Entrevista | Mudhoney – “Por favor atualizem minha foto no Wikipedia”

Uma das bandas mais autênticas e influentes da geração grunge, o Mudhoney está prestes a chegar ao Brasil para apresentações em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Ainda há ingressos disponíveis. O último álbum do Mudhoney, Plastic Eternity (2023), será uma parte importante do repertório da apresentação, mas o setlist não está 100% definido. Segundo o vocalista, Mark Arm, a banda pretende cobrir diferentes fases da carreira, resgatando músicas do início e dos anos intermediários. “Temos 35 anos para cobrir. Trabalho duro”, brincou o artista em entrevista ao Blog n’ Roll. Além de falar sobre o show, Mark Arm relembrou uma situação inusitada que viveu no Brasil: durante uma passagem pelo país, ele percebeu que havia esquecido sua guitarra nos Estados Unidos, mas só se deu conta disso ao abrir o case vazio em São Paulo. “Imediatamente pensei que alguém tinha roubado minha guitarra”, contou. A solução foi improvisar com instrumentos emprestados, um dos quais aparece na foto de sua página na Wikipedia até hoje, fato que o incomoda bastante. Na mesma entrevista, Mark Arm compartilhou suas expectativas para os shows no Brasil e relembrou momentos marcantes da trajetória do grupo. Quais são suas expectativas para os shows no Brasil? Você já tem um set list definido?  Não temos um set list pronto em particular, mas temos uma ideia geral e esperamos nos divertir. Pretende priorizar algum álbum?  Tocaremos uma boa quantidade de músicas do último disco, Plastic Eternity, mas tocaremos coisas dos primeiros álbuns e dos anos intermediários. Temos 35 anos para cobrir, é um trabalho duro. Você se recorda de alguma história memorável no Brasil? Você já veio com o Mudhoney e também com o MC5. Uma vez voamos para cá e eu tinha um case de guitarra muito pesado, tipo um case tipo bigorna com metal ao redor. E estávamos na passagem de som em São Paulo e abri meu case e ele estava vazio. Eu imediatamente pensei que alguém tinha roubado minha guitarra. E fiquei, tipo, puta merda. Então meio que me recompus, isso foi antes de ter um celular que ligasse para o exterior e confirmasse. O André Barcinski (jornalista) me ajudou a ligar para casa e perguntei para minha esposa se ela poderia descer e dar uma olhada na sala da banda. E lá estava a guitarra. O case era tão pesado que não percebi que não tinha uma guitarra dentro. E como você conseguiu tocar?  Tive que pegar emprestada as guitarras das pessoas. Na foto principal da minha Wikipedia estou com uma das guitarras emprestadas daquela turnê, uma SG. Eu não tenho uma SG, toco com uma Gretsch, por favor atualizem essa foto. Foi uma estupidez da minha parte esquecer essa guitarra. Mudhoney sempre foi uma das bandas que representou o grunge de uma forma mais autêntica e crua. Como você descreveria a evolução do som da banda desde o começo até hoje?  No começo, nós apenas pensávamos em nós mesmos como uma espécie de banda punk rock e underground, nós não pensávamos nessa coisa chamada grunge. Isso nem era uma coisa que existia em termos de marketing ainda. Nós apenas sentíamos que fazíamos parte daquela tradição underground realmente ampla que incluiria Butthole Surfers, Sonic Youth, Big Black, The Replacements, entre outras. Quero dizer, essas são algumas das bandas mais conhecidas, mas tinha também Killdozer e Scratch Acid, além de muitas australianas como Feedtime, The Beasts of Suburban, The Scientists e Cosmic Psychos. Essas eram as coisas com as quais sentíamos afinidade. Assim como nossos amigos em Seattle, Portland e Vancouver.  Seattle foi o centro das atenções entre o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990. Você acha que um novo movimento de bandas como o grunge é possível hoje?  Eu não sei. Claro, tudo é possível.  Para muitos críticos musicais, Mudhoney é o padrinho do grunge. Você acha que Nirvana, Alice in Chains, entre outros, teriam existido sem vocês?  Sim, Alice in Chains estava em um caminho diferente. Quer dizer, eles começaram em meados dos anos 80. Pelo menos esse nome estava por aí, sabe, eles não mudaram o som. Acho que originalmente eram mais como uma banda de glam metal. O Soundgarden existia bem antes do Mudhoney começar. Eles eram contemporâneos do Green River. As pessoas estariam tocando música, quer existíssemos ou não. Mas o Mudhoney tem uma grande influência nessa geração de músicos, mesmo soando diferente, certo? Sim, acho que há muitas bandas de Seattle que soam diferentes o suficiente para nós. Pearl Jam, que são grandes amigos nossos, eles não soam como nós. Então talvez nós os influenciamos de uma forma que eles disseram: ‘nós não queremos soar assim. Isso não nos levará a lugar nenhum’. (risos) A morte de Kurt Cobain foi o começo do fim do grunge ou houve outros fatores que contribuíram para a perda de força da cena?  Sim, tenho certeza. Essa foi uma lápide fácil de colocar e não acabou com nada para mim. Só me deixou terrivelmente triste. A energia do Mudhoney no palco é uma das mais comentadas sobre coisas dos fãs. O que você sente quando está no palco? É difícil colocar em palavras o que sentimos. É só que não consigo realmente analisar e destilar em algo que seja, mas é um show muito bom e o público gosta, então, nós nos alimentamos uns dos outros. Como se sentíssemos a energia deles. Espero que eles sintam a nossa. E isso meio que, conforme o show avança, fica meio mais forte e intenso. Esse é o marcador de um ótimo show. Como essa experiência ao vivo evoluiu ao longo dos anos?  Ficamos muito mais velhos, não sou nem de longe tão flexível quanto costumava ser. Minhas articulações doem de vez em quando. Dói meu tornozelo e meu quadril. Não quero ter uma conversa de velho, onde fico sentado e reclamando, mas realmente me dói toda vez que acordo. Mas, por exemplo, acho que quando você envelhece, tem um entendimento melhor disso. Quando você é mais

Entrevista | L7 – “Seria muito horrível se aquele avião virasse”

