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Janelle Monáe: afrofuturismo e ousadia

Cantora, compositora, produtora, atriz. Com enorme talento e paixão em tudo que faz, Janelle Monáe é uma artista inovadora que sempre busca reinventar-se ao tom do funk, R&B, soul e hip hop.

Com a influência de Dorothy Gale, protagonista de O Mágico de Oz, a pequena Janelle, filha da zeladora Janet e do caminhoneiro Michael, criou desde cedo seu próprio mundo cercado de arte.

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Nascida no Kansas, ela sonhava em ser cantora desde muito nova, por isso, mudou-se para Nova York e começou os estudos artísticos na American Musical and Dramatic Academy. Pouco antes de mudar-se para Atlanta, ela conheceu Big Boi, rapper do Outkast, com quem fundou a Wondaland Arts Society.

Seu primeiro lançamento foi o EP The Audition (2003), inspirado no clássico Metrópolis (1927). Para rápida referência, o filme de ficção científica dirigido por Fritz Lang é considerado uma das maiores obras-primas do expressionismo alemão. Situado no ano de 2026, 100 anos além da data de produção do filme, o longa retrata um romance entre diferentes classes.

Na releitura de Monáe, o disco traz a mescla de ritmos funk com a cultura popular dos anos 2000, promovendo o mesmo senso futurista do filme, que revela-se além de seu tempo. Com menos de 500 cópias físicas existentes, The Audition reúne 14 canções, sendo 13 de composição própria e uma cover, Time Will Reveal, de Eldra DeBarge.

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Além de explorar constantemente seu alcance vocal, Monáe se tornou muito conhecida por seu visual andrógino, muito similar ao de artistas como Annie Lennox e David Bowie. Para ela, era incabível às mulheres aceitar o sexismo nas roupas estereotipadas. Por isso, a cantora se recusou por muitos anos a ser fotografada com qualquer outro traje que não smokings.

A ousadia em seu trabalho lhe rendeu boas críticas, o que sustentou o aclamado lançamento de Metropolis (2007). Inicialmente, seria um álbum dividido em quatro partes e lançado separadamente on-line, porém, com a assinatura na Bad Boy Records, Janelle optou pelo lançamento completo no álbum Metropolis: Suite I (The Chase). Re-lançado como edição especial em 2008, o disco ressaltou três singles: Violet Stars Happy Hunting!!!, Sincerely, Jane e Many Moons, sendo a última indicada na categoria de Melhor Performance Alternativa na 51ª edição do Grammy.

O principal conceito deste álbum, ainda baseado na obra fílmica de Fritz Lang, é acompanhar a trajetória da andróide Cindi Mayweather, que se apaixona por um humano e é sentenciada a uma vida de indecisões. Monáe tece críticas às divisões sociais, produzindo pelo mix de guitarras ocasionais e sintetizadores as dúvidas que permeiam um amor proibido entre robôs e humanos.

Sua obra seguinte foi The ArchAndroid (2010), que combina sequências de Metropolis e a mudança gradual do alter-ego de Monáe, a andróide Cindi, para uma figura messiânica na comunidade andróide. Suas letras contemplam principalmente temas como amor e identidade, mas também usam de cenários futuristas para explorar ideias contemporâneas, como o preconceito e a divisão de classes. Em Cindi, Janelle mensura ideias sobre a posição das minorias, comparando-a ao personagem Neo, da saga Matrix, cuja missão representa liberdade para a humanidade.

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O estilo visual e conceitual revela outras inspirações, como nos filmes de Alfred Hitchcock, além de revelar um componente que se torna constante de seu trabalho: o afrofuturismo, filosofia que relaciona o tradicionalismo na cultura africana com a tecnologia. Janelle também destaca Stevie Wonder, David Bowie e Prince como fortes referências musicais presentes na obra. Há muito mais soul e jazz na mistura musical, tornando-se um dos álbuns mais elegantes e ricos da artista.

Com o sucesso de seus trabalhos, Janelle começou a receber muitas propostas para apresentações e colaborações. Foi atração principal em episódios de Dancing with the Stars e também destaque na 53ª edição do Grammy, junto aos artistas Bruno Mars e B.o.B. Em 2012, participou do hit We Are Young, do grupo indie Fun, que atingiu forte sucesso comercial e ocupou o 99º lugar na Billboard Hot 100 de músicas mais populares de todos os tempos.

O lançamento de Electric Lady (2013) representa a quarta e quinta partes da série Metropolis, incorporando mais do gospel e classic rock em suas composições. Neste álbum, seguimos a saga de Cindi na busca pela libertação de seu povo. A andróide descobre a existência de uma sociedade secreta, The Great Divide, que usa viagens no tempo para reprimir o amor. Muitas das ambições artísticas de Janelle revelam-se na estética deste álbum, que busca subverter os conceitos associados às diferentes classes sociais e etnias. Com singles como Q.U.E.E.N. e Dance Apocalyptic, recebeu ótimas críticas e bom sucesso comercial, alcançando o topo das paradas na América do Norte e Reino Unido.

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Wondaland Presents: The Eephus (2015), coletânea assinada pela Wondaland Records, reúne sucessos de artistas da gravadora, como Janelle Monáe, Jidenna, Roman GianArthur e Deep Cotton. Neste meio tempo, Janelle decola em sua carreira no cinema, aparecendo em dois filmes que figuraram no Oscar: Moonlight (2016) e Estrelas Além do Tempo (2016). Também compôs a trilha sonora da série The Get Down (2016), produzida pela Netflix, que conta a origem do hip hop.

Seu próximo disco solo, Dirty Computer (2018), é o primeiro disco depois da era Metropolis. Ele acompanha um curta-metragem homônimo de 46 minutos, que acompanha a andróide de Monáe tentando se libertar de uma sociedade totalitária que não respeita as diferenças. O diálogo introduz o conceito de Dirty Computer, que fala sobre pluralidade sexual, inclusão e respeito à diversidade. Monáe fala sobre a fluidez de gêneros, muito inspirada pelas canções de Prince, que sempre teve uma postura corajosa sobre sexualidade e individualidade.

Segundo a artista, este trabalho deve representar o poder feminino e o respeito ao movimento queer, trazendo um tom positivo e libertador em suas letras.

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De conteúdo bem explícito, artístico e expressivo, Janelle explora a quebra de tabus e assume sua identidade sexual. Com o single Make Me Feel, que contou com colaboração direta de Prince, Monáe desafia os tabus da mídia e traz em muitas cores a explosão interna de vivenciar dúvidas pessoais.

Outros singles do álbum são I Like That, Django Jane e PYNK. Abraçado pela comunidade LGBT, o álbum recebeu boas impressões do público e conta com críticas positivas, que o consideram uma obra intelectual e ousada sobre temáticas identitárias. Mesmo abordando temas polêmicos como pansexualidade de forma explícita, a artista aborda os temas de forma criativa, confiando em uma estética provocadora, mas perspicaz e livre de clichês.

Atemporal, a discografia de Janelle Monáe mescla os mais diferentes ritmos, passando do soul e jazz até funk, hip hop, folk e rock. Ela quebra as fronteiras do pop e desafia o mainstream, agregando todos os tipos de referências às suas produções.

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Com seu mais novo lançamento, ela abraça sua individualidade e torna-se ainda mais autêntica, tornando-se um ícone artístico que merece nossa devida atenção e reconhecimento. Para finalizar nossa playlist, deixo um dos toques mais sensíveis do álbum: I Like That, lançada como último single do álbum.

 

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