Entrevista | Sharon den Adel (Within Temptation) – “Está na hora de mudarmos o jeito como vivemos”

Pouco mais de um ano depois de conversar com o Blog n’ Roll sobre o single Entertain You, a sempre simpática Sharon den Adel, vocalista do Within Temptation, concedeu mais uma entrevista para falar sobre a evolução do novo trabalho, além do single Shed my Skin. Em resumo, o Within Temptation não tem planos definidos para um novo álbum, mas seguirá lançando canções produzidas recentemente. Shed my Skin é uma canção que fala sobre algo que acho muito importante, as mudanças que a vida toma. Fale um pouco mais sobre ela. Para nós foi uma inspiração o momento que estamos passando, na pandemia. Aliás, passando talvez pelos mesmos problemas, a vida parou para todos ao mesmo tempo, e algumas pegaram esse tempo para refletir sobre como a vida estava indo, e chega um ponto que talvez pensem que precisam de uma mudança.  Para mim é algo que vi em outras pessoas, afinal somos contadores de histórias, mas também em experiências pessoais, onde a gente sente que precisa de mudanças para se sentir vivo, e às vezes nem todos que vivem conosco podem seguir o mesmo caminho que queremos. Então precisamos decidir o que fazer com nossas vidas e torcer para que depois as outras pessoas continuem conosco. Você mencionou a pandemia, você acredita que ela contribuiu para que as pessoas se relacionassem mais com a música? Sabe, tudo mudou para todo mundo em algum ponto. Todos tiveram que trabalhar de maneira diferente em diferentes lugares: aulas em casa, home office. E alguns sentiram falta da vida antes disso, e outros não, então esse tipo de conclusão citada na música veio para várias pessoas, eu acho. O videoclipe de Shed my Skin foi parte do show virtual The Aftermath. Como vocês fizeram aquilo, o quão difícil foi trabalhar com tanta tecnologia? Por sorte nós tivemos ajuda do cara que fez a maioria de nossos clipes, e ele foi quem entrou em contato conosco, pois sabia que estávamos buscando algo diferente das apresentações acústicas que fizemos durante a pandemia. Queríamos algo mais próximo de uma apresentação ao vivo nossa.  E esta foi a forma de criar um cenário épico, que fizesse tudo que desejássemos, e também alcançasse várias pessoas. E acho que se será algo pro futuro também, a tecnologia veio pra ficar e mais pessoas farão isso no futuro e nós também. Apesar de ter consumido muito tempo e dinheiro, foi muito divertido e pioneiro. E você acha que essa tecnologia pode ser usada em apresentações ao vivo do Within Temptation? Na verdade não, pois é completamente diferente da tecnologia. Acho que pode ser usada como um extra, um jeito diferente de se apresentar. E você acha que as bandas vão continuar fazendo isso, mesmo após o retorno dos shows presenciais? Esses shows online serão mantidos após o fim da pandemia? Eu acho que é legal para pessoas que não tem a oportunidade de te ver ao vivo, e é algo mais próximo da experiência de um show. E agora falando de Shed my Skin novamente, tem uma participação de outra banda, chamada Annisokay. Qual é a relação do Within Temptation com esta banda? Na pandemia estávamos procurando por uma nova inspiração, e saímos procurando na internet por novas histórias, e músicas e conhecemos o New Core Metal, que não conhecíamos tão bem. E eles estavam entre as três bandas que mais gostamos. Christopher tem uma voz linda, mas também me tocou a maneira como ele canta, muito melódico.  Gostei como eles escreviam as músicas, e nos inspirou, e quando escrevemos a música pensamos que seria uma colaboração legal. Nós os convidamos, e eles ficaram muito entusiasmados e acho que o resultado ficou muito bom. Vocês ouvem novas bandas em holandês, são próximos delas? Nós nos encontramos às vezes, claro, em festivais, bebemos algo juntos, conversamos. Mas todo mundo está sempre na correria, já indo para outro show, então não há muito tempo também. Mas claro que nos encontramos às vezes. No entanto, não tanto quanto se espera. E acho que você se conecta com bandas ao redor do mundo por fatores mais fortes, como a música, ao invés da nacionalidade, mas quando nos vemos é sempre divertido. Falando da pandemia novamente, como ela afetou o trabalho do Within Temptation? Foi difícil! No começo foi bom estar com a família em casa, mas demorou muito, a pandemia foi se alongando, e também teve o aspecto mental, que foi muito difícil. Então foi muito difícil para todos, principalmente escrever novas músicas.  Nós tínhamos, claro, lançado um álbum em 2019, que não faz muito tempo, e nós sempre levamos um bom tempo para escrever um novo álbum. Aliás, nós já tínhamos decidido que iríamos lançar músicas individualmente, pois ainda não tínhamos um álbum finalizado. Queríamos tentar este modelo ao invés do modelo mais tradicional de se lançar um álbum, então escrevemos a música, e dois meses depois a lançamos. O que foi muito refrescante, principalmente em meio a pandemia, mesmo tendo decidido isso antes da pandemia, e no final do ano que vem lançaremos um novo álbum.  Você acha que essa pandemia mudará de alguma forma a humanidade? Eu espero que sim, mas também acho que as pessoas se acostumam com algo e depois retomam seus antigos hábitos com muita facilidade. É legal pensar que as pessoas mudarão, e usarão essa oportunidade para mudar sua vida de alguma forma, especialmente para o meio ambiente.  Mas eu sou muito mais ligada a este tipo de coisa, não quero dizer às pessoas o que fazer, mas acho que está na hora de mudarmos o jeito como vivemos. Como comemos, como vivemos, como nos relacionamos com os animais, como fazemos tudo na verdade. Isso seria legal, sabe? Acho que algumas pessoas já pensaram nessas mudanças, mas não acho que maioria ainda iniciou essa mudança. Você mencionou sua preocupação com o meio ambiente. Você acha que isso cabe em uma música? Falar sobre as preocupações com problemas ambientais, você acha que isso se aplica? Nós fizemos isso

Entrevista | Jacob Hemphill (SOJA) – “Não estava lá para podar eles na criação”

