldeia. Daí, surgiram algumas letras do primeiro EP Corpos Laranjas. “Escrevi Caos Indígena, Tupinambá (tanto a poesia quanto o som) a fala do meu vô e captei na aldeia. Resistir também foi lá”.  Ele foi lançando singles ao longo de 2019 até se tornar o EP Corpos Laranjas que foi lançado em 20 de dezembro do mesmo ano. “Foi o primeiro projeto compilado, foi especial, sendo a melhor construção que eu fiz. Consegui investir um dinheiro, ter material profissional. O clipe Caos Indígena foi fluido, foi lindo e rolou da melhor forma, como tinha que ser”.  A produção musical, mixação e masterização de Caos Indígena ficou a cargo de Léo Ost. YBY Festival Ainda em 2019, Wescritor participou do YBY Festival, o festival de música indígena contemporânea do Brasil. “Pra mim é muito sensível o que aconteceu em 2019. Foi muito importante a presença no YBY. Meu avô veio da Bahia para São Paulo assistir. Ele era o ancião mais antigo do festival, foi muito impactante ver ele no palco, honrando todo o povo Tupinambá. Por causa de um movimento que eu fiz… É algo muito forte. A família acredita e eu acredito muito”.     Wescritor Ritmo e Poesia Apesar de ter sido 2019 o ano que Wescritor foi a fundo no rap, ele já tinha contato com o gênero musical e com a poesia.  Desde pequeno ele escuta rock e rap, por influência de seu irmão mais velho e atualmente seu empresário Wallace Amaral, de 30 anos. “Escuto há muito tempo, Racionais e todos os grandes das antigas”.  Ingressou no teatro em 2014, conhecendo a literatura mais a fundo. “Em 2015, comecei a escrever muitas poesias, foram dois anos assim. Me apaixonei pelo Fernando Pessoa, é meu mestre, minha base”, afirma. Na virada de 2017 para 2018, ele começou a experimentar o rap, colocando suas poesias na batida lofi. Passou o ano de 2018 inteiro escrevendo até que em 2019 foi o seu alavanque, se jogando para o mundo da música. Mixtape T. R. A.P (Tem Rap, Amor e Poesia) Lançada em abril de 2020, a Mixtape T. R. A.P (Tem Rap, Amor e Poesia) foi mais sentimental para o artista. A música Modificado rendeu a ele novos ouvintes, tanto que ganhou um clipe. Ele conta que até ficou receoso de expor esse projeto, pensando que poderia ser julgado por estar fazendo algo mais “comercial”. No final das contas, como ele mesmo diz, ampliou o seu trabalho. Sobre a mixtape de sete faixas, ele abre o coração. “Foi um processo muito importante. Eu sempre fui um cara sentimental, amoroso. E surgiu da necessidade íntima de impor meu lado musical, cantado, que fala de amor e envolve corações. Queria que me olhassem e me sentissem dessa forma”.  Mixtape Comunicação Da necessidade de se firmar novamente, Wescritor lançava a Mixtape Comunicação em 7 de dezembro de 2020, com seis faixas. “Surgiu da necessidade de me firmar novamente, trazer o rap de mensagem, sentimental, emocional e também de força. Eu gosto de equilibrar as coisas”.  Desse trabalho, nasceu o clipe de Exemplo e para ele, como o clipe Caos Indígena e Modificado, foi outro marco em sua carreira. Gravado no Centro de São Paulo e em alguns trechos de Santos, em monumentos históricos, o artista quis visibilizar os indígenas em contexto urbano. O clipe foi dirigido pela artista visual Isa Hansen. “Foi algo espiritual, veio a intuição de investir ali, movimentar pessoas. O que Exemplo representa eu vejo como muito explícito. É realista aquela poesia, eu tô falando as palavras na lata. Entender hoje a importância e o significado que está tendo, como a representatividade e a quebra de estereótipo, acompanhar esse retorno é gratificante”. Wescritor EP Dela O mais recente trabalho de Wescritor é o EP Dela, lançado em 29 de março de 2021. As três faixas falam de amor e foram inspiradas em uma pessoa.  “Eu digo que é uma música só. O EP tem um sentimento intenso. Por mais que as faixas variem, elas conversam ao mesmo tempo”. O trabalho foi mixado e masterizado pelo New Hippie, músico, cantor, produtor da Baixada Santista e integrante da banca SOS. A arte ficou a cargo da  artista visual Isa Hansen. SOS Com os artistas Caiqueira e Bia