Prestes a desembarcar no Brasil pela quarta vez, a banda californiana L7 acompanhará o Garbage em sua turnê pelo País a partir da próxima semana. Os shows acontecem nos dias 21, 22 e 23 de março, no Rio de Janeiro (Sacadura 154), São Paulo (Terra SP) e Curitiba (Ópera do Arame), respectivamente. A banda The Mönic fará a abertura dos eventos em São Paulo e Curitiba. Ainda há ingressos disponíveis. O grupo, formado por Donita Sparks, Suzi Gardner, Jennifer Finch e Demetra Plakas, não lança um álbum de inéditas desde 2019, quando divulgou Scatter the Rats. No entanto, gravar um sucessor não está nos planos. A ideia é seguir excursionando e tocando seus principais sucessos. As apresentações no Brasil, inclusive, devem ser focadas no maior sucesso comercial da banda, Bricks Are Heavy, de 1992. Sons novos também estão nos planos. Em entrevista ao Blog n’ Roll, a vocalista e guitarrista Donita Sparks falou sobre a expectativa para os shows, as lembranças da icônica passagem da banda pelo Hollywood Rock de 1993 e a relação com o produtor Butch Vig, responsável pelo álbum Bricks Are Heavy. Além disso, Donita comentou o atual cenário político dos Estados Unidos e a dificuldade de produzir novos álbuns de estúdio. Confira a entrevista completa abaixo. Como está a preparação para os shows no Brasil? Set já está definido? Hoje (dia 13) à noite é nosso primeiro ensaio para os próximos shows no Brasil. Então, ainda não temos o set list. Vamos trabalhar nisso hoje à noite. Mas vou te dizer que vamos adicionar algumas músicas novas no set que não tocamos no Brasil. Isso vai ser emocionante.  No entanto, também temos uma baterista que acabou de fazer uma cirurgia no joelho em janeiro. Então, temos que ser muito eficientes com o que escolhemos, porque ela não pode tocar muito agora.  Mas vocês pretendem priorizar algum álbum?  Sim. Nós, provavelmente, tocaremos a maioria das músicas do Bricks Are Heavy, foi o nosso maior disco de todos os tempos. Além disso, Butch Vig, do Garbage, produziu esse disco. Gostaríamos que ele ouvisse algumas dessas músicas ao vivo. Depois de todo esse tempo, nós sempre tocamos mais coisas do Bricks Are Heavy do que nossos outros discos. Nós estamos realmente ansiosas para tocar com o Garbage. Nós conhecemos esses caras, conhecemos Butch há décadas. E os outros caras da banda estavam acostumados a trabalhar com Butch quando gravamos Bricks Are Heavy. Isso é muito emocionante. Conheci Shirley há cerca de dez anos e ela é muito divertida de se conviver. Apesar dessa relação, nós nunca tocamos com o Garbage antes. Você comentou sobre o Butch Vig. O quão importante ele foi para o sucesso do Bricks Are Heavy?  Ele é um excelente produtor. E ele também não é um idiota, é uma pessoa muito legal, tem um bom senso de humor, além de ser muito diplomático em sua abordagem trabalhando com músicos. Alguns produtores são tiranos, simplesmente horríveis. Tivemos sorte de não termos trabalhado com nenhum desses tipos de pessoas. Butch não apenas é um cara legal, mas trouxe sons de guitarra realmente ótimos e agressivos, e também encorajou nosso lado melódico, nos encorajou a explorar isso um pouco mais do que outros produtores fizeram. E vocês planejam trabalhar juntos novamente?  Ah, não agora. Butch é muito caro, não podemos pagar Butch. Você sabe o que quero dizer? Ele é um grande negócio, nós não somos. Não temos dinheiro para Butch Vig. Teríamos que ser um projeto de caridade dele para trabalharmos juntos. Eu adoraria em algum momento trabalhar com ele, mas isso está muito distante hoje. Uma das memórias mais marcantes ​​que tenho do L7 no Brasil foi a apresentação no Hollywood Rock, em 1993. Você se lembra dessa primeira vez no país?  Foi muito emocionante! Estávamos no mesmo avião com o Nirvana, Alice in Chains, Red Hot Chili Peppers… Quando voamos de São Paulo para o Rio, todas as bandas estavam naquele voo. E aquele voo, quando pousou, quase virou, foi realmente assustador. Imagina isso? Seria muito horrível se aquele avião virasse, todo mundo estava naquele avião. No fim, deu tudo certo e nós fomos ao show, mas foi bem assustador. Não esperávamos a recepção positiva do público no festival, foi muito legal. Meu Deus! Que horror essa situação Muito! Nós pousamos de lado, estávamos quase fora de nossos assentos. A inclinação era tão intensa. Nós estávamos totalmente apavorados, todos os músicos, mas os roadies estavam rindo, achando tudo divertido. Mas você acha que antes desse incidente foi divertido, estar todos juntos no mesmo avião?  Nós saímos mais com o Nirvana, mas também um pouco com o Layne Staley (ex-vocalista do Alice in Chains), ele era muito divertido, essas lembranças que ficam. O L7 sempre foi muito associado ao grunge. Mas acho que é um erro, já que vocês vieram antes do movimento. Isso é algo que te incomoda? Não me incomoda mais. Acho que talvez na época incomodasse, só porque achava que era um jornalismo preguiçoso nos colocar todos juntos daquele jeito. Mas todo mundo precisa de uma porra como essa. Tenho certeza de que bandas que eram chamadas de punk também não gostavam do rótulo. O mesmo acontecia com a new wave. O feminismo sempre esteve presente na história do L7. Você acha que os tempos mudaram se comparado com o início da carreira do L7?  Cresci com o feminismo na década de 1970, minha mãe e irmãs eram feministas, isso faz parte do meu DNA. Mas meu pai era feminista também. Então, cresci com direitos ao aborto na minha casa. E o direito ao aborto foi aprovado nos Estados Unidos em 1973 ou algo assim. Portanto, agora, o aborto só ser legal em alguns lugares dos Estados Unidos é muito bizarro para mim, muito doloroso. Nós temos um presidente fascista, isso também é inacreditável. É foda o que está acontecendo aqui. Em momentos como este, só tenho que fazer o que faço como artista, essa é minha contribuição. Vou continuar fazendo música, vamos

Entrevista | The Sheepdogs – “É mais satisfatório passar por coisas ruins com bons amigos”