A banda norte-americana Soja lançou nesta sexta-feira o álbum Beauty in the Silence, o primeiro em quatro anos. Junto com o disco, os integrantes também revelaram o videoclipe de Jump, em parceria com Slightly Stoopid.  “Jump é uma música sobre como a base real da experiência humana é a conexão, e eu adoro que Soja, Eric e Stoopid se juntem como pessoas que se conhecem há muito tempo”, disse o vocalista do Soja, Jacob Hemphill. “Estamos muito felizes em colaborar com o novo trabalho de Soja”, acrescentou o guitarrista e vocalista do Slightly Stoopid, Miles Doughty. “Fazemos shows juntos há anos e foi ótimo trabalhar em uma nova faixa juntos. Mal podemos esperar para arrasar ao vivo com os meninos nos próximos shows”. Jacob Hemphill conversou com o Blog n’ Roll, via Zoom, sobre a nova fase do Soja e contou mais sobre a gravação de Beauty in the Silence. Confira abaixo. Começando a falar sobre o álbum Beauty in The Silence, como foi o processo de gravação do Soja? Houve algum atraso por conta da pandemia? Talvez tenha atrasado, mas foi interessante, é uma boa pergunta. Então, nós já tínhamos cinco ou seis músicas gravadas, com as bases, o baixo, a percussão, teclados e etc. Mas aí se iniciou o lockdown, e nós ficamos preocupados de imediato, tipo “o que vamos fazer?”. Então o que acabou rolando é que descobrimos algo bem maneiro, que é que quando estamos gravando em um estúdio juntos, é ótimo, pois podemos trocar ideias e dar opiniões.  Porém, quando gravamos de maneira remota, não há ninguém pra lhe dizer sim ou não, e dentro desse processo acabei recebendo as melhores contribuições desses músicos que já ouvi. Acho que é exatamente pelo motivo de que não estava lá para podar eles no momento de criação. Pois eles poderiam tirar até um mês para trabalhar em uma música, até deixá-la perfeita.  Nosso tecladista, Patrick, estava mandando cinco, seis, sete linhas de teclado por música, ele as colocava em várias camadas. Então gostei da combinação, nós começamos ao vivo, se encontrando, depois seguimos caminhos diferentes e sonhamos coisas diferentes para aquela música.  O Soja em produzir mais coisas desse jeito? Eu curti muito, e quero continuar trabalhando com esse processo. Onde formamos um esqueleto juntos, e rascunhamos vocais, e depois nos separamos para cada um trabalhar em sua melhor apresentação, e na sequência podemos editar tudo e trazer algo novo.  Por exemplo, nós temos uma música, em que o saxofonista, Hellman, acho que ele mandou 25 sons diferentes no teclado da mesma linha, e nós apenas votamos em qual nós gostamos mais. Eu sinto que é ótimo iniciar em conjunto, mas também permitir que cada seja você ajuda muito no processo. Li que o Trevor Young também teve uma grande participação na criação do álbum, como foi essa participação? Trevor e eu meio que falamos durante uma hora no telefone todo dia, e ele é um melhor músico do que eu, na guitarra, no teclado, no geral. O que eu faço é compor e criar arranjos, então quando crio alguma coisa eu toco na guitarra, ou uso o gravador de voz do meu celular, e vou criando várias partes com a voz, (inicia a mostrar como seria um desses áudios tocando uma melodia com a voz) e quando termino eu envio para o Trevor e ele reproduz tudo que eu fiz no áudio, pois como eu disse, ele é melhor do que eu.  E ele também é um ótimo compositor, e me envia suas criações, e eu falo “não precisamos disso, precisamos mais disso”, então nós temos uma relação simbiótica, onde nós dois somos bons no que o outro faz, mas um de nós é melhor em determinado aspecto.  Meu trabalho é escrever letras e fazer melodias, e Trevor é bom nisso também, mas ele também entende mais sobre as ferramentas de edição e de gravação, e todos esses aplicativos de computador, ele é esse cara, ele é o mago. Isso é muito legal, então vocês se equilibram nesses quesitos, certo? Eu e ele fazemos algo muito específico juntos, não haveria eu sem ele, quer dizer, eu ainda estaria aqui, mas nós separados somos bem diferentes do que juntos. Falando sobre o nome do álbum, ouvi que é parte de um poema que seu pai lhe mostrou, certo? O que este poema significa pra você, e quão importante ele foi para a construção do álbum? O poema é basicamente como a vida não será fácil, o nome do poema é Desiderata, e não vou dizer ele todo, mas resumindo ele diz que a vida não será fácil, mas será linda. Em resumo, diz não olhe de baixo para pessoas acima de você ou se tornará invejoso, e não olhe de cima para pessoa abaixo de você ou se tornará só.  A chave da vida é olhar para as pessoas ao redor de ti, e valorizá-las, valorizar onde você está, pois você é sortudo, e merece estar neste planeta, e merece ter a experiência de viver, não se deixe contaminar pelo sentimento de que é incapaz ou de que deveria ganhar mais dinheiro, isto vai te afundar.  E meu pai me deu esse poema quando entrei na banda, e disse que eu deveria lembrar de cada palavra dele, e guardei cada palavra, e ele dá nome ao álbum Beauty of the Silence. As duas primeiras linhas do poema são: “Siga tranquilamente entre a inquietude e a pressa”, pois o mundo é assim barulhento e rápido, sempre dizendo “vá”, “consiga um carro, uma garota, dinheiro”. Então, “Siga tranquilamente entre a inquietude e a pressa, lembrando-se que há sempre paz no silêncio.” E eu o chamei (o álbum) de Beauty in The Silence (Beleza no Silêncio). Pra mim isso tem muito significado, pois toda noite, antes de deitar, eu vou para a janela e fico olhando para a lua, o céu, em silêncio, e dou muito valor a isso. O nome do álbum me dá arrepios pois é algo

Entrevista | Feng Suave – “Luxos são prejudiciais para a sociedade e natureza”