Te Amo Lá Fora: Duda Beat foge da mesmice em novo disco

A artista pernambucana Duda Beat divulgou no fim do mês de abril, seu segundo trabalho em estúdio. A temática de ‘sofrência’ ainda segue muito presente nas músicas da cantora, contudo, o amadurecimento musical de Duda é evidente. O debute da popstar brasileira aconteceu em 2018, com Sinto Muito. Logo após o lançamento, o álbum entrou nas graças do público. Estes três anos em ‘hiato’ fez a artista conseguir experimentar e testar coisas novas em suas canções, e isso é mostrado com maestria no novo disco. Te Amo Lá Fora As raízes nordestinas da cantora está presente logo nos primeiros segundos de Tu e Eu, primeira faixa do disco. E assim o trabalho segue até seu final. Ademais, se engana quem acha que Duda Beat mantém o mesmo estilo durante as 11 canções. A artista faz a transição de forma muito bem elaborada entre o pagode, forró, pop e ritmos nativos… mas claro, sem deixar a sua influência pop apagada. Em resumo, é um trabalho curioso, você nunca sabe o que virá na próxima faixa – a não ser a sofrência nas letras, que também agrada. Destaque fica para Nem um Pouquinho, faixa feita em parceria com o rapper Trevo, que conta com fortes influências baianas. 50 Meninas, com grande inspiração no reggae, também vale ser mencionada. Como já citado, o elo que liga todas as canções são as letras. Em síntese, Duda segue abordando amores não correspondidos e sofrências no seu trabalho, assim como acontece em Sinto Muito. Desde já, A expectativa para um novo trabalho criado pela cantora permanece entre nós.

Conhecendo o Blues #4 – Little Walter

Considerado o mais importante gaitista da história do Blues, Little Walter mudou o curso da harmônica e foi um artista revolucionário. Marion Walter Jacobs nasceu no estado da Louisiana em 1930. Aos 13 anos de idade já se apresentava pelas ruas de New Orleans e seu grande ídolo foi o pioneiro da gaita John Lee “Sonny Boy” Williamson. 1945 foi um ano importante em sua vida. Ele chegou a Chicago e um novo mundo se abriu para o jovem músico, então com 15 anos de idade. Ele realizou suas primeiras gravações em 1947 ao lado do cantor e guitarrista Jimmy Rogers, para o pequeno selo Ora Nelle. “Eu conheci um garoto que realmente sabe tocar!”, foi o que Rogers disse a Muddy Waters se referindo a Little Walter. O trio virou um fenômeno em Chicago e logo seriam conhecidos como The Headhunters. Em 1950, iniciam-se uma série de gravações históricas e uma parceria com Muddy Waters que é sem dúvidas uma das mais impactantes da história do blues. Dois anos depois, a carreira de Little Walter decola quando ele lança a música Juke, um instrumental incendiário, que levou o blues e a harmônica para novos caminhos. Walter era um improvisador sem igual, criava temas imbatíveis e cantava de forma vibrante e visceral. Talvez ele não tenha sido o primeiro a tocar com a gaita em um microfone plugado no amplificador, mas criou sons incríveis que ecoam até os dias de hoje. Ele gravou diversos hits como líder para o selo Checker (subsidiário da Chess Records) entre 1952 e 1967. Aliás, não posso deixar de citar três verdadeiros clássicos: My Babe, Nobody But You e Just Your Fool. Triste fim Walter tinha sérios problemas com drogas e com o álcool, além de ser uma pessoa que se metia em muitas encrencas. No dia 14 de fevereiro de 1968, ele se envolveu numa grande briga depois de um show e foi pra casa com fortes dores de cabeça. Foi dormir naquela noite com graves ferimentos pelo corpo e nunca mais acordou. 10 músicas para conhecer um pouco da obra de Little Walter Just Keep Loving Her (1950) – Little Walter Trio Going Away Baby (1950) – Jimmy Rogers Off The Wall (1953) – Little Walter and his Jukes Mellow Down Easy (1954) – Little Walter and his Jukes Hoochie Coochie Man (1954) – Muddy Waters Sugar Sweet (1955) – Muddy Waters It Ain´t Right (1956) – Little Walter and his Jukes Temperature (1957) – Little Walter Crazy Mixed Up World (1959) – Little Walter Crazy Legs (1961) – Little Walter

