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Entrevista | Renato e Seus Blue Caps – “Nós éramos os únicos sem coreografia”

Quando o vocalista e guitarrista Renato Barros foi avisado por um crítico de música que a sua banda era a mais antiga em atividade no mundo, ele duvidou. Mas se o assunto for rock, ele nem precisaria de muitos esforços para concordar com o jornalista. Surgida em 1959, a Renato e Seus Blue Caps antecedeu Stones, Beatles, Who, Monkees, Beach Boys, entre muitas outras, todas com início das atividades nos anos 1960.

Neste sábado (27), a partir das 21h, a banda retorna a Santos para celebrar os 59 anos de estrada, além de homenagear boa parte dos ícones roqueiros, como os citados acima. “O repertório que construímos ao longo da carreira representa 95% do show, mas fazemos algumas homenagens com nomes daquela época, como o Roy Orbison, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, entre outras bandas”, explica Barros, que concedeu entrevista via telefone para A Tribuna.

Logo no início da conversa, o músico fez questão de ressaltar algo que, erroneamente, gostam de associar ao trabalho de sua banda. “Não gosto quando falam Renato e Seus Blue Caps da Jovem Guarda. Isso fica muito restrito. Prefiro falar de uma maneira mais ampla, Renato e Seus Blue Caps e os Anos 1960. Jovem Guarda era Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa”.

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https://www.youtube.com/watch?v=xRAc4vrWRds

Comparado com os três citados por Barros, Renato e Seus Blue Caps saiu atrás apenas de Roberto Carlos na questão discográfica. O primeiro disco do Rei, Louco por Você, foi lançado em 1961, um ano antes de Twist, o debute dos cariocas.

https://www.youtube.com/watch?v=cVqePbM_AhQ

Mas não pense você que Renato se considere o pioneiro do rock nacional. Ele tem a consciência que esse título sempre estará nas mãos de Celly Campello, que entre 1957 e 1959 enfileirou uma série de sucessos inspirados em nomes como Elvis Presley e Bill Halley, casos de Estúpido Cúpido (versão feita por Fred Jorge para um grande hit de Neil Sedaka) e Banho de Lua (versão do sucesso Tintarella di Luna, da cantora italiana Mina), entre outras.

https://www.youtube.com/watch?v=7PQnaIjdFB0

E foi no meio dessa loucura toda proporcionada pela Rainha do Rock que Barros se inspirou para fazer sua banda. “O rock estourou em todo mundo. Conheci o som do Little Richards, cheguei ao Elvis, Bill Halley. Cara, as pessoas dançavam no cinema, faziam a maior bagunça nas sessões do Rock Around the Clock, o filme do Bill Halley. Era uma época maluca, da Juventude Transviada, os filmes do James Dean”.

Barros relembra que a banda teve um início bem por acaso. “Eu tinha 16 anos, fui ao Centro da cidade com o meu pai, lembro de passar por uma fila enorme, mas não tinha entendido o motivo dela. Quando cheguei mais próximo do início, que era para entrar em um teatro, me dei conta que era a Rádio Mayrink Veiga, onde gravavam o Hoje é Dia de Rock. Eu amava esse programa, escutava todos os dias”.

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A tal fila era para se inscrever no concurso de grupos de rock. Barros, então, convenceu o pai a entrar junto com ele. Não tinha ideia do que iria inscrever. Sem nome, sem saber tocar nenhum instrumento. Era apenas um figurante.

“Escolhi conjunto de voz fazendo mímica, que era a dublagem (playback). Eu via a vibração do público e pensava que seria fácil, só fazer a movimentação labial mesmo. Como não tinha nome, pensei primeiro num bloco de Carnaval que tinha no nosso bairro, o Bacaninhas da Piedade. Um nome ridículo, né? Fomos para o teatro, lotado com 1,8 mil pessoas e levamos uma vaia incrível. Só fui entender depois. Nós éramos os únicos sem coreografia, ficávamos paradinhos, só mexendo a boca, o público não aceitou”.

Barros conta que o bizarro episódio o motivou a tentar novamente, mesmo com um dos organizadores o alertando dos riscos. “Ele falou na frente de todo mundo: meu filho, você não desistiu depois daquela vaia? Respondi que não e me inscrevi na categoria rock ao vivo. E ele retrucou, perguntando se eu aceitaria um conselho, trocar o nome da banda. Aceitei, claro. E ele que acabou dando a ideia do nosso nome. Renato e Seus Asteroides, Renato e Seus Cometas, mas não gostei de nenhum. Até que veio o Renato e Seus Blue Caps, inspirado no Gene Vincent and the Blue Caps, um grupo americano daquela época”.

E as vaias da primeira tentativa se converteram em aplausos, vibração e histeria. Não por menos, Barros escolheu um hit da dupla norte-americana Everly Brothers (Be-Bop-A-Lula). “No fim, fomos eleitos os melhores do mês, conheci os famosos, o Roberto Carlos, toda aquela turma que o acompanhava, e as coisas foram acontecendo”.

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Tal sucesso fez com que o vocalista desistisse da ideia de estudar Medicina e investisse na carreira musical. “Fiz a coisa certa, tenho todo o reconhecimento do público, as coisas funcionaram e nós continuamos em atividade. A gente faz tudo com amor, existe um respeito muito grande pela história e o público”.

https://www.youtube.com/watch?v=mLI2Qy_1Elw

Para o músico, a força da carreira discográfica foi fundamental para se manter ativo até hoje. “Todos os LPs que gravávamos conseguíamos emplacar uns três grandes sucessos. Já com o Embalo (Um Embalo Com Renato e Seus Blue Caps, de 1966), todas estouraram. A Rita Lee conseguiu nos alcançar com esse feito, com o Lança Perfume”.

Outro ponto importante foi a inspiração no famoso quarteto de Liverpool. “Ficamos muito tempo nos espelhando nos Beatles, que vieram depois, mas com uma força brutal. Fizemos versões, mas aprendemos muito de levada, melodia, conseguimos captar muita coisa dos arranjos. Isso para a época era muito precoce”.

Sobre os irmãos, parceiros no início da banda, Ed Wilson (faleceu em 2010) e Paulo César Barros, o vocalista conta que eles foram muito importantes e, depois, conseguiram desenvolver carreiras de sucesso.

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“O Ed era um grande compositor na época da Jovem Guarda, lançou vários sucessos. Já o Paulo César acabou enveredando mais para o jazz. Eu também gosto de jazz, mas gosto de tocar em casa só”.

Questionado se recorda dos seus contemporâneos de Santos, como Blow Up, Union Beat e Pop Six, Barros se desculpou e disse não ter essa lembrança. Ele justificou que foram poucos shows da banda na Cidade, apesar da extensa trajetória. “Dos anos 1960 lembro apenas de um ou dois shows que fizemos em um clube bem bonito, social, mas não me recordo das bandas ou mesmo o nome do lugar”, disse. “A minha grande lembrança de Santos nessa época era aquele timaço do Pelé”, completou.

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