De Amsterdã, na Holanda, vem uma das mais gratas surpresas dos últimos anos, o duo Feng Suave, formado por Daniël Schoemaker e Daniël de Jong. Seguindo uma linha que transita entre o soul dos anos 1970 e chega ao indie pop moderno, mas antes passando pelo psicodélico e a bossa nova, eles já estão em seu terceiro EP, So Much For Gardening, lançado no fim de agosto. As quatro canções de So Much For Gardening evitam um único humor ou narrativa coletiva e, em vez disso, cada uma assume um tema próprio. Unweaving the Rainbow Forever é uma alusão divertida à catástrofe ambiental em curso, enquanto Come Gather ‘Round examina a ganância capitalista. Show Me torna as coisas mais lentas, contando uma história de dor emocional individual intransponível, enquanto Tomb For Rockets é, de acordo com a dupla, “meio que tudo isso acima, e meio que apenas uma canção de amor”. Com mais de 150 milhões de streams acumulados, Daniël Schoemaker e Daniël de Jong conversaram com o Blog n’ Roll, via Zoom, sobre o novo EP, o curioso nome da dupla, entre outros assuntos. Confira abaixo. Primeiramente, não tem como não falarmos sobre a origem do nome Feng Suave. Como surgiu esse nome? Claramente não são palavras da língua inglesa, mas a gente pronuncia da forma como lemos. O Suave nós pegamos do português. Eu vou muito a Portugal, e há alguns anos bebi uma garrafa de champanhe suave, e gostei da palavra, ainda mais quando vi o significado. Já o Feng, que na verdade se pronuncia “fong”, significa vento em mandarim. Então, começou como uma brincadeira e se tornou o nome da banda. Se a gente traduzir, fica Vento Suave, o que não é um nome ruim (risos). Como foi o processo de gravação de So Much For Gardening? A pandemia atrapalhou de alguma forma? A pandemia, por sorte, não atrapalhou o processo de gravação. Basicamente, eu e o Dan fizemos as demos no computador, depois fomos até o estúdio de ensaio com a banda inteira e demos vida às demos. Gravamos tudo ao vivo para ser mais orgânico, com todos os instrumentos sendo tocados ao mesmo tempo. Foi um processo muito bom e muito agradável, principalmente por não termos precisado ficar presos cada um em seu laptop por semanas, como geralmente é. Foi bem legal estar no mesmo ambiente que a banda, tocando e fazendo música. O que mais o inspirou no processo de composição? Não existe um tema específico nas músicas. Cada uma foi inspirada em alguma coisa diferente. Por exemplo, um dos nossos singles surgiu de quando fui ao zoológico. Eu estava passando pela rua, em Amsterdã, e vi alguns animais de longe, e comecei a pensar o quão insano era ver aqueles animais ali. Aqueles animais não deveriam estar a cinco minutos de um supermercado no meio da cidade. É doideira. Foi um acontecimento que me inspirou. É nítido que o Feng Suave consegue trabalhar muitas influências na sonoridade, entregando algo original. O que vocês têm escutado? Nós pegamos influências de artistas dos anos 1960 e 1970, além de artistas contemporâneos que fazem esse tipo de música. Eu gosto muito de bossa nova, folk rock americano. Gosto dessas músicas de compositores clássicos. Você citou a bossa nova com uma das influências. Vocês escutam artistas brasileiros? Com certeza! Acho que a língua portuguesa é ótima para se cantar. Gosto muito de Caetano Veloso, Erasmo Carlos, Gal Costa… eu estava escutando Que Pena (com Jorge Ben Jor e Gal Costa) hoje mesmo. Acho brilhante como o Brasil tem gêneros musicais únicos e completos. Amo o fato de vocês serem uma nação bem musical. Come Gather Round, uma das faixas do EP, traz uma crítica forte e necessária. Fale um pouco sobre essa canção. Essa é uma pergunta muito boa, porque é fácil criticar algo e não ter uma solução para isso. Obviamente, uma música não é a melhor mídia para esse tipo de crítica. Eu estava com um pouco de medo de fazer uma música criticando sem dar nenhuma solução. Eu não tenho uma, inclusive. Mas, no geral, acho que a riqueza do mundo é mal distribuída, e isso é inaceitável. Há muita riqueza desnecessária também. Luxos que são prejudiciais para a sociedade e para a natureza. Além disso, também é ruim ver como a sociedade é imprudente e gasta recursos naturais sem dó. Não tenho uma grande solução. Acho importante taxar riquezas para ajudar a acabar com a pobreza. So Much For Gardening traz uma vibe tranquilizante. É o EP certo para muitas atividades relaxantes. Era essa a proposta da Feng Suave? Esse é o sentimento. Eu gosto quando a música soa bem. É importante fazer com que a música tenha efeito positivo em quem está escutando. Adoro caminhar, pedalar e dirigir ouvindo música, e é isso que quero adicionar no mundo, sabe? Também adoro explorar os contrastes de ter uma melodia legal e uma letra que não seja só sobre amor ou coração partido. Aliás, gosto de explorar essas outras coisas, como os animais no zoológico ou os problemas do capitalismo.

Entrevista | Robin Zander (Cheap Trick): “depois desse álbum, certamente vem outro”