Rosana Reis, de São Vicente, está de volta: “o rap me resgatou”

Após 11 anos longe do rap, Rosana Reis, 45, de São Vicente, voltou à ativa. Ela, que por ter vivido tantas experiências e ter enfrentado condições subumanas, coloca o dedo na ferida dos problemas sociais que permeiam a sociedade.  Das antigas, a rapper pegou no mic pela primeira vez em 1993. Mas em 2008 parou de cantar e foi estudar. Entretanto, em 2020, foi incentivada a voltar para o rap e assim o fez, após terminar o curso de Psicologia no final de 2019. Coincidentemente, foi um período que ficou desempregada, devido à pandemia da covid-19. “O rap me resgatou! Fiquei sem chão. Um ano desempregada, eu poderia ter entrado em depressão. Mas escrever, me ajudou a manter o foco”.   Rosana Reis A rapper quer que as pessoas reflitam sobre os problemas da sociedade ao ouvirem suas músicas. “Eu falo do que vivencio, do que vejo, das queixas das pessoas, o ambiente em que vivemos. Aqui na Rua Mecanizada, em São Vicente, onde moro, conhecida como paraíso do sétimo céu, enche muito quando chove, por exemplo. Demora cerca de três dias para esvaziar. Os ônibus não passam, as pessoas demoram para chegar ao trabalho. Enfim, são queixas da população”.  Linha do tempo de Rosana Reis Rosana nasceu em São Vicente, mas devido às dificuldades, aos noves anos o pai dela a levou para Sergipe. Retornou à cidade de origem aos 15 anos, quando teve o primeiro contato com uma das vertentes do movimento hip hop: o break. “Minha mãe me levava nas matinês (bailes à tarde). Foi o primeiro contato com a cultura hip hop, por meio do break. Vi a equipe Red Crazy Crew, os caras dançando”.  Rosana Reis Mais tarde, a futura rapper frequentou outro baile onde entendeu de fato o que era movimento hip hop. “Entendi que existia DJ, grafiteiros, os mc´s, dançarinos, uma cultura de fato”. Nesse período, ela conheceu pessoas da cultura e foi acompanhando eventos. Recebeu um convite do rapper Marconi no final de 1993 para fazer parte do grupo Subúrbio Negro de São Vicente. Ela topou, na época tinha 18 anos, e foi a primeira experiência enquanto rapper. Mas ela ressalta que nesse período cantava as letras do grupo, não eram delas. Em meados de 1994 começou a fazer eventos junto com o Marconi e promover nas escolas. Único sistema Rosana então em 1996 criou um grupo chamado Único Sistema, porque estava deixando o Subúrbio Negro de São Vicente. Além dela, o grupo era composto pela Alcione Marçal, Luciana, Elaine, Chocolate e Dj.Claudinha. O objetivo era ter um grupo só de mulheres. Infelizmente, a formação só fez duas apresentações e não durou um ano.  