Com 20 anos de estrada, a banda canadense The Sheepdogs continua a conquistar corações com seu rock genuíno e suas melodias marcantes. Em entrevista exclusiva ao Blog n’ Roll, a banda abriu o coração para falar sobre seu mais recente EP, Hell Together, que traz uma reflexão profunda sobre os desafios e as vitórias de estar junto em momentos difíceis, uma verdadeira irmandade musical.  O conceito do álbum, que questiona a ideia de estar “no inferno juntos” em vez de “no céu sozinho”, reflete não só a trajetória da banda, mas também as complexidades da vida na estrada e a conexão entre os integrantes. Hell Together surgiu como uma inversão do EP anterior, Paradise Alone, e é uma metáfora da realidade de estar em uma banda por tanto tempo. Ao longo dos anos, a banda passou por sucessos, fracassos e dificuldades, mas o que realmente se destaca é a força que surge da união e da superação em grupo.  Para eles, os momentos difíceis são mais gratificantes quando enfrentados ao lado de bons amigos, e a sensação de irmandade é um dos pilares que sustentam a The Sheepdogs desde o início. Confira a entrevista abaixo com o vocalista e guitarrista, Ewan Currie, e o baixista do The Sheepdogs, Ryan Gullen. Hell Together aborda a ideia de estar juntos no inferno ao invés de sozinhos no céu. Como vocês criaram esse tema? Ele reflete de alguma forma a dinâmica da banda ao longo da carreira?  É a inversão de outro EP nosso chamado Paradise Alone (2024). Mas realmente se relacionou com a história da nossa banda porque estar em uma banda, especialmente por 20 anos, você certamente teve alguns sucessos, mas provavelmente há muito mais fracassos e tempos difíceis. E há uma força tremenda que você obtém ao passar por essas coisas com seus companheiros de banda, seus amigos e irmãos. Então estava meio que refletindo sobre isso. É uma coisa e tanto que fizemos isso por 20 anos. Quando você pensa nos Beatles, por exemplo, foi uma banda por apenas nove anos. Então foi realmente uma reflexão não apenas sobre a banda, mas também sobre a vida e como estive em lugares lindos e incríveis sozinho. E às vezes é realmente mais gratificante ou mais satisfatório passar por coisas ruins com boas pessoas e bons amigos. Quais são as inspirações e desafios sonoros no desenvolvimento desse EP do Sheepdogs?  Estou sempre tentando soar mais como Creedence Clearwater Revival, Leon Russell, J.J. Cale, música americana do sul, apenas boas bandas de guitarra. Estávamos ouvindo, na época da gravação, um monte de country dos anos 1980 e 1990, e não diria que o som disso exatamente apareceu, mas gosto de como essa música é dançante. Nós crescemos em Saskatchewan, no Canadá, que é meio que uma região de fazendas no meio do nada, e as pessoas colocavam essas músicas country em bailes e casamentos e coisas assim, e isso simplesmente faz as pessoas dançarem. E isso é algo que realmente sinto falta como um cara do rock and roll. Não quero que as pessoas fiquem sentadas e assistam levantando o pulso e fazendo sinais, quero que elas dancem. Acho que nós sempre meio que dizemos que tentamos fazer uma música rock que faça você se sentir bem. Muitos dos elementos que nós temos nessas músicas são meio que edificantes no sentido de que nós gostamos de tocar música para fazer as pessoas se sentirem bem, fazer as pessoas dançarem. Acho que é algo que nós estamos conscientes. Não temos medo de explorar assuntos que talvez não façam você se sentir bem ou sejam sobre não se sentir bem, mas acho que muito da música que nós fazemos, nós tentamos fazer com que seja edificante, e então muita da inspiração vem dessa música que nós achamos que nos eleva também. Trabalhar novamente com o produtor Thomas Darcy, com quem você já colaborou, parece ter sido um ponto forte neste EP do Sheepdogs. O que você acha que foi mais especial? Nós temos um ótimo relacionamento, e fizemos vários álbuns do Sheepdogs e projetos paralelos, então isso economiza tempo. Você não precisa explicar o que quer algumas vezes, e ultimamente temos realmente feito um ótimo trabalho tentando fazer algumas coisas novas. Como fomos para Memphis, no início deste ano (2024), então estávamos tentando algumas coisas diferentes. Tom estava aberto para nós tentarmos alguns sons diferentes, fossem técnicas diferentes de microfonação de bateria, apenas sons de baixo diferentes, ou mesmo ter uma música mais focada no teclado. É muito fácil trabalhar com o Tom, porque ele também é muito rápido. Não gastamos muito tempo mexendo com equipamentos e montando as coisas, podemos realmente pegar um ritmo, e acho que isso é algo que realmente fizemos em tudo que fizemos este ano, trabalhamos muito rápido, e isso realmente evita que você pense demais. Lançar música de forma independente impactou a maneira como você compõe e grava?  Não sei se é o fato de que a coisa independente mudou a maneira como fazemos as coisas. Acho que afetou mais a maneira como lançamos as coisas, e vou deixar Ryan falar sobre isso, você pode falar mais sobre isso. Ryan Gullen: Claro. Acho que o objetivo deste ano era tentar apenas gravar e colocar música o máximo que pudéssemos. Sabe, esse era o propósito, não era apenas aproveitar esses momentos em que íamos gravar e depois lançá-los, em vez de tentar juntar um monte de coisas diferentes em momentos diferentes, porque também estávamos muito ocupados com a estrada também. Não acho que isso necessariamente mudou a maneira como fizemos as coisas no estúdio, mas tem sido legal. Muito sobre lançar música acaba sendo você gravar algo e esperar muito tempo para lançar. E tentamos não fazer isso dessa vez, porque meio que vimos o valor nas pessoas que consomem sua música ou querem ouvir sua música. É um mundo em que há todo esse conteúdo diferente e todo mundo está meio que competindo por sua atenção, você

Com integrantes do Skank e Jammil, Trilho Elétrico aposta em mix de gêneros; leia entrevista