Quase 50 anos depois do início da carreira, o Cheap Trick mostra que é possível seguir lançando álbuns em alto nível. O mais novo é In Another World, o vigésimo de estúdio de Robin Zander e companhia, que chegou ao Brasil via BMG na última sexta-feira (9). Aliás, os primeiros versos de The Summer Looks Good on You, faixa que abre o álbum, já mostram que a energia segue lá em cima. Em resumo, rock and roll dançante e com refrões poderosos. O Cheap Trick não perdeu sua essência. Contudo, o guitarrista e fundador do Cheap Trick, Rick Nielsen, resumiu bem esse sentimento dos integrantes. “Nós somos irresponsáveis o suficiente para não desistir. Amamos nos unir e tocar. No nosso primeiro disco eu dizia ‘tenho 30 anos mas sinto como se tivesse 16’. E bem, ainda me sinto assim… Pelo menos até a realidade me alcançar. Mas quando toco, me sinto o cara mais jovem do mundo”. Fundado em 1974, o Cheap Trick atualmente conta com sua formação quase inteiramente original. A exceção é o baterista Bun E. Carlos, que foi substituído por Daxx Nielsen, filho de Rick. Robin Zander (voz, guitarra base) e Tom Petersson (baixo) seguem desde o início na linha de frente. Além dos explosivos singles Light Up The Fire e Boys & Girls & Rock N Roll, o álbum conta com uma versão da clássica Gimme Some Truth, de John Lennon, com a participação especial de Steve Jones (Sex Pistols) nas guitarras. O vocalista Robin Zander conversou com o Blog n’ Roll, via Zoom, sobre o novo álbum, influências, Brasil, além de ter dado dicas para as bandas que estão começando. Confira abaixo. Robin, como foi o processo de criação de In Another World? Nós fizemos o álbum quase todo no estúdio. Às vezes nós fazemos isso porque cria um som espontâneo, que geralmente tem mais energia do que quando você pensa demais em algo. Algumas coisas foram escritas antes, naturalmente, mas a maior parte foi adicionada já no estúdio. O Cheap Trick já carrega quase 50 anos de carreira nas costas. Qual foi o pior momento para vocês? E como acertaram o rumo? A pior parte da nossa carreira foi em 1981, depois que lançamos All Shook Up (1980). Foi quando o Tom saiu da banda (ficou fora até 1987) e formou uma outra banda, chamada Another Language. Depois disso, a gente não sabia exatamente o que fazer. Posteriormente, o Roy Thomas Baker, famoso produtor do Queen, salvou nossa carreira. As apresentações ao vivo do Cheap Trick são notórias e lendárias. Como está sendo esse período sem turnês para vocês? Nossas performances ao vivo ainda existem. Sempre nos consideramos uma banda viva. Já fizemos mais turnês do que qualquer outra banda que consigo pensar agora. E continuamos gravando novos álbuns, o que é algo único para bandas que começaram na mesma época que nós. Vocês continuarão gravando álbuns de estúdio? Estamos sempre gravando. Eu estou cercado por gênios. Cheap Trick sempre teve essa qualidade. Robin, qual é a chave para esse sucesso do Cheap Trick? É uma mistura de tudo. De todos os rapazes da banda, com tudo que crescemos escutando, com nossas influências… nós roubamos dos melhores. O que domina esse caldeirão de influências de vocês? Eu diria que o Rolling Stones, The Who, Queen, The Beatles e (Jimi) Hendrix. Mas principalmente dessas bandas da invasão britânica. Impressiona a consistência da discografia da banda. Sabemos que geralmente, a banda considera o seu último trabalho como o melhor da carreira. Você compartilha desse pensamento? Eu tenho esse sentimento também. O mais recente é sempre o melhor. Eu o recomendaria para novos fãs, claro. A pandemia deixou muitas bandas novas desanimadas por conta das restrições. Qual conselho você dá para esses músicos? Não desistam. Se é algo que vocês gostam de fazer, simplesmente não desistam. O Cheap Trick sempre foi uma banda com um astral lá em cima, esperançosa nas letras. A pandemia mudou isso, Robin? Nós não pensamos muito no que está acontecendo no mundo. As letras saem naturalmente, na verdade. Como foi o período de isolamento para vocês? Foi assim como foi para você. Isolamento é uma faca de dois gumes, porque te dá a oportunidade de olhar para si mesmo. Eu finalmente consegui ter tempo para minha esposa depois de 27 anos, pelo menos. Acredita que o mundo será um lugar melhor após a pandemia? Acho que sim. Essa é uma experiência de morte para o mundo. Nunca se falou tanto de mortalidade. E é algo que não vai embora se não revidarmos. Estamos no meio dessa batalha. Mas, ganhamos novas munições a cada semana. Sempre surgem com coisas novas que podem ajudar. Nós todos temos que ser responsáveis, usar máscara, manter o distanciamento, evitar aglomerações… até que isso acabe, temos que ser responsáveis. Acho que se lutarmos sério contra isso por mais um ou dois meses, podemos vencer. Talvez não a ponto de voltar ao normal, mas o suficiente para que possamos aproveitar a vida novamente. Como é o desafio de promover o álbum com as casas de shows fechadas? Acho que isso é um desafio positivo. O streaming é algo novo e que ajuda muito. Além disso, existem projetos de shows em estádios para pessoas em suas casas. Várias telas com um público participando pelo Zoom (risos). Em 2016, vocês entraram para o Rock and Roll Hall of Fame. Como receberam essa homenagem? Depois de 25 anos, você se torna elegível para entrar no Hall da Fama. Os anos vão se passando, e você sempre acha que pode ser seu momento, até que vai perdendo a esperança. Mas, de repente, você recebe uma ligação dizendo que você está dentro, e toda a espera é perdoada. Imaginava ser tão grande e relevante um dia, Robin? Não. É uma honra que as pessoas ainda contratem a gente para lançarmos novos álbuns. Na nossa idade, estar na ativa significa que estamos fazendo algo certo. Música é o que amamos, então a gente vai

Entrevista | Richie Kotzen: “Adrian e eu temos pensamentos em comum e outros diferentes”