Após isso, o Marconi pediu que ela voltasse para o Subúrbio Negro de São Vicente, mas Rosana não queria, porque em São Paulo havia um grupo com o mesmo nome. Então, ela aceitou cantar junto com ele, mas usando o nome Único Sistema. Eles também ficaram pouco tempo em atividade, até 1997, pois ela não queria mais cantar. DRK Rosana casou em 1998 e só retornou ao rap em 2004, com o DRK. A formação consistia no rapper Doido, ela e o DJ Koala. Em 2008, ela parou de cantar novamente, porque o grupo se encerra e após isso termina o casamento. Em 2009, ela casou novamente, volta a estudar, mas não a cantar. Entretanto, continuou a escrever, tanto que gravou algumas letras, mas sem pretensão de cantar para o público. O retorno solo de Rosana Reis No início de 2020, Rosana explicou que a artista Gabitopia a convidou para ir à Batalha do Caoz, em São Vicente. O objetivo era que Rosana se sentisse incentivada ao ver outras mulheres e meninas cantando. Outras pessoas também a incentivaram a voltar para o rap. E foi o que fez.  Desde então, Rosana já foi soltando músicas e clipes, além de participar de cyphers. Ela afirma que mais um clipe está para sair, chamado Obstinação, produzido pelo Junior Castro.  A artista ainda foi convidada para participar de uma parceria com um dos integrante do grupo Porcelanosos, da província de Kwanza norte, na Angola. Rosana pretende continuar com os lançamentos dessa forma, gravando e divulgando. Ela convive com um problema de saúde e afirma que tem períodos que está bem e outros que não. Assim, ela prefere lançar logo os trabalhos, sem ficar se contendo, por isso não tem planos para lançar um álbum. Equipe e aprendizados de Rosana Reis Para colocar os trabalhos na rua Rosana conta com um time importante. “O Douglas DGS é rapper e esse ano começou a fazer meus beats. O Canjão é o produtor dos beats também, o estúdio dele é o Dubarraco Produções. Ele faz a masterização e mixagem das minhas músicas. Junior Castro e G.Gomes fazem meus clipes. O Mysthério do grupo Wufologos faz meus Lyric vídeos”. Mesmo com o auxílio de todos, a rapper afirma que está tentando aprender para ser mais independente. “Esse ano também estou aprendendo a trabalhar com chroma key e a fazer beat, para conseguir ser mais independente. Apesar de gostar de trabalhar com essa equipe, tenho que ter mais autonomia e isso vem com conhecimento”. Por conta da pandemia do covid-19, Rosana afirma que o chroma key a ajuda a gravar os clipes em casa. Assim, toma os cuidados necessários para concluir os trabalhos. Somando ao RAP Rosana menciona admiração pelo duo Rap Plus Size, pela rapper M.I.A, pela Gabitopia e Preta Jô. Ela entende que toda mulher acrescenta ao rap, independente do tema ou bandeira que levanta em suas músicas. “Eu canto sobre problemas sociais, porque vivi isso. Eu tenho colegas que focam na questão do machismo, da mulher negra, e eu apoio. Se cada uma de nós ficarmos engajadas em uma luta a gente tem a acrescentar”. Rosana Reis Em relação a ser mulher no rap, Rosana desde que iniciou, lida com o machismo. Em suma, toma cuidado com quem ela faz feat, pois não aceita trabalhar com alguém que mantém essa postura. Além de não dar atenção