Depois de décadas como baixista do Skank, Lelo Zaneti resolveu embarcar em um novo desafio musical com a banda Trilho Elétrico. O grupo, que mistura influências de MPB, rock, reggae e pop, reúne músicos experientes de diferentes vertentes, como integrantes do Jammil e da cena do reggae baiano. Em entrevista ao Blog n’ Roll, Lelo falou sobre a formação da banda, a sonoridade e os planos para o futuro. Formada pelos mineiros Lelo e Rodrigo Borges (herdeiro e atual representante do Clube da Esquina) e os baianos Manno Góes (Jammil e Uma Noites) e Lutte (ex-vocalista da Mosiah), a banda Trilho Elétrico tem como objetivo criar um som que transite em diferente gêneros. Até o momento já lançou um álbum (homônimo, de 2023) e alguns singles. “Acho que tem algumas pontas que se conectam. Por exemplo, quando ensaiamos músicas do Jammil para um show, percebi que a condução do baixo poderia remeter a algo meio Paralamas do Sucesso. Esse ensaio nos levou a resultados muito interessantes, onde você se pergunta: ‘Isso é Jammil, Paralamas ou Skank?’. São linguagens que acabam se aproximando naturalmente”, explicou o baixista. A forte conexão da banda com a cena musical da Bahia também é um diferencial. Segundo Lelo, o Skank já participou de muitos eventos de axé e sempre teve afinidade com o ritmo. Além disso, o Trilho Elétrico tem integrantes que vêm do reggae baiano, como Lutte, da Mosiah, um fenômeno local. “A Bahia é um celeiro musical muito poderoso. Lá, a gente vê o brilho nos olhos das crianças quando elas enxergam algo relacionado à música. Tocamos no Carnaval de rua e nas praças do Pelourinho, onde há uma circulação forte de estrangeiros e do público jovem. Então, houve toda uma pesquisa e experimentação para chegarmos na identidade do Trilho Elétrico.” “Plot Twist” e a nova fase da Trilho Elétrico O primeiro single do Trilho Elétrico em 2025, Plot Twist, já começou a ganhar destaque, entrando em playlists editoriais do Spotify. A canção traz uma mescla de pop, reggae e MPB, refletindo a diversidade sonora do grupo. “O arranjo da música foi feito com muito cuidado. Gravamos no estúdio do Chico Neves, que trabalhou com Paralamas, Skank e até Peter Gabriel. Ele conseguiu tirar um som incrível. No final, percebemos que Plot Twist nasceu de forma muito natural, parecia que já estava dentro de nós”, contou Lelo. A estratégia da banda para os próximos lançamentos segue uma tendência do mercado digital: em vez de lançar um álbum completo de uma vez, o grupo pretende soltar singles ao longo do ano. “A leitura do digital hoje é essa: lançar quatro ou cinco singles por ano. Isso mantém o público sempre com novidades e favorece o engajamento nas plataformas. Nos anos 60, os Beatles impulsionaram o formato de singles. Depois, o Led Zeppelin veio e resgatou a força dos álbuns. Agora, voltamos a uma era onde os singles dominam de novo. A música precisa se adaptar ao tempo”, refletiu. Com uma forte presença em festivais e no circuito independente, o Trilho Elétrico quer expandir ainda mais seu alcance. Segundo Lelo, um dos objetivos é entrar em circuitos como o do Sesc, que oferece estrutura e visibilidade para artistas de diversos gêneros. “A gente tem que entrar em circuitos que mostram o trabalho para um outro público. O Sesc, por exemplo, é um espaço que permite um amadurecimento do som. O Emicida fez isso muito bem. É um projeto de longo prazo, mas estamos no caminho certo”, afirmou. Enquanto isso, o Trilho Elétrico já está de olho nos próximos lançamentos e até em colaborações especiais. “Estamos prospectando convidados para o próximo single e a ideia é seguir nessa linha do Plot Twist, algo que o brasileiro tem na veia. O primeiro disco teve um som mais aberto, com participações de Daniela Mercury, Tony Garrido e Luiz Caldas. Agora, queremos consolidar essa identidade pop rock e seguir lançando novas faixas ao longo do ano.”

Entrevista | Ziggy Alberts – “É realmente sobre ir e dedicar mais tempo ao ar livre e à natureza”

O cantor e compositor australiano Ziggy Alberts lançou, recentemente, seu sétimo álbum de estúdio, New Love, um trabalho que reflete sua evolução musical e pessoal. Conhecido por sua sonoridade minimalista e letras introspectivas, Ziggy Alberts continua explorando temas como amor, conexão com a natureza e segundas chances. Em entrevista ao Blog n’ Roll, ele compartilhou detalhes sobre o novo disco e sua relação com a música e a escrita. O single I’m With You é um dos destaques do álbum e aborda a magia do amor e sua capacidade de nos reconectar com nós mesmos. Para Ziggy Alberts, o amor funciona como uma energia universal que nos revitaliza e fortalece nossas relações. Ele cita o livro A Profecia Celestina, de James Redfield, como uma inspiração para essa perspectiva, destacando que expressar amor nos torna mais vivos e presentes no mundo. Outro aspecto central na música de Ziggy Alberts é sua relação com a natureza. O artista acredita que o contato com o meio ambiente é essencial para seu processo criativo e para manter sua energia equilibrada. Em I’m With You, ele canta sobre “dar o coração ao mar novamente”, uma analogia à sua busca por reconexão com a natureza e suas raízes. Para ele, a vida na cidade é necessária, mas o contato com o ar livre é fundamental para manter sua essência. Além da música, Ziggy Alberts também se dedica à escrita e recentemente lançou seu segundo livro de poesia. Ele enxerga a poesia e a música como expressões complementares: enquanto a poesia representa um processo mais introspectivo, a música é uma forma de se comunicar com o mundo. O artista também tem integrado seus poemas aos shows, criando experiências mais imersivas para o público. Com milhões de ouvintes em plataformas de streaming, Ziggy Alberts tem expandido sua carreira internacionalmente e recentemente colaborou com o brasileiro Vitor Kley. Durante a entrevista ao Blog n’ Roll, ele expressou seu desejo de retornar ao Brasil para divulgar New Love e incentivou os fãs a compartilharem suas músicas para ajudar a viabilizar uma turnê pelo país. I’m With You é um single que fala sobre a magia do amor e segundas chances. Como você acredita que o amor tem o poder de nos reconectar com nós mesmos?  Estava lendo um livro recentemente chamado A Profecia Celestina (James Redfield). Não sei se você já ouviu falar dele antes, mas é dos anos 90. Acho que provavelmente essa coisa que chamamos de amor é algo como a energia universal do mundo. E nos sentimos vivos quando expressamos isso em nós mesmos. Acho que quando fazemos isso, temos mais energia, nossos relacionamentos são melhores. E é um desafio porque nem sempre sentimos isso. Mas acho que se percebermos que podemos obter esse sentimento de tantas pessoas, podemos obter esse sentimento nos relacionamentos. Também temos que ter esse sentimento em nós mesmos e podemos obtê-lo da natureza. Sim, é como se toda a nossa vida parecesse mais energizada. Você acha que está se reconectando com a Mãe Natureza? Sim, acho que sim. E é disso que essa música fala no refrão. Ela diz que estou pronto para dar meu coração ao mar novamente. Isso é como dizer que talvez quando criança, eu estava realmente conectado a isso, como na minha criação. Então talvez você goste de se afastar. Estou trabalhando muito na cidade, o que é bom porque a cidade também é linda. Mas é como uma analogia sobre segundas chances. É realmente sobre ir e dedicar mais tempo ao ar livre e à natureza. E fazer isso de novo, porque então me sinto muito vivo. É uma boa maneira de dizer que vou me comprometer com algo novamente, como se disséssemos uma analogia. Como a Mãe Natureza influencia sua música e sua arte?  Na natureza há coisas que são verdadeiras. Se você cuidar do solo, a árvore cresce e a comida cresce. Mas se você não tem um bom solo ou se não tem água, então as coisas não crescem. Se você cavar um buraco no chão e colocar uma árvore lá, sem mais nada, então ela não vai, ela vai morrer. Acho que gosto de usar os exemplos da natureza ao meu redor como um exemplo para falar da humanidade. Olho para isso quando penso: ‘isso é verdade? Isso pode ser verdade para mim? Estou cuidando da minha raiz?’ E a razão pela qual acho que é importante é porque quando você faz isso como um exemplo na natureza, é como um guia porque é realmente óbvio. E então gosto de usar o exemplo da natureza para também dizer algo sobre a emoção ou a interação humana.  O que o álbum New Love traz de diferente na comparação com os seus últimos trabalhos? Este álbum é muito parecido, muito minimalista. Acho que a música I’m With You é realmente otimista. Nós colocamos o bumbo da forma mais rápida que conseguimos tocar, foi muito divertido. Talvez as pessoas ouçam este álbum e pensem talvez em meus álbuns de três anos atrás ou meus álbuns de dez anos atrás. Isso foi de propósito. Queria fazer algo que fosse a continuação do meu álbum Lapse Around the Sun. Mas ele foi lançado em 2018, esta é talvez a minha resposta para esse álbum. Em 2024, você teve um ano muito ocupado lançando singles e fazendo shows, além de ter publicado seu segundo livro de poesia. Como você equilibra sua carreira musical com sua escrita?  Basicamente, eu não tenho equilíbrio. Às vezes é intenso. Mas a poesia sou eu entrando, enquanto a música sou eu saindo. Um é para dentro e um está indo, um é que tenho algo a dizer. E a poesia é como se algo viesse a mim como um exemplo. E há uma conexão entre sua poesia e música?  Sim. Agora, estava inicialmente as separando mais, mas estou até colocando meus poemas nos shows. Talvez tenhamos um piano ou um sintetizador para acompanhar os poemas, uns sons de trovão ou chuva.  Enquanto estou