Dois grandes guitarristas unidos em um projeto de tirar o fôlego. Adrian Smith e Richie Kotzen estrearam o álbum Smith / Kotzen, projeto gravado nas Ilhas Turcas e Caicos, um pouco antes do início da pandemia. Composto por nove faixas, Smith / Kotzen é uma perfeita colaboração entre os dois músicos altamente respeitados que escreveram todas as músicas, compartilharam os vocais principais e também trocaram as funções de guitarra e baixo ao longo do disco. Repleto de melodias e harmonias poderosas, o disco incorpora a atitude espirituosa do rock clássico dos anos 1970 com um caldeirão de influências que vão do blues, hard rock, R&B tradicional e mais, misturando as origens e experiências de cada um do par para resultar em um som totalmente contemporâneo. Kotzen conversou com o Blog n’ Roll sobre a parceria com o guitarrista do Iron Maiden, carreira, gravação do álbum na ilha, Brasil e lockdown. Confira o papo abaixo. Como surgiu essa parceria com Adrian Smith? Nós nos conhecemos há uns nove ou dez anos. É difícil dizer exatamente como nos conhecemos, porque em Los Angeles você vê e conhece pessoas com frequência. Mas, ao longo dos anos, nossa amizade foi crescendo, nossas esposas ficaram amigas, e sempre falamos muito sobre música. E sempre nos feriados, a gente se encontrava para fazer uma sessão e tocar algumas músicas. Mais recentemente, em uma dessas sessões, alguém sugeriu que eu e o Adrian tentássemos fazer uma música juntos. E, felizmente, isso aconteceu, e hoje estamos aqui. O que permeou a montagem desse set? Todas as músicas são idênticas… brincadeira (risos). As faixas me lembram muito aquele rock clássico que cresci ouvindo. É um álbum agradável, que tem um flow muito bom. É um daqueles álbuns legais de rock clássico, e cada música tem sua personalidade. O single Taking My Chances é uma faixa forte, que queríamos mostrar primeiro, mas todas são importantes. Você percebe que as canções são da mesma banda, mas a vibe muda, claro. Cada música representa nosso sentimento quando as escrevemos. Como foi gravar o álbum em uma ilha paradisíaca do Caribe? Cara, isso foi muito divertido. Eu nunca tinha ido para lá. É um lugar lindo, tropical, com um mar maravilhoso. Foi incrível! O único problema foi que eu não queria fazer nada além de ficar deitado na praia (risos). Tivemos alguns dias de folga, e depois começamos os trabalhos. Foi bem legal, e gostei muito de ter feito dessa forma. Espero que o próximo seja assim também. Tiveram problemas na hora de voltar por conta da pandemia? Não tivemos problemas, porque saímos de lá antes de tudo começar por aqui. Eu lembro que tive minha festa surpresa de aniversário em Las Vegas, depois fiz shows em um cruzeiro em Miami, e em seguida encontrei o Adrian para gravarmos o álbum. Quando terminamos, já estávamos planejando a turnê mundial e marcando os shows. Nossa ideia era lançar o álbum em março ou abril de 2020 e começar a turnê logo em seguida. Mas, obviamente, a pandemia chegou e tudo isso mudou. Como estão os planos para a divulgação de Smith / Kotzen com esse impedimento? Estamos fazendo o que podemos. Divulgamos algumas músicas, o álbum completo está pronto para ser lançado, estamos dando muitas entrevistas e contando nossa história. Eu sou um cara das antigas, então não vejo a hora de poder tocar ao vivo. No Texas, por exemplo, eles liberaram shows, então talvez a gente faça uma turnê por lá. O lockdown dificultou algo em sua vida? Para mim, não foi tão ruim como para muitas pessoas. Eu sou grato por ter conseguido descansar um pouco, porque precisava de um tempo livre. Quando você é um cara como eu, se te oferecem três semanas de shows da América do Sul, você vai. Ou então, meses na Europa, eu vou também. Então, é difícil dizer não quando essas oportunidades surgem. Eu não queria tirar essa folga, mas senti uma tranquilidade quando as coisas pararam. Claro que odeio a covid-19, obviamente, mas ficar em casa nesse lockdown funcionou para mim. Voltando ao álbum, como foi cruzar as influências de vocês dois? Adrian e eu temos pensamentos em comum e pensamentos diferentes. Por exemplo: nós dois amamos bandas clássicas de rock. Mas, por outro lado, eu também gosto de alguns elementos, e o Adrian de outros, como jazz e blues. Eu não curto tanto, mas tenho muita influência do soul e do r&b. E isso foi bom, porque tivemos muitos pontos onde nos conectamos bem, e outros que nos ajudaram a trazer algo diferente para o álbum. Você é um cara com muita bagagem no rock, ainda mais pelas passagens pelo Poison e Mr Big. Acredita que ainda carrega algo dessas vivências no seu som? Todas as coisas que você faz como músico ajudam a formar suas características. Para mim, eu não sei ao certo o que aprendi com cada membro de cada banda que passei, porque são anos na estrada, e períodos relativamente curtos com as bandas. Mas, certamente, para um cara jovem que tocava na garagem, tocar com outros grandes artistas e interagir com eles é um aprendizado enorme. Conheci muita gente gigante, e essas pessoas me ensinaram muitas coisas que começaram a fazer parte da minha personalidade musical. Você tem uma relação legal com o Brasil, certo? Brasil é um dos lugares que mais gosto de visitar e tocar. Sempre tenho experiências incríveis quando vou ao Brasil, com ótimos públicos e pessoas apaixonadas por música. Minha esposa é brasileira e a conheci em São Paulo. É um lugar importante para mim, e espero voltar logo. Já aprendeu a falar em português? Só frases ridículas e palavrões (risos). Mas vou parar de ser preguiçoso e tentar aprender algo útil.

Entrevista | Mark Jansen (Epica): “Temos que mudar principalmente nossa humanidade”