Críticas | Arctic Monkeys, Goldfinger, Boom Boom Kid, Smashing Pumpkins, Billie Joe…

Arctic Monkeys – Arctic Monkeys Live At The Royal Albert Hall O show desta mesma turnê do Arctic Monkeys foi apresentado aqui no Brasil, no Lollapalooza 2019, com um set bem parecido. Portanto, não é surpresa aos fãs dos Monkeys a relação de ‘morde-assopra’. Em resumo, canções recentes mais climáticas dividem espaço com os rock indie barulhentos de outrora. Embaixo do manto do hype, o Arctic Monkeys é uma banda eficiente. Ao vivo não inova, mas entrega uma execução fiel e bem trabalhada de suas músicas. Goldfinger – Never Look Back Acompanhado de um time de estrelas – Mike Herrera (MxPx), Travis Barker (Blink-182), entre outros – John Feldman retorna seu Goldfinger com mais um disco super bem produzido. Ele mantém as bases punk-pop e ska-punk, mas com uma produção e refrões que têm muito a ver com a sonoridade de 2020. A busca pelo pop perfeito talvez tire um pouco da displicência e do charme que a banda carregava nos anos 1990, mas ainda é um belo trabalho. Boom Boom Kid – Bienvenido: Zona de Descanzo Primeiro disco acústico de estúdio do Boom Boom Kid. O ex-Fun People recria uma porção de suas canções em versões unplugged low-profile, por vezes usando e abusando de efeitos/reverb, ou na voz, ou no violão. Além dos resgates, ainda temos faixas inéditas e versões na seleção final. Prolífico como poucos, Nekro é um dos maiores artistas do cenário alternativo sul-americano e se acostumou a fazer muito com pouco. Radkey – Green Room Os irmãos Dee, Isaiah e Solomon Radke formam uma das bandas punk mais interessantes dos últimos anos. Power trio de canções simples e refrões ótimos, chegaram a seu quarto disco, lançado de forma independente e com ajuda de uma campanha de crowdfunding. Aqui a banda apresenta uma coleção de canções punk com viés pop, resgatando melodias dos Ramones circa anos 1980 e também algo de Misfits. Vale a pena. Smashing Pumpkins – CYR O Smashing Pumpkins sempre operou em três instâncias musicais: canções baseadas em riffs pesados de guitarra, baladas épicas e mais recentemente, músicas calçadas em synths. Este é praticamente todo baseado nesta terceira opção. Olhando pra trás, CYR dialoga principalmente com a fase Monuments to an Elegy. É um álbum difícil na discografia do grupo, apesar de soar pop na maior parte do tempo. Billie Joe Armstrong – No Fun Mondays No começo da quarentena, o vocalista do Green Day anunciou que lançaria um cover por semana, até ‘o mundo retornar ao normal’. As semanas passaram e Billie lançou 14 covers no projeto No Fun Mondays. Agora, porém, as reuniu neste LP. Apesar das diversas fontes originais, aqui as canções ficaram todas com aquele jeitão power-pop. Guitarra, vocais melódicos e refrões ganchudos. É o músico fazendo o que faz de melhor. The Network – Trans Am O Network surgiu em 2003 como uma banda new wave secreta cujos integrantes “pareciam demais” com os caras do Green Day. Na época o grupo sustentou a brincadeira de identidade secreta e soltou um disco tão excelente quanto descompromissado. Pra quem se decepcionou com o último disco do Green Day, o Network vem para restaurar sua fé no trio de Oakland, soltando aqui neste EP quatro faixa novas super divertidas. New Model Army – Carnival (Redux) “Carnival foi o único álbum em que a gravação, mixagem e masterização não trouxeram o resultado perto do que era pretendido originalmente“. A declaração é do vocalista Justin Sullivan sobre seu CD de 2005. Contudo, neste 2020, onde a banda comemora aniversário de 40 anos e teve seus planos abortados, este álbum está sendo relançado e ‘reimaginado’. Com o resgate, recebeu nova mixagem e faixas inéditas. Para redescobrir. Refused – The Malignant Fire O Refused tem o costume de sempre lançar um EP pouco antes ou pouco depois de um novo álbum full. No caso, The Malignant Fire é sucessor do disco War Music, lançado ano passado. Se no conteúdo o Refused continua pregando para convertidos, no som o grupo tenta sempre dar alguns passos fora da fórmula. O óbvio seria a morte artística desta banda que já ousou moldar ‘a forma que o punk virá’. Hardcore fora da caixa. Killer Be Killed – Reluctant Hero O novo do Killer Be Killed, formado por Max Cavalera (Soulfly, Cavalera Conspiracy); Greg Puciato (The Dillinger Escape Plan); Troy Sanders (Mastodon); e Ben Koller (Converge), vem com uma unidade muito maior do que no álbum de 2014. Aqui as canções se conversam muito mais, são inclusive mais palatáveis que as do primeiro disco, com muitos vocais melódicos e ótimos refrões. Metal inteligente, agressivo e criativo. Nick Cave – Idiot Prayer – Nick Cave Alone At Alexandra Palace Em junho, durante o período de lockdown no Reino Unido, Nick Cave fez uma live no Alexandra Palace, em Londres. Somente acompanhado de seu vozeirão e seu piano, Cave transmitiu a classuda apresentação em live paga que agora virou CD. O clima intimista e de solidão fazem a cama para as 22 faixas que preenchem o setlist lembrando a fase Grinderman, dos Bad Seeds e faixas de seu trabalho mais recente. Obra de arte! Joan Jett & The Blackhearts – Playin’ With Fire (Live In Long Island, NY ’81) Em 1981, Joan estava voando baixo ao lado de seus Blackhearts, divulgando o excelente Bad Reputation. Aqui temos o registro de um show transmitido via rádio e lançado via bootleg diversas vezes nos últimos 30 anos. O setlist de 21 músicas é divertido, tem as faixas do disco da época e covers, tocado por uma banda afiadíssima, em seu melhor momento comercial e criativo. Excelente!

