Você pode não conhecê-los por nome, mas a dupla de pop rock sueca Marie Fredriksson e Per Gessle conquistou o mundo com Roxette. A banda contribuiu para a popularização da Suécia no mundo da música pop, junto a nomes como ABBA (essa em décadas antes) e Ace of Base, emplacando hits por várias rádios ao redor do mundo.
A palavra “sucesso” já era conhecida por ambos quando formaram a banda. Tanto Marie quanto Gessle se destacavam na cena musical sueca quando se conheceram, em 1979. Na voz e guitarra, Gessle integrava o grupo pop sueco Gyllene Tider, que publicou cinco discos e teve boas vendas em seu país de origem. Enquanto isso, Marie atuou em grupos medianos até embarcar em carreira solo.
O primeiro contato profissional da dupla veio quando Marie aceitou cantar em Puls (1982), terceiro álbum da banda de Gessle. Sua participação rendeu ao grupo seu primeiro prêmio Rockbjörnen, conhecido como “Urso do Rock”, uma premiação musical importante da Suécia. Neste ano, a Gyllene Tider venceu como Melhor Grupo Sueco, impulsionando as expectativas de Marie e Gessle sobre o futuro de suas parcerias.
A banda Roxette surge em meio a gravações de álbuns solo de ambos os artistas, que estavam empenhados em conquistar o mercado norte-americano. A ideia de gravar um single juntos em inglês surgiu justamente neste momento: lançado no final de 1986, Neverending Love alcançou o Top 10 sueco, ultrapassando todas as barreiras alcançadas até então pelos dois.
Juntos, gravaram um álbum completo com músicas escritas por Gessle: o sucesso de Pearls of Passion (1986) na Suécia foi tão grande que a banda alcançou outras rádios europeias com facilidade, especialmente com o segundo single Goodbye to You emplacando o topo das paradas.
A química entre Marie e Gessle é um de seus principais atributos como banda. Em canções como Dangerous (1988), The Big L (1991) e Almost Unreal (1994), as vozes se encontram e se misturam de forma natural e autêntica, com os vocais potentes de Marie e a voz ousada e rasgada do parceiro. A atitude é outra forte qualidade, pois ambos se encontram tanto em estilo visual quanto em postura, garantindo uma interação poderosa que embala videoclipes divertidos e “perigosos” como o de Dressed for Success (1988).
Ícone da dupla, Marie Fredriksson é um modelo perfeito da estrela do rock. Sua carreira decolou tanto sozinha como em seus trabalhos com a Roxette, vencendo prêmios importantes como o Grammis de Melhor Artista Feminina de Pop/Rock, uma sequência de prêmios e indicações Rockbjörnen, entre outros. Ela estudou música aos 17 anos em uma escola profissional, mas foi na prática com suas primeiras bandas, Strul e MaMas Barn, que conseguiu destaque. Com amplo senso empreendedor, Marie expandiu as fronteiras de sua música cantando em inglês, espanhol e sueco, além dos toques de pianos e guitarras em suas melodias.
Sua voz conquistou parcerias poderosas no mundo do entretenimento, aumentando suas chances de crescimento profissional. Com o apoio de Gessle em Roxette, Marie obteve maior receptividade fora da Europa, garantindo que a dupla alcançasse o merecido sucesso global.
Com uma discografia ampla e versátil, Roxette passou entre baladas românticas que encantaram as rádios de todo o mundo até as mais divertidas músicas pop, trazendo um toque roqueiro de muito bom gosto ao universo mainstream. Seu sucesso global engrenou definitivamente com o álbum Look Sharp!, lançado na Europa em 1988 com os singles Chances e Dressed for Success. A grande surpresa deste projeto foi a música The Look, que conquistou as rádios suecas e alcançou os Estados Unidos “por acidente”: tudo começou com Dean Cushman, um estudante norte-americano que estava cursando intercâmbio na Suécia na época de estreia do álbum e se apaixonou por The Look ao ouvi-la pela primeira vez numa rádio local.
Ele comprou uma cópia de Look Sharp! e levou-a para casa, de volta aos Estados Unidos. Insistindo para que uma estação de rádio de Minneapolis reproduzisse a canção, ele foi o grande responsável por levar o som do Roxette à América.
A música gerou enorme feedback, integrando a programação da estação por semanas. Em pouco tempo, The Look estava em todo o país, com uma distribuição espontânea pelas estações de rádio norte-americanas.
A popularidade de The Look fez com que Roxette tomasse a decisão de lançar o single nos Estados Unidos, atingindo o primeiro lugar do ranking Billboard Hot 100 e o topo das paradas musicais em países como Alemanha, Japão, Austrália e Reino Unido.