Entrevista | Ezra Collective – “Os brasileiros dançam como se ninguém estivesse olhando”

Primeira banda de jazz a ganhar o Mercury Prize (concedido ao melhor disco do Reino Unido e Irlanda) por seu álbum de 2022, Where I’m Meant to Be, o quinteto londrino Ezra Collective estreou no Brasil, no último fim de semana, com um show impecável no Cine Joia, em São Paulo. Durante a passagem pela Capital, o baterista Femi Koleoso conversou com o Blog n’ Roll, via Zoom, e falou mais sobre o álbum mais recente, Dance, No One’s Watching, música brasileira, influências, entre outros assuntos. Leia mais abaixo. Formado por Femi Koleoso (bateria), TJ Koleoso (baixo), Joe Armon-Jones (teclados), Dylan Jones (trompete) e James Mollison (saxofone), o Ezra Collective tem expandido os limites do gênero desde sua formação em 2012. A mistura única com outros estilos, como afrobeat, hip-hop e reggae, chamou a atenção da cena musical do Reino Unido e agora está se espalhando por todo o mundo, transmutando as percepções do público sobre a música. * Qual é sua primeira impressão do Brasil?  Eu amo isso aqui. Já comi feijoada, tomei caipirinhas e sambei. Estou confortável, não demorou muito para conseguir isso, é um lugar especial. O Ezra Collective fez história ao ganhar o Mercury Prize com Where I’m Meant To Be. Como esse reconhecimento impactou a banda?  Não mudou a maneira como abordamos a música, nada mudou musicalmente. Foi uma noite muito bonita, uma experiência muito bonita, mas a missão continuou a mesma. Os prêmios são como um presente de Natal. Se eu ganhar um presente de Natal, direi obrigado, sou muito grato, mas isso não mudou minha vida, sabe? E foi mais ou menos assim, mas musicalmente não nos mudou em nada.  Nós escrevemos Dance No One’s Watching antes de ganharmos o Mercury Prize, então o álbum que veio depois, nós já tínhamos escrito antes de ganharmos o Mercury Prize.  Mas, definitivamente, mais pessoas estão cientes do nosso nome, nos reconhecem e essas coisas são muito positivas. Dance No One’s Watching foi descrito como uma documentação da jornada da banda ao redor do mundo. Como essa experiência internacional influenciou seu som?  Acho que foi tudo sobre diferenças e semelhanças. As pistas de dança parecem as mesmas quando são realmente boas, em qualquer lugar do mundo. Você sabe, as pistas de dança em São Paulo parecem pistas de dança em Lagos, parecem pistas de dança em Tóquio, quando é tudo sobre a dança. As pessoas fecham os olhos e apenas balançam e se movem e isso parece similar, mas então as diferenças são como a maneira que chegamos àquele lugar, e a música que você ouve, e o olhar das pessoas, e essas diferenças são preciosas. Então foram apenas essas viagens que realmente nos inspiram de uma forma grande. Como o Ezra Collective equilibra a fusão de jazz com afrobeat, hip-hop e reggae para criar um som tão autêntico?  Autêntico vem de reconhecer que você nunca soará como uma banda de afrobeat perfeita, você nunca soará como uma banda de samba, você nunca soará como um hip-hop perfeito, mas você pode definitivamente fazer um som que faça as pessoas saberem que você o ama, e é isso que o faz parecer autêntico.  Nós nunca estamos tentando ser outra coisa, mas nunca estamos tentando esconder o que amamos, e essa combinação o faz parecer inovador e autêntico. E então você só precisa se manter aberto, você precisa estar aberto todos os dias. Uso o Shazam toda vez que ouço algo que gosto, pego o nome, salvo, baixo ou compro, e estou sempre procurando por novas músicas. Este é um ótimo lugar para música, então estou encontrando o máximo que posso e deixando que isso me inspire. Há uma banda ou artista específico que influencia mais você?  Eu amo o Azymuth e Sergio Mendes. Amo como Sergio Mendes misturou jazz com samba, e essas são apenas algumas das pessoas que realmente amo, mas amo muita música brasileira.  O jazz moderno vem ganhando cada vez mais espaço fora do circuito tradicional de turnês musicais. Você sente que o Ezra Collective está ajudando a definir a percepção do gênero para as novas gerações?  Sim, porque quanto mais a inspiração viaja, mais pessoas vão começar a tocar, e isso só vai criar mais músicas que amo. Então isso é emocionante para mim, sabe? E o título Dance No One’s Watching sugere liberdade e entrega à música.  O que essa ideia significa para você, e como ela reflete na experiência de tocar junto?  Significa apenas que a vida é muito curta e preciosa para se importar com o que as pessoas pensam, e deixar que isso roube o momento. Então seja livre e se expresse. Mas a questão sobre o Brasil é que os brasileiros são especialistas nisso. Os brasileiros dançam como se ninguém estivesse olhando, então hoje à noite (dia do show) estou aqui para aprender a dançar como se ninguém estivesse olhando. Não estou aqui para ensinar ninguém, estou aqui para aprender. Estou ansioso para o público me ensinar como realmente festejar, sabe?  Você topa um jogo rápido? Nomeio alguns artistas e você os descreve em uma palavra ou frase. Jamie Cullum – Cara legal.  Norah Jones – Linda. Gilberto Gil – Icônico.  Bob Marley – Herói. Rihanna – Fofa Quais os três álbuns que tiveram a maior influência na sua carreira e por quê?  Teacher Don’t Teach Me Nonsense, de Fela Kuti, porque esse foi o álbum que me fez me apaixonar pelo Afrobeat. Voodoo, de D’Angelo, para mim, é meu som favorito de álbum. A maneira como flui de música para música influenciou como vejo o conceito do álbum.  Por fim, diria Catch a Fire, de Bob Marley, porque para mim, é uma aula magistral de contar uma história. Então, sim, esses seriam os três álbuns.