Das Minas | Taylor Swift, Britney Spears, Gwen Stefani e mais

Taylor Swift

Que ano ótimo para os Swifties de plantão! A grande novidade do dia é o álbum Evermore, lançado de surpresa por Taylor Swift. Ideal para encher nossos corações de esperança em tempos tão difíceis! E a dose de nostalgia pop foi restaurada com sucesso: temos novo álbum da princesa Britney Spears e single revival de Gwen Stefani. Bora pros Lançamentos da semana? Zedd e Griff – Inside Out O DJ e produtor e compositor Zedd lançou uma parceria com a cantora inglesa Griff. Agora, o videoclipe da faixa foi liberado. Com uma coreografia nostálgica de dança contemporânea, a faixa ganhou novas cores e emoções, embalada pela voz suave da artista soul. Nilüfer Yanya – Feeling Lucky? Navegando entre indie, soul, alternativo e pop (uma mistura das boas!), a britânica Nilüfer Yanya lança seu segundo EP. Feeling Lucky? conta com três faixas de peso, e sucede o grande sucesso crítico de seu debute, Miss Universe (2019). Uma artista para manter em seu radar de novidades. Dove Cameron – We Belong Com doçura e sensibilidade, Dove Cameron lança uma faixa acompanhada de videoclipe bem no estilo quarentena. Na canção, a artista lamenta a perda de um amor antigo e compartilha uma percepção coerente da expressão “surtos leves e tênis”. Kamaiyah – No Explanations Uma ótima pedida do rap contemporâneo para incluir em sua playlist. A rapper Kamaiyah lança seu terceiro projeto de 2020, o disco No Explanations, que conta com 11 faixas. Com mais de 100 milhões de streams, o trabalho da californiana está em constante ascendência. Logo na primeira faixa, já sentimos várias referências diferentes em sua música e todo seu potencial artístico. Victoria Justice – Treat Myself Após sete anos sem novidades, Victoria Justice lança um comeback poderoso. A atriz e cantora prometeu um EP completo aos fãs, mas devido à pandemia, teve que atrasar seus planos. Com uma mensagem positiva diante de temas como solidão e ansiedade, a cantora comentou a relevância da faixa diante do momento que vivemos. “Fomos forçados a passar mais tempo sozinhos do que nunca. O que pode em alguns dias ser uma coisa boa, e em outros não. Essa voz em nossas cabeças pode nos derrubar… E eu queria que vocês soubesse que não estão sozinhos”. Troye Sivan e Kacey Musgraves feat. Mark Ronson – Easy O produtor Mark Ronson ataca novamente com uma dupla de potencial. Troye Sivan e Kacey Musgraves dividem vocais em uma canção de vibe oitentista, bem ao estilo do produtor. Para Kacey, a experiência do clipe é uma das partes mais interessantes da faixa. Joss Stone – Walk With Me Cheia de força e com mensagens inspiradoras de superação, Joss Stone lança uma faixa que relaciona R&B, soul e gospel nas medidas certas. Walk With Me é o primeiro single solo da britânica em três anos, porém, não deve ficar muito tempo desacompanhado; um novo álbum pode estar a caminho! Gwen Stefani – Let Me Reintroduce Myself E Gwen Stefani volta aos velhos tempos! Com um single que balanceia o ska e reggae deliciosamente, Gwen apresenta uma faixa inédita gravada durante a quarentena e que com certeza nos dá aquela nostalgia de No Doubt. Britney Spears – Glory [deluxe] Nossas preces foram atendidas! O feat tão aguardado (desde 1990, né mores) entre Brit e Backstreet Boys está entre nós. E este é apenas um dos destaques na versão deluxe de Glory, um álbum cheio de possibilidades divertidas. O álbum foi lançado originalmente em 2016. Taylor Swift – Evermore Não satisfeita com um álbum, Taylor Swift lançou seu SEGUNDO disco nesse ano! Evermore veio para surpreender os fãs de Tay como um presente pelos seus 31 anos (que são 13 ao contrário, o número da sorte de Taylor que norteia vários de seus projetos). Com 15 faixas inéditas, o disco inclui colaborações com Haim, The National e Bon Iver. Entretanto, para a versão deluxe do disco, mais duas faixas serão incluídas. Neste projeto, a cantora vai ainda mais fundo em seus sentimentos e pensamentos, tornando suas obras cada vez mais intimistas. Além do novo álbum, Taylor também lançou um novo clipe. A faixa escolhida foi Willow, a primeira de seu disco. Cheio de delicadeza, o vídeo remonta à fantasia e magia.