Depois de cinco anos sem um álbum de inéditas, a banda holandesa Epica, enfim, presenteia os fãs com uma novidade. O oitavo disco de estúdio de Simone Simons, Mark Jansen e companhia, Omega, foi lançado no fim de fevereiro e traz 12 músicas divididas em 70 minutos. Dentre as canções está a continuação antológica de Kingdom of Heaven, com pouco mais de 13 minutos. O metal sinfônico de Simone Simons (voz), Mark Jansen (guitarra e gutural), Isaac Delahaye (guitarra), Coen Janssen (sintetizadores e piano), Ariën Van Weesenbeek (bateria) e Rob Van Der Loo (baixo) segue com uma referência mundial. Aliás, sem esquecer os fãs brasileiros, a Epica aproveitou o lançamento do álbum para presentear os apaixonados pela banda com novidades. Em resumo, a turnê Ωmega BrasileirΩ e a loja pop up na Galeria do Rock, em São Paulo, com produtos exclusivos. O guitarrista Mark Jansen conversou com o Blog n’ Roll sobre a produção de Omega, os desafios e a ligação com o público brasileiro. Confira o resultado abaixo. A pandemia atrapalhou de alguma forma o processo de criação de Omega? Nós demos sorte porque todo o processo de composição foi feito antes da pandemia. Até mesmo boa parte das gravações foi feita antes das coisas ficarem severas. As coisas começaram a entrar em lockdown justamente quando eu e a Simone íamos começar a gravar os vocais. Então, eu tive que gravar minha parte do meu estúdio caseiro, o que não foi um problema, porque tenho todo o equipamento necessário. Já a Simone alugou um estúdio perto da casa dela na Alemanha, e tudo caminhou bem. Não tivemos grandes problemas com a pandemia enquanto estávamos trabalhando no álbum. Como foi a comunicação entre os integrantes da banda na pandemia? Nós já fazíamos reuniões virtuais antes da pandemia, porque moramos em países diferentes. Temos três caras na Holanda, um na Bélgica, a Simone na Alemanha e eu na Itália. Então, temos muitas reuniões assim o tempo todo. Claro que o lockdown atrapalhou, principalmente porque algumas coisas precisavam ser feitas pessoalmente, mas não pude comparecer porque a Itália está muito fechada até hoje. E lançar o álbum sem poder fazer turnê? O quão complicado é isso? Nós discutimos se seria válido lançar o álbum sem poder sair em turnê na sequência. Eu sempre tive uma crença grande de que deveríamos lançar, sim. Porque se você atrasar o lançamento por mais um ano e meio, ainda tem o risco de não poder fazer turnê da mesma forma. Então não faria sentido ficar esperando o momento certo, até porque as pessoas precisam de novas músicas para enfrentar esses tempos difíceis. Não poder fazer turnê é uma pena, mas tem coisas mais importantes na vida. Você imagina que o mundo será muito diferente pós pandemia? Sim, acho que o mundo vai ser diferente. Essa situação aumentou muito a preocupação das pessoas e causou muito trauma. Vamos sentir isso no futuro. Temos que mudar as coisas, principalmente nossa humanidade. Temos que entrar em equilíbrio com a natureza e reencontrar nosso lugar no mundo. Se você encurrala a natureza, ela revida, e isso vai acontecer. Temos que achar mudanças para um futuro melhor. Por falar em natureza, vocês têm uma ligação especial com lobos, certo? Nós temos uma música que fala sobre lobos para apoiar a fundação que os protege. Para nós, foi algo ótimo, porque já fizemos diversas campanhas, e sempre que podemos ajudar pelo menos um pouquinho, podemos ajudar o mundo a ficar ligeiramente melhor. Se todos fizerem o mesmo, a diferença será enorme. Essas ações motivam o público? Acredito que sim! Converso com muitas pessoas online que me perguntam sobre esses projetos e se mostram interessadas. Não tem problema as pessoas não apoiarem a mesma causa dos lobos, mas ajudar qualquer iniciativa que ajude animais é algo lindo. Omega ainda traz um bônus com faixas acústicas, certo? Nós sempre tentamos fazer faixas extra para cada CD. Tentamos aceitar o desafio de fazer versões diferentes de algumas músicas. Não só acústico, mas também com uma atmosfera totalmente diferente. Nessas faixas, quando você escuta, sente uma vibe diferente. É bem legal fazer algo totalmente novo a partir de uma outra música. Como estão os planos futuros da Epica? É difícil dizer quanto tempo isso tudo ainda vai durar, mas eu tento ser otimista. Quando tudo isso for resolvido, espero que as pessoas assumam uma posição de mudança. Eu tenho muita esperança nisso. Então, acho que tudo acontece por uma razão. Tempos de caos vêm para mudar a forma como as pessoas veem as coisas. Acredito que daremos um passo como humanidade. Mark Jansen, quer deixar uma mensagem para os fãs brasileiros? Primeiro, quero desejar saúde para todos e para todas as famílias. Sei que a situação está ruim por aí, sei que falta oxigênio em hospitais, e isso é muito devastador. Desejo muita saúde e quero dizer para que tentem apoiar uns aos outros nesses tempos difíceis. Mesmo sem poder visitar, podemos ligar, mandar mensagem… isso é crucial.

Entrevista | Niklas Almqvist (The Hives) – “Tentamos imitar o show ao vivo ao máximo”