Entrevista | Circa Waves – “Conforme você envelhece, se torna sentimental”

Death & Love Pt.1, o sexto álbum de estúdio da banda inglesa Circa Waves, já está disponível nas plataformas de streaming. O primeiro volume conta com nove faixas de guitar pop catártico. De acordo com a banda, o disco é um poderoso mecanismo de enfrentamento para processar a experiência de quase morte do vocalista Kieran Shudall. A segunda parte será lançada ainda este ano. No início de 2023, Kieran recebeu uma ligação dos médicos informando que sua artéria principal estava severamente bloqueada. Dois dias depois, ele estava deitado em uma mesa de cirurgia, assistindo um fio ser inserido em seu coração para corrigir o problema. O que se seguiu foi o cancelamento de vários shows do Circa Waves, o ajuste a uma rotina de medicação e, mais crucialmente, a necessidade de aprender a viver de uma nova maneira. E o resultado é simplesmente impressionante. Autoproduzido por Kieran, com engenharia de som de Matt Wiggins (Adele, Lana Del Rey, Glass Animals), as nove faixas de Death & Love Pt.1 exalam nostalgia e remetem aos sons e temas que fizeram Shudall querer pegar uma guitarra pela primeira vez. Shudall conversou com o Blog n’ Roll, via Zoom, sobre o novo álbum, a recuperação após o problema médico, além da possibilidade do Circa Waves vir ao Brasil. Confira abaixo. Death & Love Pt. 1 parece um álbum profundamente pessoal e intenso sobre uma experiência de quase morte. Trouxe uma nova perspectiva para o trabalho da Circa Waves?  Sim, acho que, no final das contas, quando algo louco acontece contigo e você tem emoções intensas, é como se novos tipos de melodias surgissem. Acho que naturalmente temos melodias de amor, medo, ódio ou algo assim como a ideia de desaparecer e ou morrer ou o que quer que seja. Isso criou um novo tipo de melodia que era interessante. O primeiro single que fizemos já transmite uma energia de superação.  Qual foi a inspiração por trás de We Made It e como ela se conecta ao tema geral do álbum? Escrevi sobre um amigo que estava passando por um momento difícil e era eu meio que dizendo: “apesar de todos os momentos difíceis que passamos, ainda estamos aqui, nós conseguimos”. Queria que fosse bem aberto e relacionável para qualquer um, então se você estiver no meio da multidão, você pode sentir que é a pessoa que conseguiu, porque acho que todo mundo já passou por algo difícil, seja um término de relacionamento, perda de emprego ou a morte de um membro da família. Todo mundo precisa sentir esse otimismo de que a vida continua e você consegue.  Isso é algo que você acha que teria escrito antes ou é por causa da sua experiência que começou a pensar mais sobre esses assuntos?  Acho que é como a idade avançada. Conforme você envelhece, se torna sentimental e começa a pensar sobre a vida que você viveu e a mortalidade, além de todos esses tipos de coisas mórbidas. É o processo real de transformar uma experiência tão aterrorizante em um processo de cura através da música, porque você disse que era uma carta para dizer a si mesmo que você sobreviveria. Isso é algo fácil? Como foi a experiência real?  Bem, acho que queria me esforçar para escrever músicas que fossem mais pessoais e que fossem sobre o assunto. Poderia escrever músicas que não fossem sobre isso, mas simplesmente saiu naturalmente.  Senti a necessidade de escrever sobre isso, quase como quando alguém tem um diário e quer escrever sobre algo que o irritou ou algo triste, simplesmente saiu naturalmente e é meu tipo de catarse. Foi o meu jeito de superar isso. Isso ajuda já que escrevi músicas, sinto que é uma terapia para mim. Quais bandas ou artistas do passado mais inspiraram nessas composições? Consegue identificar?  É muito parecido com aquela cena inicial de Nova York, os anos 2000, com o The Walkmen, Yeah Yeah Yeahs, The Strokes, The National e LCD Soundsystem. Essa energia bruta e o tipo de guitarras corajosas com a bateria estridente, os vocais distorcidos e tudo mais. Por algum motivo, sempre fui loucamente apaixonado por esse som, o que realmente não sei por quê. Porque muitas bandas de Liverpool só querem soar como os Beatles, mas sempre fui apaixonado pelos artistas de Nova York.  Você pode mencionar dois ou três álbuns que o inspiraram muito na sua vida?  Bows + Arrows, do The Walkmen, certamente Is This It, do The Strokes, além do Alligator, do The National, que foi uma grande inspiração para mim. E você e a banda têm um histórico de criar música que ressoa fortemente com o público ao vivo. Como você imagina que faixas como Let’s Leave Together e Like You Did Before impactarão os fãs nos shows?  Acho que a letra é um pouco mais direta do que escrevi no passado. Escrevi muito pop ao longo dos anos com vários artistas fora da banda. E há algo sobre a simplicidade de um refrão pop que amo, e a letra é sempre tão direta.  O primeiro disco que fizemos, Young Chasers, era melodicamente bastante pop, mas as letras eram meio vagas. E elas eram um pouco mais misteriosas, acho. Os refrões que escrevi neles ainda são bastante pop, mas acho que a letra é um pouco mais direta e sucinta. Então espero que o público sinta a necessidade de gritar de volta para mim agora. O álbum foi mixado por Matt Wiggins, que trabalhou com artistas como Adele e Glass Animals. Como foi essa colaboração? E o que ele trouxe para o som final do Circa Waves?  Eu amo Matt, ele é simplesmente incrível, um engenheiro incrível. Ele grava as coisas com extrema proficiência. Ele é uma pessoa tão legal, é ótimo para trocar ideias e me deixa meio que “podemos tentar isso? Podemos tentar isso? Podemos tentar isso? E ele responde sempre positivamente. Ele nunca impede a banda de tentar nada. Ele é muito aberto e nos permite ser quem queremos ser. Como você

