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Entrevista | Jonathan Wilson – “A guitarra é como uma extensão do meu corpo”

Em meio a tantas polêmicas envolvendo o posicionamento de Roger Waters em seus shows pelo Brasil, boa parte do público deixou de prestar atenção nas gratas surpresas que essa turnê rendeu. O guitarrista californiano Jonathan Wilson e as backing vocals Jess Wolfe e Holly Laessig são alguns dos bons exemplos.

Jonathan Wilson, para quem ainda não conhece, tem um trabalho consolidado em duas frentes, como guitarrista e produtor. Mais recentemente, ele ganhou ainda mais visibilidade com a produção dos discos de Father John Misty, um dos nomes mais badalados do indie. Mas já recebeu em seu estúdio caseiro nomes como Black Crowes e Elvis Costello.

“Eu realmente me sinto confortável fazendo as duas coisas. A guitarra neste momento é uma coisa tão natural. Eu tenho feito as duas coisas por um longo tempo, mas a guitarra é como uma extensão do meu corpo ou algo assim”, comentou o músico, que concedeu uma entrevista exclusiva para o Blog n’ Roll.

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Questionado se a produção o levava a ter um desempenho melhor como músico, Jonathan Wilson confirmou. “Particularmente como baterista. Eu fui para a escola de bateria e até toquei bateria em algumas das minhas músicas. Essa é uma das melhores coisas de produzir: eu gasto muito tempo me concentrando no tempo das gravações e, muitas vezes, para os músicos o tempo não é tão bom. Por isso, me ajudou a melhorar a minha coordenação e a minha concentração para tocar bateria”.

Parceiro de Father John Misty desde 2010, Wilson conta que o considera um dos seus melhores amigos. Para o guitarrista, a sensação indie é uma grande influência para ele, mas é uma via de mão dupla.

“Nós nos ajudamos como uma competição saudável. Ele estava no meu estúdio hoje, lá na Califórnia, por exemplo. Ele é esse tipo de pessoa que compartilho meu espaço, meu som e minhas coisas. Ele é como um irmão”, completou.

A entrada na música foi algo natural para o guitarrista de Roger Waters. Seu pai tinha uma banda que costumava ensaiar na garagem de sua casa. “Era fascinado por isso. E eu morava em uma cidade de merda, então era uma maneira de escapar e se conectar a algo que era mágico. Meu pai é uma grande influência para mim. Ele tem bom gosto e toca bem, é um cantor que tem um tipo de música como base”.

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Rare Birds

Enquanto segue excursionando com Waters e produzindo seus amigos, Wilson também encontra tempo para divulgar o seu trabalho solo. Rare Birds, lançado no início do ano. É o seu sexto trabalho de estúdio em 11 anos.

“O álbum é uma combinação de tentar fazer algo que é muito especial para mim e para minha personalidade. É a primeira vez que me sinto super orgulhoso de um álbum do começo ao fim. Eu acho que este ficou muito completo”.

Além das participações de Jess Wolfe e Holly Laessig (as backing vocals de Waters), Wilson também contou com o apoio da cantora Lana Del Rey, que se declarou fã da obra do guitarrista.

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“Alguém a trouxe para o meu estúdio em 2012 e fizemos algumas faixas na época. Nós nos tornamos amigos desde então e, enquanto fazia Rare Birds, ela estava lá o tempo todo. Ela estava muito envolvida no processo. A música que ela contribui mostra isso. Ela era uma grande parte da coisa toda”, justifica.

Participação de Jonathan Wilson na tour

Trabalhar uma obra do Pink Floyd sempre requer muito cuidado. Os fãs não perdoam nenhum vacilo. Mas, no caso de Wilson, o feedback foi extremamente positivo, inclusive com o público elogiando as semelhanças no vocal do californiano com outro lendário integrante do Pink Floyd, David Gilmour.

“As comparações são meio naturais. A maneira como isso acontece é muito engraçada, mas às vezes faz sentido. Eu sou um grande fã dele. Quando eu estava crescendo, costumava ouvi-lo. Eu também sou um grande fã de The Final Cut (1983, Pink Floyd), que foi como um álbum solo para ele. Essa narrativa de compositor é uma influência tão grande. A comparação não me incomoda. Eu tomo isso como um elogio”.

A polêmica envolvendo o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), que foi taxado por Waters como um neo-fascista, o que rendeu aplausos e vaias em alguns shows pelo Brasil, também foi abordada na conversa.

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“Nós realmente não sabíamos o que estava acontecendo naquele momento. Nós temos retorno de áudio, então não pudemos ouvir as vaias. Acabamos descobrindo quando o show terminou. Mas se você seguir a turnê, se você seguir a mensagem, você saberá que é o ponto de vista sempre. Não é estranho porque, neste momento, Pink Floyd, Stones, Beatles, Pepsi, Coca-Cola são grandes o suficiente para que as pessoas vão lá para ver as coisas famosas, o grande show. Às vezes eles não têm ideia de como são as músicas”.

Segundo Wilson, houve conversa entre os músicos sobre a polêmica. “Nós passamos por coisas nos palcos em que estivemos no meio do país do Trump. Houve muitas vaias e pessoas saindo do show, mas elas sempre voltam para ver o rock clássico”.

Wilson conta que consegue encontrar tempo para viajar com o Rare Birds, mesmo em meio à correira nas estradas com Roger Waters. “Eu tenho feito turnês nos intervalos. Eu tive uma grande turnê antes dessa turnê. Deixei o Roger em Moscou e comecei minha turnê com a minha banda no dia seguinte. Voltei com ele na época do Natal e comecei minha própria turnê novamente em fevereiro nos Estados Unidos. Tenho intercalado e vou tentar voltar para o Brasil em breve.

Lucius, a outra grande surpresa

Tão destacada como a voz e guitarra de Jonathan Wilson, a dupla de backing vocals de Roger Waters, Jess Wolfe e Holly Laessig, foi a outra grata surpresa da turnê Us + Them, do ex-baixista do Pink Floyd. O que muita gente não sabe é que as duas cantoras possuem um trabalho de alto nível, o Lucius.

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Em três trabalhos de estúdio desde sua formação, em 2005, elas tiveram uma grande recepção por parte da mídia internacional e foram elogiadas por veículos como Rolling Stone, The New York Times e NPR.

O indie pop da Lucius, que conta com outros dois integrantes, é marcado por uma mistura de elementos, que transitam desde o folk até ritmos eletrônicos e uma mistura de sintetizadores.

Em Nudes, álbum mais recente do grupo (lançado em março), uma série de composições valorizam e colocam a voz como elemento central, tornando-as espirituosas e poderosas na condução das melodias. O trabalho inclui três músicas novas, quatro composições do catálogo da banda e três covers.

Duas faixas que se destacam são Eventually, do Tame Impala, que ganhou uma cara bem autoral, explorando vocais inconfundíveis e um ritmo de violão que soa como uma balada lenta, e o folk Goodnight, Irene, com a participação de Roger Waters.

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Os mais atentos ao cenário indie, provavelmente, já ouviram um pouco do trabalho das cantoras em colaborações com nomes como John Legend, Jeff Tweedy (Wilco), The War On Drugs, Mavis Staples, entre outros. O single Million Dollar Secret entrou na temporada final da série Girls, da HBO.

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