Com essa sacada inusitada, Roxette agarrou a oportunidade do sucesso e iniciou sua primeira turnê mundial. Logo em seguida, o lançamento de Listen to Your Heart (1989) acertou em cheio o coração dos fãs, destacando a versatilidade da dupla e também a enorme potência vocal de Marie.
Com It Must Have Been Love, lançada para a trilha sonora do clássico romance Uma Linda Mulher (1990), a banda arrematou três álbuns de platina e diversas premiações.
A música se tornou então seu maior sucesso, firmando-se entre os rankings musicais de mais de 20 países. Partiram então em turnês mais ambiciosas e discos de enorme sucesso, como Joyride (1991), que foi nomeado ao prêmio alemão Echo com a ajuda de dois singles poderosos: Fading Like a Flower (Every Time You Leave) e Joyride.
Sempre intercalando entre as baladas e pop hits, canções como Queen of Rain, Never Is a Long Time, How Do You Do! e Here Comes the Weekend marcaram época nas rádios pelo mundo inteiro.
Em seus projetos solo, Marie lançou em 1991 um álbum inteiro em seu idioma materno, chamado Den Ständiga Resan (A Eterna Jornada), caracterizado como seu “auto-retrato musical”, uma vez que expõe seus pensamentos e sentimentos mais íntimos como um diário melódico.
O período de criação deste material é visto hoje pela artista como um momento difícil de sua vida, relacionando histórias e conflitos pessoais que superou junto à sua música, como a perda de um amigo próximo que cometeu suicídio.
Em 1993, o Roxette foi pioneiro como a primeira banda de língua não inglesa a marcar presença no MTV Unplugged. Neste período, também realizou uma pequena turnê pela Suécia na divulgação de seu álbum solo, tudo isso enquanto estava a espera de sua primeira filha, Josefin.
Em 1996, lançou Baladas Em Español com o Roxette e um novo álbum solo, I em tid som var, no mesmo ano em que deu a luz ao seu segundo filho, Oscar. As vidas profissional e pessoal não se misturaram de forma agressiva até 2002, quando Marie foi diagnosticada com câncer após um desmaio seguido de concussão no banheiro de sua casa.
O tumor cerebral era maligno, mas Marie passou por uma cirurgia bem-sucedida e seguiu forte por meses de quimio e radioterapia até sua total recuperação. Ela teve graves sequelas, como danos permanentes no cérebro e a perda da visão no olho direito, que a fizeram manter-se afastada da vida pública por quase dois anos.
Em 2003, quando o Roxette recebeu uma premiação do rei Carl Gustaf XVI, da Suécia, ela atendeu a cerimônia em uma rara aparição durante sua doença. Ela voltou aos palcos em 2010, realizando séries de shows pelo mundo e novos álbuns.
O apoio e amizade do colega Gessle e de sua família foi essencial neste período. Ele afirmou em entrevistas que houve momentos durante o tratamento em que Marie mal conseguia falar, mas queria sobreviver e insistiu em sua melhora. Sua luta motivou os fãs, que fizeram questão de acompanhar o Roxette em sua turnê de 2011.
Para conquistar o público mais jovem, os suecos lançaram um aplicativo para iPhone e iPad de karaokê portátil, incluindo os principais sucessos da banda, tentando manter a chama da inovação acesa. A perspectiva criativa sempre fez parte de seu processo de trabalho, garantindo a criação de videoclipes autênticos que embalaram os fãs de música por diferentes gerações.
Em 2016, quando se preparavam para outra turnê, a mesma foi cancelada pois Marie aparentemente estaria enfrentando problemas de saúde e desde então não há confirmações sobre o que teria acontecido.
Das canções mais atuais, destaque para She’s Got Nothing On (But The Radio), do álbum Charm School (2011), com seus arranjos ousados e um conceito divertido puxado para as canções pop mais modernas; The Centre of the Heart, single de Room Service (2001), é agitada e diferente, servindo de referência perfeita a The Look com toques de eletrônica, disco e pop rock.
Por último, It Just Happens, de Good Karma (2016), último lançamento da banda, traz a estética sonora das baladas clássicas de Roxette à tendência eletrônica do pop rock contemporâneo, mostrando como é possível manter a autenticidade e mesclar referências atuais em suas músicas.
No topo das críticas e das paradas musicais, Roxette conquistou o sucesso comercial e o respeito do mundo inteiro com seu estilo versátil, transgressor e positivo de fazer música. Marie Fredriksson se reinventa constantemente em sua carreira ativa na música, se tornando mais um forte exemplo de protagonismo feminino no rock e uma das melhores referências quando falamos em vozes poderosas, além de ser também um exemplo de resiliência, dedicação e coragem.
Mesmo após a febre dos anos 1990, o Roxette manteve sua relevância em alta, carregando um legado de hits e continuando a nos surpreender em novos projetos que trazem alegria e diversidade ao monopólio de bandas norte-americanas aos quais estamos condicionados nas rádios pelo mundo.