Entrevista | Ingo Dassen (Lesoir) – “Senti-me compelido a destacar a situação dos refugiados”

Responsável por um dos melhores álbuns da temporada passada, Push Back the Horizon, a banda holandesa Lesoir demonstra muita maturidade na hora de experimentar e ousar. O sexto trabalho de estúdio do grupo conta com dez músicas, compostas pelo guitarrista da banda, Ingo Dassen, e letras e linhas vocais escritas pela cantora e multi-instrumentista Maartje Meessen. Ao contrário de Mosaic, o trabalho anterior de Lesoir, Push Back the Horizon é caracterizado principalmente por estruturas musicais tradicionais e melodias cativantes. Com influências de tendências musicais modernas, Push Back the Horizon também é à prova da geração Z e oferece muito para descobrir. Os fãs dos trabalhos anteriores de Lesoir também não ficarão desapontados; rock progressivo e art-rock são abundantes no álbum, embora tocados com uma aparência idiossincrática diferente, mais uma vez inconfundivelmente ‘Lesoir’. Ingo Dassen conversou com o Blog n’ Roll sobre o novo álbum, os planos de turnê, além das letras sempre carregadas de mensagens importantes. Confira abaixo. * Push Back the Horizon marca o sexto álbum da sua carreira. Quais elementos você buscou explorar musicalmente e conceitualmente neste trabalho? Push Back the Horizon mergulha nas complexidades da existência humana, explorando relacionamentos e as complexidades da vida. Nosso objetivo era capturar as nuances da experiência humana, reconhecendo que, embora muitas vezes busquemos o controle, as circunstâncias podem nos levar a um ponto de inflexão coletivo. Musicalmente, nos aventuramos em um som mais rock de arena, colaborando com o produtor John Cornfield e o produtor vocal Paul Reeve para criar composições envolventes e poderosas. Este álbum serve como um instantâneo de histórias relacionáveis, enfatizando o potencial da vida para momentos reflexivos e eventos inesperados que fornecem vislumbres de esperança. O single Under the Stars aborda uma questão muito sensível e atual, que é a situação dos refugiados. Como esse tema se conecta com suas experiências e vivências pessoais? Under the Stars foi inspirado por experiências pessoais e uma profunda empatia pelos refugiados. Refletindo sobre como minha filha encontrou conforto dormindo ao ar livre, percebi o contraste gritante para aqueles que dormem ao ar livre por necessidade, não por escolha. Isso me levou a considerar as dificuldades que os refugiados enfrentam, especialmente crianças que não têm necessidades básicas e segurança. Com base nas histórias do meu avô sobre sobreviver a duas guerras, senti-me compelido a destacar a situação dos refugiados e a necessidade universal de segurança e abrigo. A produção de Push Back the Horizon envolveu grandes nomes como John Cornfield e Paul Reeve. Como foi trabalhar com eles e como essas colaborações influenciaram o resultado do álbum? Colaborar com John Cornfield e Paul Reeve em Push Back the Horizon foi uma experiência transformadora para nós. A vasta experiência de produção de John, principalmente com bandas como Muse e Supergrass, trouxe profundidade e clareza ao nosso som que elevou a qualidade geral do álbum. A experiência de Paul como produtor vocal, particularmente seu trabalho com Matt Bellamy do Muse, foi fundamental para refinar nossas performances vocais, garantindo que elas ressoassem com a emoção e precisão pretendidas. Sua influência combinada não apenas aprimorou os aspectos técnicos do álbum, mas também nos inspirou a explorar novos territórios musicais, resultando em um produto final mais dinâmico e polido. A música Babel, com seus 20 minutos de duração, é um exemplo de sua ousadia como banda. Vocês planejam explorar composições mais longas e experimentais no futuro? Babel foi um marco significativo para nós, permitindo-nos mergulhar em composições estendidas e experimentais. Essa experiência foi desafiadora e gratificante, expandindo nossos limites criativos. Olhando para o futuro, estamos entusiasmados em continuar a explorar peças mais longas e intrincadas que oferecem narrativas mais profundas e paisagens musicais complexas. Nossa jornada com Babel nos inspirou a abraçar e expandir ainda mais essa abordagem em nossos projetos futuros. A pandemia de 2020 trouxe muitos desafios, mas vocês responderam criativamente ao lançar Babel. Quais lições esse período trouxe para vocês como músicos e como banda? A pandemia de 2020 apresentou desafios significativos, mas também nos ofereceu uma oportunidade única de introspecção e criatividade. Durante esse período, criamos Babel, um épico de 20 minutos que se tornou uma prova de nossa resiliência e adaptabilidade. A experiência nos ensinou a importância da flexibilidade e o valor de adotar novos métodos de colaboração, mesmo quando fisicamente separados. Reforçou nossa crença no poder da música para conectar e inspirar, independentemente das circunstâncias externas. Esse período não apenas fortaleceu nosso vínculo como banda, mas também aprofundou nosso compromisso em criar uma arte significativa que ressoe com nosso público. O novo álbum apresenta influências do rock moderno, progressivo, pop e até mesmo música pesada. Como vocês equilibram esses estilos distintos para criar algo tão coeso? Buscamos misturar rock moderno, progressivo, pop e elementos mais pesados ​​em um som coeso. Nossa abordagem envolveu focar em melodias e harmonias fortes, que servem como base da nossa música. Ao integrar diversas influências cuidadosamente, criamos um álbum unificado que reflete nossos variados gostos musicais. A colaboração com os produtores John Cornfield e Paul Reeve refinou ainda mais nosso som, garantindo que cada faixa contribua para a coesão geral do álbum. ⁠Quais são seus planos para 2025? Você planeja fazer uma turnê pela América do Sul? O Lesoir pode tocar no Brasil? Em 2025, o Lesoir deve se apresentar em vários festivais europeus. Embora nossa programação atual se concentre nesses eventos, estamos explorando ativamente oportunidades de fazer uma turnê pela América do Sul, com um interesse particular em nos apresentar no Brasil. Estamos ansiosos para nos conectar com nossos fãs sul-americanos e compartilhar nossa música em novas regiões. Quais três álbuns têm influência você mais em sua carreira? Por quê? Steven Wilson – Hand. Cannot. Erase. Este álbum nos influenciou profundamente com sua narrativa intrincada e profundidade emocional. A habilidade de Steven Wilson de tecer um conceito por meio de elementos progressivos e belas melodias inspira nossa abordagem para criar música que se conecta profundamente com os ouvintes tanto em um nível narrativo quanto emocional. Anathema – Distant Satellites As paisagens sonoras atmosféricas e dinâmicas de