A banda sueca The Hives iniciou na última quinta-feira (21) sua primeira turnê virtual mundial. E, após passar por Berlim (21), Nova York (23) e Sydney (28), chegou a vez de São Paulo. Isso mesmo, o grupo se apresenta para o público brasileiro nesta sexta-feira (29), às 20h. Os ingressos estão à venda no site e custam US$ 17,50 (R$ 94,00). O guitarrista do Hives, Niklas Almqvist, conversou com o Blog n’ Roll sobre os shows, pandemia, adaptação para a turnê virtual e futuros planos. Confira abaixo a nossa conversa com o músico. O Hives tem um dos shows mais eletrizantes no mundo, e agora vocês estão iniciando uma turnê virtual mundial. Como foi a adaptação para transmitir a energia do show de maneira digital? Foi a parte complicada, mas foi onde tivemos que mudar nosso jeito para meio que encontrar uma solução de como fazer isso. Nós já fizemos apresentações gravadas, onde você tem câmeras de TV e nós editamos antes, mas não é a mesma coisa que fazer um show e interagir com o público. O que acontece agora é que tentamos imitar o show ao vivo ao máximo, adicionando elementos que darão a sensação de um show ao vivo, para nós e para o público. Tipo, nós vamos direcionar para alguém, esta é a razão para fazermos shows para diferentes cidades ao invés de um para o mundo todo. Nós queremos poder mandar um “hey São Paulo, como estão?”. E as pessoas em São Paulo dirão “estamos bem”, ou “toquem mais rápido”, o que quiserem dizer. Então há várias soluções que nós trouxemos para que essa turnê seja algo diferente de uma transmissão ao vivo comum. As pessoas poderão interagir, ligar para nós, esse tipo de coisa, sabe? Muito legal. Eu soube que as músicas serão selecionadas por votação popular. As opções de voto incluirão todos os álbuns ou serão restritas a períodos específicos da banda? Teremos muitas músicas, nós ensaiamos muitas músicas, e aí então fazer o set list do show. Mas acho que serão duas músicas por show que poderão ser escolhidas por voto popular, em cada território. Eu acho que você poderá escolher três músicas dentre várias, e as duas mais populares nos serão entregues em um envelope durante o show. Bem, nada é difícil para os Hives, mas no meio de uma pandemia não é como se tivéssemos ensaiado o tanto quanto gostaríamos. Então será difícil que peçam por qualquer música e nós conseguiremos tocar. Não seria uma performance digna de uma das melhores bandas ao vivo do mundo, então tocaremos as que ensaiarmos. Vai ser incrível. Quais as memórias que você possui do público brasileiro? Bem, eu acho que a minha coisa favorita no público brasileiro é o entusiasmo, me parece que eles levam música muito a sério, e são muito emotivos. E é o mesmo, seja dentro ou fora de um show. Falando agora sobre a pandemia, a Suécia, assim como o Brasil, tem tomado atitudes controversas em relação ao modo de combater o vírus. Acredita que a Suécia lidando bem com a pandemia? O que você mudaria em toda esta situação? Eu não mudaria nada, eu não sou médico, nem cientista, isto é algo que está muito além do meu alcance para eu dar uma opinião. Eu acho que as decisões deveriam ser tomadas por pessoas que sabem com o que estão lidando. Então, minha opinião é inútil. Na verdade, a única opinião que eu tenho é que eu sou grato por nossa sociedade ser livre para ir e vir, se eu quiser ir ao mercado eu posso, meus filhos vão para a escola, essas coisas. Claro que devemos manter distanciamento social, o governo proibiu aglomerações e coisas assim. Meus amigos de fora, acham que na Suécia está completamente aberta, o que não é verdade, existem restrições. Mas eles mantiveram as escolas primárias abertas, eu não vejo razão para isso, mas como eu disse, minha opinião é inútil, pois não sou cientista, nem médico, então não saberia o que mudar. Eu poderia dizer que quero ver futebol ao vivo, coisas assim, mas eu talvez estaria sendo um idiota por dizer isso, porque no fim do espectro existem pessoas morrendo, então acredito que estão fazendo o melhor que podem. Por exemplo, caso eu morasse na Finlândia, eu viveria de acordo com o que os finlandeses decidiram. Se eu vivesse no Brasil, idem. Então é uma pergunta para médicos e cientistas, não músicos de rock. Eu também sinto falta de futebol. Bem, era só um exemplo. Na verdade, o circuito de Esqui Cross-country está acontecendo, então vou assistir isso. Não tem neve aqui no Brasil. Seguindo, a pandemia também trouxe à tona a discussão sobre saúde mental. Você acha que a música pode ser um bom medicamento? Sim, a música mudou a minha quando eu era novo, por isso tenho o trabalho que tenho, pois quando era muito novo me apaixonei pela música e isso mudou minha vida. Provavelmente sou uma pessoa diferente da qual eu seria sem música. E, sei que realmente muitas pessoas já disseram de forma genuína, que este artista, esta música, ou esta letra, salvou a vida delas. Então, eu com certeza acho que a música pode salvar vidas, ou algo tão grandioso que te ajude a achar propósito, é muito poderoso para mim. No início da pandemia, quando todos tiveram que ficar em casa, você utilizou este tempo para produzir? O que você fez? Tentou trabalhar mais? Sim, foi o trabalho. Eu estava trabalhando em novas coisas do Hives. Eu fiquei na minha casa, no meu home studio, trabalhando em novas coisas. Nós todos fizemos a mesma coisa, era tudo que poderíamos fazer. No início não era permitido viajar na Suécia, mas depois, se quiséssemos poderíamos ter nos reunido para ensaiar e tal. Mas decidimos não fazer isso, pois tínhamos a opção de não fazer, então trabalhamos em muitas novas músicas. Atualmente estamos trabalhando em dois álbuns completos, e meio que iniciando um terceiro. Então temos

The Neighbourhood toca hits e inéditas em show virtual exclusivo para o Brasil

Os fãs brasileiros do The Neighbourhood puderam matar a saudade da banda na última sexta-feira (11). Em um show virtual pago, o quinteto de Los Angeles fez uma performance que mesclou grandes sucessos de álbuns anteriores, e ainda apresentou canções de seu novo disco, Chip Chrome & The Mono-Tones, lançado em setembro. Mesmo à distância e sem o calor que o público proporciona em um show ao vivo, The Neighbourhood fez uma apresentação fiel ao que costuma mostrar nos palcos pelo mundo. Liderado pela intensidade do vocalista Jesse Rutherford, o grupo tocou de forma intimista e, ao mesmo tempo, enérgica, se aproveitando dos efeitos que a internet proporciona para tornar a performance ainda mais conceitual. E todo esse conceito começou com a disposição de cores para cada música. Em preto e branco, a banda tocou sete faixas de seus quatro primeiros álbuns. Foram elas: How, Afraid e Sweater Weather, do I Love You (2013), Warm, do #000000 & #FFFFFF (2014), R.I.P. 2 My Youth e Daddy Issues, do Wiped Out! (2015), além de Stuck With Me, do Hard to Imagine The Neighbourhood Ever Changing (2018). Em todas, Jesse interagiu com os demais membros da banda e se pendurou diversas vezes em um microfone suspenso, como ele costuma fazer nos shows. Até esse ponto, a apresentação mantinha o padrão do que o grupo mostrou em São Paulo, no ano passado. Chip Chrome & The Mono-Tones em cena Porém, a partir da oitava música, o álbum Chip Chrome & The Mono-Tones entrou em cena. Já em cores, mas com efeitos oitentistas, Jesse Rutherford deu espaço a Chip Chrome, seu alter ego. Inspirado no lendário Ziggy Stardust, do David Bowie, Chip Chrome é o complemento que Jesse precisava para encontrar sua total identidade. Anteriormente, em entrevista ao Spotify, inclusive, o vocalista afirmou que seu personagem o ajudou a definir a própria voz. Assim, pintado de tinta prateada dos pés à cabeça, juntamente com Brandon, Zach, Jeremy e Mikey, Jesse… ou melhor, Chip Chrome tomou conta dos holofotes e engatilhou seis faixas do novo álbum. Entre elas, destaque para Lost in Translation e Devil’s Advocate, que são potencialmente as melhores canções do disco. Ao vivo, então, deverão agradar ainda mais. Logo depois, The Neighbourhood voltou aos clássicos e tocou Cry Baby e The Beach, para delírio dos bem aventurados que desembolsaram US$ 7 (cerca de R$ 36 na cotação atual) para acompanhar o show virtual. Aliás, nas redes sociais, as poucas críticas eram destinadas à instabilidade do site onde a apresentação foi exibida e ao fato da performance não ser ao vivo. Tiro curto Assim como nos shows que já fez pelo Brasil, The Neighbourhood não apresentou um longo repertório. Com apenas 55 minutos de exibição, a banda fez o básico para agradar, mas ficou longe de encantar. O fato de ter sido apenas um show virtual torna a duração compreensível, mas é importante que, com cinco bons álbuns de estúdio lançados, o grupo passe a aumentar seu repertório para não frustrar os fãs em futuras apresentações, principalmente no cenário pós-pandemia. Versão deluxe Também na sexta-feira, além do show, The Neighbourhood lançou a versão deluxe do álbum Chip Chrome & The Mono-Tones. A extensão contém quatro faixas extras, e está disponível nas principais plataformas de streaming. Setlist HowR.I.P. 2 My YouthAfraidWarmSweater WeatherDaddy IssuesStuck With MeMiddle of SomewherePreety BoyCherry FlabvouredLost in TranslationHell or High WaterDevil’s AdvocateCry babyThe Beach