Crítica | The Wildhearts – 30 Year Itch

Discos ao vivo são uma das coisas mais questionáveis, principalmente quando o assunto surge nas rodas de fãs de rock. Existem os que amam e os que odeiam, no entanto, uma coisa é inegável: alguns dos maiores clássicos já lançados por bandas do gênero são frutos de registros de apresentações ao vivo. Que o diga Cheap Trick com o seu Live at Budokan, o Kiss e os Alive, o It’s Alive do Ramones, o Frampton Comes Alive! do Peter Frampton, Johnny Cash At Folsom Prison. No Brasil não é diferente. Tivemos o Viva do Camisa de Vênus, RDP Ao Vivo do Ratos de Porão, além do Rádio Pirata Ao Vivo, do RPM, como discos que ajudaram a definir a marca desses artistas. Formada em 1989, em Newscastle, na Inglaterra, o The Wildhearts pode agora se orgulhar de também ter o seu álbum ao vivo definitivo. Gravado durante a turnê do ano passado, 30 Year Itch, não é o primeiro registro desse tipo lançado pelos caras, mas de longe já pode ser considerado como o seu melhor, além de funcionar como um ótimo resumo da sua obra. Uma gravação poderosa, com guitarras distorcidas na cara e a ajuda do público entoando seus refrãos como verdadeiros hinos, esse é um disco que merece fazer parte da galeria dos grandes álbuns ao vivo de rock. Repertório As músicas escolhidas passeiam por toda a discografia da banda e, de certa forma, ajudam a padronizar uma sonoridade homogênea e definitiva. Algo como se o Kiss, o Ramones e o Motörhead resolvessem se juntar aos Beatles para fazer um som. Se você ficou curioso ou não conseguiu imaginar, então não perca tempo, ouça e tire as suas próprias conclusões. Vale destacar a presença das faixas Urge e Anthem, que foram originalmente lançadas no polêmico (e para alguns inaudível) Endless Nameless. Essas faixas aparecem agora, despidas de quaisquer artifícios, onde toda a beleza de suas melodias podem ser admirada, sem nenhuma contra indicação. Com uma biografia apaixonante, de deixar qualquer um de queixo caído, tamanho os altos e baixos que já passaram, o The Wildhearts é uma banda que soube se reinventar muito bem durante os últimos 30 anos. Hoje, desponta como uma das melhores bandas de rock da atualidade. 30 Year itch, lançado oficialmente na sexta-feira (4), nada mais é que a confirmação de tudo isso.