Entrevista | Rô Araújo – “Acho muito importante que a gente se una”

Unindo influências da MPB, do jongo, do funk, da bossa nova e da cumbia, o álbum de estreia da cantora carioca Rô Araujo, Afruturo, é um destaque no cenário musical. O disco aborda temas importantes como liberdade de expressão, ancestralidade e empoderamento feminino. Com 12 faixas que narram histórias marcantes, o álbum conta com as participações especiais das artistas Ananda Jacques, Aiane e Ju Santana, agregando vivências e perspectivas de uma mulher preta suburbana, nascida em Nova Iguaçu. A faixa de abertura, Nesse Som, ganha destaque com um clipe gravado na cidade natal da cantora. O vídeo inclui uma transcrição inédita em Libras e a participação de artistas independentes da Baixada Fluminense, reforçando o compromisso de Rô com a inclusão e a valorização de talentos locais. Em entrevista ao Blog n’ Roll, Rô Araujo falou sobre o processo de criação do álbum, suas inspirações pessoais, os desafios de ser mulher em uma sociedade desigual e a mensagem por trás do trabalho. Primeiro, queria que você falasse sobre o seu álbum como conceito, o nome Afruturo é bastante simbólico. Qual é o significado por trás dele e como ele reflete as mensagens que você quer transmitir? Esse álbum, na verdade, foi surgindo muito aos poucos. Cheguei a esse conceito quando comecei a juntar as peças do que queria transmitir através das músicas. Acho que é uma visão afrofuturista, tenho trazido esses conceitos, mas no sentido de que a gente poder se permitir projetar um futuro. Claro, que sem rejeitar o nosso passado, entendendo a nossa história. Acho que quando a gente está bem enraizado conseguimos nos posicionar e enxergar novas possibilidades. Então… por isso Afruturo. Que acho que se comunica bem com as músicas que já estava compondo. E aí depois fiz outras que acredito que complementam bem o álbum. Você já tinha mencionado que a ideia de fazer o álbum surgiu de um momento muito difícil da sua vida. Queria saber o que aconteceu, mas, acima de tudo, saber como isso impactou na sua vida pessoal e profissional.  Há quatro meses, mais ou menos, tive uma gravidez ectópica, uma gravidez fora do útero. Então, foi um momento de muitas reflexões. Claro que foi um momento também pesado emocionalmente, mas acho que foi uma virada de chave para perceber outras coisas. Porque corri risco de vida também, por causa da gravidez. Acho que quando a gente está de frente para um momento tão difícil, começamos a nos questionar, né? Se eu morresse hoje, eu já fiz tudo o que queria? Me deu um estalo, assim, também, de pensar o que quero criar, o que quero trazer ao mundo, para além de uma gravidez e um bebê.  Então, pensei, ‘nossa, quero criar músicas, quero colocar no mundo, dar luz às minhas ideias também’. E acho que foi o momento-chave, assim, de pensar em sair desse lugar de ficar o tempo inteiro pensando que sou uma artista independente e que não tenho dinheiro. Vou fazer do jeito que dá para fazer. E coloquei as ideias para frente, então, foi isso que aconteceu, que me deu uma virada de chave. Na verdade, a gente só tem uma chance na vida. Quando a gente leva um susto, acho que as coisas ficam mais claras. É realmente importante, vou levar à frente apesar dos medos, das inseguranças. Já tocando nesse assunto, duas músicas que me chamaram mais atenção foram Todo Mundo Vai Julgar e Egocêntrica, principalmente por abordarem temas como autocuidado e amor próprio. Como você define esses conceitos na sua vida? Na minha vida? É interessante você falar dessas músicas porque estava conversando com a minha mãe sobre elas. Ela disse: “Egocêntrica? Eu poderia ter feito essa música”. Acho que comecei a observar muito. Foi uma música que pensei bastante antes, no conceito, na ideia, no tema. E pensei: “poxa, eu queria tanto uma música que fosse como um mantra para me lembrar de me cuidar, sabe?”. Observo muito isso nas mulheres da minha família e nas minhas amigas, essa queixa e essa sobrecarga, sabe? De estarem sempre de olho nas necessidades dos outros, cuidando dos outros, mas pouco de si mesmas. Então acho que essa música me lembra de me cuidar, de me centrar em mim mesma, sem me sentir culpada por isso. Todo Mundo Vai Julgar reflete um incômodo que tenho. Não é porque escrevi essa música que estou isenta de preocupações estéticas. Acho que ser mulher e viver nesse momento é muito sobre isso: lidar com essas questões. Mas também é sobre o incômodo com as redes sociais, sabe? O fato de todo mundo estar o tempo inteiro usando filtro e o medo de se expor naturalmente. A comparação excessiva, os retoques, as cirurgias… E o quanto tudo isso demanda tempo, energia e dinheiro. Às vezes, vejo amigas jovens, de vinte e poucos anos, preocupadas em gastar dinheiro com essas coisas. Então penso: por quê? Como isso suga a nossa energia, assim como a demanda de cuidar das pessoas. Tudo isso me faz refletir muito. Queria expressar de alguma maneira essas minhas preocupações, questionamentos e incômodos. É isso. Bom, você fez algo totalmente voltado tanto para as mulheres negras quanto para as mulheres em geral. A parceria com outras mulheres no disco é algo muito marcante. Como foi construir esse “porto seguro” com elas? Com essas parceiras, especialmente, foi muito fácil e fluido, apesar de elas estarem envolvidas em outros projetos e, às vezes, não termos tempo para nos encontrar. A maior dificuldade foi mesmo parar e fazer acontecer, sabe? Acho que estamos em um ritmo de muitas demandas e pouco tempo para criar. Mas, quando decidimos tentar e criar, foi muito interessante. Com a Ju Santana, foi super natural. Ela é minha amiga há muitos anos, e há muito tempo queríamos compor juntas. A Yane conheci através do programa Mares, que foi uma residência artística só para mulheres, promovida pelo Movimento das Mulheres Sambistas, e desde então temos composto juntas. A Nanda Jacques conheci em um sarau só de mulheres,