Entrevista | The Velvicks: “A cena de NY tem umas cinco bandas por noite, sem cover”

The Velvicks

No início do século 21, pouco antes do terrível ataque às torres gêmeas do World Trade Center, Nova York foi palco para várias bandas estourarem. The Strokes, Interpol, LCD Soundsystem e Yeah Yeah Yeahs foram algumas delas. De lá para cá, uma nova safra sempre é aguardada pelos fãs. Atualmente, no cenário nova iorquino, tem uma banda se destacando. E o curioso é que ela é formada por músicos brasileiros. A The Velvicks escolheu o Brooklyn como QG e de lá saiu com o EP de estreia, Run, que traz cinco composições autorais e em inglês. “A gente teve banda antes e, enfim, a vida trouxe a gente pra cá, com a nossa formação. Acabou todo mundo em Nova York no mesmo tempo e espaço. Começou a ter um hangout nosso, tempo e disposição, e começar a fazer música, foi inevitável. Algumas festas na casa virou o que você está ouvindo aí”, comenta o vocalista e guitarrista, Vick Nader. Baterista do Velvicks, Edu conta que em um determinado momento bateu uma ansiedade maior para estar no palco. “A gente precisava tocar num palco novamente senão ficaríamos louco, sabe? Nessa época, eu estava morando em New Jersey e era mó rolo para chegar em Nova Iorque. Acabamos pegando essa casa aqui no Brooklyn e foi numa época que estava todo mundo no hype, fazendo festa de segunda a domingo. Tinha um porão e a gente botou um monte de instrumento lá, não era nada isolado, enquanto a gente tocava dá pra você escutar três quarteirões (risos)”. Influências Apesar do rock puro que o grupo apresenta, Edu conta que as influências dos integrantes são bem distintas. “O legal dessa banda é que cada um tem uma influência bem distinta do outro. Por mais que a gente curta as mesmas bandas, o que a gente escuta diariamente é um pouco diferente. Pelo que eu sei do Vitão, ele tem umas bandas mais 1990, R.E.M, Nirvana, um monte que também são do grunge. Eu curto 1990 de cabo a rabo também, só que eu escuto desde o metal até umas coisas diferentes. Vinão (guitarrista) tem muita influência de Jimi Hendrix, também”. Lockdown da Velvicks Uma das canções mais comentadas de Run, o EP de estreia da Velvicks, é LDNYC (Lockdown NYC), que tem um título autoexplicativo. “Ela foi a última música a ser feita, poucas semanas antes do lançamento do EP, então a gente meio que adaptou para ela entrar, coisas técnicas. Existe uma melancolia na música, mas com power. Foi no 13º dia da quarentena que ela saiu, logo no começo, então foi quase que nossa resposta, saca? Se a gente deixar a parada tomar conta, ferrou”, comenta Vick. Sobre estar baseado no Brooklyn, a Velvicks revela que existem algumas peculiaridades interessantes no bairro. “É difícil caracterizar um estilo de música que seja próprio daqui. Teve muitas fases do rock indie, independente, começo dos 2000, tipo Strokes que saiu daqui e estourou, mas tem tudo que é tipo de banda saindo daqui, a todo momento. Acho muito da hora, é muito qualitativo. Você pode tocar com a pessoa e dois meses depois ela está no Coachella”, explica Vinny. Comparação com o cenário paulistano Para Vick, a cena alternativa de Nova Iorque tem uma diferença importante na comparação com São Paulo. “Existe lugares, nichos para você tocar em qualquer dia da semana aqui, isso foi onde a gente baseou a nossa banda pra crescer. Quando estava em São Paulo era difícil você achar um lugar pra tocar com tanta frequência”. Já Edu, acredita que o número de bandas é algo que salta aos olhos em um primeiro momento. “A diferença da cena brasileira para a daqui, falando só de Nova Iorque, é o número de bandas. Tem muita banda tocando ao mesmo tempo. Por exemplo, o que acho mais legal da cena de NY é que todo bar tem no mínimo umas cinco bandas por noite, todas originais, sem cover. Isso é a coisa mais importante que tem, a valorização por música original, e eles sabem disso. Se você fizer a sua música e a galera curtir, vira uma ideia para o futuro, as coisas começam a andar. Lembro que estava no Brasil e eu fazia muito cover, aqui eles têm uma exigência maior, compõe a sua parada e deixa os outros lá (risos)”. *Texto e entrevista por Lucas Krempel e Caíque Stiva